Café Brasil Premium 878 - O outro

Data de publicação: 11/06/2023, 11:03

https://www.youtube.com/watch?v=wsSQeEAoNqA

Em 1938 iniciou-se um estudo chamado Harvard Study of Adult Development. Ao longo de mais de 80 anos, o Estudo da Universidade de Harvard tem rastreado os mesmos indivíduos e suas famílias, fazendo milhares de perguntas e centenas de avaliações – desde exames no cérebro a análises hematológicas – com o objetivo de descobrir o que realmente contribui para uma vida (mais) feliz. E a conclusão é a importância do outro...

 

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você estará no Escriba Café e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar?

[tec] COMENTÁRIO DO OUVINTE [/tec]

Grande Luis Rodrigo, muito obrigado, viu? Seja bem-vindo ao Premium, meu caro! Esse seu comentário nos dá força pra seguir adiante... é exatamente para isso que estamos aqui, meu caro, pra seguir junto, jogando uma luz aqui, uma provocação ali. E acho que tá na hora de revisitar o Vai Viver Cara... Muito obrigado.

E você aí que está aí me ouvindo, hein? Acha que omeu trabalho traz algum valor para sua vida? Deve trazer, né? Ou você não estaria aí dedicando tempo de vida para ouvir o Café Brasil. Olha, a gente quer crescer e precisa que todos que dão valor ao nosso trabalho, façam mais que agradecer, tornem-se assinantes. Assim ajudam a gente a financiar este trabalho. A gente aguarda uns segundos...

https://www.youtube.com/watch?v=yfIaAUno-6g

Orfeu era um talentoso músico e poeta, conhecido por sua música encantadora, enquanto Eurídice era sua amada esposa.

Quando Eurídice morreu tragicamente após ser picada por uma cobra, Orfeu ficou devastado pela perda. Movido pelo amor profundo que sentia por ela, ele decidiu descer ao submundo, o reino dos mortos, para tentar trazê-la de volta à vida.

Com sua música, Orfeu conseguiu comover os deuses do submundo, que concordaram em permitir que Eurídice retornasse à Terra, sob uma condição: enquanto Orfeu caminhasse de volta à superfície, ele não poderia olhar para trás para ver se Eurídice o seguia.

Mas num momento de dúvida e ansiedade, Orfeu cedeu à tentação e olhou para trás antes de chegar ao mundo dos vivos. Como resultado, Eurídice foi puxada de volta ao submundo, e Orfeu a perdeu para sempre.

Esse mito grego ressalta a importância dos relacionamentos, mostrando como o amor e a conexão profunda entre duas pessoas podem levar alguém a superar obstáculos aparentemente impossíveis. Também destaca a importância da confiança e do compromisso nos relacionamentos, demonstrando as consequências trágicas que podem surgir quando esses elementos são quebrados.

O mito de Orfeu e Eurídice fala sobre a natureza fugaz e vulnerável dos relacionamentos humanos, lembrando-nos de valorizar e apreciar aqueles que amamos enquanto estão presentes em nossas vidas. Ele ressoa com a ideia de que os relacionamentos são preciosos e requerem cuidado, comprometimento e atenção contínua para florescerem e prosperarem.

É isso. A importância dos relacionamentos humanos está na história, nas artes, em todo lugar. Aliás, teve uma pandemia aí mostrando como os relacionamentos são importantes, não é?

https://www.youtube.com/watch?v=HRpqS9d2f74

Que tal? Uma versão de Boyce Avenue de I´ll Be There For You, tema da série Friends... agora quebrei as pernas de um monte de Millennials...

sobe

O "Harvard Study of Adult Development" (Estudo de Desenvolvimento Adulto de Harvard, em tradução livre) é um dos estudos mais longos e abrangentes sobre o desenvolvimento humano já realizados.

Os pesquisadores acompanharam originalmente 724 homens desde a juventude até a idade adulta avançada, coletando informações detalhadas sobre diversos aspectos de suas vidas, incluindo saúde física e mental, relacionamentos, trabalho, família, satisfação pessoal e qualidade de vida. Ao longo dos anos, o estudo expandiu-se para incluir também as esposas e filhos dos participantes originais.

