Café Brasil Premium 842 - Nós contra eles

Data de publicação: 03/10/2022, 10:11

 

https://www.youtube.com/watch?v=7PO7LeNkkvE

Cara, é inexplicável como alguns políticos conseguem capturar corações e mentes das pessoas. Conquistam seguidores que acabam se transformando em torcidas organizadas. Tudo pelo meu time, até mesmo pregar a extinção do time adversário... Não é estranho isso? Há quem diga que sofremos uma espécie de psicose de formação de massa. Vamos dar uma outra olhada nesse tema?

 

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Posso entrar?

https://www.youtube.com/watch?v=m35v2_CA2W0

[tec] COMENTÁRIO DO OUVINTE [/tec]

Grande Luís! Meu caro, a ideia de um LiderCast comigo mesmo é interessante, mas já tem um monte de programas que me entrevistaram. Na internet. Em podcast e em vídeos no Youtube. De qualquer forma, vou anotar aqui pra ver se a sugestão de entrevistado passa pela nossa peneira. Se passar, quem sabe? Grande abraço!

 

https://www.youtube.com/watch?v=9q7tN7MhQ4I (18 minutos) com a pausa do broadcast

Em 30 de outubro de 1938, o então radialista Orson Welles transmitiu um episódio do drama de rádio americano Mercury Theatre on the Air. O título era 'A Guerra dos Mundos', e o episódio foi baseado em um romance de HG Wells, e relatava aos ouvintes que uma invasão marciana estava ocorrendo.

Na atmosfera tensa dos dias que antecederam a Segunda Guerra Mundial, muitas pessoas perderam ou ignoraram os créditos de abertura e tomaram o drama de rádio como um noticiário verdadeiro. O pânico tomou conta das pessoas, que começaram a fugir, algumas até mesmo relatando que podiam ver flashes de luz à distância e sentir o cheiro de gás venenoso.

Evidentemente, era apenas uma espécie de rádio novela... Aquele caso, e o pânico que ele gerou, é prova suficiente de que a histeria em massa pode nos atingir a qualquer momento. Mas há outros casos também.

https://www.youtube.com/watch?v=m35v2_CA2W0

Em 1989, 150 crianças estavam participando de um programa de verão em um centro para jovens na Flórida. Todos os dias, ao meio-dia, as crianças se reuniam no refeitório para serem servidos almoços pré-embalados. Um dia, uma garota reclamou que seu sanduíche não estava gostoso. Ela sentiu náuseas, foi ao banheiro e voltou relatando que havia vomitado. Quase imediatamente, outras crianças começaram a se queixar de sintomas como náuseas, cólicas abdominais, dores de cabeça e formigamento nas mãos e nos pés. A supervisora anunciou que a comida pode estar envenenada e que as crianças devem parar de comer. Em 40 minutos, 63 crianças ficaram doentes e mais de 25 vomitaram.

As crianças foram prontamente enviadas para um dos três hospitais, mas todos os testes realizados nelas deram negativo. Amostras de refeições foram analisadas, mas nenhuma bactéria ou veneno foi encontrado. Os padrões de processamento e armazenamento de alimentos foram escrupulosamente mantidos e nenhuma doença foi relatada em nenhum dos outros 68 locais em que os almoços pré-embalados foram servidos.

 

Tal como no caso da transmissão de Orson Welles, criou-se um clima de tensão e ansiedade, neste caso, pela divulgação dois dias antes de um artigo de jornal sobre problemas de gestão e financeiros no centro juvenil. As crianças sem dúvida perceberam a ansiedade da equipe, e isso as tornou particularmente sugestionáveis às queixas da primeira menina. Uma vez que a figura de autoridade anunciou que a comida poderia estar envenenada, a situação simplesmente saiu do controle.

 

A psicose é quando as pessoas perdem algum contato com a realidade. A psicose de formação de massa é quando uma grande parte de uma sociedade concentra sua atenção em um líder ou uma série de eventos e sua atenção se concentra em um pequeno ponto ou questão. Os seguidores podem ser hipnotizados e conduzidos a qualquer lugar, independentemente dos dados provarem o contrário. Um aspecto-chave do fenômeno é que as pessoas identificam líderes – aquelas que podem resolver o problema ou questão sozinhas – e seguirão esse(s) líder(es), independentemente de quaisquer novas informações ou dados. Além disso, quem questiona a narrativa do líder é atacado e desconsiderado.

