Café Brasil Premium 862 - Conversa Paralela

Data de publicação: 18/02/2023, 12:36

https://www.youtube.com/watch?v=VVwq1zxLbwk

Fui convidado para participar do podcast Conversa Paralela, produzido pela Brasil Paralelo, com apresentação de Lara Brenner e Arthur Morisson. Uma conversa focada na importância e impacto da mídia, mas que aborda outras questões fundamentais sobre a vida em sociedade. Você ouvirá o áudio dessa conversa.

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar?

 

"Olá Luciano. Aqui é o Klebson. Antigamente eu estava em Florianópolis, então eu era o Klebson de Florianópolis, agora eu sou o Klebson do Canadá. Eu já mandei alguns áudios pra você e você colocou dois no ar.

Um quando eu estava num momento miserável da minha vida, estava sem casa e sabe... morando de favor numa república...eu estava bem ruim. E o segundo é quando eu estava pensando, já anos depois, dois, três anos depois, seguir carreira, foi ali na pandemia. E eu falei pra você que eu pretendia ser procurador e tal.

Mas, quis o destino que as coisas mudassem e eu segui pra outro lugar e eu vou te falar que sair do Brasil, pra mim foi uma espécie de alívio. E eu não estou falando isso de nenhuma maneira pra achincalhar o meu país.

Eu não sinto vergonha de ser brasileiro, porque culturalmente, historicamente, nós temos um conteúdo incrível, a nossa história é incrível.

Eu digo pra você que ter saído do país, eu saí muito a contragosto, eu queria estar coma minha gente, falando a minha língua mas, infelizmente hoje, o Brasil de hoje, não é aquele dos anos 50, que o meu avô cresceu, não é aquele dos anos 40, que lutou contra o nazismo, não é aquele de Bonifácio, que lutou pela independência. Se eu saí do país foi pra buscar dignidade.

Então, meu recado é esse: o que o Brasil me deu? Eu não consigo ver. Se você, que está ouvindo... não é só pra você, Luciano, se você que está ouvindo a minha mensagem e está no exterior também, se o teu motivo de estar aí for o mesmo que o meu, parabéns, cara. Você não é o único.

Não estou mandando essa mensagem feliz, obviamente, que não. O Brasil é o país mais rico e mais economicamente perfeito. É o melhor país pra se viver, mas é muito mal administrado. Então, quisera eu que a pátria me oferecesse um berço que eu mereço e que todo o povo brasileiro pagador de impostos merece.

Então, como eu não vejo isso a curto prazo, eu não quero morrer na míngua. Pode ser que tenha gente que tenha berço de ouro, herança ou uma família bem estruturada, o que não foi o meu caso, consiga ter algo pra viver, consiga batalhar muito e sair da pobreza, ou que está bem de vida e está bom assim como as coisas estão, mas eu não quero isso pra mim.

Luciano: é isso. Queria mandar uma mensagem. Não tirando a esperança dos que ouvem, mas no meu caso, no meu caso particular eu não consigo me ver mais 37 anos na pindaíba ou passando necessidade ou tentando fazer acontecer, abraçando as ideias e interessado em resolver questões

Então, é essa a minha mensagem peço desculpas por ter sido muito longa. Acompanho você há sete anos. É um dos grandes pensadores, criadores de conteúdo no Brasil hoje. Continue seu excelente trabalho. Eu gosto muito de você. Vida longa ao Café Brasil. Só isso. Só isso. Grande abraço aqui do Canadá."

Grande Klebson, essa é então sua terceira mensagem no Café Brasil. Que legal, a gente ama ver a evolução dos ouvintes. Olha, eu entendo o seu desabafo e a sua escolha. Muitas pessoas fizeram o cálculo e acharam que o esforço que dispendiam para continuar lutando no Brasil, seria melhor compensado num país mais organizado. Beleza. É uma escolha. Quem sabe um dia, com a experiência que você e outros brasileiros estão adquirindo no exterior, tenhamos de volta uma grande quantidade de gente com a cabeça feita para ajudar a mudar o Brasil. Boa sorte aí no frio, meu caro. Aqui o tempo anda quente...

A Brasil Paralelo é uma produtora de conteúdo que tem incomodado muita gente ao propor que existem outras janelas pelas quais podemos olhar nossa história e o mundo. Como eles vão contra o pensamento hegemônico que tomou conta do Brasil por pelo menos cinco décadas, e que é responsável pela desilusão de gente como o Klebson, estão sendo atacados de todos os lado. Mas o conteúdo deles é muito bom.

A Lara Brenner e o Arthur Morisson me convidaram para uma conversa de alto nível e eu aceitei imediatamente. É ela que você ouvirá a partir de agora:

Luciano Pires: Fui convidado para participar do podcast Conversa Paralela, produzido pela Brasil Paralelo, com apresentação de Lara Brenner e Arthur Morisson, uma conversa focada na importância e no impacto da mídia, mas que aborda outras questões fundamentais sobre a vida em sociedade. Você ouvirá o áudio dessa conversa. Bom dia, boa tarde, boa noite, você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires, posso entrar?

Clebison: Olá, Luciano, tudo bem? Aqui é o Clebison, antigamente eu estava em Florianópolis, então era o Clebison de Florianópolis, agora eu sou o Clebison do Canadá, eu já mandei alguns áudios para você e você colocou dois no ar, um quando estava em um momento muito miserável da minha vida, quase... na verdade estava sem casa, e tipo, morando de favor em uma república e tal, estava bem ruim, e o segundo é quando eu estava pensando, já anos depois, dois, três anos depois, seguir carreira, foi ali na pandemia, e aí eu falei para você que eu ia fazer... pretendia ser procurador e tal, mas quis o destino que as coisas mudassem e eu segui para outro lugar, e eu vou te falar que sair do Brasil para mim foi uma espécie de alívio, e eu não estou falando isso de nenhuma maneira para achincalhar o meu país, eu não sinto vergonha de ser brasileiro, porque culturalmente, historicamente nós temos um conteúdo incrível, a nossa história é incrível eu digo para você que ter saído do país, eu saí muito a contragosto, eu queria estar com a minha gente, falando a minha língua, mas infelizmente hoje, o Brasil de hoje não é aquele dos anos 50, que o meu avô cresceu, não é aquele dos anos 40, que lutou contra o nazismo, não é aquele de Bonifácio, que lutou pela independência, se eu saí do país foi para buscar dignidade, então meu recado é esse, o que o Brasil me deu? Eu não consigo ver, se você que está ouvindo, agora não é só para você, Luciano, se você que está ouvindo a minha mensagem e está no exterior também, o teu motivo de estar aí for o mesmo que o meu, parabéns, cara, você não é o único. Não estou mandando essa mensagem infeliz, obviamente que não, o Brasil é o país mais rico e mais economicamente perfeito do mundo, é o melhor país para se viver, mas é muito mal administrado. Então, quisera eu que a pátria me oferecesse um berço no qual eu mereço e no qual todo o povo brasileiro pagador de impostos merece. Então, como eu não vejo isso a curto prazo, eu não quero morrer na míngua, pode ser que tenha gente que tenha berço de ouro, herança ou uma família bem estruturada, que não foi o meu caso, consiga ter algo para viver e consiga batalhar muito e sair da pobreza, ou que está bem de vida e está bom assim como as coisas estão, mas eu não quero isso para mim. Então, Luciano é isso, queria mandar mensagem, não tirando a esperança dos que ouvem, mas no meu caso, meu caso particular, eu não tenho tempo mais a perder, não consigo me ver mais 37 anos na pindaíba ou passando necessidade ou tentando fazer acontecer e ninguém abraçando as ideias, ninguém interessado em resolver questões, então essa é a minha mensagem, peço desculpas por ter sido muito longa, acompanho você há sete anos, é um dos grandes pensadores, criadores de conteúdo do Brasil hoje, continue seu excelente trabalho, eu gosto muito de você, vida longa ao Café Brasil, só isso, só isso, grande abraço aqui do Canadá.

Luciano: Grande Clebison. Essa então é a sua terceira mensagem do Café Brasil, é muito legal, a gente ama ver a evolução dos ouvintes. Eu entendo o seu desabafo, e essa sua escolha, muitas pessoas fizeram o cálculo e acharam que o esforço que dispendiam para continuar lutando aqui no Brasil seria muito melhor compensado em um país mais organizado. Beleza, é uma escolha, quem sabe um dia, com a experiência que você e outros brasileiros estão adquirindo no exterior, tenhamos de volta uma grande quantidade de gente com a cabeça feita para ajudar a mudar o Brasil. Boa sorte aí no frio, meu caro, aqui o tempo anda quente.

O Brasil Paralelo é uma produtora de conteúdo que tem incomodado muita gente, ao propor que existem outras janelas pelas quais podemos olhar a nossa história e o nosso mundo, e como eles vão contra o pensamento hegemônico que tomou conta do Brasil por pelo menos cinco décadas, e que é responsável pela desilusão de gente como o Clebison, estão sendo atacados por todos os lados, mas o conteúdo deles é muito bom, cara. A Lara Brenner e o Arthur Morisson me convidaram para uma conversa de alto nível e eu aceitei imediatamente, é ela que você ouvirá a partir de agora.

Lara Brenner: Começa mais um Conversa Paralela, o seu podcast favorito da Brasil Paralelo. Boa noite Arthur Morisson.

Arthur Morisson: Muito boa noite Lara Brenner, é sempre bom estar aqui com você.

Lara Brenner: E essa sua camiseta? Reza a lenda que é temática.

Arthur Morisson: Cara, essa minha camisa aqui eu recebi do nosso convidado e eu queria avisar que não foi convidado, porque a câmera ainda não está nele, certo? Mas a galera vai achar, ai combinaram, não sei o que, porque ele veio com a mesma camisa, porque vamos falar sobre o que?

Lara Brenner: Sobre mídia, vamos falar justamente sobre isso com Luciano Pires, que é profissional de comunicação com mais de 40 anos de experiência em marketing e comunicação, além de um baita podcaster. Bem-vindo, querido.

Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite. Esse é o meu bordão desde 2006, dá para ver bem...

Lara: Muito bem, está pegando...

Luciano Pires: Muito bom estar aqui com vocês.

Lara Brenner: Eu quero dizer que eu tenho essa camiseta também, só que eu acabei de ganhar, por isso que eu não estou vestindo, para ninguém achar que eu sou uma pessoa excluída.

Luciano Pires: Mas o pessoal fala, essa diferença entre sexo, o homem pega e enfia a camiseta, ele está pronto, a mulher, eu preciso fazer um look, como eu não fiz um look, eu não vou colocar.

Arthur Morisson: Eu nem botei no sal, que tem aquele negócio de botar no sal.

Lara Brenner: Botar no sal, não tem isso não. Não tem esse rolê.

Arthur: Não tem? Isso aí eu já ouvi esse papo aí, então isso é coisa da família.

Lara Brenner: É coisa da sua família.

Arthur: Que bota no sal para não tirar a cor do negócio antes de lavar, não tem um negócio desse. Mãe, isso é só coisa tua mesmo.

