Cafezinho 528 – Ele quer machucar você

Data de publicação: 26/09/2022, 13:49

Anos atrás eu dirigia meu carro a caminho de uma reunião e ao meu lado estava um vice-presidente da empresa. Um carro se adiantou para entrar em nossa frente, eu reduzi a marcha e meu chefe ficou indignado:

– Acelera, acelera, tchê! Ou o cara vai entrar!

E eu virei pra meu chefe e disse: e o que é que tem?

Ele só resmungou, indignado com a vantagem que o outro motorista obteve sobre nós.

Qual é a razão da indignação? O desconforto de se sentir menor que o outro. Já aconteceu com você?

Sempre que somos contrariados, quando nos negam o que queremos, nos sentimos de alguma forma, machucados. E isso dói, viu? Todo mundo quer escapar dessa dor. Em crianças, a gente até entende. Sem maturidade para compreender e comunicar suas emoções, elas fazem o que sabem: manifestam seu desconforto através do choro, da birra e do grito. Mas e quando é um marmanjo chorando, fugindo, ou entrando num enfrentamento que rapidamente escala do conflito para o confronto? Sem maturidade para lidar com a dor, ele regride à condição de criança que quer escapar da dor, mas não sabe expressar suas emoções. Mas se uma criança a gente pega no colo, dá alívio com amor ou então bota de castigo, com um adulto é mais complicado. Adultos já aprenderam que a melhor defesa é o ataque, não é? E num contexto de confronto, abandonar o pensamento lógico, as regras de etiqueta e partir para a agressão é a consequência imediata.

Essa criança crescida terá certeza que você quer machucá-la. Ela se sentirá desvalorizada, culpada, rejeitada, humilhada, acuada… E partirá para negar de todas as formas o seu direito, sua autoridade para julgá-la. Confronto, grito, xingamentos, a injeção de adrenalina nos dá a sensação de controle. Xinguei, portanto, ganhei! Cuspi, portanto, ganhei!

Bem-vindo, bem-vinda às redes sociais…

Preciso fazer com que meu interlocutor não se sinta agredido, nem humilhado ou ameaçado. Preciso fazer com que meus argumentos não lhe causem dor, que não transpareça a ele que estou tentando obter alguma vantagem pessoal que o obrigue a alguma desvantagem.  E a recíproca é verdadeira. Você precisa fazer com que pessoa que agride saiba como você se sente. O problema é que ao fazer isso, você aumenta sua vulnerabilidade. Se o interlocutor for um ogro ou uma ogra, ficará satisfeito por saber que conseguiu o que queria: machucar você…

É, é difícil manter a cabeça fria, segurar o ego, colocar a energia numa relação construtiva. E fazer isso numa sociedade gerida pela desconfiança, então, é uma tremenda dificuldade.

Vou continuar esta reflexão no vídeo

https://www.youtube.com/watch?v=uLV1I05O_is

 

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