Café Brasil 850 - Vida caótica

Data de publicação: 28/11/2022, 11:00

https://youtu.be/vtAu7xkwNjQ

Cada ano que passa, parece ter sido mais insano que o ano anterior, não é? Entramos numa aceleração que parece que faz com que tudo aconteça ao mesmo tempo, gerando uma sensação de caos, de angústia. O que é que está acontecendo com o mundo, hein? Virou um caos?

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar?

“Oi Luciano, Ciça, Lalá. Bom dia, boa tarde, boa noite. Aqui é o Paulo de Resende, Rio de Janeiro.

Cara, estava ouvindo, hoje é 23 de novembro, comecei a ouvir o Café Brasil que saiu hoje, né? E aí, logo no início você toca uma música da banda Francisco e não lembro nem o nome. Eu achei muito maneiro o som e você falou, pô, o som deles é fantástico. Na mesma hora eu parei o Café Brasil, eu ouço pelo Spotify e fui procurar a banda aqui. Procurei, achei a banda já comecei a seguir, falei: deixa eu primeiro ouvir o som deles, depois eu continuo o Café Brasil. Inclusive ainda não continuei. Estou na introdução do Café Brasil até agora.

E aí comecei, o som rolando aqui no meu carro, ouvi uma, duas, três, na terceira ou quarta música parei numa música que chama Bolsonada. E aí, cara, a letra da música é Bolsonaro, eles não falam Bolsonaro, Bolsonada fascista, o bolso dele cheio, nosso copo vazio, tal.

E aí eu lembro de você já comentar várias vezes. Pô, não posso deixar as músicas que marcaram a minha vida, vou deixar de gostar delas por um viés político. E eu concordo com você plenamente e eu sempre ouvi Chico, Caetano e tudo mais, continuo ouvindo até hoje. Mas eu te confesso, cara, é impossível dizer que não mexeu, né? Você ouvir as músicas lá de trás que fizeram parte da minha infância, adolescência, da minha formação musical, é impossível eu não ter nenhum sentimento com viés político.

Eu estava ouvindo essa música Bolsonada, cara, passando em frente a AMAN, que fica aqui em Resende, que é a maior escola militar da América Latina. E tem a galera ali acampada, desde o dia do resultado das eleições. E assim, não vou discutir aqui se é certo ou errado os caras estarem acampados ali. Mas aquela galera que está ali acampada, tá acampada por convicção, sem nenhum interesse financeiro. Não estão ganhando nada com aquilo.

E eu passo todos os dias, de manhã e de tarde, porque é caminho meu da minha casa pro meu trabalho. Passo na porta e sempre observo os caras. E eu vejo o voluntariado entre eles, um levando comida pro outro, barraca, não sei que. Cara, tem a AMAN precisou fazer uma manutenção de corte de grama, na área que eles estavam, os caras pegaram uma Saveiro, desmontaram todas as barracas, levaram pro outro lado onde não tem grama, montaram todas as barracas de novo.

Hoje, 23 de novembro, eu estou falando um dia depois do pedido de revisão da votação em função das urnas que foram auditadas e não tem o resultado comprobatório correto, enfim, cara.

Eu não fiz outra coisa a não ser dar o meu dislike pra essa banda e agora vou voltar a ouvir o Café Brasil. Vida que segue. Vida longa ao Cafezinho. Um abraço”.

Grande Paulo... pois é, meu caro... Imagino que se os caras da banda Francisco El Hombre, se passarem pelo mesmo lugar que você passou, vão chamar aquela turma acampada lá de golpistas, fascistas e tudo mais. E vão brigar com você, se você tentar defender a turma. Nós rachamos a sociedade, meu caro. Eu consigo reconhecer, sim, o talento dos artistas independente de suas posições políticas. Jamais deixarei de ouvir as músicas que fizeram a trilha da minha vida. Mas eu vou certamente torcer o nariz, como você fez, para os que usam sua arte para fazer militância política. Seja ela contra a favor dos meus princípios. Esses artistas estão fazendo uma escolha, como a que eu fiz quando me posicionei politicamente com o Café Brasil. Vão perder milhares de fãs e vão ganhar outros milhares. É assim que sociedade funciona. No caos. Obrigado pelo seu comentário.

