Café Brasil Premium 865 - Uma pitada de estoicismo

Data de publicação: 12/03/2023, 15:16

https://www.youtube.com/watch?v=pxoW-00Zyho

Neste mundo enlouquecido, como é possível viver uma "boa vida"? Como fazer o melhor dentro das nossas possibilidades, ao mesmo tempo aceitando que muito está fora do nosso controle? Essas são questões centrais de uma linha filosófica chamada estoicismo, criada há mais de 2 mil anos e que ainda ajuda a gente a encarar as dificuldades da vida contemporânea.

 

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar?

 COMENTÁRIO DO OUVINTE

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Mas nós somos chatos...

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Vai! Dê uma parada no podcast e tome nota: Canalcafebrasil.com.br. A gente aguarda uns segundos...

[Deixar um espaço de 30 segundos com grilos antes de entrar a música.]

 

https://www.youtube.com/watch?v=pxoW-00Zyho

Vamos então a uma pitada do estoicismo. O estoicismo foi fundado em Atenas por Zenão de Cítio no início do século 3 aC. Há 2300 anos, portanto. Tente imaginar como seria o dia a dia numa sociedade há dois mil e trezentos anos atrás... Sem eletricidade... sem redes sociais... sem comunicação via satélite... sem automóveis...

Agora imagine que ideias elaboradas naquela época ainda são úteis hoje. Não é o máximo? Aliás, quem tem uma fala impagável sobre isso é o professor Clóvis de Barros Filho...

https://www.youtube.com/watch?v=VwyCizE_cPQ

 

Ahahahahahahaha... entendeu??? Você tem de sentar a bunda na cadeira e estudar, para alcançar o que os gregos fizeram mais de 2 mil anos atrás. Como não prestar atenção em ideias que sobrevivem por tanto tempo?

Mas, afinal de contas, o que é que esse tal de estoicismo prega? Simplesmente o valor da razão. O estoicismo propõe que emoções destrutivas são resultado de erros na nossa forma de ver o mundo e oferece um guia prático para nos mantermos resolutos, fortes e no controle de nossas vidas. Ao menos daquilo que podemos controlar.

Cara, num mundo cada vez mais tomada por gente histérica, vitimista e pronta para acusar os outros por seu fracasso, estudar o estoicismo é questão de sobrevivência.

 

O filósofo italiano Massimo Pigliucci, praticante do estoicismo hoje, diz assim: "Você não é aquilo que finge ser. Então, reflita e decida: isso é para você? Se não for, esteja pronto para dizer: para mim, isso é nada. E deixe o assunto de lado."

Ou ainda, conforme Nancy Sherman, filósofa americana que estuda a influência do pensamento estóico sobre a ética militar: "Deixe para trás as coisas que não estão sob o seu controle e tente trabalhar duro naquilo que você pode controlar."

Ou ainda: "Não espere que o mundo seja como você deseja, mas sim como ele realmente é. Dessa forma, você terá uma vida tranquila."

Que tal? “Ah, Luciano, mas que postura mais conformista! Vindo logo de você?” Pois é... Quem vê conformismo nessas palavras, comete um erro.

O estoicismo não propõe que você seja passivo em relação à vida, mas que aceite as coisas que estão além do seu controle e que já aconteceram.  Sacou? Aceite que os fatos não ligam para suas emoções. Cresça e aja como homem.

 cai disjuntor

Opa! Caiu? Vou ajudar a religar...

 

https://www.youtube.com/watch?v=4lVKlHCd4_g

Vamos entender quem eram os estoicos e por que você deve se prestar atenção neles.

 

Vários filósofos representam o estoicismo. Epicteto, Catão, Sêneca e Marco Aurélio, por exemplo. O estoicismo afirma que a virtude (como a sabedoria) é a felicidade e o julgamento é baseado no comportamento, e não nas palavras. Que não controlamos e não podemos confiar em eventos externos, apenas em nós mesmos e em nossas respostas.

Na raiz do pensamento estoico há uma maneira muito simples, embora não fácil, de viver: pegar os obstáculos em sua vida e transformá-los em sua vantagem, controlar o que você pode e aceitar o que você não pode.

Epicteto disse que na vida, nosso primeiro trabalho é dividir e distinguir as coisas em duas categorias: exteriores, que eu não posso controlar, e interiores, as escolhas que eu faço em relação às coisas que acontecem. Essas escolhas, eu posso controlar.

Resumindo: onde vou encontrar o bem e o mal? Em mim, nas minhas escolhas.

