Café Brasil Premium 857 - Independência ou morte

Data de publicação: 17/01/2023, 09:50

https://www.youtube.com/watch?v=pVVGY5R7hMM

Vivemos uma revolução das mídias, que tem mudado não só a forma como se produz e distribui informação, mas principalmente como a consumimos. E isso significa o aumento da responsabilidade sobre a análise e escolha da informação que vamos consumir. Mas muita gente ainda não percebeu isso.

 

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar?

 

Volta desde que samba                                                                  

COMENTÁRIO DO OUVINTE

Grande Diego, muito obrigado! O ano que está começando promete ser no mínimo intenso... Não tem como escapar do clima de preocupação e apreensão que tomou conta do país, eu acho que não tem ninguém tranquilo. Mas estamos aí para enfrentar os desafios e fazer acontecer, O programa de hoje é um lembrete sobe a parte que cabe a cada um de nós. Grande abraço!

 

https://www.youtube.com/watch?v=V-J_FatMnXY

Desde que desceu das árvores, o homem espalhou conhecimento contando histórias. Por muito tempo, boca a boca, até que ele começou a encontrar formas de registras as histórias na parede de uma caverna, num papiro e depois em livros.

Mas os livros eram muito caros e raros durante a Idade Média. Cada cópia de um livro tinha que ser escrita à mão por um monge, copiada página por página, produzindo o que se chamava iluminuras. Até que em meados de 1400, um artesão alemão chamado Johannes Gutenberg desenvolveu uma maneira de lidar com esse processo usando uma máquina - a primeira prensa de impressão.

Sua invenção combinou peças móveis de metal que poderiam ser reutilizadas com uma prensa que poderia produzir impressões nítidas no papel repetidas vezes. Na prensa de Gutenberg, um tipo móvel que continha cada letrinha, era organizado sobre uma placa de madeira plana chamada chapa inferior. Imagine que para escrever a palavra “imagine”, era preciso alinhas os tipos com o i, o m, o a, o g, o i, o outro n e o e, formando a palavra. E assim aconteceria com todo o texto. Um texto do roteiro deste podcast, que tem por volta de 15 mil caracteres, precisaria que 15 mil tipos móveis fossem alinhados, formando as palavras. Obtinha-se então uma placa com todo o texto escrito com os tipos.

Tinta era aplicada sobre os tipos e uma folha de papel era colocada em cima. Uma placa superior pressionava a folha sobre a placa inferior, onde estava a tinta. Assim o texto dos tipos era carimbado sobre o papel. Este tipo de impressora de madeira poderia imprimir cerca de 250 folhas por hora.

A prensa de Gutenberg tornou possível produzir livros e outros textos de forma rápida, precisa e muito mais barata, o que permitiu que eles fossem reproduzidos em maior número. Antes da prensa, os livros pertenciam principalmente às classes altas. Mas com livros mais baratos e mais prontamente disponíveis, as classes médias também poderiam acessá-los. Isso levou a um aumento na alfabetização e educação do público. E da prensa veio a imprensa, cujo desenvolvimento tem sido creditado por ajudar a inaugurar a era moderna, permitindo a disseminação de informações em todos os níveis da sociedade.

A imprensa passou por muitas alterações e melhorias nos séculos desde a sua criação. Os jornais evoluíram para um método chamado impressão offset, que pode imprimir cerca de 70.000 folhas por hora, ou cerca de 280 vezes mais folhas do que a impressora de Gutenberg.

E aí surgiram os computadores e a internet...

 

Por cerca de 500 anos, fomos treinados a pegar um livro, uma revista u um jornal nas mãos e lê-lo. Era um canal com uma só via: do autor para o editor para o consumidor. Foi assim que fomos treinados a produzir e consumir informação.

A internet veio implodir esse sistema provocando mudanças fundamentais:

- abriu uma via com duas mãos. Do autor para o editor, para o consumidor e vice-versa. Hoje um texto escrito é comentado em segundos via redes sociais

- reduziu ainda mais o tempo e custo de produção e distribuição de informação. Se os jornais traziam as notícias de ontem e as revistas as da semana passada, agora, é a notícia do momento. Imediata.

