LíderCast 242 - Denis Lippert

Data de publicação: 14/09/2022, 15:51

 

 

Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite. Bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o PodCast que trata de liderança e empreendedorismo com gente que faz acontecer.

O convidado de hoje é Dener Lippert, jovem empreendedor, mentor do G4 Educação, startup de educação de negócios. Além de ser fundador e CEO da V4 Company, assessoria de marketing com mais de 200 escritórios em todo o Brasil. Empreendedor raiz, a partir da cozinha da casa da mãe, Dener começa um negócio que hoje fatura mais de 13 milhões de reais por mês. E dá uma lição sobre botar a mão na massa.

Muito bem. Mais um LíderCast. Como sempre, abrindo contando como é que essa figura chegou até aqui. Eu recebo um e-mail da Fala Criativa, que é uma empresa de comunicação. Eles não gostam e de falar relações públicas mais. Eu acho que ficou velho isso aí. Então é comunicação integrada, aquela coisa toda. Mas ele mandou para mim: eu estou com uma pessoa aqui, que pode ser interessante. Manda para mim um resuminho. Eu olhei e falei: isso tem cheiro daqueles empreendedores raiz. Me interessa. Então acabou que nós estamos aqui em pleno feriado de Corpus Christi. Só descobri que nós tínhamos marcado para o feriado hoje de manhã. Mas estamos juntos aí. Então perguntas, as únicas três que eu exijo que você responda certo. O resto você pode chutar à vontade. Vamos lá: seu nome, a sua idade e o que você faz?

Dener Lippert: Primeiramente, um privilégio, uma grande oportunidade de poder estar trocando essa ideia contigo. O meu nome é Dener Lippert. Eu tenho 28 anos. E sou empresário, cientista do marketing. Eu estou há 10 anos com a V4, fazendo marketing digital para milhares de empresas aí pelo Brasil.

Luciano Pires: Você é um empreendedor?

Dener Lippert: Absolutamente.

Luciano Pires: É o dono da firma?

Dener Lippert: É.

Luciano Pires: Na minha época era o dono da firma. Depois ficou mais bonito, porque virou empreendedor. Mas era o dono da firma. Você nasceu aonde?

Dener Lippert: Eu nasci em Porto Alegre. Sou gaúcho.

Luciano Pires: Tem irmãos?

Dener Lippert: Tenho vários. Tenho três irmãos por parte de mãe e pai. E é isso. Todos empreendedores. Toda a família é empreendedora.

Luciano Pires: Todo mundo? O seu pai e sua mãe fazem, faziam o quê?

Dener Lippert: Na verdade, tem uma história um pouco clássica da família brasileira. Pais divorciados, aquela história. Mas a minha família é muito rustler. A minha mãe era camelô. O meu pai sempre fazendo negócio. Eu tive pouco contato com ele. Mas o pouco que eu tive são essas memórias que eu tenho. Eu parei de ter contato com ele quando eu tinha 10 anos de idade. E os meus irmãos a mesma coisa. O meu irmão sempre teve empresa de transporte, frete, a Kombi...

Luciano Pires: Esse vírus está na família? O vírus veio da família?

Dener Lippert: A galera sempre queria fazer dinheiro. A galera sempre foi fazedora de dinheiro. Clássico brasileiro mesmo. A minha mãe adora fazer um trambique, vender um treco.

Luciano Pires: Já gostei. Você que está ouvindo a gente. Você sentiu a pegada? Ele não falou ganhar dinheiro. Ele falou: fazer dinheiro. Parece uma bobagem retórica, mas tem uma diferença brutal entre: eu quero ganhar dinheiro e eu quero fazer dinheiro. Fazer dinheiro é a pegada do empreendedor.

Dener Lippert: É. Absolutamente. Então isso sempre esteve presente. E aí, as minhas primeiras empreitadas foram baseadas no que eu estava vendo em casa. Eles nunca construíram um negócio, que aí são outros estágios de complexidade que a gente consegue atingir. Por circunstâncias da vida, não deu. Eu sou o filho mais novo. Eu acredito na meritocracia. Não sei o quanto tu acredita? Tem muita gente que critica.

Luciano Pires: Eu acredito profundamente.

Dener Lippert: Aí eu tenho um ponto que é contra quem critica a meritocracia, que é o seguinte, a gente fala assim: meritocracia não funciona, porque as pessoas nascem em momentos diferentes. Eu acredito no seguinte: a meritocracia não começa na tua geração. Começa nas gerações anteriores da tua família. E eu estou, talvez, vivendo o que a minha mãe se ferrou para construir, para que eu pudesse construir a partir daqui. Então, parte do mérito é do trabalho dela, é o que eu estou conseguindo fazer depois dela ter ralado muitos anos, eu sendo o filho mais novo. Então eu vejo assim, tem gente... até quando eu fui dar umas pesquisadas sobre por que certos tipos de pessoas ficam muito pobres, classes e coisas assim, por muito tempo? E aí vi uma pesquisa lá que dizia que, por exemplo, quando o cara é muito pobre ele eventualmente consegue ir para uma faculdade – que é raro – aí ele começa a vencer na carreira. O que acontece? Ele volta para ajudar a família. Aí ele nunca consegue sair daquela zona de problema. E aí fode a meritocracia. Porque daí tu volta, te amarra naqueles problemas do passado. E não consegue construir a próxima geração. Então, apesar dos pesares, eu acho que eu consegui me desvincular desse ciclo para construir uma geração melhor na minha família daqui para frente.