Lara Brenner: Mãe, às vezes até é coisa e eu que não estou sabendo. Luciano, eu não vou nem me atrever a explicar tudo o que você faz, os livros que você já escreveu, e os podcasts que você tem, porque você vai saber fazer isso muito melhor do que eu, o que você faz hoje profissionalmente, Luciano?

Luciano: Vocês têm tempo? Eu sou profissional de comunicação, é a raiz do meu trabalho, eu tenho uma usina de produção de conteúdo, que eu comecei, mergulhei de cabeça nisso em 2008, até então eu era executivo de uma indústria de autopeças, fiquei 26 anos como executivo nesse mundo corporativo, em 2008 entrei para valer naquilo que eu chamo do Café Brasil, que é a minha empresa, o Café Brasil editorial, eu cheguei aqui, tua produtora veio, me ofereceu um café, olha, você entende de café? Eu falei, não, o meu café é outra história, o Café Brasil é um conceito, e o conceito dele é o seguinte, dá uma paradinha, vamos tomar um café e trocar uma ideia? Esse é o conceito da editora, e ali eu tenho um nível de geração de conteúdo que depois é distribuído de vários canais, várias formas. Então, as pessoas quando olham, você é um podcaster, não, um podcaster é um canal de distribuição, palestra é um canal, podcast é um canal, livro é um canal, revista é um canal, mídia social são canais, mas o núcleo é uma produção de conteúdo que eu faço desde meados dos anos 90. Quando a internet começou, que era discada, aquela coisa toda, eu comecei já toda semana a publicar um artigo que eu mandava por e-mail com uma listinha de umas 200 pessoas que eu tinha o e-mail, mas isso lá no começo...

Arthur Morisson: Mas artigo de que?

Luciano: Chamava ICQ, era uma coisa maluca na época lá. E de lá para cá eu nunca mais parei. Então, toda semana tem alguma produção...

Lara Brenner: Sobre que tipo de assunto eram esses e-mails?

Luciano Pires: Cara, vida.

Lara Brenner: Suas reflexões.

Luciano Pires: Como a minha origem é cartunista, eu comecei como cartunista, eu estava em Bauru e falei, quando eu crescer, eu vou ser um grande cartunista brasileiro. E não era um cartunista de economia ou de política, era um cartunista social, e o cartunista olha o mundo e faz piada. E aí não tem problema, você quer que eu faça um cartoon sobre usina nuclear, eu faço, sobre física quântica, eu faço, eu não sei nada de física quântica, mas eu sou capaz como alguém que está olhando para aquilo, criar uma piada a respeito.

Lara Brenner: Um crítico a respeito.

Luciano Pires: E a hora que eu comecei a trabalhar esse material todo, eu falei, cara, eu não vou me fixar como um analista disso ou daquilo, eu sou um cartunista, o assunto que pinta, se me interessa muito eu mergulho profundamente, vou ler a respeito. E aí eu designei meu trabalho como iscas intelectuais, então se você perguntar o que eu sou, eu sou um personal trainer de fitness intelectual, minha função é ajudar as pessoas a manter o cérebro em forma.

Lara Brenner: E eu quero dizer que tem funcionado, porque li Merdades... eu amo esse nome, que fique claro, Merdades e Ventiras, livro do Luciano Pires, e eu indico a todo mundo que faça a mesma coisa, porque ele fala justamente sobre o tema sobre o qual nós falaremos aqui, que é mídia, e como essa mídia muitas vezes pode ser arenosa.

Luciano Pires: Está quentinho, saindo do forno.

Lara Brenner: Saindo do forno. Mas antes de nós falarmos do conteúdo que está aqui, Luciano, comente conosco sobre o seu podcast Café com Leite.

Luciano Pires: Então, eu tenho lá... hoje eu faço... cara, eu sou um maluco com produção de conteúdo, hoje eu publico cinco episódios de podcast por semana, saem segunda e sexta, quarta e quinta, toda semana tem um episódio, então é o Cafezinho, que é um episódio menorzinho, que eu criei um podcast para ser um canal de distribuição diferente de podcast, que é o WhatsApp, então eu criei um negócio para ir para o WhatsApp, no fim ele vai para o WhatsApp, redes sociais, YouTube, tudo mais, que é em vídeo, eu comento, eu leio um texto e aí faço um comentário do texto, dá oito minutos. Que aquilo é uma estilingada, se ficar muito legal, ele pode se transformar no Café Brasil, que aí é maior, tem 30, 40 minutos.

Lara Brenner: Você joga a isca, se der certo vira pescaria.

Luciano Pires: E aí o assunto é legal, eu vou continuar. E aí com o tempo eu fui trabalhando esse processo todo de ajudar as pessoas a despucotizar o Brasil, começou lá em 2004, quando eu lancei esse livro aqui, Brasileiros Pocotó, reflexões sobre a mediocridade que assola o Brasil. Esse livro aqui em 2004, eu estava dizendo o seguinte, cara, complicado, eu ligo a televisão só tem porcaria, não tem nada que preste em lugar nenhum, se isso ficar assim, nós vamos criar uma geração que lá na frente vai estar um horror.

Lara Brenner: Profético.

Arthur: As ilustras são suas também?

Luciano Pires: São, os cartoons são meus também. E aí esse livro nasceu, e a partir dele eu criei esse conceito todo do despocotizar o Brasil, e o Pocotó era da música da eguinha Pocotó na época. E fiz um trabalho muito grande desde 2006, eu comecei em 2006, então eu tenho 1600 episódios de podcasts aí, e uma coisa sempre me incomodava, eu só falava com adulto, sempre foi com adulto, pessoal jovem, adulto, mas a faixa média ali era 32, 33 anos, até porque o meu tema é um tema, digamos assim, mais adulto, ninguém vem aqui para dar risada, para ver piadinha, eu venho para trazer temas que são pesados. E eu tinha um sonho de transformar isso em alguma coisa infantil, como é que eu faço para pegar um tema desse que é complicado, e faço para criança? Por quê? Cara, a turma está fazendo a cabeça da molecada jovem, e eu estou aqui falando com adulto, já está torto, esses caras já eram, eu não consigo mais mudar a cabeça dessa turma, mas a garotada dá para mudar, e eu tinha um projeto que um dia eu falei, um dia eu vou fazer, mas nunca deu tempo. E aí nesse ano, tem a Barbara Stock que trabalha comigo, ela faz a parte das mídias digitais, ela falou, cara, vamos, vamos, vamos. Eu falei, cara, eu não sei se vai dar. Aí ela sentou na frente do microfone e fez uma leitura do texto. E a hora que eu ouvi, eu falei, cara, está aí, porque todos os podcasts eu apresento, e para esse infantil, eu falei, cara, eu não vou botar um velho falando para a criançada, eu queria uma coisa diferente, eu queria uma mãe conversando com o filho. E aí ficou naquela, mas vou trazer uma locutora profissional... quando a Barbara sentou e ela nunca fez locução, ela falou no microfone, eu falei, cara, espera aí, essa é a voz, é isso aí. E aí a gente fez um episódio piloto onde ela fez um podcast do jeito que eu faço o Café Brasil, que sou eu sozinho, sempre fui sozinho...

Lara Brenner: Quais são os assuntos assim?

Luciano Pires: Então, ela publicou o primeiro, nós fizemos um sobre educação que foi dirigido para pais, avisando que estava nascendo um podcast novo infantil, publicamos a importância da educação, aquele negócio todo, e aí começaram a chegar os feedbacks de crianças, ah, a moça fala muito. E aí fica com aquela ideia, mas ela tinha que estar conversando com alguém, e aí nasceu a ideia dela conversar com uma criança, só que, cara, como eu tenho cem anos de produção e execução, para mim, quando eu sento para ter uma ideia, a execução vem junto, eu não consigo sentar aqui e bolar um plano sem ter junto a execução, então naquela hora, cara, se é uma criança, vai ter que ter uma criança sentada lá, eu vou ter que arrumar uma criança para estar no dia da gravação, o pai vai ter que levar, cara, não pode ter criança, como é que nós vamos fazer? E aí nós usamos um estratagema ali, onde a Barbara faz a locução todinha, e a gente trabalha na edição, e ela conversa com ela mesma, só que na edição, ela recebe um efeito na voz, ela virou a Babica, que é um avatar que mora no celular dela, que tem 12 anos de idade. E aí é um diálogo de mãe com filha, e ficou um barato, porque a Babica cresceu, ganhou personalidade, e agora ela está lá, ela vai contestando, ela pergunta... e como ela mora no celular, ela tem acesso ao Google, e aí pintou uma dúvida qualquer, espera aí que eu vou dar uma olhada, ela vai no Google, acha e traz e a gente então pegou, nós fizemos episódios sobre o mito da caverna, a gente falou da vida de Sócrates, a gente falou de eleição, fizemos um episódio lindíssimo contando o hino nacional brasileiro, o que quer dizer a letra do hino.

Lara Brenner: Que legal.

Luciano Pires: Cara, muito legal, e agora estamos fazendo uma série sobre valores, que terminou agora, princípios e valores, e começou essa semana uma série sobre dinheiro, então o que que é dinheiro, de onde vem, para o que serve, por que que não é feio, fazer dinheiro e não ganhar dinheiro, por que que o lucro não é uma coisa ruim, já preparando o embalo para a gente entrar no empreendedorismo. E cara...

Arthur Morisson: Isso tudo está no teu site, está no YouTube, está aonde? Onde é que a galera encontra isso?

Luciano Pires: Qualquer lugar que você digitar lá aparece. Então, tem a casa disso tudo que chama-se Portal Café Brasil, se você entrar no Portal Café Brasil, é a casa onde tudo isso mora, mas em qualquer agregador de podcast que você entrar e botar um nome, está lá. E esse chama-se café com leite, e aí começou uma coisa que é sensacional, que é o seguinte, durante... desde 2006, são 16 anos, eu tive retorno de adultos, a gente recebe um monte de retorno, o pessoal manda em áudio, e aí começou a vir retorno de criança, cara, na idade que eu estou, você receber um áudio de uma criança de nove anos de idade, gente, eu estou amando o podcast de vocês. E ela explicar o conceito que ela ouviu da caverna de Platão, uma criança de nove, seis anos de idade contando para a gente, cara, é de desmontar.

Lara: Que legal.

Luciano Pires: E aí aparece o potencial que isso que nós fazemos aqui tem, sabe? De você realmente impactar fortemente a cultura e você levar coisas que prestam, cara, é conteúdo que ela não... a criança não vai perder tempo ali, não fiz aquilo para passar tempo, ela está ganhando conceitos, e a gente bateu muito em uma tecla que é o seguinte, Café com Leite é um podcast para que os seus filhos ouçam junto com você, e depois você conversa com eles a respeito, e esses feedback estão chegando, pai e mãe da dizendo, cara, depois que terminou o programa, a gente foi bater um papo e saiu uma conversa maravilhosa...

Lara Brenner: Ainda aproxima a família, um elemento de conexão.