https://youtu.be/aePpWI7xNbY

Em minha palestra Planejamento Antifrágil, eu discorro sobre a necessidade que temos hoje em dia de planejar para aproveitar o caos, e não para nos protegermos do caos. Foi isso que fizemos ao longo dos últimos 40 anos: planejar para não ter surpresas, para garantir que as coisas andem como o planejado, para ter alguma sensação de que estamos controlando as coisas.

Mas o mundo teima em provar o contrário.

Você já ouviu falar que a gente vive o mundo VUCA? VUCA é um acrônimo das palavras volatilitly, uncertainty, complexity e ambiguity. Mundo VUCA é o mundo que é volátil, incerto, complexo e ambíguo.  Esse conceito nasceu no começo dos anos 2000, quando o exército norte-americano se envolveu em conflitos no Afeganistão e descobriu que estava atuando num contexto volátil, incerto, complexo e ambíguo. O conceito VUCA logo tomou conta das teorias de administração e virou termo da moda. Mas já tem mais de 20 anos, e os especialistas dizem que o VUCA agora é BANI.

Bani é acrônimo das, palavras brittle, anxious, nonlinear e incomprehensible. Brittle quer dizer frágil: Vivemos tempos arriscados: crise do subprime com quebra da bolsa em 2008, Primavera árabe de 2011/12, jornadas de Junho de 2013, Petrolão e Lava Jato, Brexit, eleições do Trump e do Bolsonaro e o rearranjo político mundial. Ataques cibernéticos, invasão de privacidade, algoritmos, pandemia... Estamos tão conectados que nunca estivemos tão frágeis. Basta ver o que acontece quando cai o Google. Ou o Whatsapp.

Anxious é de Ansioso: nossas decisões precisam ser mais rápidas, ao ponto de você ser taxado(a) de ansioso(a). Recebeu uma boa oferta de viagens no pop-up do celular, é? Compre agora. Decida agora se vai se matricular em um curso, se vai pintar sua casa, se vai se separar, se vai aceitar a proposta de um novo emprego. Meu! O carrinho fecha às onze e meia. Com a mudança recorrente e instantânea no mercado aquela famosa frase: “Vou dar uma pensada nisso”, não cabe mais. Decida com o que você tem em mãos. Cara: como não ficar ansioso?

Nonlinear é de Não linear. Fomos moldados de maneira a pensar de forma serial, cartesiana. Somos a geração Disney, com as histórias com começo, meio e fim. Adoramos check lists, receitas de bolo, manual de instruções, bullet points e prioridades. Mas agora o mundo é dos que abrem um milhão de janelas ao mesmo tempo. Não é possível atuar de maneira estruturada em um mundo desestruturado. Uma empresa do mundo VUCA vai seguir um planejamento estratégico achando que nada vai mudar ao longo do tempo. Uma empresa no mundo BANI vai se planejar para executar fielmente um planejamento estratégico para os próximos 3 meses, no máximo.  O melhor exemplo disso era o processo de liberação de uma vacina. Era no mínimo 5 anos. O cinto apertou e tivemos que fazer em 7 meses. Temos de começar mil coisas ao mesmo tempo, desistir de algumas, parar outras, incluir outras. A metamorfose é ambulante.

Incomprehensible é de Incompreensível. De nada adianta ter acesso à informação se não temos repertório para dar sentido à realidade.  Pesquisas de mercado já não são mais garantia para entender o que o consumidor pensa, age ou o que ele deseja. O eleitor então... Simplesmente porque mudamos de ideia o tempo todo. “Façamos tal ação que ganharemos o mercado”. Não existe mais certeza e ao mesmo tempo é difícil explicar os porquês diante de tantas variáveis incontroláveis. O risco está em todas as decisões.

Viu?