Luciano Pires: Eu escrevi um minilivro chamado Ensaio Sobre a Meritocracia. Porque eu não me conformava com essa história toda. Eu falava: os caras confundem meritocracia com conceito de justiça. E são duas coisas totalmente diferentes. A meritocracia funciona no tráfico de drogas. Ela funciona no time de futebol. Quando era criança, a gente era moleque, a gente ia jogar bola. Tinham dois caras que iam escolher o time. E aí olhava: quem eu vou escolher para o meu time? Eu quero o moleque que joga melhor. E o que é isso? Isso é meritocracia. Eu estou montando um time de basquete aqui, quem eu vou escolher primeiro? O Juca, que mede um metro e oitenta. Os outros medem um metro e cinquenta. O que é isso? É meritocracia. Porque ele, talvez, seja o cara que possa mais agregar valor naquele momento ali. Não tem nada de ruim nisso. É que a turma transfere isso para luta de classes. Joga justiça no meio do caminho. E começa a tratar a meritocracia como coisa de capitalista. E aí vem atrás toda aquela baboseira.

Dener Lippert: Quando a galera fala sobre isso, por exemplo, que o Gustavo Borges – que é um cara que eu gosto – medalhista olímpico. Ele nasceu alto pra caralho e com uns mãozão. Não foi ele que escolheu. Daí não é meritocracia. Porque daí não foi uma escolha. Um mérito dele. Como é que tu enxerga esse aspecto?

Luciano Pires: Eu mando ele jogar bola com o Neymar.

Dener Lippert: Pois é.

Luciano Pires: Eu falo: vai jogar bola com o Neymar. Vai ver o que o Neymar faz com ele. O Neymar vai detonar. O Neymar é menorzinho. Entendeu?

Dener Lippert: A graça do mundo é tu poder fazer várias coisas diferentes com as coisas que a vida te dá.

Luciano Pires: Sim. E aí tem outra coisa, que é o conceito de justiça. Aí, espera um pouquinho. Então eu vou definir para você como é que funciona. Tem um juiz na minha frente, que é o cara que vai decidir se eu mereço ou não, qualquer coisa. Se eu mereço que compre um produto. Se eu mereço ganhar um aumento salarial. Se eu mereço que ele me promova. Alguém vai decidir. Eu não sei quem é esse alguém. Pode ser o meu chefe. Pode ser um cliente. Alguém vai decidir. Esse cara é um juiz. Se eu conseguir mostrar para ele que eu estou agregando valor ao negócio dele, talvez eu consiga que ele me escolha. Se eu não conseguir, ele vai escolher outro cara. Entendeu? Aí vem: ah, porque escolheram a Maria só porque a Maria é bonita, é gostosa. Ela foi escolhida. E eu que estou aqui há 40 anos, eu não fui. Para quem escolheu, os atributos dela geram mais valor do que os teus. Tem o problema de justiça. É o conceito que o cara usou. Você pode discutir que o conceito está errado. Entendeu? Que é o que está acontecendo hoje em dia. Eles estão começando a escolher você não mais pela tua competência. Mas pela cor da tua pele. Sexualmente. Então, mudou completamente. Já não é mais a tua capacidade de gerar valor.

Dener Lippert: O que é um problema, do meu ponto de vista, na forma de gestão atual.

Luciano Pires: Claro. Porque então, espera um pouquinho: vai ter resultado esse negócio? Ou você vai ter: olhei para a diversidade. Esqueci de olhar para quem tem competência para fazer o negócio acontecer.

Dener Lippert: 200 caras trabalham para mim no meu escritório e três mil na nossa rede. E eu sempre ignorei esse assunto. Eu meio que fui deixando de lado. Assunto por exemplo, o ISD. E aí essa semana, eu fiz uma palestra sobre ISD para a turma. Porque estava começando a sair do meu controle. Porque eu estava não querendo assumir a responsabilidade de falar sobre o assunto. A questão é: não me interessa. Me interessa quem consegue fazer dinheiro. Então eu não quero saber dessa porra. Foda-se.

Luciano Pires: Posso te dar minha resposta? Eu contrato cérebro.

Dener Lippert: Exato.

Luciano Pires: Eu contrato cérebros.

