Café Brasil Premium 902 - O casamento

Data de publicação: 27/11/2023, 11:19

O vídeo do casamento está aqui: 

Estava eu nos afazeres do dia a dia quando recebo uma mensagem assim:

“Querido Luciano Pires, Escrevo esta mensagem para te fazer um pedido um tanto quanto inusitado, mas antes preciso te contextualizar.

Daqui a um ano, mais especificamente dia 04 de novembro de 2023 me casarei com a Larissa, a gatinha. Nos conhecemos em 2011 durante a faculdade de medicina e dois anos depois começamos a namorar. Quando casarmos já teremos dez anos de namoro. Dez anos! E nesses anos você sempre esteve presente como trilha sonora de nossas viagens, faxinas, louças lavadas e domingos preguiçosos. Junto com você choramos, ouvimos conselhos, nos divertimos, dançamos sob as melhores trilhas sonoras, discutimos política e até aprendemos lições para ensinarmos aos nossos futuros filhos. É estranho como alguns episódios do seu Podcast se encaixam perfeitamente no momento certo de nossas vidas, bem quando a gente precisa.

E é neste contexto que gostaria de te pedir: Você aceitaria celebrar nosso casamento? Sei que é um pedido muito estranho, mas estamos fazendo reuniões com diversos celebrantes e até agora nenhum combinou conosco.

Em toda reunião eu fico imaginando você entrando ao som de Banana Boat Song tocado por violinos, falando "bom dia, boa tarde e boa noite" e contando nossa história de forma divertida. Seria a cereja do bolo da nossa celebração. O casamento será no Terras de Clara, em Morungaba e a duração da celebração é de aproximadamente 45 minutos.

Após a celebração será um prazer ter você e sua família na festa, que será no mesmo local. A gatinha acha que eu sou doido de escrever isto para você, mas não custa tentar né? Obrigado por todos seus ensinamentos, provocações e risadas. Você fez e continuará fazendo parte de nossa vida. Vida longa ao cafezinho! Grande abraço, Rafael.”

Cara eu nunca imaginei que alguém poderia me chamar para atuar num momento desses, que faz parte dos momentos mais marcantes da vida de qualquer casal. O convite era muito louco. Tão louco que eu... aceitei.

E hoje vou contar para você como foi a minha primeira experiência como um celebrante de casamento! Ah, e a trilha deste episódio é a gravação da cerimônia.

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar?

Comentário do ouvinte

Graaande João Carlos, o Café Brasil 900 dos Bee Gees está causando, rarararar. Ficamos super felizes imaginando a cena de você dançando com sua mãe. Que delícia de relato. Faz a gente ter certeza que todo nosso trabalho vale a pena. Obrigado por compartilhar conosco!

O comentário do ouvinte agora é patrocinado pela Livraria Café Brasil, e o Fabricio ganhou um livro! Deixa ver... será o meu Me Engana Que Eu Gosto. Nele eu abordo temas como eleições, manifestações populares, debates, mensalão, corrupção e outros que ocupam os espaços da imprensa nos últimos anos. O livro é composto por crônicas inéditas, especialmente elaboradas para o livro, e algumas das melhores crônicas publicadas no Portal Café Brasil.

Entre em contato conosco pelo whatsapp 11 96429 4746, João Carlos, para definir a remessa do livro. Muito obrigado!

Então vamos lá… se você vê valor no trabalho que a gente faz aqui no Café Brasil, faça como o João Carlos, torne-se um assinante. E se gosta de ler, compre nossos livros na livrariacafebrasil! É só acessar mundocafebrasil.com. Vai lá. A gente espera.

Grilo

Bem, como o convite foi feito um ano antes do casamento, deixei a coisa passar, sem me preocupar. Quanto contei para famílias e amigos, todo mundo ficou espantado. E querendo saber como eu faria.

A resposta era padrão: “Sei lá. Quando chegar na hora eu vou ver...”.

E um dia a hora chegou...

Lembrando: a trilha sonora deste episódio é toda com as músicas que os noivos escolheram para tocar na cerimônia. Essa ao fundo é With A Little Help From My Friends, que tocou durante a entrada dos padrinhos e marinhas...

 

Bem, com o evento se aproximando, comecei a me mexer. Liguei para meu amigo Irineu Toledo, que eu sabia que já havia feito cerimônias de casamento. E ele foi no ponto: “Luciano, fique tranquilo. O sagrado é a cerimônia, é o compromisso. Apenas seja você e está tudo resolvido.”