Frágil, ansioso, não linear e incompreensível... esse é o tal do novo mundo BANI. Mas aí eu fui olhar com cuidado e descobri uma coisa interessante.

O mundo é frágil porque é volátil, é ansioso porque é incerto, é não linear porque é complexo... é incompreensível porque pé ambíguo.

O mundo é BANI, é BANI porque é VUCA.

É tudo a lesma lerda.

Mas então, concluindo que o mundo VUCA é o mundo BANI, qual é a jogada? Bem, tem de trocar os nomes, tem que trocar as modas de quando em quando pra vender mais livros.

O fato é que, sendo VUCA ou BANI ou a sigla que você quiser, a única coisa certa é que agora vivemos no caos.

https://youtu.be/_Fm10whccto

Rararararar... que delícia, cara. Essa é Birdland, com o Weather Report, acho que lá de 1977, por aí. Fez a trilha da minha juventude, e sempre que penso em CAOS, vem essa música ao fundo. Por quê? Cara: é só ouvir...

Cara, Birdland é muito bom.

Lalá, vamos mudar o clima. Sair do caos...

https://youtu.be/DMPguIvHMPE

Rarararara... essa levada mais tranquila é da série Baby Jazz....

Mas e aí... como é que a gente sobrevive no caos? Olha, eu não sei como é que você faz, mas eu tenho umas regrinhas aqui, que até hoje deram certo. Vamos a elas.

A recomendação número zero, que vem antes de qualquer coisa, vem antes da primeira é: sobreviver. Quando a pandemia se consolidou, entrei no modo sobrevivência. Planejar e desenvolver estratégias para permanecer vivo. Depois disso, eu adaptei minha mentalidade e dobrarei minha receita. Mas a primeira coisa foi: permaneça vivo.

Ah, sim, e durante a fase de criação da estratégia, duas perguntas foram fundamentais:

- O que que vai mudar no futuro?

- E o que  importante: o que é que não vai mudar no futuro?

Essas duas perguntas me ajudaram a não fazer loucuras, a não desfazer processos, eliminar coisas ou me desligar de pessoas.

Então vem a a primeira recomendação: aceitar que nem tudo vai ser perfeito, suave ou fácil. As coisas vão acontecer de formas diferentes daquelas que você imaginou. Isso não é necessariamente bom, nem é ruim. Só é diferente. Aceitar que o peso da responsabilidade pode parecer demais e trabalhar com essa perspectiva, em vez de lutar contra ela, é o primeiro passo para prosperar no caos e não apenas para sobreviver. Lembre-se que a perfeição do Instagram ou a virulência das redes sociais não são reflexos da realidade.

Segundo: Saiba o que importa e o que não importa. Você é que tem que decidir sobre prioridades e princípios, e não  um terceiro. A menos que você seja uma criancinha. Nem tudo pode ter o mesmo nível de importância e a mesma atenção aos detalhes. Concentre-se nas coisas que mais importam e no que é mais oportuno. É conveniente ter uma lista de prioridades, menos para saber o que é prioritário e mais para saber o que não é.

Terceiro: Observe. Em cenários caóticos, as coisas se sucedem com rapidez. Saber onde estão seus recursos é fundamental. Ter listas, documentação, arquivos, pastas – tudo isso importa. Manter o controle do seu trabalho, projetos, eventos, recibos, comunicações - tudo isso ajuda a longo prazo. Sim cara, eu sei que manter a organização em meio ao caos é demorado e contraditório até. Mas é isso que vai ajudar você a manter a sanidade.

Quarto: conheça muito bem seus objetivos. Cada peça do seu quebra cabeça caótico tem um objetivo final – conheça esse objetivo e concentre-se nele. Não se deixe abater por erros imprevisíveis e pequenos contratempos. Como dizem os norte americanos: shit happens. Vai dar merda, cara. Mas concentrar-se em onde você precisa chegar e por que precisa chegar, vai ajudar a manter as coisas funcionando.