- aumentou a quantidade de fontes de informações. Hoje praticamente todos os habitantes do planeta que possuam um celular, são fontes de informação imediata. Sem editores, sem cuidados de produção.

- abriu acesso a qualquer informação em qualquer parte do planeta

- permitiu que o consumidor escolha o que, quando, como, quanto e onde vai consumir, sem ter de se submeter somente àquilo que a rede de TV ou o editor do jornal quer informar.

- trouxe a flexibilidade de mudar a informação imediatamente. Se os jornais tinham de publicar uma errata no dia seguinte, hoje a informação muda no mesmo momento em que é publicada.

- a tecnologia nos livrou da obrigação de ter de comprar uma aparelho para poder acessar a informação. Não é preciso ter uma televisão, um rádio ou um computador. Sua janela para o mundo é seu telefone celular.

- a internet reduziu o custo de entrada, da produção de informação, para quase zero. Não são mais necessários equipamentos caríssimos, grandes equipes ou torres sofisticadas para produzir e transmitir informação. Está tudo aí, no seu bolso.

- o acesso do consumidor para o produtor agora é total. Você pode conversar com o autor deum texto, de um podcast, mandando uma mensagem pelo Instagram ou pelo Twitter. E corre o risco de ser respondido diretamente por ele.

- abriu caminho para que conheçamos tudo que é publicado, fazendo comparações, lendo os comentários de outros leitores e ouvintes, acessando o histórico da produção e detalhes que antigamente eram inacessíveis.

- integrou texto com música, com imagem e com a interação do consumidor.

Cara, tudo isso é uma revolução sem precedentes, mais impactante até que a prensa de Gutenberg, pois integrou definitivamente você, que é quem consome a informação, ao processo. Você não é mais o zumbi inerte sentado diante de um televisor esperando para ouvir o que o Cid Moreira vai dizer no Jornal Nacional.

Agora você é parte do processo.

 

https://www.youtube.com/watch?v=MZAu4yzVMK8

É por isso que há anos eu coloco a voz do ouvinte no Café Brasil. Não leio mais uma carta, mas quero a sua voz, com os ruídos de fundo, com sua intepretação dos fatos. E é por isso que eu digo sempre que este podcast é feito por quatro pessoas, incluindo você, ouvinte, no processo.

Não tem mais volta. Quem produz pensando que está falando com uma massa inerte, ficou no século passado.

Bem, e daí? O que é que isso tudo quer dizer?

Que você tem um trabalho de casa a ser feito. Que para consumir e tirar proveito dessa revolução da mídia, você vai ter de mudar a forma como foi treinado para consumir informação. E terá algumas responsabilidades que antigamente ou não tinha ou tinha muito pouco.

E essa é uma mudança em várias frentes.

Nós somos geração Disney. Por quase 100 anos fomos treinados a consumir histórias com começo, meio e fim. Até a internet trazer para nosso dia a dia uma coisa chamada hipertexto. A informação que não navega mais do começo para o meio para o fim. Na internet, navegamos para a frente, para trás, para os lados, para cima, para baixo, para dentro e para fora. Você está lendo um texto e de repente encontra nele uma referência com um link. Clica no link e é levado para outro lugar, outra plataforma, outra história, um áudio, um vídeo... que leva você a outras descobertas e assim vai, infinitamente. A jornada não termina mais no final da página ou do texto.

Percebe que isso é muito diferente de ler um gibi como você fazia nos anos noventa? E que isso demanda novas habilidades? Sua curiosidade está sendo aguçada, a preguiça sendo desafiada, a capacidade de conectar informações está sendo ampliada. Tão ampliada que, se você não cuidar, vai passar quatro horas vendo sequências de dancinhas no TikTok.

Sacou o perigo disso?

Essa revolução pode afastar as pessoas do mundo real, dos relacionamentos pessoais, do cheiro da chuva, do contato físico com o mundo. E a pandemia com seus lockdowns mostrou o resultado disso...