Luciano Pires: Ela ouve a Babica, as crianças se identificam na hora, tem uma criança falando para ela sobre conceito de adulto, falar de eleição, abre o programa assim, você está vendo todo mundo falando... o seu tio brigando com o seu pai, esse quebra pau no domingo, o que que esses adultos estão falando, o que que é essa coisa ruim que é política?

Arthur Morisson: Brigando por um monte de cara que nem sabem os nossos nomes.

Luciano Pires: E a gente lá explica, não é ruim, vou te contar o que que é política, e aí a gente dá o conceito tomando o tremendo cuidado de não ter lado nenhum, então é um programa, ele não é partidário, mas ele dá o conceito. Evidentemente eu tenho uma janela pela qual eu vejo o mundo, a minha janela é liberal conservadora, esses conceitos vão passar para lá, mas em momento algum eu vou dizer para eles, vote neste, não vote naquele, e a gente deixa claro, quem tem que resolver isso é você, com a tua família, teu pai, tua mãe, mas o conceito está aqui.

Lara Brenner: Política é isso, que bacana.

Arthur Morisson: Mas trazendo um pouco para esse lado agora mais da mídia e do teu próprio posicionamento mesmo, no portal a gente encontra o teu posicionamento, quando que você começou a colocar mais essa cara a tapa, porque no início começou, ah eu sou cartunista, é isso que eu quero fazer e tal, aí abriu o podcast, teu podcast é o mais antigo do Brasil, são quantos podcasts?

Luciano Pires: O Café Brasil está com 852, se eu não me engano, em atividade toda semana publicando, eu sou o segundo, o outro é o nerdcast, que está na minha frente por quatro meses, mas tem outros que existem também, mas assim, de não falhar uma semana desde 2006 é o meu e o deles.

Arthur Morisson: Mas quando que surgiu essa mudança tua de perceber que você precisaria talvez ali se posicionar ou trazer pessoas, abrir a mente talvez da galera para esse novo lado, esse aspecto, como é que você percebeu essa mudança e falou, vou começar a me posicionar agora?

Luciano Pires: Quando eu contei para que time eu torcia, é isso aí? Então, cara, eu fiz um trabalho, minha pegada começou como cultural, então eu queria falar da cultura do brasileiro, música popular brasileira de montão, 2011, ele ficou um pouco mais pegado para questões de vida em sociedade, 2013 teve aquela loucura toda lá no Brasil, e eu entrei junto naquela loucura e ali eu comecei a falar um pouco mais, mas já desde 2010, 2011 eu já estava trazendo alguns insights interessantes, já trazia Olavo de Carvalho, eu fiz um programa inteirinho com um texto do Olavo, sem dizer que era o Olavo, contei no final porque se não ninguém ia ouvir, só no final, depois, que programa legal, eu contava que era o Olavo. E eu estava trazendo esses caras e colocando no programa, quando chegou em 2014, que vinha a eleição Dilma e Aécio, aí eu chutei o pau da barraca, aí eu fiz um programa chamado Em Quem Eu Vou Votar Para Presidente, primeiro eu fiz um texto, o texto viralizou, lembra aquela época que você fazia um texto que tinha 150 mil downloads... 150 mil compartilhamentos, 6 mil comentários, era aquela época, virou uma loucura, e ali eu explicava porque que eu ia votar no Aécio, e o como é que eu via os dois candidatos. Aquilo foi uma loucura. E ali eu... e ali eu senti uma necessidade, então eu escrevi um sobre... que em todos os meus livros tem, contando quem sou eu...

Lara Brenner: Eu achei isso maravilhoso, eu estou vendo o mundo dessa janela.

Luciano Pires: E de onde é que eu vejo o mundo, então, cara, você vai ler um texto que é feito por um cara que tem uma visão assim, assim e assim, isso é importante para mim, e aí eu fiz isso em todos os programas, publiquei um programa a respeito disso aí, e a partir de lá eu comecei a trazer mais posicionamento. E aí quando deu 2018, aí o bicho pegou.

Lara Brenner: Aqui, o meu ponto de vista sobre o papel da mídia desde os anos 90 advém de um olhar a partir de uma janela localizada entre o centro e a direita, isso está nas páginas iniciais, muito mais próximo de uma posição liberal conservadora do que completamente desvirtuado progressismo de esquerda, que eu chamo de progreçismo com ç, não se trata de defender uma posição política, de me enquadrar neste ou naquele partido, não, não tenho nenhuma ligação com qualquer partido ou corrente política, sou um pensador independente inclinado para o conservadorismo e disposto a seguir aquilo que acho certo, sem me deixar chegar por paixões que anulam a nossa capacidade de discernimento. Fantástico.

Luciano Pires: Ou seja, eu não tenho problema nenhum de sentar com você e você seja um comunista babão de camisa vermelha, desde que seja claro, você não está me enrolando, qual é o problema, você tem uma visão de mundo, eu tenho outra, nós estamos conversando de forma clara.

Lara Brenner: Mas aí é que entra a questão que é o nosso assunto de hoje, porque nós vamos falar hoje sobre mídia, e muitas vezes esta te passando um fato, como supostamente um fato, mas na verdade, ele é uma opinião vestida com a roupinha de um fato. Só que antes de nós entrarmos nisso, nessa falta de honestidade de muitos dos meios de comunicação, para a gente começar na mesma página, eu queria que você comentasse conosco o que que é mídia, admiro quem tem inteligência acima da mídia, mas o que que é mídia?

Arthur Morisson: Porque a galera fala, grande mídia, então o que que é isso?

Lara Brenner: Pequena mídia, mídia independente, o que que é uma mídia?

Luciano Pires: Posso só terminar a pergunta dele aqui?

Lara Brenner: Claro, achei que tinha terminado, desculpa.

Luciano Pires: 2018 eu venho e faço um texto em quem eu vou votar para presidente, e ali, cara, eu fiz um texto gigante, gigantesco, onde eu analisava a eleição, analisava todos os candidatos, chegava no final do texto com a conclusão de que o meu candidato seria o João Amoedo, que eu tinha recém entrevistado no LíderCast, e aí eu dava um... como é que chama? Eu dava um flip no texto...

Lara Brenner: Ô decepção, hein.

Luciano Pires: Porque eu disse o seguinte, espera um pouquinho, mas o João Amoedo para mim, naquela época, antes dele ficar enlouquecido, antes dele sair de órbita, e falava, cara, ele para mim é o melhor, mas ele é campeão de peso médio, a luta é peso pesado, cara, ele não vai aguentar, e aí estou anunciando a vocês que eu vou optar pelo Bolsonaro, e aí eu revelei que eu ia votar no Bolsonaro. Eu tinha uma curva de download de podcast, dava 880 mil downloads por mês, eu botei o programa no ar, caiu 300 mil downloads em um mês, eu caí de 880 para 550 e nunca mais voltou. Pelo fato de eu ter revelado, e aí eu comecei a virar inimigo, cara, aí começaram a me xingar, aí começou uma loucura toda me acusando, aquela coisa que Brasil ficou doido, eu fiz vários programas a respeito de uma psicose que tomou conta do país, que foi sequestrado, onde se você não está do meu lado, você é inimigo e você quer me ver morto. E aí virou aquela loucura toda, então de lá para cá um monte de gente me cancelou, passei a ser odiado por vários podcasters do Brasil, cara, foi uma loucura aquilo lá.

Arthur Morisson: Mas se você não tem nenhum hater é porque alguma coisa você está fazendo de errado.

Luciano Pires: Não, pois é, mas não era assim, cara, eu sempre falei, eu votei no Fernando Henrique Cardoso, nunca me chamaram de FHCista, eu votei no Collor, não me chamaram de Collorista, eu votei no Serra, não era Serrista, votei no Aécio, não fui aecista, de onde tiraram essa história de que... bolsonarista? Cara, e aí virou essa loucura que aconteceu com o Brasil, que é tudo contação de história. E aí eu chego na tua pergunta, e essas histórias chegam para nós através do que? É das mídias, então o que que a mídia é? A mídia que o brasileiro já esculhambou, a gente fala as mídias, e não existe, mídia e plural de meio, então é a mídia, e a gente fala as mídias para diferenciar uma da outra, são os canais de comunicação que te atingem, então a mídia, o jornal é uma mídia, a revista é uma mídia, rádio é uma mídia, podcast é uma mídia, WhatsApp é uma mídia, outdoor na rua é uma mídia, e esses são canais de comunicação que teoricamente deveriam trazer para nós uma determinada informação. E aí do ponto de vista técnico é isso, fim, e aí começa o outro ponto de vista que é, quem é que é o dono dela, quem é que decide qual é o fato que vai virar notícia, quem é que escolhe quando é o enquadramento, e aí deu a vasão para esse livro que começou a ser escrito nos anos 90, tanto que você vê, tem um monte de exemplos antigos, porque eu fui colecionando.

Lara Brenner: Do Pelé, muito bacana.

Luciano Pires: É sensacional aquilo. Então, o que aconteceu? Naquela época, nos anos 90, que eu era gerente de marketing...

Arthur Morisson: Já tinha fake news naquela época, não é?

Luciano Pires: Cara, sabe qual foi a primeira fake news? Foi quando a serpente virou para Eva e falou, pode pegar o fruto lá que o homem não vai dar bola não, começou ali a história. Então, já existia e eu me incomodava muito naquela época, porque eu trabalhava no segmento de autopeças, eu era o cara de marketing da empresa, e eu fazia muita comunicação com a turma e eu ficava enlouquecido, eu atendia jornalista, passava o release para o cara, o cara publicava outra coisa, e eu olhava para aquilo e falava, cara... e aí eu comecei a conversar a respeito, eu botei dentro de uma palestra um módulo e eu contava para as pessoas sobre a necessidade que você tem de prestar atenção na notícia que está vindo, e um dia usando um desses exemplos, que acho que foi o do Pelé até, eu ia fazer uma palestra, eu falei, cara, que nome eu vou dar para uma mentira que conforme o jeito que ela é mostrada para você, ela parece que é uma verdade? Eu vou chamar se ventira, não, mas calma, merdade é muito melhor, e aí nasceu o conceito de Merdades e Ventiras, 97, 98, de lá para cá eu nunca mais parei de usar.

Lara Brenner: Muito mais legal que fake news.

Luciano Pires: Muito mais legal. E aí o Trump aparece na televisão e fala, you're a fake news, ali para frente o termo fake news toma conta, mas foi assim que começou. Então, mídia é o canal que leva informação até você.

Lara Brenner: Pois é, e me conta uma coisa, a mídia obrigatoriamente teria em um universo ideal que ser imparcial ou isso não faz sentido nenhum porque nós jamais seremos imparciais, como que é essa coisa da transmissão e da transmissão da opinião?