Existem quatro componentes-chave necessários para que um ambiente experimente uma psicose de formação de massa: falta de laços sociais ou dissociação de conexões sociais, falta de sentido (as coisas não fazem sentido), ansiedade flutuante e psicológico flutuante. descontentamento. A ansiedade flutuante é uma sensação geral de desconforto que não está ligada a nenhum objeto específico ou situação específica.

Quando os seguidores começam a participar de uma estratégia para lidar com o objeto da ansiedade, novos vínculos sociais normalmente emergem e as pessoas mudam de um estado mental negativo e de isolamento, para exatamente o oposto: um nível extremamente alto de conexão.

 

Você ouve Us and Them , o clássico do Pink Floyd que diz assim:

Preto e azul

E quem é que sabe qual é qual e quem é quem

Para cima e para baixo

E no final, são apenas voltas, e voltas, e voltas

Sobe e volta instrumental, desta vez saxofone center channel

https://www.youtube.com/watch?v=hERapHPZpAY

Pois é. Quem conhece meu trabalho, sabe que pelo menos desde 2007 eu venho batendo nessa tecla de que o “nós contra eles” acabaria mal. Inclusive explicitei essa ideia em meus livros Nóis Qui Invertemo As Coisam, de 2009 e no Me Engana Que Eu Gosto, de 2015. Nada pode me convencer de que essa polarização entre nós e eles, criada, plantada e regada entre a intelectualidade petista por mais de três décadas, é o gatilho para essa espécie de psicose de massa que vivemos.

Por volta de 2014, uma equipe do Laboratório de Percepção e Avaliação Social da NYU tentou mostrar que nossos cérebros são programados para o partidarismo, que distorce nossas percepções na vida pública. Pesquisas em outros lugares estão ressaltando o quão cega a mentalidade "nós-contra-eles" pode tornar as pessoas quando tentam processar novas informações políticas. Uma vez que essa mentalidade partidária entra em ação, o cérebro quase automaticamente pré-filtra os fatos – mesmo os não controversos – que ofendem nossas sensibilidades políticas.

Uma vez que você aciona o gatilho de que você é parte do 'nós-contra-eles', é quase como se todo o cérebro se re-coordenasse na forma como vê as pessoas.

https://www.theatlantic.com/politics/archive/2014/09/how-politics-breaks-our-brains-and-how-we-can-put-them-back-together/453315/#main-content

Os pesquisadores fizeram uma pesquisa curiosa: montaram diversos rostos de pessoas e de bonecos. E outros tantos de pessoas combinadas com bonecos. Então pedem para que as pessoas que participaram da pesquisa identifiquem quem é humano, quem é boneco. Um rosto que é 90% humano e 10% boneco, é claramente identificado como humano. Mas quando a combinação é de 50% humano com 50% boneco, a coisa fica interessante.

Os pesquisadores então fazem uma pegadinha. Dividem as imagens dos rostos em dois grupos. Antes de mostrar o primeiro grupo, mostram a bandeira dos Estados Unidos e anunciam que são compatriotas. O segundo grupo é antecedido da bandeira da Russia, dizendo que são rostos de russos.

Journal of Experimental Social Psychology 52 (2014) 15–23/Hackel et al., JESP, 2014

Quando um rosto de americano aparece, é mais provável que os americanos atribuam a ele humanidade. Quando o rosto é russo, essa atribuição é menos provável. Os pesquisadores descobriram que as regiões do cérebro usadas para ter empatia com os outros não são tão ativas quando uma pessoa está avaliando rostos que lhe disseram pertencer à outra equipe. Ao outro lado.

Desumanizar o outro é comum em alguns dos capítulos mais sombrios da história – o Holocausto, o genocídio em Ruanda, o Khmer Vermelho no Camboja – quando os regimes se esforçaram muito para criar ódio contra "o outro".

Mas para criar a estrutura básica "nós e eles", nada disso é necessário. O cérebro é tão programado para construir esses grupos que pode transformar qualquer um na rua em um partidário. Basta que ele esteja com uma camiseta vermelha. Ou amarela.

E os companheiros de equipe nem mesmo precisam se encontrar. Nem interagir. Não precisa haver nada em jogo. Mas em poucos minutos, gostamos mais de nossos companheiros de equipe do que dos outros caras.

A pesquisa com os rostos mostrou que os membros de um lado têm menos simpatia por quem está do outro lado e até sentem prazer ao ler sobre sua dor.

Entendeu então? A divisão da sociedade entre nós e eles é o primeiro passo para a implantação de uma psicose de massa.

 

Cara, quem tocou sax em Us and Tehm foi Dick Parry... e faz toda a diferença. Um dia, quem sabe, voltaremos a fazer músicas assim...