Dener Lippert: Só que os caras não entendem fácil essa porra. Mas aí eu fiz uma palestra inteira para a galera, num momento que a gente faz. Peguei até o Harari, umas referências do Harari para construir a narrativa que era: o que separa o ser humano dos outros bichos? Por que a gente dominou o planeta? Porque a gente se organiza em grupo, de maneira flexível. Beleza. Se botar sete mil macacos num estádio, eles vão se matar. Se botar 10 mil seres humanos, eles até que se ordenam. E eles acreditam em ideias abstratas, que outras pessoas não acreditam. Deus, religião, governos, estados, raças. Nós somos o grupo X, grupo Y, ISD. Eu até falei: o ISD é engraçado. Porque quem criou foi a ONU. A ONU que colocou a Rússia como é o papel que eles chamam lá. O ponto é...

Luciano Pires: E o ser humano é o único animal que posterga o prazer. Ele consegue deixar o prazer para depois. Ele consegue fazer isso.

Dener Lippert: Mas sabe qual é o lance legal também? O ponto é: talvez tu seja cristão ou não. A gente possa discordar em várias ideias aqui. Só que só tem uma ideia que todo mundo concorda, que é a ideia mais bem-sucedida de todos os tempos, que é dinheiro. Todo mundo acredita no dinheiro, que é uma ideia abstrata. Se tu der dinheiro para um macaco, o macaco fala: foda-se, eu não quero o teu dinheiro. O Osama Bin Laden discordava de todas as ideias dos Estados Unidos, menos uma: dinheiro. Eu falei para eles: a empresa está aqui para fazer dinheiro. Ponto. Se tu quer financiar uma ideia “x” ou “y” com o dinheiro que tu fizer aqui dentro, tanto faz. Mas tem que ficar discutindo as outras ideias? A gente nunca vai chegar num consenso. O consenso é: tem que fazer dinheiro. Eu fiz uma reunião com uma menina do meu time de people, de contratação. E eu aí falei para ela assim – ela estava com essas pautas, achando importante – eu falei: querida, amanhã eu vou chegar e vou falar o seguinte para ti: tu tem que demitir 50 pessoas. Junta a galera na salinha e demite. Porque é isso que as empresas estão fazendo no momento atual da história. Como é que tu vai te sentir? Porque é isso que vai acontecer se tu contratar o cara que não der resultado. Eu não vou demitir. Eu já estou com a vida ganha. E tu vai ter que resolver. Tu que convenceu o cara a sair do estado dele. Mudar para São Leopoldo, que é onde a gente está lá no Rio Grande do Sul. Arriscar tudo, para uma empresa que quebrou. Como é que tu vai te sentir? É esse peso que está nas minhas costas quando eu estou contratando. Então eu não quero saber se o cara é preto, branco, amarelo, mulher, homem. Tanto faz se o cara dá a rola ou não.

Luciano Pires: É isso aí. Exatamente isso. Mas as pessoas resistem. A cabeça está tão feita, que elas resistem. Vão te botar o dedo na cara e vão dizer que você é mais um capitalista.

Dener Lippert: Mas eu não acho isso uma ofensa. Eu acho isso um elogio.

Luciano Pires: Vamos lá atrás. Como era teu apelido quando você era criança?

Dener Lippert: Dé.

Luciano Pires: O que o Dé queria ser quando crescesse?

Dener Lippert: Eu queria ser cientista mesmo. Porque eu olhava muito desenho do Dexter.

Luciano Pires: Mas cientista em que área? Um químico?

Dener Lippert: Não. Eu achava o Dexter legal. Ele era um personagem que era um cientista maluco. Uma criança cientista maluco. Saía inventando robô. Coisas para dominar o mundo. Então eu queria fazer coisas para dominar o mundo: robô, engenharia, montar carrinho de controle remoto.

Luciano Pires: Você queria ser um Elon Musk é isso?

Dener Lippert: Eu queria ser um Elon Musk. Elon Musk eu acho um cara bem legal.

Luciano Pires: Como é que isso te impeliu a seguir adiante?

Dener Lippert: Eu acho que isso influenciou pra cacete, para ser sincero.

Luciano Pires: Como assim? Ele levou você a escolher que escola você ia frequentar?

Dener Lippert: Sim. Hoje uma das minhas marcas e o livro que eu lancei chama-se Cientista do Marketing.

Luciano Pires: A gente já vai falar dele.

Dener Lippert: Mas o ponto é: eu olhava muito o Dexter. E filmes de herói. Coisas assim, essas paradas. Aí eu fico pensando, às vezes, nisso: por que eu acabei tendo um output muito diferente das pessoas que conviveram comigo. E eu fico pensando: deve ter tido um input muito diferente do que teve nos outros. Aí eu fico pensando: o que esse cara me dizia? O que eu via no Dexter? O que eu via nos filmes de herói? E tinha muito o lance de ser protagonista: de salvar, de liderar, de coordenar, de construir, de mudar a realidade que é ruim, de ser forte, de ser aguerrido. E aí, junto com o contexto familiar, foram se tornando coisas óbvias para mim. Eu tinha que ser aguerrido. O mundo era difícil mesmo. Mas tu tinha que ser o herói que ia fazer a diferença, que ia salvar a mocinha, que ia fazer a parada acontecer. Que tinha que criar, que tinha que inventar, que tinha que desmanchar, que tinha que pensar como é que as coisas funcionavam. Fiquei super nerd por causa disso. E aí foram se tornando os outros outputs que foram rolando depois.