Luciano Pires: Eu acho que não faz, é impossível você querer, não existe mídia imparcial em lugar nenhum do mundo, o que tem, e a gente já falou rapidamente aqui, é a obrigação de dizer, muito bem, eu não sou imparcial, eu tenho, eu gosto de algumas coisas, eu sou mais atraído por um determinado conjunto de ideias do que do outro, isso não tem problema nenhum, desde que eu deixe claro para você qual é o ângulo que eu estou usando, você me falou um negócio que é quadrado, me dá quadrado, sabe? Não tenta me empurrar um negócio redondo dizendo que é quadrado, sabe? E aí começa o problema, sempre aconteceu isso de uma forma mais ou menos escondida, havia uma vergonha, não conta para ninguém, de 2018 para cá os caras chutaram o pau da barraca, na campanha, quando o Jair Bolsonaro surge e deixa de ser uma caricatura para ser um provável possível presidente, a mídia fica enlouquecida, e aí o que nós assistimos no Brasil foi todo o tipo de sacanagem sendo feita na cara da gente, e o que me deixou enlouquecido foi que eu olhava para aquilo, via o jornalista falando e falava, cara, esse cara tem certeza que eu sou um idiota, é mentira o que ele está dizendo, a imagem não está mostrando o que ele está dizendo e ele acha que eu sou um idiota? Sim, ele acha que você é um idiota.

Lara Brenner: Aliás, não teve uma história do Bonner dizendo que nós somos Homer Simpson?

Luciano Pires: Exatamente.

Lara Brenner: Como que foi essa história, Luciano? Conta aí.

Luciano Pires: Então, foi um professor da USP de esquerda, foi fazer uma... estava fazendo uma visita, alguma coisa, eu não me lembro bem o que era, eu sei que tinha um grupo acompanhando alguma coisa na Globo, eles participaram de uma reunião de pauta da Globo, e na reunião, o Bonner conversando com a turma, ele se referiu a isso, o nosso espectador médio é um Homer Simpson, que é um idiota, é um idiota, e aí o cara pegou e escreveu uma matéria, voltou e escreveu um artigo falando e aí foi uma loucura, ficaram loucos da vida, a Globo foi dizer que não é nada disso, e ele falou, cara, os caras fazem pensando no Homer Simpson, e aí ele dizia, qual é o problema disso? É que se você vai falar para o Homer Simpson, você automaticamente deixou de fora um monte de conteúdos que são fundamentais, você não vai dizer o que ele precisa ouvir, você vai dizer o que ele quer ouvir, ou o que ele consegue entender. E aí essa baixaria toda, tudo é raso, você não consegue mergulhar fundo em coisa nenhuma, aí vira o que nós estamos vendo hoje, você vai para um debate de dois presidenciáveis que não tem nada ali, cara...

Arthur Morisson: Até porque debate não serve para nada mesmo, não serve para mudar a opinião de ninguém, é só para ver o teu candidato lacrando em cima do outro.

Luciano Pires: E qual é o teu plano? Eu vou dar picanha, eu vou dar picanha... que picanha, cara? Vou tirar você do SPC, que são rótulos feitos... aliás, eu fiz um bate papo, uma live com Alessandro Loyola, ele contou para mim que saiu uma pesquisa agora mostrando que o QI médio do brasileiro deu 83 pontos, que é abaixo da média de qualquer lugar do mundo, cara, QI médio de 83 significa que metade está menos que isso, cara, esse povo só pode entender de picanha, só consegue compreender a picanha ou o exemplo básico, e aí você vai, é um looping, eu estou montando agora, fazendo um podsumario, todo mês eu publico um podsumario, aquilo que você viu, de um livro interessante e ali nesse livro ele fala o seguinte...

Lara Brenner: É completíssimo, para quem tiver interesse, pessoal, é completíssimo, vale a pena.

Luciano Pires: Eu fiz ali uma... ele está dizendo lá o seguinte, sobre um fenômeno de você diante de uma situação que te incomoda, você tem três alternativas, ou você foge dela, ou você usa tua voz para combatê-la ou você se resigna e fica lá como vaquinha de presépio, e ele vai dizer qual é a vantagem de uma para a outra. E quando ele fala da questão da saída, ele mostra um negócio interessante, que ele fala o seguinte, quem é que sai em uma situação que está ruim? Não é o mané que sai, quem sai é o cara que tem cabeça para entender que está errado, é o cara que sabe que pode ter alguma solução, mas que não concorda em ficar naquela baixaria, ele vai embora, e quando essa turma toda vai embora, quem que sobra? Sobra os que estão...

Lara Brenner: Homer.

Luciano Pires: E aí ele vai jogando para baixo, vai piorando, então a empresa que perde os funcionários críticos, vai ficar só com o pessoal yes, sir, yes, sir, e aquilo vai baixando o nível. Um país onde os cérebros brilhantes vão embora, o que que sobrou? E aí o nível geral vai baixando, era o que eu falava em 2004, os brasileiros Pocotó, falei, um dia essa nossa falta de provocar essa garotada, esse monte de lixo que nós estamos dando vai criar uma geração que não conseguir interpretar o que é bom, o que que é belo, esses caras vão querer comparar a boquinha da garrafa com os Beatles, e vão achar que está tudo certo, que é a mesma coisa.

Arthur Morisson: Que é questão de opinião também. Você tem a sua opinião, eu tenho a minha opinião.

Luciano Pires: Isso é uma construção, cara, esse negócio veio devagarinho, chegou em um ponto hoje que se você falar que Beatles é melhor que o Tchan, vai vir alguém botar o dedo na tua cara, como você se atreve a dizer uma coisa dessa, como assim? Você fala de literatura, um grande clássico... cara, é uma loucura, e a gente perdeu completamente a capacidade de entender o que é bom e o que é ruim, e isso explica o que está acontecendo no Brasil, cara.

Lara Brenner: Alguns exemplos que você cita no seu livro que eu adorei, por exemplo, a Playboy em que a Sandy deu uma entrevista, e aí sai...

Luciano Pires: Aliás, o título do capítulo é, É possível ter prazer anal, que é o título do capítulo. E aí eu pego a capa da revista Playboy, onde tem ali Sandy, é possível ter prazer anal.

Lara Brenner: Aí você fala, a Sandy falou isso?

Luciano Pires: Na capa da Playboy, vendeu de montão, todo mundo, cara, a Sandy, e aí eu mostro ali a entrevista da Sandy, eu reproduzo a entrevista, e ela responde uma pergunta do jornalista, ele fala, escuta, Sandy, o que que você acha... ele vem bem capcioso, o que que você acha? Ela falou, olha, eu não sei, tem gente que gosta, deve ser possível ter prazer anal, tem gente que gosta, tem gente que não gosta, eu não tenho a menor a ideia, ela dá uma resposta perfeita, e aí o editor foi lá...

Arthur Morisson: Não sei, não sei, alguém deve gostar disso aí.

Luciano Pires: Aí o editor foi lá e pinçou o trechinho que ela diz no meio da frase, é possível ter prazer anal, bota entre aspas, põe na capa da revista, e aquilo se transforma no conteúdo da revista e vai todo mundo, safadinha, a Sandy, imagina.

Lara Brenner: Mais um exemplo, Luciano, a reportagem do El Pais que teve o título modificado, você se lembra desse?

Luciano Pires: Sim, então, o Brasil vai lá em Davos, faz uma apresentação lá em Davos, e o El Pais em espanhol sai dizendo, cara, foi uma apresentação legal, todo mundo ficou entusiasmado com o Brasil, a mesma matéria vem para o Brasil, é traduzida para o português, e o título diz ao contrário, todo mundo decepcionado com a apresentação do Brasil.

Lara Brenner: Só que a matéria não mostra isso

Luciano Pires: A matéria é igualzinha, mas o título em espanhol diz que foi legal e o título em português disse que foi ruim, e aí é a mesma matéria, eu tive o trabalho de ler as duas, mas o título mudou.

Lara Brenner: Qual que é o interesse?

Luciano Pires: Tem alguém que faz os títulos, que não é o mesmo cara que escreve a matéria, então a gente não pode nem crucificar o jornalista, porque provavelmente isso não está nem na alçada dele, ele terminou a matéria, entregou, alguém vai lá e puxa alguma coisa e cria um título que hoje é um clickbait, a gente faz isso com clickbait, mas é ruim porque bate naquilo que você falou, a turma não mergulha, não passa do título...

Arthur Morisson: Aí compartilha a manchete.

Lara Brenner: E fora, Luciano, uma coisa que você comenta muito bem, que é a escolha das palavras...

Arthur Morisson: Eu me lembrei do orçamento secreto, logo que virou a eleição, mudou para emendas do relator, e a folha lançou uma nota também respondeu umas pessoas falando, nós nunca chamamos de orçamento secreto, o que é obviamente mentira, a própria fake news ali.

Luciano Pires: Porque hoje em dia tudo cola, eu não estou preocupado se é verdade ou mentira, o cara fala qualquer coisa e dane-se, só que tem um treco novo no mercado chamado rede social.

Arthur Morisson: Não vai ter mais arrastão na praia agora, agora é só conflito ético coletivo...

Lara Brenner: Eu estou aqui, gente, do que que ele está falando?

Luciano Pires: E aí quando chegaram as redes sociais, então, aconteceu um fenômeno interessante, o que acontecia? O Brasil tinha quatro emissoras de TV, quatro grandes rádios, quatro grandes jornais, era tudo quatro, que pertenciam a meia dúzia de pessoas, e esses caras, quando eu escrevi o livro do brasileiro Pocotó, esses caras definiam qual era a agenda de discussão no Brasil, eram eles quatro, se eu quisesse assistir o Faustão, eu tinha que ligar a rede Globo no domingo, nem lembro que horas que era, seis horas da tarde, se eu não ligasse a Globo no domingo seis horas da tarde, eu não veria o Faustão, eu perderia o Faustão, e não tinha mais como vê, e aí de repente entra um outro elemento no mercado, que é a rede social, que tem memória, e que o sujeito chega agora e tenta falar a mesma mentira que ele dizia, em 15 segundos entrou um tuite falando, não é nada disso, cara, olha o que você falou lá atrás. E aí é uma realidade completamente diferente, que deixou esses quatro todos desesperados, cara, nós estamos perdendo espaço, a gente está perdendo audiência para uma garotada que não quer ficar sentada na frente da televisão, e mais que isso, estão trazendo para a gente o contraponto, aquilo que a gente sempre falou. Então, durante essa sequência toda da... eu costumo dizer que a pandemia chegou para destruir reputações, ela matou reputação que não acaba mais, então o grande jornalista que era dono da verdade, desmanchou na frente da gente, porque o que ele falava, os fatos vinham e desmentiram, porque agora o fato estava na tua mão. E aí esses caras começaram a lidar com um negócio que eles nunca tiveram que se preocupar, a fonte está aí, está disponível, todo mundo tem uma câmera fotográfica, o cara mostrou a foto do policial batendo no cara, o outro mostra a foto um pouco mais longe e você vai ver que não era bem aquilo. Então, o que eu conto no livro são todos esses truques que são utilizados, que a gente não percebe. Nós somos animais que vivem de contar história, a nossa história de vida, a cultura humana sobrevive através da contação de história, sempre foi assim, e alguém conta uma história, eu dou um exemplo bem legal aqui, que eu falo da Chapeuzinho Vermelho, eu falo, a gente aprendeu a história da Chapeuzinho Vermelho, porque tinha um locutor contando para nós, alguém nos contou, quando foi escrito o conto original tinha um observador contando a história, aí eu faço uma provocação, como seria essa história contada do ponto de vista da Chapeuzinho Vermelho, e do Lobo Mau, e da vovozinha, e do caçador? E aí quando você tem, que é o que acontece hoje em dia, você começa a ver uma riqueza de informações e aí vem cair aqui, o Homer Simpson não consegue mais olhar para um lugar só e falar, ah é isso que acontece, não, ele olha e fala aqui, não, mas espera aí, e o outro também está dizendo. Pandemia, cara, chega lá o cientista renomado fala A, em 15 segundos chega o cientista renomado e fala B, e os dois mostram trabalhos, os dois se referem a referências, porque saiu na revista Lancet, mas aí a revista Lancet errou, quem está certo, cara? Eu sou só o Homer Simpson, e você é o médico, você me fala A, você me fala B, com qual dos dois eu fico? E nós passamos a conviver com isso. Então, começa a haver uma responsabilidade que muda de lugar, ela não é mais das mídias, ela é minha agora, se eu não estiver preparado para o que vem para mim, se eu não ler, eu não posso ver televisão, cara, sem ler, eu não consigo assistir televisão, mas por quê? Porque eu não consigo ter repetido, eu não sei como as coisas acontecem, aí eu fico sentado aí que nem um bobão acreditando no que estão me contando. E aí aparece alguém contando o contrário da história, aí eu mudo, como é que isso? Aí dá essa loucura que nós estamos vivendo, o Brasil está infotoxicação, infotoxicado.