Então surge uma primeira responsabilidade: você tem de controlar quanto mergulha nos canais de comunicação. Quanto do seu tempo de vida você dedicará ao processo de adquirir informação. Se seu avô fazia isso diariamente lendo o jornal da manhã, seus pais fizeram diariamente assistindo o Jornal Nacional, agora você carrega consigo a fonte de informação. E ela vibra em seu bolso avisando que algo aconteceu. Percebe como mudou tudo?   

 

A outra responsabilidade tem a ver com o processo de seleção daquilo que você consome. Antigamente era muito fácil. Quatro redes de televisão, quatro redes de rádio, quatro grandes jornais e deu. Era dali que vinha a informação, e era o que tinha. Para acessar outras informações, você teria de contar com algum amigo trazendo um livro ou revista do exterior. Teria de se enfiar numa biblioteca. Era tudo muito penoso e o consumo de tempo e energia era proibitivo.

Agora é SNAP! Estalou os dedos, está tudo na sua frente. Zilhões de toneladas de informação, produzidas por gente que é do ramo e sabe como trabalhar a sua emoção para que você escolha as informações que eles querem.

Antigamente você escolhia um livro pela capa, um elepê pela capa. Pega nas mãos, saboreava o trabalho gráfico, era convencido pelo olhar, pelo tato, pelo cheiro. Hoje é um thumbnail, que não tem espaço para um trabalho gráfico sofisticado. Você não toca nele, não sente, não cheira. É um bit, que desaparece numa fração de segundos, pois existem outros milhares de thumbnails lutando para aparecer para você.

Mais que isso: não existe mais acaso. O thumbnail apareceu para você porque o sistema sabe do que você gosta... Você não liga mais na Globo “pra ver o que está passando”... o Youtube vai mostrar aquilo que ele acha que você vai consumir...

Sacou como isso muda tudo? E traz consigo uma baita responsabilidade que é a de selecionar o que você precisa, e não apenas o que você quer.

A máquina sabe que você quer sexo, sangue e pessoas em situações constrangedoras. E é isso que ela vai oferecer. Por isso é sua responsabilidade aprender quando estão lhe manipulando e ir além disso.

A internet talvez seja a mais maravilhosa invenção da humanidade, se você a fizer trabalhar para você, e não você para ela.

Então a outra responsabilidade é se preparar para consumir a informação. Se antigamente quem não lia não podia assistir televisão sem ser manipulado, hoje quem não lê muito mais, não pode acessar os diversos canais sem ser manipulado a cada clique.

Para quem você escolheu dar seu tempo de vida? A escolher dar 30 minutos para o Café Brasil, você tomou uma decisão consciente. Ao dar 30 minutos para a dancinha do TikTok, dificilmente terá sido consciente. Você foi capturado pela máquina de conquistar atenção.

Sacou o tamanho dessa responsabilidade? Como você vai gastar seu tempo de vida. Ontem, entre o jornal de ontem e o de hoje, havia 24 horas. Agora são 24 nanossegundos...

Bem, por fim, vou para a terceira responsabilidade que tem a ver com como você influencia e impacta todo o processo.

De novo: nos anos 70 e 80 a gente via a família, como zumbis, hipnotizados diante de uma televisão. Um só aparelho, na sala. Sem lugar de fala, só consumindo o que jogavam sobre você. O único impacto que você causava era indireto: dar audiência para os programas. Fim.

Hoje, a audiência, sob forma de cliques, views e downloads, ainda é importante. Mas há coisas muito mais importantes.

Hoje você dá engajamento. Os sistemas estão de olho na capacidade que os produtores de conteúdo têm de engajar seus seguidores. Seu like, seu comentário, seu compartilhamento, são fundamentais para que os grande sistemas de distribuição entendam se devem mostrar o programa para mais gente. Entendeu a diferença?

A rede Globo lançava um sinal para o ar e todo mundo que tivesse um aparelho de televisão podia capturar.

O Facebook e o Instagram não lançam ao ar. Escolhem para quem mostrar. E mostram conforme as pessoas reagem...

O que significa que o seu comportamento impacta imensamente na distribuição. Não adianta nada eu publicar um vídeo no Youtube se minha audiência não interagir com ele. O sistema não vai distribuir.

Você então faz parte da engrenagem de distribuição, não só do consumo.