O principal objetivo do estudo é identificar os fatores que contribuem para um envelhecimento saudável e bem-sucedido, bem como compreender os impactos de eventos e experiências precoces na vida adulta. Além disso, os pesquisadores têm interesse em investigar os efeitos de fatores sociais, econômicos e psicológicos no desenvolvimento humano ao longo do tempo. E como a maioria dos participantes já morreu, os dados que continuam a ser recolhidos são de seus filhos.

É uma aventura científica extraordinária, liderada pela Harvard Business School e o Massachusetts General Hospital, que tem estudado as vidas de mais de duas mil pessoas nesse projeto de pesquisa longitudinal, o qual começou em Boston com dois grupos, ou estudos, em que um não fazia ideia da existência do outro e vice-versa.

As histórias pessoais dos participantes no Estudo de Harvard e os seus principais frutos são reforçados pelos resultados de investigação de muitos outros estudos que, de uma maneira geral, concluem que são as relações, em todas as suas formas – amizades, parcerias românticas, famílias, colegas de trabalho, parceiros de tênis, membros de clubes de leitura, etc. – que mais contribuem para uma vida mais feliz e mais saudável.

Depois de estudar centenas de vidas “inteiras”, é possível confirmar que uma enorme variedade de fatores contribui para a felicidade de uma pessoa. E que o delicado equilíbrio das questões econômicas, sociais, psicológicas e de saúde é muito complexo e está em constante mudança. Raramente se pode dizer, com absoluta confiança, que um único fator contribui para qualquer que seja resultado. Mas se olharmos para os mesmos tipos de dados repetidamente ao longo do tempo, através de um grande número de pessoas e estudos, os padrões começam a emergir e tudo se torna mais claro.

 

Entre os muitos elementos de saúde e felicidade, desde uma boa dieta ao exercício físico até ao nível econômico, uma vida de relações boas destaca-se pelo seu poder e consistência. E cinco lições foram retiradas dessa experiência quase centenária. São elas que vou relatar a partir de agora.

Lalá, muda o clima aí....

https://www.youtube.com/watch?v=cfPgeqB4Dww

Primeira lição: As relações com outros nos mantêm mais felizes e saudáveis durante toda a nossa vida, ao mesmo tempo que a solidão corrói a nossa saúde mental e física.

Se recuarmos e olharmos para os 84 anos do Estudo de Harvard e reduzirmos as conclusões a um único princípio de vida, temos o seguinte: boas relações nos mantêm mais saudáveis e mais felizes, sem qualquer sombra de dúvida.

A ciência também nos mostra que a ausência de boas relações diminui a nossa saúde e bem-estar. As pessoas que estão mais isoladas são mais propensas a ter problemas de saúde do que as pessoas que se sentem ligadas aos outros. As pessoas solitárias têm também vidas mais curtas. A solidão crônica – e que está crescendo em todo o mundo – aumenta as probabilidades de morte de uma pessoa em 26%. Assim, e como diz a ciência, cultivar relações calorosas é a resposta para uma vida saudável e mais feliz.

 

Segunda lição: As relações não “cuidam” de si mesmas e requerem manutenção e renovação ativas.

Temos tendência a pensar que uma vez estabelecidas as amizades e as relações íntimas, elas “cuidarão” de si próprias. Mas, assim como os músculos, as relações negligenciadas atrofiam.

Quando os participantes do Estudo de Harvard atingiram os seus 70/80 anos, lhes foi perguntado se sentiam algum arrependimento por algo que tivessem ou não feito durante as suas vidas. E foram muitos os disseram que lamentavam não ter tido mais cuidado com as suas relações. Falaram de amigos com quem perderam contato e familiares próximos com os quais desejavam ter passado mais tempo.

Afirmações como “quem me dera ter passado muito mais tempo com os meus filhos e menos tempo no trabalho” foram comuns.

