Café Brasil Premium 819 - Num sei por que tô tão feliz

Data de publicação: 24/04/2022, 11:57

https://www.youtube.com/watch?v=b8rSCMb2r6U

E aí? Devemos ser pessimistas ou otimistas sobre a vida? Você acha que as coisas estão mudando para melhor ou pior? O que é mais inteligente, ter uma atitude positiva ou negativa sobre as coisas que nos cercam? Tem gente que diz que o pessimista é um otimista bem informado... Será?

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Posso entrar?

https://www.youtube.com/watch?v=VU7Lu0uWCJQ

Recebi um e-mail da Profa. Lúcia Helena Galvão, que já tive o prazer de ter comigo no LíderCast e em uma live, que cai como uma luva para abrir este episódio. Vamos a ela:

“... quero compartilhar uma historinha.

Havia um rapaz que estava tentando contar uma história para uma menininha e estava cantarolando uma música assim:

‘Era uma vez Ana Maria’.

E a menininha respondeu:

‘Por que era uma vez e não o mês e o dia? Porque Ana Maria e não só Ana ou só Maria? Por que ela morava nesse lugar nesse dia?’

Ela desandou a fazer dezenas de perguntas assim.

Tudo que o rapaz contava, ela questionava.

É sobre esse espírito de contestação que eu gostaria de falar.

Imagine comigo uma pessoa que quando está conversando, não escuta verdadeiramente e encontra-se com olhar ausente.

Ela está mais preocupada em deixar você parar de falar para despejar sua contestação e não ouve mais nada do que você diz.

Com isso, transforma-se em alguém cujos hábitos amargam a vida e as comunicações em todos os âmbitos.

Será que vale a pena?

Por que procurar o lado negativo de tudo? O lado incerto de tudo? Especialmente porque se na hora que vamos nos alimentar, escolhemos o melhor lado da pizza para começar?

Ninguém costuma escolher o pedaço queimado.

Então por que em uma conversa tanta gente pega o pior e, ao invés de colocar na lixeira, leva para dentro da mente?

Eu sempre fico pensando sobre o que pode motivar esse condicionamento no ser humano.

Será que o problema é acharmos que não precisamos aprender nada?

Platão costumava dizer que o maior impedimento a sabedoria é acreditar saber de tudo.

Na verdade, talvez fosse bom começarmos a contestar ‘para dentro’, de vez em quando.

Pensar nas nossas posturas, na maneira como administramos o tempo, no que estamos fazendo…

Talvez você perceba que não vai suportar fazer isso por muito tempo se não começar a olhar também o que você tem de melhor.

Essa contestação tão destrutiva, ao ser virada para nós mesmos, acaba nos destruindo.

Portanto, não a vire para ninguém.

Seja fator de soma.

Aprenda a simplesmente observar o que está sendo dito.

Haverá vezes em que ouvirá algo que acabará agregando para você.

Passe pelas coisas retirando o que elas têm de melhor.

Sempre haverá a necessidade de procurarmos o melhor dentro e fora de nós.

Um abraço,

Profa. Lúcia Helena Galvão"

[tec] COMENTÁRIO DO OUVINTE [/tec]

Grande Luciano Serrano... ele está comentando meu Cafezinho sobre o professor que humilha o aluno. Pois é, meu caro, quanta gente não tem uma história parecida com a sua: ser perseguido por um professor que não gosta de você, ou que quer se vingar de você. Isso não é professor. Quem ouviu o Cafezinho sabe o que penso a respeito.

No seu comentário você fala de um livro, O Corpo Fala, de Pierre Weil e Roland Tompakow, que é fundamental pra gente entender como as pessoas “falam” com a linguagem corporal. Vale muito a pena!

https://www.youtube.com/watch?v=TCiHXwtGxPg

Uma coisa que sempre me deixou curioso nos faroestes que assisti no cinema, era quando o mocinho chegava com seu cavalo no saloon. Ele parava em frente, apeava do cavalo e levava o cabo do arreio até aquela trave que fica em frente ao saloon, para amarrar os cavalos. Mas, curiosamente, ele apenas jogava o arreio sobre a trave e entrava no saloon, sem amarrar. Se o cavalo quisesse ir embora, ele iria. Nunca estava amarrado.

E quando o mocinho saía, o cavalo estava lá.

Mas como é que isso acontecia? Como é que tendo a chance de escapar, o cavalo ficava ali parado?

Depois me contaram que o cavalo estava condicionado. Quando via o arreio sobre a trave, imediatamente achava que estava amarrado, pois havia sido amarrado várias vezes antes. E, mesmo tendo a oportunidade, nem tentava escapar.

Com o tempo fui reparando que algumas pessoas agem igual. Mesmo tendo a chance de mudar uma situação adversa, permanecem como que presas a um destino imutável.

Li a respeito disso quando conheci o trabalho de um dos nomes mais lembrados quando se pensa em psicologia positiva: o psicólogo norte americano Martin Seligman. Ele é um pesquisador, educador e escritor de livros de autoajuda que criou a teoria da psicologia positiva e do bem-estar.