Use sue dedo para clicar nas teclas que mostrarão para os sistemas de distribuição que o assunto que você está vendo, vale a pena. Você jamais deveria terminar de ouvir um podcast, assistir um vídeo, ler um post, sem dar um like ou dislike no final. Isso tem de ser automático. E se gostou mesmo, tem de comentar, e comentar bastante, não apenas com um “gostei”. Esse é a parte que lhe cabe no processo, e que faz uma tremenda diferença.

A responsabilidade então é: reaja ao conteúdo que você recebe. Nunca, jamais, consuma algo que lhe seja útil, sem devolver com um like, compartilhamento e comentário. É essa a sua responsabilidade.

 

https://www.youtube.com/watch?v=eqnJD9eGnuY

E ainda na praia do seu impacto: a comunicação está indo para as mãos dos independentes. Não são mais grandes conglomerados, grandes empresas com grandes patrocinadores que determinam até onde elas podem ir. A comunicação está nas mãos de independentes, de gente como eu, que não tem estrutura, não tem uma grande empresa, não tem grandes patrocinadores. Mas tem liberdade.

Para que eu continue existindo, preciso da sua contribuição. Aliás, contribuição coisa nenhuma.

Preciso do seu dinheiro. O mesmo dinheiro que você não pensa duas vezes antes de dar para a Netflix, para a Amazon Prime, para a Net, para revista Veja ou para o Estadão. Sempre foi a coisa mais normal do mundo assinar esses canais todos, mas a internet trouxe a concepção de que o que está nela é de graça. Bem, não é, custou produzir, e isso tem de ser remunerado.

E é aí que entra uma outra responsabilidade: a de entrar dentro do processo. Cara, se você gosta do Café Brasil, por que não o assina? Acha que não vale? Então não perca seu tempo com ele! Mas se vale se tempo, tem de valer a assinatura.

Eu tenho sido tentado a passar a fazer como a revista Veja ou a Netflix: quem não assina, não recebe, mas não é esse meu propósito. Não quero distribuir o Café Brasil só para quem quer, mas para quem precisa. Eu quero que meu conteúdo chegue ao maior número de pessoas, porque acredito que estou cumprindo uma missão nobre ao informar e provocar com algo além de trivialidades. Por isso não quero fechar o podcast exclusivamente para assinantes. Mas tá complicado.

Todo produtor independente de conteúdo está vivendo o drama de monetizar seu trabalho, e a assinatura tem sido a solução mais segura, estável e confiável. Patrocinadores são ótimos, mas eles vêm e vão embora ao sabor de suas vontades. Não dão segurança e criam uma relação de dependência que é complicada. Especialmente quando a pressão sobre eles é usada para calar quem fala coisas que uma certa elite não quer ouvir.

Eu não quero transferir o Café Brasil para nenhuma plataforma ou grupo, não quero ter gente dizendo o que e como fazer e, principalmente, não quero gente colocando limites.

Nesta revolução da mídia, ou você é independente ou morre.

Percebeu que a responsabilidade por viabilizar a existência dos canais de comunicação independentes que você curte, é sua?

É sua, cara.

Assim é o Café Brasil. Criamos uma página nova para isso: o canalcafebrasil.com.br e convido você a entrar no nosso barco de maneira ativa. Assine o Café Brasil se você acha que ele agrega algo em sua vida.   

Se acha que não vale, fique na sua. Não vindo me encher o saco já é um bom caminho.

 

https://www.youtube.com/watch?v=HJENDc2hCH0

E é com o clássico Sina, numa versão que não saiu em disco, de e com Raimundo Fagner, que vamos saindo animados para enfrentar mais um ano. Mas só se você vier conosco.  

 

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí ó, completando o ciclo.

De onde veio este programa tem muito mais, acesse canalcafebrasil.com.br e torne-se um assinante. Além de conteúdo original e provocativo, você vai nos ajudar na independência criativa, a levar conteúdo para muito mais gente.

E se você gosta do podcast, imagine uma palestra ao vivo. E eu já tenho mais de 1000 no currículo. Conheça os temas que eu abordo no lucianopires.com.br.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

Para terminar, uma frase atribuída a Leonardo da Vinci. Eu duvido, mas a frase é ótima:

Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro.

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