Luciano Pires: Você foi estudar o quê? Faculdade você fez?

Dener Lippert: Eu tive uma história curiosa com isso. Porque até os meus 18 anos, eu não queria estudar. Eu não lia. E aí eu tive um mentorzão na minha vida, que foi um cara que eu trabalhei um tempo com ele. O cara gostou da minha história. Me adotou. Foi meu pai.

Luciano Pires: Como é o nome dele?

Dener Lippert: Chama Luiz Carlos Rosa. Tinha uma empresa chamada LC Rosa, eu trabalhava nela. E ele falou para mim. Ele gostou da minha história, que eu já tinha aprendido. Eu tinha quebrado um negócio quando eu fui trabalhar com ele. E aí ele falou: tu quer sair da periferia? Quer fazer uma vida melhor? Eu falei: quero. Ele falou: então tu quem sair da periferia. Tu tem que conviver com pessoas melhores. Tu tem que ir para a faculdade. Eu falei: não. Mas eu não tenho dinheiro. Eu não gosto de estudar. Ele falou: mano, tu vai ir só para conhecer outras pessoas. Faz qualquer merda. Vai lá e faz qualquer curso. Aí eu fui no outro dia. É muito louco. Parece que foi uma narrativa bem construída. Mas literalmente no outro dia estava aberto o vestibular. Eu fiz. Entrei na Universidade La Salle, lá no Rio Grande do Sul para estudar Administração, processos iniciais. Eu mudei várias vezes de curso. Porque ele pagava. Ele falava: eu te pago. Eu fazia uma cadeira, duas.

Luciano Pires: Legal.

Dener Lippert: E mudou a minha vida completamente. Porque a primeira cadeira que eu fiz foi Fundamentos de Marketing, que eu vi lá os 4 Ps do Kotler. E eu já tinha quebrado um business. E a minha faculdade tinha um slogan que era: o conhecimento emociona. Isso bateu certinho. Porque quando eu vi os 4 Ps do marketing...

Luciano Pires: Abriu o mundo na tua frente.

Dener Lippert: Eu já tinha quebrado um business. Eu falei: caralho. Se eu soubesse isso, mano. Eu não tinha quebrado. E aí eu fiquei loucão de estudar. Eu virei o chato e tudo mais. Eu incubei a minha empresa dentro da faculdade.

Luciano Pires: Você descobriu o valor da...

Dener Lippert: Eu descobri o valor. É porque eu sou disléxico. Então eu nunca gostei de ler. Eu sempre tive dificuldade. Só que eu aprendi o valor de aprender coisas práticas na literatura, por exemplo. Nunca fui de ler. Eu gosto de Star Wars pra caralho. Nunca vou conseguir ler.

Luciano Pires: Me fala desse negócio que você quebrou? Você montou um negócio muito novo né?

Dener Lippert: Com 14 para 15 anos.

Luciano Pires: Era um business com CNPJ?

Dener Lippert: Virou. Mas não era. A ideia era a seguinte: a necessidade motiva. Essa é a base do empreendedor, no meu ponto de vista. Eu queria ir para o show do Charlie Brown Jr, no Planeta Atlântida, porque eu andava de skate, pichava muro. Tinha esse contexto na minha região. E eu era muito fã de Charlie Brown Jr. Tem o Planeta Atlântida no Rio Grande do Sul, não sei se tu conhece lá da RBS?

Luciano Pires: Sim.

Dener Lippert: Era longe. Era 100 Km de Porto Alegre. Eu não tinha como ir. Eu não tinha como pagar ingresso. Eu não tinha nada. Como que a minha família resolve esse problema? Dá um jeito de fazer dinheiro. A minha mãe não ia me dar nada. Nunca me deu nada. Aí eu: o que a galera do colégio tem de problema? A galera não tem como ir também e tudo mais. E o meu irmão fazia excursões quando ele mais novo. Ele tinha uma empresa de transporte. Eu falei: eu vou fazer a mesma coisa que ele fazia. Eu vou organizar uma excursão. Eu vou vender os passaportes e vou conseguir financiar essa porra. E aí eu fiz isso. Eu liguei para uma empresa e falei: eu tenho uma empresa de excursão para evento. Eu preciso de uma Van. E aí o cara: 500 reais. Tu paga no embarque. Eu falei: beleza. Tenho 30 dias para vender esse negócio. Aí comecei a divulgar no Orkut e no MSN para os amigos, a galera. Ficava entrando e saindo no MSN.

Luciano Pires: Orkut e MSN.

Dener Lippert: Oferecia para a galera.

Luciano Pires: Algum dia, alguém vai fazer um trabalho de pesquisa e vai publicar um trabalho sobre a importância do Orkut em uma geração.