Cara, parecia tão fácil...

 

Evento chegando, fiz uma reunião por vídeo com os noivos para saber das expectativas. Pedi que me mandassem um texto com a história de ambos e com o roteiro do evento. Eles contrataram um lugar super legal, à beira de um lago, e uma empresa de cerimonial. Eu tinha de me encaixar no processo.

Liguei para a empresa do cerimonial, falei com a Mara, da @maraduarteassessoria. E com ela eu percebi que a coisa era grande...

Baita evento, para mais de 200 pessoas, a 90 minutos de São Paulo, com um conjunto musical, todo o rito de celebração, entrada de alianças e tudo o mais. Conversei com ela e me encaixei no esquema. E aí fui cuidar de construir a minha fala.

A primeira reação foi a de escrever algo sobre casamento. Aquela ladainha de compromisso e tudo o mais. Mas eles não me chamaram para isso. Chamaram por causa do Café Brasil, que pode ser tudo, mas não é óbvio.

Então eu decidi falar do pão francês.

 

No dia do evento, o universo estava conspirando a favor. Um dia lindo, temperatura agradável, maritacas sobrevoando... O Noivo, Rafael, me recebeu, em acompanhou no almoço, trocamos algumas ideias. Depois fui me reunir com a Mara para os acertos finais. E ela me disse uma coisa que foi marcante:

“Luciano, você tem de se concentrar em acalmar os noivos!”

Rararrara... com 15 anos de experiência, ela sabia muito bem onde a coisa pega. E eu a tranquilizei, especialmente quando disse que a minha fala teria no máximo 10 minutos.

“Dez? Puxa, isso é ótimo! Tem gente que fala 20, 30, 40 minutos!”

Não. Comigo era curto e grosso.

 

E vamos para a cerimônia. O lugar é lindo, chama-se Terras de Clara, em Morungaba, interior de São Paulo. Um gramado descendo em direção ao lago, e lá embaixo uma espécie de altar. Na verdade uma mesa com flores, debaixo de uma moldura de plantas. Seria ali que eu reinaria.

E o esquema era o seguinte: o evento começaria com eu entrando sozinho e descendo até o tal “altar”. Ao som de Bohemian Rahpsody.

Depois o noivo, os padrinhos e, finalmente, a noiva...

Entra a noiva.

 

A essa altura a emoção já tinha tomado conta de todos. Recebo os dois, olho para ela, que eu ainda não havia conhecido pessoalmente e digo baixinho: “Você está linda!”

A tarde estava mágica, um dia maravilhoso, lugar fantástico e, para completar, maritacas sobrevoando o local da cerimônia..

E aí foi a cerimônia. Eu ia ler o texto neste episódio, mas preferi trazer o áudio original da cerimônia, que contém a emoção do momento, o vento espalhando os papéis, as maritacas e tudo mais.

E sim, eu estava meio nervoso, rararararrar

 

Rafael Freike Kobayashi, filho do Edson e da Rosângela

Larissa Celiberto Renosto, filha da Alaíde e do Luiz

Podiam escolher um padre, um pastor, um xamã, um imã... numa igreja, numa oca, numa mesquita... Foram buscar um podcaster. Para mim é novidade. Saiu a tradição, mas continua o sagrado. COMPROMISSO.

Aos 35 e 33 anos, o termo “vida” parece ser infinito, não é? Vocês têm muita, muita vida pela frente, essa é a bênção da juventude. Já eu, seus pais e avós veem o termo “vida” com outra perspectiva. E na busca sobre o que falar para vocês hoje aqui, eu decidi bater numa tecla poderosa: só temos uma vida para viver. Uma. E ela é finita. Não a vivam como se vocês estivessem indo buscar um pão francês na padaria...

Pô, pão francês? Num casamento? Mas do que é que esse cara está falando? Deixe-me contar uma história para vocês. Cerca de vinte anos atrás, fui realizar minha palestra O Meu Everest numa universidade. Fui apresentado ao diretor, Seu Jorge. Era um septuagenário, e pela deferência de todos com ele, percebi que era uma pessoa querida e muito respeitada.  Mas também percebi que ele não estava bem, parecia cansado, angustiado e triste.

Ele passou a palestra toda impassível. Não se mexeu, não sorriu, não fez uma expressão sequer. E eu julguei que ele estava detestando a palestra. Quando a palestra terminou, notei que ele estava em pé, esperando que ficássemos sozinhos. E achei que ia ouvir alguma crítica.