Arthur Morisson: Justamente pegando esse gancho da responsabilidade que você tanto fala de correr atrás dessas informações, eu imagino que você receba essa pergunta para caramba assim, como ir atrás então dessa informação, o que que a pessoa... cara, eu sou leigo, sei lá, em política, eu sou leigo na maioria desses assuntos aí que permeiam o meu mundo, o que que eu preciso fazer para eu não ser vítima dessas merdades e ventiras aí que ventilam a todo o tempo?

Luciano Pires: A primeira coisa é botar na cabeça que você será, não tem como escapar, você é um otário, cara, e vai ser otário, e vai ser feito de otário, ponto. O que que eu preciso ser? É um otário consciente, eu sei que eu vou ser otário, eu caio na história o tempo todo, toda hora eu estou publicando um negócio, quando eu vou ver não é bem assim, então você tem que se policiar. No final do livro aqui, eu dei 20 e tantas dicas de como é que você tem que fazer para...

Lara Brenner: Metiqueta.

Luciano Pires: Cara, é uma tarefa de casa, é estudo mesmo, não dá para... vou sentar, abrir o livro e estou lendo, espera um pouquinho, para poder ler isso aqui, eu vou ter que acessar algumas coisas, teve uma referência aqui que me chamou atenção, deixa eu ver o que que é essa referência, eu vou sair do livro e vou mergulhar na segunda tela, e aí eu vou procurar a referência, a hora que eu trouxer a referência, ah agora eu entendi o que está aqui. Antigamente não dava para fazer isso, como é que se fazia para pegar um livro que o cara faz uma referência para um estudo da universidade de Harvard, que você nunca ouviu falar? Hoje você vai no Google, põe lá, você acha o cara, acha o autor, você consegue ver o estudo. Então, esse trabalho todo de você buscar as informações, isso dá um trabalho tremendo, isso dá muito trabalho, é uma coisa difícil, é muito complexa, dá tanto trabalho que é muito mais cômodo para mim deixar que alguém faça por mim, e aí eu pego um rótulo, #fascista, está feito, então eu pego um rótulo que alguém criou e aquele rótulo para mim já defende tudo, é muito simples isso, eu não preciso entrar em detalhe, até porque o cara que entra em detalhe é um chato, é um pentelho, eu não consigo entender o que ele fala, o Ciro falando, que saco, cara, só consigo entender o Ciro quando ele fala que vai tirar do SPC, o resto eu não consigo entender nada do que ele está falando. E se eu não consigo entender, como é que eu vou tomar a decisão, como é que eu vou escolher? Ah, acho que eu vou pelos belos olhos. Ah não, eu não gosto de você porque você fala coisa ruim, você fala coisa feia, você é muito grosseiro, dele eu gosto, porque ele é bonzinho, ele fala coisa legal. Vem cá, mas o conteúdo dos dois, você chegou a ver?

Lara Brenner: Você acha que a gente está muito sentimental, Luciano? Está muito quarta camada?

Luciano Pires: Eu não diria para você que é sentimental, eu diria que nós estamos procurando as coisas que são fáceis de serem compreendidas, e o cara que tem o discurso, ele sai na frente, o único governo que eu vi fazendo um trabalho de comunicação um pouco bem feito foi a primeira fase do Fernando Henrique Cardoso, quando tinha o Sergião lá, ele tinha um ministro da comunicação, que era um trator, era uma motoniveladora, o cara era um monstro, o pessoal tinha medo dele, tanto que ele morreu, e dali para a frente desmontou tudo, nunca mais apareceu um governo capaz de trabalhar a comunicação, de contar para a gente o que que está acontecendo, porque que está acontecendo, como está acontecendo, e o pior, nós chegamos nesse momento aqui agora em que quando o teatro das tesouras desmontou, e passou a existir realmente uma voz oposta, apareceu um outro tipo de gente falando coisas que eram o oposto total daquilo que se dizia que era a verdade absoluta, ficou muito complicado você conseguir encaixar essa nova realidade em um mundo que foi feito para... cara, sempre foi assim, se você traz agora um cara que vem e fala assim, tem um outro lado que você não viu, que tem um lado que é um terror, cara, como que deixaram esse cara entrar na sala, como é que deixa esse cara abrir a boca, como é que esse cara pode abrir a boca? E é o que está acontecendo hoje. Então, eu preciso calar as pessoas que estão trazendo uma argumentação que é impossível de ser combatida com outra argumentação. Eu só consigo combater com narrativa, e aí vem um caminhão de mentira, que você ouve aquilo e fala... nós estamos vivendo, isso é um problema sério, a esquerda trabalha muito bem essa questão, é uma grande contadora de história, é uma grande artista, os músicos, os artistas são fabulosos, a Gal, acabou de falecer, eu fiz um programa inteirinho de homenagem à ela, sensível o programa, em momento algum eu misturei a Gal artista com a Gal política, mas os comentários são horrorosos, na última foto dela ela fez o L, não sei o que, não quero ouvir nada...

Arthur Morisson: É porque a galera é muito bitolada também para tudo quanto é lado, a galera fica assim, e aí tipo, ah eu não posso então mais, sei lá, gostar de Pink Floyd porque o Roger Waters, tipo, falou bem do Lula, cara, tipo, Roger Waters, cala a boca e canta aí, eu ouço a tua música, acabou, eu estou feliz, entendeu? Eu não vou deixar de ouvir Chico Buarque porque o cara vota no Lula e é comunista, cara, o cara escreve e canta bem, eu gosto das músicas, são boas, porra.

Luciano Pires: Você sabe qual é o meu argumento para isso aí? Eu falo o seguinte, cara, o Chico Buarque fez a trilha sonora da minha juventude, entendeu? Tem momentos em que eu me lembro, eu ouço aquela música e me lembro, chego às lágrimas com algumas coisas que eu vivi que foi muito sensível com aquela música, aquela música representou muito para mim, você acha que eu vou dar para a esquerda o prazer, de me negar curtir esse prazer de novo só porque o cara diz que gosta de Cuba? Não.

Lara Brenner: Até porque o que ele está defendendo ali em grande parte das músicas é absolutamente atemporal, com essas contas derrubadas agora, nada poderia caber mais do que pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue, sendo que cálice é do verbo calar. Então assim, o negócio continua atual, entendeu? E ele não se prega a um lado ou a outro lado, porque a arte é isso.

Luciano Pires: Depois que o artista bota ela na rua, ele não é mais dono daquilo, mas aí você está dando...

Arthur Morisson: Another brick in the wall para mim e para muita gente é um hino do home scholling ali, apesar do cara ser um esquerdista...

Lara Brenner: Apesar de não ser nada disso, agora ela é minha.

Luciano Pires: Eu diria para vocês...

Arthur Morisson: Se você ficar só na galera da direita, ah só vou consumir conteúdo e música e tudo, sei lá, só da galera da... e humor, só de quem é da direita, então você não vai consumir nada, porque a maioria desses caras é de esquerda também.

Luciano Pires: Sim, e aí é complicado. E eu acho que esse é o grande prejuízo que nós estamos vivendo agora e a gente não percebeu ainda, tem uma quebra no tecido social brasileiro gigantesca, aqui nesse livro aqui, eu escrevi em 2015, Me Engana Que Eu Gosto é o nome dele. Esse livro, ele parte da premissa do seguinte, nos anos 70, 77, 79, eu estava nas ruas com o cabelo aqui, eu tive o cabelo aqui, pedindo pela volta do irmão do Henfil, pedindo pelo fim da... democracia etc e tal...

Lara Brenner: A volta da democracia?

Luciano Pires: É, porque era o final do regime militar, e a gente queria democracia no país.

Arthur Morisson: A Elis inclusive cantou.

Luciano Pires: Eu estava na rua, O Bêbado e o Equilibrista, tudo aquilo lá. E eu estava na rua gritando por isso, pedindo para que isso aconteça aqui. E aí eu conto o seguinte, eu falo, cara, 40 anos depois eu, o garoto que estava na rua com os cartazes pedindo aquilo, eu olho para trás e falo, cara, eu consegui o que eu queria, eu consegui o fim do regime militar, eu consegui a volta do irmão do Henfil, eu consegui uma relativa democracia no país, eu consegui, cara, cadê os caras que estavam comigo na rua? Está tudo preso, porque estavam roubando a Petrobrás, estavam fazendo não sei o que, estavam sacaneando todo mundo. Eu falo, o que aconteceu, cara? Cadê o Brasil que eu disse que tirando aqueles velhos eu ia construir? Não aconteceu, por quê? E aqui eu vou discutir o que aconteceu, aconteceu o seguinte, cara, a gente foi para a rua, se mobilizou, conseguiu o que a gente queria, quando a gente conseguiu, a gente falou, bom, agora eu vou cuidar da minha vida. Virou as costas e os bandidos foram lá e tomaram conta. E aí construíram um país que é muito conveniente a eles, e que para mim, como povo, que fui cuidar da minha vida, não é conveniente.