Dener Lippert: Na sociedade brasileira.

Luciano Pires: A importância do Orkut. Que passou meio batido.

Dener Lippert: Eu vou casar esse ano. A minha noiva eu conheci no MSN. Eu conversava no MSN. Eu mandei depoimento no Orkut para ela, com música do Restart. Olha que brilhante. Geração merda pra caralho.

Luciano Pires: Que beleza. Que maravilha. Mas é isso aí. Esse é um burden que você vai ter para o resto da tua vida. Porque hoje eu me emociono quando escuto uma determinada canção dos Beatles. E você vai se emocionar com 60 anos de idade com uma canção do Restart. Mas vamos lá. Você anunciou e vendeu?

Dener Lippert: Vendi.

Luciano Pires: Lotou a Van?

Dener Lippert: Lotei a Van. Ficamos num camping. Puta aventura. Eu tinha 14, 15 anos, a idade que dá para entrar no Planeta Atlântida. Mas tinha outros eventos do gênero. Aí eu comecei a organizar outras excursões. Só que desde os 12 anos eu fazia uns jobs para uma produtora de montação de luz em festa. Aí o cara me dava 50 reais. Eu ia lá ajudar o cara a montar o som do casamento que ele estava botando som. Então eu conhecia os lugares que faziam esse tipo de evento. Eu conhecia os caras que faziam decoração, o som. Aí eu comecei a fazer as excursões para festas. Aí eu pensei: eu vou fazer a minha festa. E a gente armou. A gente pegou um lugar. Deu um dinheirinho para o cara lá, com outros amigos do colégio. E começou a vender os ingressos.

Luciano Pires: Que idade isso?

Dener Lippert: 15, 16. E aí a gente abriu a festa devendo uns três mil reais, que era big deal. E a gente não tinha copa. Só tinha bilheteria. E a gente fechou com 10 mil de lucro no negócio. Tinha 700 pessoas no evento. Eu era uma das atrações, eu era DJ. Porque eu não queria pagar DJ. Aí foi um puta case. Chamava Beta Vibe o nome da festa. Foi a primeira vez que eu aprendi a mexer no Photoshop. Porque eu fiz o flyer da festa. Eu fui lá e aprendi a mexer no Photoshop.

Luciano Pires: Isso tudo em Porto Alegre?

Dener Lippert: Isso tudo em Canoas, do lado de Porto Alegre.

Luciano Pires: E aí você sentiu que ali tinha um business?

Dener Lippert: Ali foi um momento game changer. Porque eu tinha 15 anos e tinha 10 mil reais em dinheiro vivo. Isso 12 anos atrás.

Luciano Pires: 2010.

Dener Lippert: Por aí. 2010, 2009. Então era uma grana. Devia ser 30 mil hoje, talvez?

Luciano Pires: Por aí.

Dener Lippert: Um cara daquela idade, daquele contexto. Eu: caraca. Fiquei rico. Eu comecei a entender que... eu comecei a fazer conta. Se são 700, quantas vão no Planeta? Quanto dinheiro eles fazem? Será que eu não posso fazer um negócio assim? Aí comecei a ver que a gente tinha muito mais controle dos resultados da vida do que foi mostrado até ali, de trabalhar para alguém. Aí eu comecei a fazer festa. Aí a minha irmã se juntou a mim. Ela uns 10 anos mais velha que eu, 15.

Luciano Pires: Eu estou fazendo uma conta rápida aqui. 10 mil. Se você tivesse arrumado um emprego com aquela idade, ganhando 1000 reais.

Dener Lippert: Eu ia demorar um ano para fazer.

Luciano Pires: Números de hoje. 1000 reais de hoje. Naquela época devia ser o quê? 300 reais. Você tinha três anos de salário ali. Você recebeu naquela festa o equivalente a três anos de salário. O que teus amigos foram fazer.

Dener Lippert: Total.

Luciano Pires: Se você tivesse feito o que a molecada foi fazer, que foi arrumar emprego em algum lugar e ganhar 300 reais...

Dener Lippert: É. Ir para o exército. Uma galera servia muito o exército, porque tinha uma base aérea na minha cidade.

Luciano Pires: Sim. Que loucura.

Dener Lippert: E aí minha irmã viu isso. Minha irmã 20 anos mais velha do que eu. E ela veio: vamos fazer esse negócio juntos. Tinha espírito empreendedor. Mas ela não estava empreendendo na época. Estava nessa: vou ou não vou? Porque é difícil também, mal ou bem. E a gente começou a fazer outras festas. E chegou a abrir uma balada. A gente pegou um lugar que a gente alugava pontualmente para fazer festa. Só que todo mês eu tinha que divulgar nova festa.

Luciano Pires: Olha que interessante. Até agora você não teve um investimento. Você não teve um real de investimento.

Dener Lippert: Nunca tive. Até hoje. Nunca tive investimento.

Luciano Pires: Nunca teve investimento?