Quando chegou a vez dele, me pediu que sentássemos nas cadeiras do auditório e começou a me dizer coisas que me marcaram.

“Seu Luciano, ontem eu completei 70 anos de idade, e enquanto eu estava pensando na festa de aniversário que meus familiares prepararam para mim, comecei a rever os eventos de minha vida. E enquanto minha memória viajava por sete décadas, fui ficando cada vez mais ciente de que não vivi uma vida plena. De repente pareceu que quando eu tinha vinte e cinco anos, saí para comprar um pão francês na padaria, e quando voltei para casa eu tinha 70 anos.”

Eu não entendi o que ele queria dizer. Seu Jorge era um profissional bem sucedido, respeitado e querido por todos. Não fazia muito sentido o que ele dizia. Todo esse respeito e reconhecimento, para ele não eram suficientes. Ele achava que tinha vivido a vida com muito menos do que as oportunidades que ela proporcionou. Ele achava que não tinha lutado o suficiente... que não tinha defendido as causas certas... que não abraçou as boas oportunidades... não correu os riscos que poderia...  

Nunca se jogou de corpo e alma em alguma tarefa... nunca viveu uma grande aventura. Ele passou a vida meramente colocando um pé na frente do outro, cuidadosamente, conservadoramente, responsavelmente... até que 70 anos se passaram.

Me lembrei dessa história para trazer uma mensagem a vocês, jovens, no dia de hoje.

Não vivam suas vidas com o mesmo senso de propósito, espírito e excitação de quem vai só buscar um pão francês na padaria. Tomem controle sobre suas vidas... vivam com um propósito... com excitação... joguem-se de corpo e alma em cada dia... em cada atividade... em cada aventura.

Eu não posso – ninguém pode – dizer a vocês como viver suas vidas. Mas conheço diversos homens e mulheres que, ao chegar a seus 70 anos, olham para suas vidas com a mesma paixão, alegria, excitação e orgulho que eu vejo nos olhos de vocês dois neste momento.

Sabem o que há de especial nesses senhores e senhoras que conseguem olhar para suas vidas com orgulho e satisfação? Eles sabem que deixarão o mundo um pouquinho melhor, só pelo fato de terem passado por ele.

Desse entusiasmo diário pela vida que eles ainda exibem, dá para ver que cada página de seus dias foi preenchida  com causas apaixonantes defendidas.

Com relacionamentos repletos de amor, que ainda transparecem em seus olhares. E na firmeza de seus passos.

Com vocês poderá não ser diferente. Vocês têm neste momento a escolha de decidir como viverão suas vidas. Mas conforme o tempo for passando... e vai passar muito mais rápido do que vocês imaginam, suas opções vão se reduzindo. As oportunidades de escolha vão diminuindo e o livro de suas vidas vai chegando ao final, todo preenchido.

Este momento especial é um fabuloso começo, Larissa e Rafael.

Não há dúvidas que vocês enfrentarão momentos difíceis na jornada. Não existe vida sem momentos difíceis. Mas saibam de uma coisa: os infelizes e incompletos Seus Jorges do mundo, não estão angustiados por seus erros e falhas... estão angustiados pelas coisas que deixaram de fazer, pelas coisas que nem mesmo tentaram. A angústia de nunca terem olhado para além da ida até a padaria para comprar um pão francês. Por não terem sonhado maior que isso, com objetivos que estão muito além do que as pessoas dizem que podemos alcançar.  Eles carregam a angústia de quem se conformou.

O caminho para um aniversário de 70 anos triste como o do seu Jorge é marcado por uma trilha de oportunidades perdidas...

Muita TV - Pouca leitura / Muita comida - Pouca ação

Muito falatório - Poucas conquistas

Muito pegar - Pouco dar / Muitos sonhos - Poucos planos

Lembrem-se: são as pequenas e firmes decisões que vocês tomarem no dia a dia, que vão construir as grandes conquistas.

Agora eu quero que vocês permitam que eu, do topo de meus 67 anos, diga aqui alguns sins e alguns nãos, para que vocês, daqui a 40 anos, sintam orgulho da trajetória que fizeram juntos.

Digam sim à responsabilidade, ao compromisso que assumem um com o outro. Considerem os conselhos de todos que aqui estão e que amam vocês. Mas a responsabilidade por seu futuro não será de seus pais, amigos, padrinhos ou podcasters. É de vocês dois.