 

Algo notável é que, além de seu estudo comum da filosofia, os estoicos eram todos homens de ação, o que não pode ser uma coincidência. Marco Aurélio foi imperador do império romano, o mais poderoso da história. Catão, o exemplo moral para muitos filósofos, defendeu a república romana com bravura estoica até se matar, como um ato de heroísmo e de resistência contra o domínio autoritário de Júlio César. Mesmo Epicteto, o conferencista, não teve vida confortável – ele viveu a maior parte da vida como escravo em Roma. Homens de ação. E isso não pode ser coincidência.

O filósofo e escritor moderno Nassim Nicholas Taleb define um estoico como alguém que "transforma o medo em prudência, a dor em transformação, os erros em iniciação e o desejo em empreendimento".

Vou repetir:

- transforme o medo em prudência

- a dor em transformação

- os erros em iniciação

- e o desejo em empreendimento

https://www.youtube.com/watch?v=meTem-3-pbQ

A coisa mais valiosa do mundo hoje em dia é a atenção. Por isso todo mundo briga por ela. Todo mundo grita “me dê atenção que eu tenho as respostas!” “Baratinho! Por 12 parcelas de 12,88, resolvo seus problemas!” “Mas corra que o carrinho fecha às 23:55”!

A gritaria é tamanha que aprender a avaliar as fontes nas quais devemos nos abastecer intelectualmente é fundamental. Por isso é importante entender por que a filosofia estoica é relevante.

Vivemos em uma era de bombardeio digital, constantemente sitiados por distrações. Para quem se percebe vítima desse bombardeio, dá um baita trabalho navegar em meio a tanto ruído. Essas distrações prejudicam nosso senso de clareza, interferem em nossa autoconsciência e dificultam a concentração que precisamos para cultivar o autoaperfeiçoamento.

Voltemos 2000 anos na história: os filósofos da Roma do século II não poderiam ter imaginado as distrações que as gerações futuras enfrentariam. No entanto seus conselhos permanecem relevantes hoje.

Sabe por quê? Porque duas das principais armadilhas da vida daquela época, são as mesmas de hoje: tentação e distração.

Tentação. E distração.

 

Rarararrara... Cauby Peixoto cantando o clássico dos clássicos, Conceição, de Jair Amorim e Dunga. Cara, a letra dessa canção é uma doideira. A personagem “Conceição” era uma jovem que “vivia no morro a sonhar com coisas que o morro não tem”. Então, “Lá em cima apareceu alguém que lhe disse a sorrir, que descendo à cidade ela iria subir”. Resultado: Conceição desceu o morro, mudou de nome, trilhou caminhos estranhos e agora “daria um milhão para ser outra vez simplesmente Conceição”.

Quando eu falei de “tentação”, essa canção veio à mente imediatamente...

 

https://www.youtube.com/watch?v=SpgxIlLeN6w

Tentação e distração... como escapar? Marco Aurélio, um famoso imperador romano e filósofo estoico tinha uma solução única para resolver o problema da distração: ele sugeriu que realmente tentássemos viver cada dia como se fosse o último.

https://www.youtube.com/watch?v=hGLSTYwNTW4

Você ouviu Robin Williams, que interpreta o professor John Keating no filme Sociedade dos Poetas Mortos, explicando para seus alunos o significado do termo “Carpe Diem”. Já assistiu esse filme? Tem um tanto de estoicismo nele.

Por que o professor Keating quereria que seus alunos considerassem suas mortes? Ele tem dois objetivos em mente: quer desencorajá-los de esperar até que seja "tarde demais para fazer de suas vidas algo que prestasse". E está tentando inspirar seus alunos a "aproveitar o dia" e tornar suas vidas extraordinárias. Carpe Diem.

Epicteto entregou essa mesma mensagem a seus alunos de várias maneiras. Ele incitou, persuadiu e ocasionalmente os admoestou a abandonar sua maneira escravizada de pensar e viver para que pudessem seguir o caminho estoico em direção a uma vida extraordinária. Outro filósofo, Sêneca aconselhou seu amigo Lucílio a fazer o mesmo. Finalmente, vemos o mesmo ao longo das Meditações, de Marco Aurélio.

Carpe Diem. Pode soar excessivamente simplista ou um pouco clichê, mas se você realmente pensar sobre isso, essa lógica tem poder de provocar mudanças importantes em sua perspectiva de vida.

Afinal, quando pensamos em tentar tirar o máximo proveito da vida, perguntamos: "O que você faria se tivesse apenas 24 horas de vida?" No Café Brasil 422 – O último dia, usei parte de um discurso de Steve Jobs, famoso, onde ele dizia assim para estudantes da Universidade de Oxford:

“Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: “Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último.” Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?” E se a resposta é “não” por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa.”

Entendeu? A perspectiva de perder nosso tempo de vida na Terra nos motiva a querer fazer tudo aqui, agora. Nos dá o desejo de tirar o máximo proveito de cada segundo. De colocar mais de nós mesmos em nossos relacionamentos. Lembrar às pessoas que elas são importantes para nós e mostrar aos entes queridos o quanto nos importamos. Pensar sobre a forma como gastamos nosso tempo de vida nos dá uma perspectiva diferente sobre o nosso impacto no mundo e o legado que deixaremos para trás.