Dener Lippert: Nunca. Nada. 100% bootstrap. E essa era a meta na época. E aí a gente quebrou bonito esse negócio. Porque daí quando a gente fez esse... porque a festa era assim: a gente ganhava um dinheiro, gastava e perdia na outra festa. Porque não tinha capital. Depois eu fui aprender. Eu não sabia nada disso. Porque para ti virar um business de evento... “x” anos depois, eu virei sócio dos caras do Rock in Rio. Eu tenho esse plot twist no final da história. Mas para o cara fazer um evento do porte do Rock in Rio é uma quebradeira do cacete. O primeiro Rock in Rio foi um desastre para o Medina lá. Porque é muito caro. Para ti virar mesmo, não era muito simples como parecia ser. E aí eu abri uma balada. E o aluguel eram 10 paus por mês, do espaço.

Luciano Pires: Aí você já tinha uma despesa fixa?

Dener Lippert: É. Mas eu não durei seis meses no negócio. Nunca paguei um aluguel em dia. Foi um desastre. Porque eu não sabia nada. E nem minha irmã. Não sabia nada de nada. Mas eu sabia fazer propaganda no MSN. Então tinha festa que iam 1000 pessoas. Tinha festa que ia 100. Num espaço que cabiam 1.500. Imagina que bizarro. Aí eu contratei várias atrações da minha geração. Os Havaianos, Naldo, Mulher Melancia. Um monte de merda assim. Aí eu odiava também essas músicas. Então era a maior treta. Eu fiquei traumatizado. Passei a odiar festa depois disso.

Luciano Pires: Quando você fala que quebrou. Você saiu com uma dívida?

Dener Lippert: Saímos com uma dívida. Não era muito dinheiro, uns 50 mil reais, talvez, 30 mil reais. Eu fiquei devendo dinheiro para o Naldo. Até hoje nunca paguei ele. Naldo Benny. Era uns 700 reais o cachê dele. Não. Eu acho que era mais. Era uns 7 mil. Era a atração que abria. Eu quebrei com 17. E eu fiquei dos 17 aos 18 no mercado. Até abrir a V4, há 10 anos, em 2012.

Luciano Pires: Mas então? No momento que você quebra você tinha que pagar uma grana. O que você fez?

Dener Lippert: Não pagamos ninguém.

Luciano Pires: Não pagou nada?

Dener Lippert: Têm vários draminhas no meio do caminho. Por exemplo, a gente ficou fodido de grana. E aí a gente: como que a gente faz para recuperar essa grana rápido? Aí tem um caso de desastre. Eu raramente conto essa história. No Rio Grande do Sul tem – aqui em São Paulo tem pouco – algo muito forte, que é o veraneio. Porto Alegre esvazia no verão. A galera vai para o litoral. Eu quebrei bem na época do veraneio. Não conseguia mais fazer festa. Não ia ter como virar uma festa na capital, ali na região metropolitana. Aí eu: eu preciso fazer uma festa no litoral. E aí vou eu com 17 anos, nunca tinha ido numa balada na vida. Tentar achar um lugar para alugar para montar uma balada na praia. A gente alugou um lugar. Eu não achei um lugar top. A minha irmã saiu do trampo, pegou a rescisão dela, colocou no business. A gente montou. Ficou lá uns 40 dias. Não entrou uma pessoa na festa. Foi um desastre absurdo.

Luciano Pires: Nenhuma pesquisa você fez? Nada? Você foi no cheiro? Se dá aqui, lá também vai dar. É isso?

Dener Lippert: Para ti ter uma noção. Quando a gente fechou foi um desastre absurdo. Não entrou uma pessoa. A minha irmã queimou toda rescisão de anos de trampo dela. É bizarro. É muito triste. Eu não sei como ela não viu que estava tudo feito para dar errado. Mas enfim. O lugar eu pintei de vermelho. Eu sempre gostei de vermelho. Eu pintei a frente de vermelho. O pessoal achava que era puteiro. Só parava porque era beira de estrada. Uma praia merda. Nada a ver. Só que eu não conseguia ver. Eu tinha 17 anos. Para ti ter uma noção. Tem uma passagem interessante dessa história. Quando a gente foi fechar o negócio, para voltar para Porto Alegre, a gente começou a botar os negócios numa Van. Eu acho que cabiam sete pessoas. Nós éramos oito. Um tinha que ficar de fora. E voltar de ônibus sozinho. E aí eu falei para a minha namorada: volta comigo ou não? E ela não quis voltar comigo de ônibus. Ela falou: não, eu vou de Van aqui com a galera. E aí ela me deu uma passagem de trem. Porque tu vai de ônibus intermunicipal até Porto Alegre e pega o metrô. A gente chama de trem lá. E o trem tem uma passagem. Eu não sei como eles chamam hoje. Mas ela te dá direito ao ônibus depois. Aí eu tinha o dinheiro contadinho para pegar o ônibus intermunicipal. E ela me deu a passagem para pegar esse trem. A gente chama de integração, entre o metrô e o ônibus.