Lara Brenner: Luciano, você traz uns conceitos muito interessantes no seu livro, que você discorre com uma facilidade de vocabulário maravilhosa, é muito fluido, que eu acho que compensa nós falarmos, por exemplo, hoje vai ser muito difícil a gente mudar, e você traz o conceito, a janela de overton do pessoal, para eles entenderem, para a maior parte das pessoas, que antes havia a esquerda e a direita da esquerda, e que agora que começou a surgir algo que é um arremedo de talvez parecer o que é uma direita e aí essa direita que está surgindo para dar uma equilibrada, como a janela de overton estava toda à esquerda, ela é vista como a extrema direita, aquilo que é só uma direita, que provavelmente está até próximo ali da esquerda, sabe, conversando ali com a esquerda. Então, você fala de janela de overton, de espiral do silêncio, de engenharia social, eu queria que você discorresse sobre esses conceitos todos, sabe, como você vê isso hoje.

Luciano Pires: Então, são várias formas de você entender como é que tem uma engenharia... engenharia social o que que é? Eu vou produzir algum pensamento, alguma situação para que você faça algo que me interessa.

Lara Brenner: Mesmo que não interesse a você.

Luciano Pires: Mesmo que não interesse a você, então é uma engenharia social, então eu vou produzir alguma coisa para... e tem exemplos, tem até um que eu não coloquei no livro, até acho que passei por cima dele lá, não, em um dos livros está, não me lembro qual é, que eu conto uma história que aconteceu na África, havia um problema em um país africano, eu não vou me lembrar do nome agora, que tinha um problema de AIDS muito sério, estava... tinha alastrado a AIDS lá e os caras não sabiam mais o que fazer, país pobre, não tinha o que fazer, os caras fizeram uma novela de rádio, que tinha uma mulher, que era a heroína da novela, e o marido era um caminhoneiro, bruto, um sacana, um bandido, e esse cara pega AIDS e transmite para a mulher. E a história desse programa de rádio, aquilo toma conta do país e causa uma redução na infecção de AIDS gigantesca, porque os caras conseguiram botar o conceito do que era, que eles não conseguiam contar para as pessoas sob uma contação de história, aquela novela muda o conceito e reduz as mortes de AIDS naquele país, a mídia consegue fazer isso, a gente já viu acontecer no Brasil, cara, novela, você está se vestindo porque aparece alguma coisa na novela que criou uma moda, virou tendência, as mulheres mudam o cabelo por causa de uma atriz, então é possível ser feito e tem gente profissional que sabe fazer isso muito bem.

Arthur Morisson: De colocar a narrativa também nessa novela, porque imagina, o cara vai assistir isso todos os dias, naquele mesmo horário durante meses, ele vai sendo alimentado de uma narrativa ali até de uma maneira não muito direta, mas uma forma indireta ali que o cara vai ouvindo aquilo durante meses...

Luciano Pires: Sim, e tem coisas que você consegue ver claramente lá, cara, se você pegar uma novela, a família tradicional, pai, mãe e filhos sempre é disfuncional, quando eles mostram... ela nunca é a família legal, a família legal é aquela que é a família nova, dois homens, duas mulheres ou uma mulher separada, um homem separado, a família tradicional, ela é tratada como é aqui que estão os problemas, isso vem acontecendo devagarinho, entra por baixo por pano e vai mudando o jeito da gente pensar. Tem um exemplo muito legal...

Arthur Morisson: Aumento de divórcios também, tipo, traições etc...

Luciano Pires: Um exemplo interessante é do fumar, então a janela de overton da sociedade, ela está no lugar que diz o seguinte, é possível fumar em qualquer lugar, nós estaríamos fumando aqui hoje, estaria uma festa, fumavam em avião, se fumava em qualquer lugar.

Lara Brenner: Eu me lembro, eu tenho 33 anos, eu não sou tão velha, e eu lembro de ir à boate e voltar tendo que lavar o cabelo antes de dormir.

Luciano Pires: Por causa do fumo. Criança perto, criança de colo, o pessoal fumando, a sociedade era totalmente permitido, aí essa janela começa a andar, ela sai do totalmente permitido na direção do totalmente proibido, e ela vem devagarinho, agora não pode mais fumar dentro de avião, aliás, só pode fumar no fundo do avião, agora não pode fumar mais em nenhum lugar do avião, agora você não pode fumar dentro do aeroporto, entendeu? E ela vai andando, até que ela vai chegar em um lugar onde será totalmente proibido fumar, você não consegue achar mais onde fumar. Alguém fez ela andar, como é que essa janela andou? Ela andou com o fim das propagandas do cigarro na televisão, eles proibiram, não tem mais o Malboro na Fórmula 1, foram tirando aquilo da cara da gente, foram tirando as novelas, não tem mais filme com os caras fumando ou quando tem é porque ele representa uma época, e quando você para de alimentar as pessoas com aquilo, aquilo deixa de ser normal, eu falo até de cascata da disponibilidade, eu conto aqui, que o que que é isso? É quando você deixa tão presente um assunto, que parece que aquele assunto é o familiar e é o normal, logo, todo mundo pensa assim, eu vou calar a minha boca.

Lara Brenner: Você fala, ubiquidade...

Luciano Pires: É, eu não me lembro mais a...

Lara Brenner: Depois eu vou achar.

Luciano Pires: Então, são truques que o pessoal usa para devagarinho fazer a gente...

Lara Brenner: Acumulação, consonância e ubiquidade. Então, muita informação falando a mesma coisa em todo lugar.

Luciano Pires: Exatamente, e aí você olha em volta, fala, cara, não é possível, o que que é isso? Fora Temer, todo lugar tinha Fora Temer, como é que era que os babacas falavam lá? Antes de tudo, vai começar a entrevista aqui...

Lara Brenner: Primeiramente, Fora Temer.

Luciano Pires: Primeiramente, Fora Temer. O que que era aquilo? Era o que você botou aqui, em todo lugar aparecia, e aparece tanto que deve ser normal, acho que é assim, Fora Temer. E aí quando termina... o Temer sai...

Arthur Morisson: E depois com o Ele Não.

Luciano Pires: Exatamente. E aí quando o Temer sai, aí os caras falam, vamos ver o que o Temer fez no governo, meu, ele fez um monte de coisa legal, mas essas coisas legais que ele fez já existiam quando você estava gritando Fora Temer, você não viu, não? Ah eu não sabia, eu estava no Fora Temer. Então, alguém conduz essa narrativa, o exemplo que eu dou aqui do policial que saiu em todas as manchetes, o policial foi morto por um... os caras do Trump que amassaram a cabeça dele com um extintor de incêndio, e aparece nas manchetes de todos os jornais, um policial que morreu com a cabeça esmagada porque os invasores do Trump foram lá e esmagaram a cabeça do cara. Passa um período, a família dele vem, não, não é nada disso, ele ligou para a gente, ele teve um mal súbito, nunca teve cabeça esmagada em lugar nenhum, foi um mal súbito que matou esse cara, pergunta se o mal súbito apareceu em algum lugar.

Lara Brenner: A retratação jamais vai ser do tamanho da propagação.

Luciano Pires: Nunca, ela nunca é, porque ela não é conveniente. Então, se você não ficar esperto, você vai cair e vai ficar repetindo esses chavões, alguém vai falar, você vai repetir o chavão...

Arthur Morisson: Papagaio de pirata.

Luciano Pires: É o que mais acontece.

Lara Brenner: E estando em todos os lugares, começa o fenômeno da espiral do silêncio, Luciano.

Luciano Pires: Exatamente, o que que é isso? Se vocês estão dizendo para mim que o Corinthians é o melhor time do Brasil, é a melhor torcida do Brasil, quem sou eu que sou flamenguista para ir contra vocês, vocês são maioria, cara, eu vou calar a minha boca aqui, se não eu apanho, e você vai retraindo, porque tem uma impressão de que a tua posição está em desacordo com a posição da maioria, mesmo que não seja essa a posição da maioria, é uma minoria muito barulhenta, que ocupa todos os espaços, e dá a entender que aquilo é a verdade absoluta, e aí você não tem... eu não tenho bala na agulha, eu não tenho... eu sou só o Homer Simpson, como é que eu vou me levantar aqui para falar?

Arthur Morisson: Eu que sou botafoguense, eu não vou falar nada, nessa discussão deixa o flamenguista e o corintiano...

Lara Brenner: Se resolverem.

Luciano Pires: E deu, calo a minha boca. Aí essa espiral do silêncio, que é o que acontece hoje em dia, vocês viram o que aconteceu na eleição aqui agora, você entra em um Uber e começa a conversar com o Uber, você fica com medo, vamos falar de eleição? Vamos, e agora? Será que eu digo em quem eu vou votar? Porque se ele for do contra, pode acontecer alguma coisa.

Arthur Morisson: Eu nunca nem falo, cara, eu...

Luciano Pires: Mas você é um cara de pau, você vai e fala, pessoas normais, que não são cara de pau, ficam retraídas, eu não vou nem tocar nesse assunto. Pega uma sala de aula onde a maioria da garotada está para um lado, você acha que o outro garoto vai falar? Não, vai ser jogado para fora da turma. Então, ele cala a boca, isso é espiral do silêncio, o exemplo que eu dou aqui é o exemplo do Richard Gere no evento, tem lá, aconteceram as torres gêmeas, passou acho que um mês, se eu não me engano, alguma coisa assim, fizeram um baita evento que eram as famílias todas, os bombeiros, todo mundo reunido para fazer um evento de celebração das vítimas e tudo mais. Aí o Richard Gere sobe e vai fazer o discurso e diz um discurso pacifista, vamos transformar todo esse nosso angry, toda essa nossa angústia em amor. E aí o lugar vem abaixo, todo mundo vaiando o cara, que absurdo, cara, meu pai acabou de morrer e você vem dizer para mim que esses terroristas eu devo tratar com amor? Cara, foi uma loucura, o que que aconteceu? Ninguém mais tocou no assunto depois do Richard Gere, que a hora que ele saiu os caras olharam e falaram, o que, cara, se eu abrir a minha boca aqui para tentar falar alguma coisa relacionada a vamos falar em amor, essa turma vai cair em cima de mim, então eu calo a minha boca.

Lara Brenner: E assim nascem os assassinatos de reputação.

Luciano Pires: E aí se você for para as mídias sociais é isso que está acontecendo, você acha que eu vou me atrever a botar um post com a minha opinião aqui, se esse mundo de gente vai entrar aqui e vai me sacanear, e se eu não calar a minha boca, vão me tirar do ar, então eu fico quieto.

Arthur Morisson: E entra tudo, empresa no meio disso, porque aí é uma minoria barulhenta que fala, não, você está, sei lá, passando pano para fulano que não sei o que... aí tira o cara da empresa, cancela contrato...

Luciano Pires: Exatamente, como é que você patrocina um podcast que leva um cara para falar bem do Bolsonaro? Como é que você faz? E toda a empresa tem o departamento de marketing que é composto majoritariamente por cagões, são cagões, eles têm medo de qualquer coisa que possa conspurcar a imagem da empresa, então se quatro caras escreverem, está feito, cara, não importa que tenha quatro mil que gostaram, os quatro que falaram mal, meu Deus, a diretoria vai arrancar o cabelo, o que que você fez, que loucura você fez? Então, é assim que a sociedade funciona, e os caras sabem disso, e sabem usar muito bem esse recurso. Eu falo de outra coisa aqui importante, que eles usam o recurso e usam a vergonha, e eu dou o exemplo aqui, cara, quando você vê Jesus Cristo na cruz, o que que é aquilo, cara? Não é só para mostrar que ele fez alguma coisa errada, o fato dele estar sendo exibido na cruz, o fato de Tiradentes ser enforcado em praça pública, cortado em pedaços e aquilo tudo exibido, é uma forma de deixar você absolutamente apavorado, meu, se fizeram isso com o cara, vão fazer isso comigo também.