Já pensou se você fosse capaz de aplicar essa energia, de aproveitar intensamente cada segundo, em sua vida, diariamente? Quanta diferença isso faria?

Você continuaria a perder tempo em redes sociais, quando tem um trabalho a terminar?  Se entregaria a cada pequena distração ao longo do dia? Ou pensaria assim: “Cara, tempo é vida! Cada segundo de tempo é um segundo de vida que se vai. Tenho de focar em vive-lo, não em simplesmente gastá-lo”. "Cada segundo é precioso, não posso me deixar distrair!" Agindo assim, você descobrirá que a tarefa de gerenciamento de tempo se torna mais fácil!

 

Marco Aurélio também aconselhou a criação de um mantra pessoal – algo como: "Eu tenho controle sobre meus próprios pensamentos. Eu não tenho que ser governado pela distração."

Sacou? Eu tenho algum controle sobre como escolherei gastar meu tempo de vida. Esse controle não está nas mãos de um terceiro. É meu.

Os mesmos trinta minutos que você escolheu dedicar a este podcast, 30 minutos da sua vida, podem ser dedicados a um vídeo da McPipokinha esfregando a bunda em três caras enquanto emite sons que alguém acha que é música...

https://www.youtube.com/watch?v=QPxSQmp0Yko

Entendeu? Você escolhe como gastar seu tempo de vida.

 

Nós nos preocupamos porque temos medo das coisas que não podemos controlar. Mas preocupar-se, além de não ser útil, só serve para nos manter angustiados e distraídos. E quando nos preocupamos, consumimos nosso tempo, nossa energia e nossa alegria.

Ora essa, mas se entendermos que simplesmente não podemos controlar algumas coisas, talvez possamos nos libertar da tirania da preocupação. E ganharemos energia e foco para nos concentrarmos no que realmente importa!

Sacou? Está aí, dentro da sua mente, a única coisa que os estoicos acreditavam que podíamos controlar. Não podemos controlar nossas almas ou nosso destino, não podemos controlar nossa aparência, só remediar. Podemos agir até um limite para controlar nossa saúde física, mas podemos controlar nossas mentes e o desenvolvimento de nosso caráter moral. É uma escolha.

É essa a lição do pensamento estóico: se pudermos controlar nossos pensamentos, podemos nos tornar pessoas melhores e mais saudáveis. Também podemos aprender a descobrir a paz através da lógica, porque se encontrarmos propósito em buscar a verdade e cultivar a clareza, podemos abandonar o estresse desnecessário.

Entendeu? Nada de histeria, nada de seguir a manada, nada de repetir hashtags. Use a lógica. Comece cada dia lembrando daquilo que está e do que não está sob seu controle. Provavelmente você descobrirá que só pode controlar suas ações e reações. Aceitar isso pode ser fortalecedor e pode lhe ajudar a começar o dia com vigor e paz renovados.

https://www.youtube.com/watch?v=ozXZnwYTMbs

É assim então, ao som estoico de Nothing Else Matters, de James Hetfield e Lars Ulrich com o Metallica, que vamos saindo inspirados.

Nunca me importei com o que dizem

Nunca me importei com seus jogos

Nunca me importei com o que fazem

Nunca me importei com o que sabem

E eu sei

Tão perto, não importa o quão longe

Não daria pra vir mais do coração

Sempre confiando em quem nós somos

E nada mais importa

Entendido? Não importa o quão longe ou perto você esteja do amor ou algo mais do que o que você tem, permaneça fiel a você. Isso é tudo o que importa.

 

Tá certo? Olha, este episódio é só um aperitivo sobre o estoicismo. Lembre-se: liberdade não pode depender de coisas externas. Quando tememos eventos e circunstâncias externas, tendemos a culpar os outros, o outro partido político, outra raça, o sexo oposto, aqueles que têm o que achamos que merecemos, aqueles com crenças religiosas e estilos de vida diferentes dos nossos. E muito mais. Essas aversões tendem a criar pensamentos abjetos e mesquinhos em relação aos outros. Da mesma forma, essas aversões normalmente implicam desejos excessivos de que as circunstâncias sejam diferentes.

Se o seu desejo de mudança produz pensamentos mesquinhos e abjetos em relação àqueles que discordam de você, você é um escravo de suas paixões.

Liberte-se.

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí ó, completando o ciclo.

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Para terminar uma fala de Epicteto:

“Se devo morrer, morrerei quando chegar a hora. Como, ao que me parece, ainda não é a hora, vou comer porque estou com fome."

 

 

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