Deixe-me já fazer um alerta aqui, para que os haters não usem para descaracterizar a reflexão deste programa: Seligman entrou numa polêmica quando anunciou suas descobertas de que quando choques elétricos são aplicados a um cão por períodos de tempo, o animal começa a agir desamparado. Isso o levou a cunhar o termo "desamparo aprendido" para descrever a condição pós-tortura dos animais. Os detratores de Seligman o acusaram de ganhar reputação com experimentos aplicando maus tratos a animais. Eu não me aprofundei nessas polêmicas, ficando apenas com as conclusões de Seligman.

A partir de seus estudos sobre a depressão, Seligman definiu três fatores que separariam os pessimistas dos otimistas.

O primeiro é PERMANÊNCIA. Os pessimistas são mais propensos a ver mudanças como permanentes. Os otimistas veem mudanças como transitórias.  Para um pessimista, se está indo tudo bem, a tendência é que continue sempre bem. Quando não fica bem, o pessimista é tremendamente abalado, achando que a situação ruim se perpetuará.

Já os otimistas curtem quando as coisas vão bem e sabem que em algum momento podem ficar ruins, mas que se isso acontecer, será por algum tempo. Nem o estado de bom nem o de ruim seriam permanentes.

Entendeu? Um trata as coisas como permanentes, portanto nada pode ser feito. Outro trata como transitórias, portanto é possível esperar por mudanças para melhor.

 

O segundo fator é ABRANGÊNCIA. Para um pessimista, um acontecimento ruim abrange toda sua vida. Se ele não consegue atingir um objetivo, tudo está perdido. Nada mais dará certo.

Para o otimista, um acontecimento ruim afeta sua vida de forma específica, nunca generalizada. Não deu certo? Bem, vai doer um pouco, mas vamos em frente.

Isso me lembra da história daquele executivo que, enquanto estava no escritório, teve uma caneta vazando no bolso de sua camisa, que ficou irremediavelmente manchada. Ao chegar em casa com péssimo humor, sua esposa pergunta o que aconteceu. Ele mostra a mancha e diz:

- Aquela caneta estragou meu dia.

E a esposa retruca:

- Não. A caneta estragou sua camisa.

Percebe? O pessimista contamina sua vida inteira com alguma coisa de ruim que lhe acontecer.

 

O terceiro atributo é a CULPA PESSOAL. Para um pessimista, tem de haver um culpado por suas mazelas. Muitas vezes, ele mesmo se considera culpado pelos fracassos. E então a responsabilização se mistura com emoção e tudo ganha ares dramáticos. Sim, é preciso responsabilizar os culpados pelos problemas, mas sem transformar isso num drama.

Já o otimista busca o culpado para que o problema não aconteça mais.

Conheço muita gente que sofre antes, com a perspectiva de que o ruim aconteça, durante, quando o ruim acontece e depois, remoendo o ruim que aconteceu, as culpas e os “e se”.

Eu sofro no momento do ruim, nunca antes. E depois, bola pra frente.

Permanência, abrangência e culpa pessoal. Eu acho que conforme fui falando você foi lembrando de um monte de gente que conhece, não é?

 

Olha, tirando os psicóticos, todos somos uma mistura entre otimistas e pessimistas. Temos um pouco de cada conosco. O mais importante na pesquisa de Seligman é que ele mostrou que, diferente do cavalo que fica inerte diante da trave, as pessoas podem mudar.

https://www.youtube.com/watch?v=vbu7QZ6sTuw

Rararararraa... como o Luis Tatit é ótimo! Músico, linguista, escritor e professor universitário, sua obra é uma delícia. Esta é QUASE...

[tec] always look to the Bright side of life

https://www.youtube.com/watch?v=OPcupgGb7xE

Se conseguíssemos medir o grau de bem estar de um grupo de pessoas, provavelmente veríamos uma Curva de Gauss: numa extremidade poucas pessoas em situação ruim, de transtorno mental, na outra extremidade pessoas em situação de êxtase, de bem-estar. E a maioria absoluta estaria no meio da curva, entre uma extremidade e outra. O esforço é fazer com que se encaminhem na direção do bem-estar.

Agora imagine um tsunami de más informações, tragédias, notícias horríveis, angustiantes, só o lado ruim, os erros, sendo mostrados para as pessoas, todo dia, o dia todo. Isso é um processo de erosão do bem-estar psicológico, que empurra quem está no meio da curva na direção do lado do transtorno mental.

Dá para fazer um paralelo que incomoda: quando nos alimentamos de forma equilibrada e movimentamos o corpo regularmente, a tendência é que permaneçamos em nosso peso ideal. Quando surgem problemas que nos tiram desse equilíbrio, como uma lesão ou doença, ou uma compulsão por nos alimentarmos sem controle, perdemos o peso ideal e dali para a frente, é um sofrimento para recuperar o equilíbrio.