Quinto: fuja do mimimi. Saia fora do drama. Se houver coisas em sua vida que criem medo, ansiedade desnecessária, dificuldades emocionais e outros tipos de dor, preocupação ou raiva – encontre maneiras de seguir em frente metodicamente, cara. E de separar você e sua família dessas coisas o máximo possível. Ah, coisas ou pessoas, viu? A última coisa que você precisa em cenários caóticos, é alguém gritando histericamente por perto.  Tudo o que você puder fazer para evitar o drama é bom para fazer as coisas andarem.

Detalhe: eu sempre digo para as pessoas que convivem comigo para que sofram uma vez só. Nada de sofrer por antecipação, durante e depois do acontecimento. Sofra durante. Depois, bola pra frente.

Sexto: Controle as despesas. Você não pode controlar as receitas, mas pode controlar despesas. Você pode implementar uma ótima estratégia e fazer todos os esforços para atingir os objetivos que geram receita, mas a decisão final é do cliente, não é sua. Com as despesas, você tem 100% de controle. É aí que você deve se concentrar para sobreviver. Mas, mesmo com despesas controladas, os altos e baixos do fluxo de caixa podem tornar o pagamento das despesas fixas um desafio. Em cenários caóticos, controlar seu caixa é questão de sobrevivência.

No meu caso, eu onversei com fornecedores, fui flexível com clientes, empurrei pagamentos e recebimentos para atender às demandas.

Logo nos primeiros meses da pandemia, eu tinha um apartamento alugado para uma pessoa que era dona de um salão de beleza que simplesmente fechou. Sua receita caiu a quase a zero. Eu não esperei, liguei para ela para dizer que não cobraria o aluguel, só o condomínio e o IPTU. Fiz isso por três ou quatro meses e com certeza eu a ajudei a passar pelo momento de caos.

E por fim, deixe fluir. As coisas vão dar errado, as pessoas ao seu redor podem se decepcionar ou se machucar, ou os projetos vão fracassar. É claro que vão. Você não pode acertar tudo, todo tempo. Se você se encontra em um estado de caos constante - procure maneiras de gerenciar o fluxo terceirizando algumas coisas. Olha, eu sei que não é fácil, mas quando você consegue, é emancipador. Olha a pandemia, que fez você usar o Rappi ou o iFood. Eu aposto que hoje você pensa duas vezes antes de sair de casa para ir buscar comida, não é? Ganhou tempo, ganhou paz. Apoie-se em seus amigos ou familiares. Dê a si mesmo uma pausa, para recarregar e estar pronto para começar de novo.

https://www.youtube.com/watch?v=4XNfSSjuwMg

Metamorfose ambulante
Raul Seixas

Ah ah ah ah
Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar a um objetivo num instante
Eu quero viver nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Eu vou desdizer aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha, velha, velha, velha opinião formada sobre tudo

Opa. É com o clássico Metamorfose ambulante de Raulzito, aqui com a banda Primo Johnny, que vamos saindo meio caóticos. O  vocal é do mineiro Gleison Tulio, que tem o rock na alma.

Muitas pessoas consideram o caos como aquilo que não podemos controlar. Mas os cientistas definem caos de forma diferente: para eles, o caos é o que é tão sensível às condições iniciais que torna muito difícil entender seus padrões e interconexões.

A dinâmica do caos é tão complexa que parece aleatória e imprevisível.

Tenha claro que é no caos, no desequilíbrio que você é mais criativo, mais atento, inovador, pronto para a mudança. Em vez de repetir cegamente o mesmo comportamento dia após dia, reserve um tempo para refletir sobre o que está funcionando, o que pode ser melhorado e o que você deseja focar a seguir.

Ao observar e refletir sobre seus pensamentos, você se tornará mais adaptável ao caos. Sacou?

Pense sobre o que você está fazendo.

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí, que completa o ciclo.

O conteúdo do Café Brasil pode chegar ao vivo em sua empresa através de minhas palestras. Acesse lucianopires.com.br e vamos com um cafezinho ao vivo?

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Para terminar, um antigo provérbio chinês.

“Melhor ser um cachorro em tempos de tranquilidade do que um ser humano em tempos de caos”.

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