A divisão partidária nos países é tão antiga quanto a democracia. E não é viável nem desejável esperar um consenso nacional sobre todas as questões. Mesmo que todos trabalhássemos a partir do mesmo conjunto de fatos, e mesmo que todos entendêssemos esses fatos perfeitamente, as diferenças de opinião permaneceriam – e deveriam – permanecer. Essas opiniões não são o problema. O problema é quando estamos tão cegos pelo nosso partidarismo que ele se sobrepõe à razão – e pesquisas sugerem que isso está acontecendo o tempo todo.

 

Voltemos lá ao caso das crianças que tiveram um surto de coisa nenhuma. “Doença psicogênica em massa”, anteriormente conhecida como “histeria em massa” – um termo mais pejorativo que não é mais favorecido, descreve a ocorrência bem documentada de grupos de pessoas relatando vários sintomas inespecíficos em resposta ao estresse, medos e ameaças percebidas, especialmente através de o poder de sugestão relacionado a um medo específico.

Quando os médicos que examinam pacientes hospitalizados diariamente são informados mais tarde de que um paciente tem uma infecção por piolhos ou sarna, de repente ficamos com muita coceira. Mais precisamente, nos tornamos hipervigilantes e notamos cada pequena coceira que normalmente não chegaria ao nível de nossa percepção consciente. E então nos preocupamos que temos piolhos ou sarna - atribuímos isso à causa com a qual estamos preocupados, pelo menos por um breve momento.

As mídias sociais podem estar mudando o “contágio” de doenças psicogênicas de tal forma que surtos relacionados podem ocorrer muito além de pequenos grupos isolados. É como um vírus que contamina humanos se espalhando pelo Twitter, sacou?

 

https://www.youtube.com/watch?v=2_4fCPUrTQ0

A histeria em massa é, felizmente, relativamente incomum, mas nos dá uma visão alarmante da mente humana e da facilidade com que ela pode ser influenciada e até mesmo manipulada por outros.

Para mergulhar mais fundo, acesse a página cafebrasilpremium.com.br . Na home, na área de conteúdos para degustar, procure a Jornada Psicose de Massa. É tudo gratuito, e você dará um mergulho sem volta nas técnicas e truques usados para manipular as massas. É imprescindível.

É assim, ao som de Os Meninos Dançam, com Caetano Velloso e a Outra Banda Da Terra, que vamos saindo esperançosos...

Olha, pesquisas também estão revelando que nossos cérebros, embora imperfeitos, são surpreendentemente flexíveis e podem ser empurrados em uma direção melhor. Nós nos isolamos de verdades desagradáveis. Mas quando motivados - por dinheiro, pelo ambiente certo, por um senso de identidade afirmado, por instituições que valorizam a verdade e a civilidade - esses muros caem.

Fora dos laboratórios, as pessoas estão colocando essas pesquisas em prática, desenvolvendo fóruns cívicos com nossas deficiências mentais em mente. E mostrando que é possível escapar da psicose em massa.

É mais ou menos o que eu tento fazer com o Café Brasil, em todos os nossos canais. Mas como eu tenho um lado, os do outro lado acham que eu também sou louco... rararararra.

Bem, a gente aqui não morde, não ofende, não manipula. Apenas mostra que existem diversas janelas para se olhar o mundo. Saber quais são e o que se vê por elas, é fundamental para não ser mais um psicótico.

Parte desse meu trabalho está em meu livro Merdades e Ventiras, que nasce da indignação de alguém que, cansado de ser tratado como idiota pela mídia, decide reagir. Reuni nele 40 anos de experiência como profissional de comunicação, alguém que não está dentro das redações e que sofre na mente as consequências dos climas de medo, angústia e desinformação provocados pela mídia.

Merdades e Ventiras é parte do meu legado. A cada dia torna-se mais importante conhecer o funcionamento da mídia, como nos comportarmos usando-a e, principalmente, como funciona este novo mundo onde, como indivíduos, nos tornamos mídias e vivemos o pesadelo das Fake News.

http://merdadeseventiras.com.br venha conhecer esta proposta, dê um passo além na sua independência intelectual dos canalhas que tentam diariamente fazer sua cabeça.

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí ó, completando o ciclo.

O conteúdo do Café Brasil pode chegar ao vivo em sua empresa através de minhas palestras. Acesse lucianopires.com.br e vamos com um cafezinho ao vivo.

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Para terminar, uma frase do dramaturgo espanhol Manuel Tamoyo Y Baus

Os que estão no poder invocam a ordem; os que estão na oposição, a liberdade.

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