Já nas camadas mais jovens estudadas, é comum ouvir pessoas na casa dos 20 anos (e mais velhas) declarando que “é tarde demais para mim porque eu não sou bom em construir relações. Nunca irá acontecer comigo e por isso, desisto”. Foram várias as pessoas no Estudo de Harvard que realmente desistiram, e quando menos esperavam, algo de bom lhes aconteceu.

Os autores chamam também a atenção para o fato de que saber como melhorar as nossas ligações sociais – a nossa aptidão social – não é fácil.

Devemos nos afastar das distrações da vida moderna, fazer um balanço das nossas relações, e sermos honestos conosco. Em que é que estamos dedicando nosso tempo?  Estamos cuidando das ligações que nos ajudam a prosperar? O que achamos mais problemático nas relações? Como podemos nos empenhar para fazer melhor?

 

Terceira lição: As relações de todos os tipos são importantes, mas todas têm desafios complexos.

Não é preciso estar casado ou ter um companheiro/a para colher os benefícios das relações e levar uma boa vida. Uma parceria íntima pode trazer grande alegria, e obtemos benefícios de todos os tipos de relações. Podemos nos beneficiar de amizades próximas, ligações com familiares – pais, tias, primos, crianças – pessoas com quem trabalhamos, e até de relações casuais como a pessoa que vemos no ônibus a caminho do trabalho ou a pessoa que entrega o nosso correio.

O fato é que é muito pouco provável, e também pouco saudável, que consigamos tudo o que precisamos numa só pessoa.

Embora seja evidente que as relações são críticas para o nosso bem-estar, muitos lutamos com “detalhes” nas relações. As relações são frequentemente confusas e desafiadoras, para além de imprevisíveis. As diferenças de opinião ou de preferências são quase inevitáveis nas relações, assim como os sentimentos de desilusão ou vulnerabilidade.

As relações, tal como a própria vida, são complicadas. Podem ser envoltas em alegria ou amor, mas também em dor. É quase impossível ter uma sem a outra. Uma boa vida, de fato, é forjada precisamente a partir das coisas que a tornam difícil. Os desafios são oportunidades de crescimento e há que saber lidar com os mesmos para melhorar os relacionamentos.

 

Quarta lição: A nossa atenção é o nosso recurso mais precioso.

Vixe... que acompanha o Café Brasil sabe que falo isso há quase 20 anos... Como devemos gastar o nosso tempo e atenção? Por causa da brevidade e incerteza da vida, esta é uma questão que tem profundas implicações na nossa saúde e felicidade. Os autores citam um adágio budista que diz: “Se apenas a morte é certa e a hora da morte é incerta, então o que devo fazer”?

Os autores sugerem que paremos um minuto para pensar num amigo ou parente que apreciemos, mas com o qual não passamos tanto tempo como gostaríamos. Pense agora na frequência com que vê essa pessoa. Todas as semanas? Uma vez por mês? Uma vez por ano? Pode fazer as contas e projetar quantas horas num único ano você acha que passa com essa pessoa. Seja qual for esse número, contraste com a quantidade de tempo que a pessoa média gasta hoje em dia diante das telas da vida.

Só em 2018, segundo os autores, os americanos passaram onze horas todos os dias interagindo com os meios de comunicação, desde a televisão à rádio até aos smartphones e redes sociais. Dos 40 aos 80 anos de idade, este tempo traduz-se em dezoito anos de vida acordada.

Dezoito anos na frente das telas...

A sugestão é decidir a quem e ao que damos a nossa atenção, conferindo prioridade às relações. E escolher estar com as pessoas que importam. Desenvolvendo a nossa curiosidade e estendendo a mão aos outros – familiares, entes queridos, colegas de trabalho, amigos, conhecidos ou mesmo estranhos, reforça os alicerces da “boa vida”.

 

Quinta lição: Nunca tarde demais para melhorar as nossas relações com os outros.