Digam sim à aventura. Só com objetivos ambiciosos e arriscados, daqueles que dão frio na barriga, podemos desafiar os limites de nossas vidas.

O Seu Jorge descobriu tarde demais que só “viver a vida” não basta. Não vai dar a vocês nenhum orgulho quando chegarem a seus setenta anos.

Por isso, digam não à apatia. A indiferença é o mal do indivíduo moderno e cria uma sociedade pela qual não queremos passar.

Digam não à auto-indulgência, que é aquela atitude de satisfazer os seus desejos imediatos e agradar a si mesmo, sem se preocupar muito com as consequências a longo prazo.

Boas vidas são caracterizadas pelo auto-sacrifício, e não pela auto-gratificação.

Então digam SIM para o cuidado e a preocupação com os outros. Nenhuma vida vale a pena quando é construída passando por cima dos outros.

Nenhuma vida vale a pena quando buscamos beneficiar apenas a nós mesmos. O que leva para um termo que temos usado muito pouco: generosidade.

Sejam generosos. E por fim, digam não ao conformismo. Fiquem indignados, bravos, incomodados, mas não se conformem. Entenderam? Não se conformem.

Bom, o tempo aqui passa rápido, tá cheio de gente louca para abraçar vocês, para festejar e fazer os votos de uma vida feliz e construtiva. Então caminho para o final pedindo a vocês que vivam a vida de forma plena, assim quando a vida passar diante de seus olhos no aniversário de 70 anos, vocês vão sentir aquela paz interior de quem sabe que deu o melhor de si, um para o outro, os dois para suas famílias, sua cidade, seu país e o mundo.

E agora, seguindo a tradição da cerimônia, peço a vocês que fiquem um de frente para o outro e respondam a pergunta mais importante de hoje.

Bem, aí foi uma emoção só. Eu tinha a chance de repetir algo que ouvi a vida inteira dito pela boca de padres num momento sagrado. Agora era minha vez...

Larissa, você aceita Rafael como seu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, e promete ser fiel, até que a morte os separe?

Rafael, você aceita Larissa como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, e promete ser fiel, até que a morte os separe?

Então peço ao Arthur que nos traga as alianças.

[tec] Toy Story - Amigo estou aqui

Agora o Rafael tem algumas palavras para a Larissa, não é?

E a Larissa para o Rafael?

 

Para terminar esta cerimônia, quero fazer como nos podcasts, relembrar uma figura ícone que certamente marcou as vidas de todos aqui presentes. O nome dele é Elvis Aaron Presley. Em 1961 ele estrelaria um filme chamado Blue Hawaii, e os produtores decidiram encomendar uma canção a três compositores, para ser interpretada por uma cantora. Mas a canção acabou sendo entregue a Elvis, e fez história.  A letra fala de uma paixão avassaladora, o que era puro Elvis, que cantava...

Wise Men say / Only fools rush in / But I can´t help / Falling in love with you

Homens sábios dizem / Que só os tolos de apaixonam

Mas eu não consigo evitar / Me apaixonar por você

O cantor fica apreensivo por estar se apaixonando rápido demais, mas admite que não tem controle. E ele continua...

Take my hand / Take my whole life too / For I can't help / Falling in love with you

Larissa e Rafael, repitam comigo:

Pegue minha mão / Tome minha vida inteira também

Porque eu não consigo evitar / Me apaixonar por você

Eu os declaro marido e mulher.

(Segue o áudio dos noivos com os votos na versão assinantes.)

https://www.youtube.com/watch?v=9rSgAeKmGRc

Bem, foi uma experiência única, original e emocionante, que não terminou na cerimônia... voltando da Lua de Mel, os Rafa e a Lari me mandaram um áudio:

Bem, é isso. Eu fico com a sensação de um trabalho bem feito, especialmente por saber que de alguma forma tenho tocado os corações das pessoas.

Ah, sim, e não venha inventando de me convidar para celebrar casamentos, ok? A experiência foi sensacional, mas não vou entrar nesse mercado. Meu negócio é palestra e podcasts!

 

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí, completando o ciclo.

De onde veio este programa tem muito mais. E se você gosta do podcast, imagine uma palestra ao vivo. E eu já tenho mais de 1100 no currículo. Conheça os temas que eu abordo no mundocafebrasil.com.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

E para terminar, uma frase de Elvis Presley, que para mim tem servido como um mote de vida:

Faça alguma coisa que valha a pena lembrar.

Veja também