Luciano Pires: Trensurb?

Dener Lippert: Trensurb. Daí eu peguei o ônibus. Imagina a depressão. Eu voltando do negócio sozinho. Chovendo pra caralho. Veraneio. Trânsito. Eu sei que quando eu cheguei em Porto Alegre, tinha fechado já a estação rodoviária. Ela fecha 11 horas da noite e só abre cinco da manhã. O Trensurb fecha. A estação rodoviária do trem. Eu sei que eu cheguei e tinha fechado o trem. Não tinha como pegar o trem. Eu sem celular, sem nada. Eu tive que dormir na rodoviária até o trem abrir. Eu lembro direitinho da noite. Eu passando a noite sozinho. Sem um real no bolso. E quando eu fui pegar o trem a passagem estava carimbada, porque ela já tinha sido usada. Eu não consegui entrar no trem com a porra da passagem.

Luciano Pires: Puta merda.

Dener Lippert: Ali foi assim: puta que pariu velho. Aí eu chorei para o cara ali do trem. Ele me deixou pular a catraca. E aí eu cheguei em casa. [Inint 00:27:39] por um ano.

Luciano Pires: Que doideira. Aprendeu a lição? Você se mordeu ali e falou: nunca mais vou passar por uma fria dessas.

Dener Lippert: Foi interessante. Porque eu era muito novo. Então eu no trem, ali na rodoviária, eu ficava pensando...

Luciano Pires: Eu só estou te perdoando o: não paguei o Naldo. Fiquei devendo. Porque você tinha 17 anos de idade. Senão, eu ia te esculachar aqui entendeu? Mas com 17... 17...

Vozes sobrepostas [00:28:09]

Luciano Pires: Mas e aí? Vamos lá.

Dener Lippert: Mas a minha irmã pagou várias dívidas aí. As que tinha que pagar, ela pagou. Aí eu estava te falando, que quando... olha que bizarro. Quando eu estava na rodoviária, ali, esperando o trem abrir, o metrô. Eu ficava pensando: essa vai ser uma boa história um dia. Porque eu só tenho 17 anos. Entendeu? Então eu não ficava assim: caralho. A minha vida acabou. Não. Tipo: cara, 17 anos. Bora.

Luciano Pires: Vem cá. Alvará para festa, isso é lenda?

Dener Lippert: Não. Eu acho que tinha isso. Vez ou outra os caras iam lá encher o saco.

Luciano Pires: No Rio Grande do Sul, depois da boate Kiss. Eu imagino...

Dener Lippert: Foi antes da boate Kiss. Foi um pouco antes. Então eu não tinha esse drama. Teria sido bem pior.

Luciano Pires: Sem dúvida.

Dener Lippert: Foi logo depois, eu acho. Daí fechou tudo. O Espaço Beira Rio até hoje não abre por causa disso. Aí eu tive uns três trabalhos durante um ano, dos 17 aos 18 ali.

Luciano Pires: Arrumar emprego não passou pela tua cabeça?

Dener Lippert: Eu arrumei emprego.

Luciano Pires: Você arrumou? Você foi trabalhar para alguém?

Dener Lippert: Esse cara que me botou na faculdade foi meu único trabalho sério. Até que eu tive a minha firma.

Luciano Pires: Aí aconteceu...

Dener Lippert: Aí aconteceu esse lance de ele me botar na faculdade. Aí eu saí da empresa dele e fui...

Luciano Pires: Você se formou?

Dener Lippert: Nunca formei. Eu fui até as últimas três cadeiras. Metade das últimas três cadeiras. Porque daí eu já estava na metade da V4. Na história da V4, “x” anos depois disso. Porque eu comecei a V4 no primeiro ano da faculdade. E aí eu saí da empresa desse cara, que foi uma puta escola. Ele me ensinou a ler. Ele me ensinou várias coisas. Traumático. O cara era muito agressivo. Hoje a galera diria intolerável. Aquele jeito raiz.

Luciano Pires: Tomou um processo na cabeça...

Dener Lippert: A minha mãe foi lá. Porque eu liguei chorando para ela. Porque o cara me jogou uns negócios. Mas foi uma puta escola. Maravilhosa.

Luciano Pires: Eu fiz um lançamento digital agora aqui. Trabalhando com uma agência. E aí nas reuniões, a gente conversando com a agência. Eu com uma gestora digital e tudo mais. E a gente em cima da agência. Pau, pau, pau. Até que o dono da agência chama a gente de lado e fala: você não pode falar assim. Como? Como assim? Eu não posso cobrar o que vocês estão me devendo? Não. Você pode. Mas você não pode falar assim. Eu falei: por quê? Não. Porque esse pessoal de talento hoje em dia, essas pessoas talentosas, elas são muito sensíveis. Então se você falar, ele vai embora e não volta mais. Eu falei: como é que é? Eu sou de um tempo que, se bobear, o cara me dava uma porrada. E cresci assim. Agora eu não posso dizer que o trabalho do cara está uma merda? Que ele prometeu entregar agora e não entregou? Eu estou cobrando o que ele prometeu para mim. Não pode mais? Não. Tem que ser com cuidado. Eu fico imaginando aquela geração Z, toda melindrada com o jeito de falar. É uma loucura.