Uma das histórias da pesquisa conta a vida de Andrew Dearing, descrita como a mais difícil e isolada comparativamente à de qualquer participante no estudo. Quando era criança, a família de Andrew mudou de residência muitas vezes, o que se traduziu na falta de envolvimento com amigos duradouros. As suas lutas com ligações significativas continuaram mesmo depois de ter casado na casa dos 30 anos. Quando pediram a ele, em meados dos anos 60, para descrever os seus amigos mais próximos na vida e o que significaram para ele, Andrew escreveu simplesmente “ninguém”.

Quando Andrew tinha 67 anos, atacado por problemas de saúde, foi forçado a aposentar-se de um emprego que era uma das poucas fontes de prazer e ligação na sua vida. Ao mesmo tempo, decidiu terminar seu casamento. Estava mais solitário do que nunca. E foi quando decidiu começar a frequentar uma academia perto da sua casa. Três meses mais tarde, Andrew conhecia toda a turma que frequentava a academia. Ele descobriu que alguns deles partilhavam o amor por filmes antigos, e começaram a se juntar para ver filmes. Quando o autores falaram com Andrew nos seus 80 anos, perguntaram com que frequência ele saía de casa para ver outras pessoas ou se as pessoas o visitavam. Ele respondeu, “diariamente”, o que foi uma grande mudança em relação à sua resposta anterior.

Vivemos num mundo que anseia por uma maior ligação humana. Por vezes podemos sentir que estamos à deriva na vida, que estamos sozinhos e que já passamos o ponto em que podemos fazer qualquer coisa para mudar isso.

Andrew tinha-se sentido assim, mas estava errado. Não era demasiado tarde. Porque a verdade é que nunca é tarde demais.

 

O "Harvard Study of Adult Development" é considerado um marco na pesquisa do desenvolvimento humano e continua em andamento até os dias atuais, com a terceira geração de participantes sendo acompanhada. Os dados e descobertas desse estudo têm sido amplamente utilizados em diversas áreas, como psicologia, medicina, sociologia e saúde pública, contribuindo para uma melhor compreensão dos fatores que promovem uma vida longa e saudável.

 

Vamos ao resumo, então?

Primeira lição: As relações nos mantêm mais felizes e saudáveis durante toda a nossa vida, ao mesmo tempo que a solidão corrói a nossa saúde mental e física. Invista em conexões significativas com outras pessoas, buscando relacionamentos saudáveis e cultivando um senso de pertencimento.

Segunda lição: As relações não “cuidam” de si mesmas e requerem manutenção e renovação ativas. Invista tempo e energia para nutrir e renovar seus relacionamentos.

Terceira lição: As relações de todos os tipos são importantes, mas todas têm desafios complexos. Seja mais compreensivo, paciente e disposto a trabalhar nas áreas problemáticas. A construção de relacionamentos saudáveis ​​envolve enfrentar esses desafios e aprender com eles.

Quarta lição: A nossa atenção é o nosso recurso mais precioso. Esteja presente, ouça ativamente, demonstre interesse genuíno e invista tempo de qualidade nas interações com os outros.

Quinta lição: Nunca é tarde demais para melhorar as nossas relações com os outros. Independentemente de qualquer histórico ou dificuldades passadas, sempre temos a capacidade de trabalhar em nossas relações e fazer mudanças positivas. Isso envolve autoreflexão, autoconsciência, disposição para mudar padrões negativos e buscar o crescimento pessoal e interpessoal.

E aí? Como andam as suas relações?

 

https://www.youtube.com/watch?v=0hG-2tQtdlE

E é assim então, ao som de You´ve got a friend in me, de e com Randy Newman, que vamos saindo com saudades de nossos amigos... Essa é a canção tema de Toy Story, lembra? E diz assim:

Você tem um amigo em mim!

Você tem problemas, eu também

Não há nada que eu não faria por você

Se continuarmos juntos, podemos atravessar tudo

Porque você tem um amigo em mim!

Sim, você tem um amigo em mim!

 

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí ó, completando o ciclo.

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E para terminar, uma frase da atriz Audrey Hepburn:

A melhor coisa a se segurar na vida é o outro.

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