Arthur Morisson: Mas você acha que a mídia ainda pauta muito o debate público hoje com o advento da internet e das redes sociais, ou a galera está aos pouquinhos, ainda que em passo de tartaruga, abrindo os olhos, acordando?

Luciano Pires: Não, ela pauta, ela pauta porque o alcance dela é um negócio inimaginável, o alcance da mídia tradicional é muito maior do que da internet, para a nossa bolha não, para nós aqui a internet é o dia inteiro nela, mas cara, tem um Brasil aí fora gigantesco, a emissora de televisão cobre o país inteirinho, qual é a casa que não tem uma televisão? Na nossa bolha está desligada, mas tem milhões de pessoas que estão comendo e bebendo intelectualmente da televisão, do rádio, ainda tem um peso muito grande, isso vai demorar muito tempo para isso ser mudado. Então, ela tem uma importância muito grande e você vê o processo, acho que até eu conto o processo aqui, eu tenho clareza para mim, existe um think tank conduzido por algumas cabecinhas que cria... esses caras têm gente ganhando para encontrar problemas, eles têm um armário de maldade lá, então eles chegam, de quem é a vez agora? Agora eu vou derrubar, deixa eu ver a vez de quem, é o ministro do meio ambiente, então pega as maldades lá, escolhe uma aqui...

Arthur Morisson: Procura pelo em ovo.

Luciano Pires: Pega isso aqui, entrega na mão de dois ou três blogueiros menorzinhos, e o cara vai publicar um tuite, saem quatro tuites com aquele assunto, aí cai na mão de um blogueiro maior, e o cara faz um tuite maior, aí esse tuite maior cai na mão de um jornalista que pauta uma matéria e vai sair um artigo a respeito, aí um senador muito histriônico pela aquele artigo, vai no Ministério Público e fala o seguinte, você tem que investigar isso aqui, e o Ministério Público fala, legal, eu vou investigar. Isso se torna uma matéria de jornal, Ministério Público está investigando que o Arthur tem uma camisa não pode ser usada. E isso vira a discussão nacional, acabou, cara, o Arthur, você já dançou. Você entendeu como o processo é complicado? Isso vem tudo uma coisa pautando a outra.

Lara Brenner: É meio pulverizado, aí vai virando uma cascata assim.

Luciano Pires: Mas como assim, o que que está acontecendo? Como é que o Arthur fez isso? Não, o Arthur não fez, cara, tem uma história vindo lá, caiu na mão do Ministério Público, que vai investigar e talvez não vai encontrar nada, mas o fato de estar investigando, já está feita a armadilha, você ganhou o rótulo, nunca mais você se livra dele.

Arthur Morisson: Já sou culpado antes mesmo da sentença.

Luciano Pires: E nunca mais... porque lá na frente, daqui a dez anos, quando você abrir... ah, esse não era o Arthur lá...

Arthur Morisson: Que investigaram tal coisa...

Luciano Pires: Ninguém quer saber.

Arthur Morisson: Por mais que eu tente desmentir qualquer coisa, tipo, a dificuldade e o esforço físico e mental para querer desmentir aquele negócio é muito pior do que a própria fake news em si.

Luciano Pires: E aí eu não sei se você reparou que tem um momento aqui que eu falo que tem uma coisa fundamental, não precisa ser verdade absolutamente nada, basta implantar a dúvida, a única coisa que os caras precisam é botar uma dúvida na tua cabeça, botou a dúvida, eles ganharam, entendeu? Se ele botar uma dúvida de que você não é honesto, acabou, cara, encerrou, a dúvida foi implantada, está feito, ele não precisa provar nada, basta ter a dúvida, porque vai ter um monte de gente que vai comprar essa narrativa, e toda vez que você aparecer, alguém vai levantar e falar, esse é o Arthur, porque a dúvida foi implementada, implementar dúvida é muito fácil, é que nem o Saci Pererê, cara, existe Saci Pererê? Não, mas eu conheço uns caras que dizem que viram. Disco voador? Tem disco voador? Eu acho que não, mas tem muita gente que diz que viu, então será que tem, será que não tem? Basta a dúvida, entendeu? Com a dúvida está construída, e esses caras são muito bons para implementar dúvida, então você vem com um projeto feito por profissionais, eu visitei o pessoal da área econômica lá, a equipe do Paulo Guedes, que tem um monte de gente que vem de governos anteriores, não era a turma só dele, cara, um povo, eu vi o projeto dos caras, um puta de um trabalho bem feito que ele é destruído com uma implantação de uma dúvida, implementa-se uma duvidazinha aqui, tudo aquilo vira conversa. E eles quebraram a cara, descobriram rapidamente que não basta você ser impecável tecnicamente, se você não fizer o trabalho político, esquece aquilo tudo, cara, aquilo lá você vai... aí você vai, como é que esse cara não passou? Não passou, porque alguém implementou uma dúvida ali. E a mídia faz isso com uma competência fabulosa, e a gente cai, eu não sou do assunto, ouvi dizer, não sei de onde vem.

Lara Brenner: Não, e aí eles elegem uns arautos assim, uma agência checadora de fatos.

Luciano Pires: O leitor diz.

Lara Brenner: Diz leitor. A Lupa, Aos Fatos, A Comprova, A Fact Check, só que as pessoas esquecem que essas agências são feitas de pessoas, e são essas pessoas que vão julgar...

Arthur Morisson: Não, e que são pessoas dos próprios veículos de comunicação, então agência de checadores de fatos da Folha checou que a matéria da Folha é verdadeira. É tipo assim, Brasil Paralelo afirma que Brasil Paralelo...

Lara Brenner: Arrasou, nota 10. Não, e engraçado que eles erram várias vezes.

Arthur Morisson: Igual minha mãe me chamar de lindo.

Lara Brenner: Sua mãe te chama de lindo, é a mesma coisa.

Luciano Pires: Eu ia falar aqui, mas não pode falar, tem que tomar cuidado, não pode falar...

Lara Brenner: Olha que coisa absurda a gente viver esse tempo, isso eu nem sei o que que é e eu já estou chocada.

Luciano Pires: Nem piada eu posso fazer, cara, nem piada dá para ser feito mais. E a turma não faz, quem nunca perdeu a liberdade não dá valor para ela, cara, e o Brasil nunca perdeu, entendeu? A gente não teve essa, vai para um país da cortina de ferro, vai para a Polônia e começa com conversinha na Polônia para você ver o que acontece lá, os caras vão falar... e nós não passamos por isso, cara, a gente não teve, e o dia que a gente descobriu o que era, aqui o Brasil é o contrário, eu entrevistei Alon Lavi, que é o cônsul de Israel aqui em São Paulo, estava batendo um papo e eu perguntei para ele, cara, como é que é Israel, bicho? Como é que vocês conseguem? Vocês têm um país que é desse tamainho, rodeado de inimigo querendo jogar vocês no mar, ali é deserto, como é que vocês conseguem tirar de lá de dentro o Wase, sabe, aplicativos bilionários, vocês em tecnologia vocês são um avião, qual é a diferença? Aí ele me contou a história, ele falou, sabe qual é o problema de vocês no Brasil, cara? É fartura. Lá falta tudo, como falta tudo, nós temos que inventar um jeito de fazer água, nós temos que inventar um jeito de nos proteger dos inimigos, tudo tem que ser muito penoso, é muito inventado, o tempo todo nós temos que criar, o Brasil é farto, aqui tem água, cara, para todo lado, você tem floresta, você tem comida, você tem o agronegócio, você tem liberdade, então com essa fartura toda e nunca tendo perdido, eu não consigo dar valor, e aí eu topo trocar, vamos fazer uma coisa, Lara, você me dá uma graninha aí, eu te dou um pedacinho da minha liberdade. Ah, é tão pouco, pode pegar, me dá esse... você não vai deixar eu sair de casa para salvar a minha vida, não posso mais sair da minha casa? Ah, então, mas eu topo, tá bom, tá bom. E aí devagarinho, quando você reparou, você já não pode mais. E nós estamos chegando em uma situação agora em que é a parte mais perversa da censura é quando eu já incorporei que ela existe e eu me penitencio, eu chego aqui, vou falar... ah, eu ia falar, não posso falar, e eu estou autocensurado, vou escrever um texto, e... espera um pouquinho, eu não posso mais, perdi, já perdi o jogo, entendeu? Deixei de ser eu mesmo para ser aquilo que alguém quer que eu seja, engenharia social na minha cabeça.

Lara Brenner: Engenharia social, precisamente isso. Luciano, para a gente terminar trazendo a grande mensagem final do seu livro, é muito bacana, que é da auto responsabilidade, porque nesse momento eu imagino que quem está nos assistindo, está sentindo o que nós estamos sentindo, que é assim, uma pressão, parece que tem um negócio na cabeça assim, aquele tanto de veículo de comunicação, as tias do zap espalhando assassinato de reputação, info toxicação, que é o termo que você usa no seu livro, como que eu, individualmente, posso analisar o que você chamou de atitude, circunstância e razão, para que a gente possa fazer a nossa... não vou falar para mudar o cenário porque seria muito idealista, mas para que a gente possa fazer a nossa parte nesse cenário de caos?

Luciano Pires: É complicado, você vai ter que se ilustrar para isso lá, mas eu vou dar um exemplo aqui, a mulher vai no mercado e rouba um litro de leite, eu não me lembro qual é o exemplo, um quilo de carne, alguma coisa assim, ela roubou, ato, ela praticou um roubo, ela é uma ladra, vou chamar a polícia para prendê-la, muito bem. Por que que ela fez isso? Porque os filhos dela estão em casa com fome, e ela para matar a fome das crianças, ela praticou um ato indigno, que é roubar. Deixou de ser errado roubar? Não, mas espera aí, já não estou vendo mais ela como uma ladra, eu estou vendo ela como uma mãe desesperada que quer alimentar os filhos, portanto ela praticou uma ilegalidade. Em que circunstância? Cara, a pandemia veio e proibiu ela de sair de casa, ela não tem mais o emprego dela, o marido não tem mais o emprego dele, eles estão trancados em casa e não tem o que comer. Vem cá, essa mulher que era uma ladra, para quem eu ia chamar a polícia, agora eu quero ir na casa dela, levar mantimento para ela, eu preciso atendê-la, porque ela está sofrendo, entendeu? Então, o ato me diz que ela é uma ladra e eu devo chamar a polícia, quando eu começo a entender porque e como acontece, muda completamente. E a mídia é campeã de mostrar o ato, entendeu? Olha como esse cara é mau, mas espera um pouco, cara, mau de... e aí eu falo aqui da regra das 48 horas, você está diante de uma coisa indigna, está todo mundo falando a respeito, espere 48 horas, que é o tempo do outro lado aparecer, da circunstância aparecer e você entender o porquê que aquilo aconteceu, em qual circunstância. Não deixa de ser errado roubar, muda tudo quando eu entendo a circunstância. E as pessoas estão tirando, julgando com base no ato, até nem tem repertório para entender a circunstância e a mídia não traz mais circunstância, a mídia vem e mostra, olha o que esse cara fez, como é que é? 15 milhões de leite condensado. Acabou o mundo, o Bolsonaro para o resto da vida vai ser o cara dos 15 milhões de leite condensado, tem 15 milhões de leite condensado? Tem, por quê? Ah, é para alimentar o exército brasileiro, em que circunstância? Custou 140 reais a lata? Não, não era... era um pacote que tinha... e no fim você vai descobrir que aquilo é absolutamente cabível, só que quando você faz um share picking, eu pinço e jogo uma informação só...