É assim com alimentos para o corpo, é assim com alimentos para a mente.

Retomando o texto da Professora Lucia Helena, quando você escolhe se alimentar apenas das coisas ruins, está desequilibrando sua dieta intelectual. Está sendo empurrado na direção do transtorno mental na curva do bem-estar. E atingirá um ponto em que a obesidade se torna mórbida. Só comida ruim, só o lado torto, vão transformar você num poço até aqui de mágoa.

E o mundo então será uma merda. E não terá saída.

Em 2011, Seligman lançou um livro chamado FLORESCER, já lançado em português, onde apresenta sua teoria do bem-estar, que ele chamou de PERMA. O P é de “energia positiva”, o E é de “engajamento”, o R é de “relacionamentos”, o M é de “significado”, e o A é de “realização”.

A EMOÇÃO POSITIVA, só pode ser avaliada subjetivamente.

O ENGAJAMENTO também é subjetivo e tem a ver com entrar num estado de flow, de fluxo, com um mergulho total naquilo que você se propõe a fazer.

O RELACIONAMENTO tem a ver com suas conexões sociais, com os amigos, a família.

O SIGNIFICADO tem a ver com o propósito, com sentir-se a serviço de algo maior do que si mesmo.

A REALIZAÇÃO, bem, essa tem a ver com você sentir que conseguiu! Sabe aquela sensação revigorante de missão cumprida? Pois é.

Se você examinar sua vida sob a ótica da energia positiva, engajamento, relacionamentos, significado e realização, encontrará onde estão os pontos que precisam ser trabalhados para que você se encaminhe para o lado do bem-estar daquela curva.

Martin Seligman diz que a psicologia deveria estar tão preocupada com as forças humanas quanto com as fraquezas. Deve estar tão preocupado com a construção de força quanto com a reparação de danos. Deve estar interessada nas melhores coisas da vida. E deveria estar igualmente preocupada em tornar a vida das pessoas normais satisfatória e em nutrir grandes talentos. Por isso sua ideia da psicologia positiva, que ele chama de “uma ciência que faz a vida valer a pena”.

Em resumo: devemos dar tanta atenção ao bem estar quando damos à miséria. Dar atenção às coisas que dão certo, tanto quanto damos às coisas que dão errado. Mais uma vez recomendo que, se você não ouviu o Café Brasil 722 – O Poder do Mau, agora é hora.

E que, se puder, leia o livro de Seligman, Florescer. Coloquei o link para ele no roteiro deste episódio no portalcafebrasil.com.br:

https://amzn.to/3xHJXOP Tem muita coisa lá bastante subjetiva, que sabemos que não se aplica a todos, mas esse enfoque de olhar para o positivo em vez de somente para o negativo, é fundamental para quem quer viver num mundo menos agressivo, árido e negativo. Aliás, para quem quer CONSTRUIR um mundo menos agressivo, árido e negativo.

Muito bem. Eu não queria fazer um programa sobre “psicologia positiva”, que tem muito senões, mas foi impossível não abordar o tema. Eu estou estudando o assunto, desde que mergulhamos no poço sem fundo da pandemia e o mundo ficou escuro.

Eu tenho fixado meu trabalho no desenvolvimento da capacidade de julgamento e tomada de decisão das pessoas. É assim há trinta anos, e nunca me deixei seduzir pelas rotulagens mercadológicas que me ajudariam a vender milhões em cursos, se eu dissesse que estaria ajudando você a conhecer os cinco passos para o sucesso, a ter uma receita para o sucesso e o bem-estar. Não. Eu ajudo você a desenvolver sua capacidade de julgamento e tomada de decisão, para fazer as melhores escolhas. Mas quem faz as escolhas é você.

E parte fundamental disso é contar como é que as coisas acontecem. E lembrar que ao escolher qual olhar você terá para o mundo, você define em qual mundo viverá.

Se seu olhar é pessimista, voltado para o ruim, seu mundo será pessimista e ruim.

Se seu olhar é otimista, voltado para as coisas que dão ou podem dar certo, seu mundo será de esperança e oportunidade.

Tem uma escolha aí.

https://www.youtube.com/watch?v=-tkSFVagWeA

É assim então, ao som de Felicidade, de Luis Tatit, que vamos saindo pensativos...

Enfim, eu já tentei de tudo, enfim eu quis ser consequente

Mas desisti, vou ser feliz pra sempre

Peço a todos com licença, vamos liberar o pedaço

Felicidade assim desse tamanho

Só com muito espaço!

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí ó, completando o ciclo.

O conteúdo do Café Brasil pode chegar ao vivo em sua empresa através de minhas palestras. Acesse lucianopires.com.br e vamos com um cafezinho ao vivo.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

Para terminar, uma frase do escritor, teólogo e crítico literário inglês Gilbert Keith Chesterton:

Otimista é o indivíduo que julga que tudo está bem, menos o pessimista. E pessimista é o indivíduo que julga que tudo está bem, menos ele próprio.

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