Arthur Morisson: Latas de leite para o quartel não sei o que...

Luciano Pires: Cara, isso é uma falta de responsabilidade de quem está a frente da mídia, o cara não está preocupado com isso, ele quer o clickbait.

Arthur Morisson: Mas ele no fundo, ele sabe disso.

Lara Brenner: Claro que sabe.

Luciano Pires: Se está a serviço de fazer mal para você, pode botar, está valendo tudo. E eu sou só de novo o Homer Simpson, eu olho para aquilo e vou cair no conto do vigário, e virei propagandeador desse monte de absurdo, cara.

Arthur Morisson: Luciano, maravilhoso o papo aqui com você, eu queria que você pudesse, você já falou no início, mostrou os livros e tal, mas agora, cara, aproveita esse tempo, você tem a tua câmera aí, fala todos os seus arrobas, onde é que a galera te acha, como é que faz para comprar os livros, para acessar tanto o Café Brasil, Cafezinho, esse programa infantil também, para os pais e tal, pode falar tudo, solta o teu verbo aí.

Lara Brenner: E o seu último recado também, o que que você tem para falar para o povo, tipo, nossa, esse é o recado central da coisa.

Luciano Pires: Primeiro, o acesso é muito fácil, é mundocafebrasil.com, ali tem acesso para todos os lugares que eu faço lá. Estou lançando o curso, que é o curso Inteligência Acima da Mídia, onde eu vou destrinchar o livro. Então eu vou pegar o livro, são sete aulas onde esse papo que nós estamos tendo lá, eu quero mostrar, fazer com mais interatividade com o pessoal inclusive. Vai ser bem legal.

Lara Brenner: Que legal, que útil, vou divulgar.

Luciano Pires: Pois é, eu acho que tem uma missão de cidadão nessa história toda aí, que vai acontecer com vocês, eu estou com 66 anos de idade, e a gente quando vai passando na curva, as carências, vai mudando, a demanda muda, sabe, o meu negócio hoje não é sentar... quero um trabalho para ganhar dinheiro para comprar a minha casa, cara, já passei disso, eu estou em outra, entendeu? Quando entra um recado de uma criança de seis anos dizendo, adorei o que eu ouvi, explicando o que ele entendeu da caverna de Platão, não há dinheiro no mundo que pague, e eu já cheguei nesse ponto, entendeu? Então, quando muda as demandas, sabe? Você começa a olhar o mundo de outro jeito, falar, cara, o que que eu quero fazer? Eu quero é mais é compartilhar, então quando o pessoal fala, vem cá, posso publicar? Pode, cara. Posso botar? Pode, não tem problema, só botar meu nome aí, só diz que fui eu, mas à vontade, cara. Posso? Pode. Estou publicando aqui o podsumario, chego no podsumario e fala, olha, esse podsumario é seu, você é um assinante, você assinou para receber, ele é teu, faça o que você quiser com ele, só que se você der para todo mundo, você não vai estar remunerando o cara que fez, que fui eu, deu um trabalhão para fazer, então se você quiser pode distribuir, mas só lembra, cara, que fui eu que fiz, então, me arruma uns assinantes também para ajudar a gente aqui. Mas a ideia era essa, de você usar isso tudo para produzir conteúdo e compartilhar para muito mais gente.

Lara Brenner: O podsumario do poder do mau, inclusive, você colocou gratuito.

Luciano Pires: Eu botei gratuito, eu fiz vários assim.

Lara Brenner: Pessoal, ouçam este podsumario, o poder do mau com u, ele até explica lá no começo, só ouçam, só ouçam.

Luciano Pires: É um episódio do meu podcast Café Brasil, episódio de três horas de duração, ele tem, onde eu botei integralmente o... e botei de graça, eu falei, isso aqui tem que ser... e aí eu fiz uma outra, eu fiz uma jornada que eu boto ele dentro de um outro lugar que você acessa no... está tudo lá no mundocafebrasil.com, tem uma sequência de materiais que falam sobre essa coisa da turma fazendo a sua cabeça, e eu publiquei tudo e botei de graça, esse negócio não pode ficar trancado, sabe, tem uma missão nessa história toda aí que é tão fundamental, que todo mundo tem que ter acesso, e eu não posso só dar para quem pode pagar, entendeu? Então, aos que podem pagar, me ajudam a financiar todo o trabalho gratuito que eu faço, o podcast das crianças é tudo gratuito, então, mas tem uma turma que é assinante que me ajuda a fazer. Cara, Brasil Paralelo, vocês são um monstro aqui, eu sou pequenininho, mas o conceito é o mesmo, tem um monte de gente pagando, mas vocês têm um material gratuito que é genial, isso só pode acontecer porque tem alguém que está financiando aquilo. O poder saiu daquelas mãos daqueles quatro jornais, daquelas quatro TVs e veio para a mão de todo mundo, está na mão da gente. E aconteceu um fenômeno fantástico, que é o fenômeno que cria uma Brasil Paralelo, a Brasil Paralelo não depende de quatro anunciantes aqui onde o sleeping giants vai e sacaneia os caras e não, a Brasil Paralelo falou, eu vou crescer com o dinheiro das pessoas que curtem o meu trabalho, e aí tem um exemplo fabuloso, porque o que acontece com isso? Se eu tenho o meu trabalho e ele é remunerado por 500 mil pessoas, se 10 forem embora não acontece nada, se eu tenho três patrocinadores e um vai embora, eu perco 33% do meu faturamento, eu fico inviável. Então, o que que isso significa? Que cada uma das pessoas que está assistindo a gente tem poder de mudar a história, cara, o que que ela tem que fazer? Pega esses 350 reais que você gasta por mês na Net, pagando Net, sabe, essa assinatura do jornal não sei o que que você faz aí, divide ele em 10 parcelas de 35 e bota 35 em um cara de podcast que você gosta, 35 em um cara que tem um blog legal que você gosta, 35 em um YouTuber que você gosta...

Arthur Morisson: Na Brasil Paralelo.

Luciano Pires: Na Brasil Paralelo, entendeu? O que que acontece, cara? Ao invés de pegar 350 naquela empresa que não tem nenhum compromisso com você, que quer mais é vender sandália, vender shampoo, você vai estar ajudando que pessoas que tenham um conceito, que tenham, cara, que tenham o que o Brasil Paralelo está fazendo, que isso aqui é uma ideia, eles não querem vender shampoo, querem vender uma ideia, só conseguem porque tem 500 mil pessoas que entenderam o jogo, cara, eu vou pagar para ter isso. E se a gente conseguir trazer um conceito desse para o Brasil, nos Estados Unidos já tem de montão, podcasters dos Estados Unidos que têm 3 mil downloads por mês, o que é nada, eles conseguem se viabilizar economicamente lá, porque tem 3 mil pessoas lá que vão pagar, no Brasil é impossível, a gente não consegue, mas se esse conceito vier para cá e cada um de nós entender o poder que a gente tem, cara, 1 real meu, 1 clique meu, 1 like meu, tenho força, porque aqui não sou só eu, se um milhão der um like, cara, eu mudo a história, eu faço o YouTube mostrar o meu vídeo para todo mundo, e a gente não tem esse costume, sabe, de cara, eu vou compartilhar, eu vou dar um pouco de mim para quem está fazendo bem, ou quem está alinhado com o que eu acho que pode ser positivo para o Brasil. Não precisa nem pensar igual a mim não, mas se tiver com um conteúdo legal, eu vou ajudar esse cara, se eu não puder dar dinheiro, eu vou dar like, eu vou compartilhar, eu vou distribuir para as pessoas e vou contar para todo mundo. Esse poder, esse é o poder do povo, esse é o poder do povo e não tem quem consiga tirar, cara.

Arthur Morisson: Da mídia independente. Então, pessoal, já aprendeu com o Luciano, deixa o seu like, se você não deixar o seu like nesse vídeo, compartilha para espalhar essa mensagem tão importante desse podcast. Muito boa noite, Lara, sempre bom estar...

Lara Brenner: Luciano, você é incrível, muito obrigada.

Luciano Pires: Valeu.

Lara: Obrigada, meu querido, boa noite. Gente, beijo, valeu.

É isso então. Olha, o seu processo de julgamento e tomada de decisão é fundamental para uma vida equilibrada e bem-sucedida. É a forma pela qual nós avaliamos as informações e escolhemos o melhor curso de ação. Julgar e tomar decisões precisa de uma reflexão cuidadosa sobre nossos valores, metas e crenças. A boa tomada de decisão é crucial para evitar erros, fazer as escolhas certas e alcançar nossos objetivos. Além disso, ajuda a garantir que nossas ações estejam alinhadas aos nossos valores e princípios.

Sabe o que mais? É ajudar você a desenvolver a capacidade de julgamento e tomada de decisão o meu trabalho. Venha pra cá, temos diversos programas de treinamento e reflexão: mundocafebrasil.com.

Participação no Conversa Paralela: https://www.youtube.com/watch?v=WO2of7vsw_o

https://www.youtube.com/watch?v=4g2CcF_P7bo

É assim então, ao som de sabe quem? Ela mesma, a Anitta, cantando o clássico Não Deixe o Samba Morrer, de Edson Conceição e Aloísio Silva, um hino à contribuição das velhas gerações à cultura brasileira, que vamos saindo, espero que provocados e animados.

O Brasil tem jeito sim, se cada um de nós não se calar e agir para não deixar nossa cultura, o que temos de melhor, morrer.

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí, que completa o ciclo.

De onde veio este programa tem muito mais, acesse canalcafebrasil.com.br e torne-se um assinante. Além de conteúdo original e provocativo, você vai nos ajudar na independência criativa, a levar conteúdo para muito mais gente.

E se você gosta do podcast, imagine uma palestra ao vivo. E eu já tenho mais de 1000 no currículo. Conheça os temas que eu abordo no lucianopires.com.br.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

Para terminar, uma frase do escritor Jonathan Goethe:

É fácil pensar, é difícil agir, mas agir segundo o próprio pensamento é o mais difícil.

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