Dener Lippert: Ontem eu estava vendo uma palestra do Paulo Guedes num evento sobre finanças. Ele estava falando, dentre várias coisas, um lance que eu achei interessante, que ele fala que o ocidente, o móvel das pressões sobre a inflação é em relação ao trabalho. De que o oriente, ele trabalha 24 horas por dia, enquanto a gente está nessa vibe. E aí tem um documentário que o Obama fez logo, um paralelo, não sei se tu chegou a ver? Que é o Indústria Americana?

Luciano Pires: Não, eu não vi ainda.

Dener Lippert: Um documentário foda. Porque é um chinês que vai abrir uma fábrica em Detroit.

Luciano Pires: Eu comecei a ver e parei. Sim.

Dener Lippert: Aí tu vê...

Luciano Pires: O choque cultural.

Dener Lippert: O choque cultural. Porque os caras estavam na merda lá. Os caras trabalham que nem ocidente anos 60, 70. E aqui a gente está nesse corpo mole, porque a gente estava com a vida ganha.

Luciano Pires: E aí vem aquele puta discurso que os caras fazem que o chinês é uma indignidade. O chinês trabalha naquela fábrica, ele ganha um salário de miséria. Ali ele está muito melhor do que estava no campo, sem comida. Aquilo deu para ele...

Dener Lippert: E esse lance do quanto ele ganha é questão de tempo. Porque hoje já não é mais assim. Hoje está tão cara a mão de obra na China, quanto está em outros países. Porque as pessoas começam a ficar mais competitivas. É a natureza. Só que eles estavam numa situação pior antes. Mas de fato é assim mesmo. Tipo assim, o jeito que ele me ensinou me moldou de um jeito muito bom. Só que tu pega um cara que tem 28 anos e não foi treinado com 18, como a minha mãe me treinou, abaixo de porrada. O cara, de fato, é difícil. Por exemplo, o nosso assunto aqui é liderança. Eu penso um lance com o meu time lá, que eu observo. Eu não sei como é que tu vê isso? Que liderança a gente não consegue formar na empresa. Quem forma é os pais. Se o cara não foi treinado para ser um cara que sobrevive a uma pressão desse gênero, muito difícil que tu vá conseguir fazer. Tu até consegue. Mas é muito difícil. Então, às vezes, eu fico pensando: por que eu sou mais insensível do que a média? Porque minha era assim. Minha mãe era na porrada mesmo. Não tinha...

Luciano Pires: Os teus irmãos são iguais a você?

Dener Lippert: Pior que são.

Luciano Pires: Saiu tudo igual?

Dener Lippert: Tudo na...

Luciano Pires: Isso é muito raro.

Dener Lippert: É. Eles não são iguais. Eles são diferentes em vários aspectos. Nesse aspecto de ser mais insensível sim. De tolerar as circunstâncias, talvez, nem tanto. Aí teve umas diferenças ao longo do resto da vida.

Luciano Pires: E você como sendo o caçula, você devia ser o mais fresquinho de todos?

Dener Lippert: Devia ser.

Luciano Pires: Devia ser o mais protegido. Todo mundo protege.

Dener Lippert: Pior que não era. Por acaso não era. Mas poderia ter sido. O meu pai saiu de casa quando eu nasci. Eu nasci e um ano depois meu pai saiu. Então foi uma fase bem violenta para a minha mãe. Então acabou acontecendo isso. Se ele tivesse ficado, talvez, tivesse ter sido o caso. Então casualmente... mas tu vê: são pequenas coisas que mudam completamente o output.

Luciano Pires: Eu fui ver uma palestra do Abílio Diniz. Eu estou sentado. Está o Abílio lá, contando a história do Abílio. Que quando ele estava no colégio, ele era o filho do padeiro. Que o hobby da molecada era bater no filho do padeiro. Que ele apanhava de todo mundo. Ele era gordinho. Que foi um inferno. Mas que se hoje ele estava lá, você também pode estar. Ele falou aquilo, eu falei: a possibilidade de eu estar no lugar dele ali é total. A probabilidade é zero. Então: é possível? Claro que é. É provável? Não. Por quê? Porque ele tem uma história, que se eu repetir tudo o que o Abílio fez, eu não tenho garantia nenhuma que vai acontecer comigo, o que aconteceu com ele. Porque no meio do caminho teve um detalhe, que você acabou de falar.

Dener Lippert: Teve um detalhe.

Luciano Pires: Alguma coisa aconteceu. Tem uma história que eu adoro contar. A Tina Turner com o marido dela Ike e Tina Turner. Tinha uma banda que fez sucesso. Brigam os dois. Separam. A Tina fodida, apanhava do marido e tudo. E vai virar cantora em Las Vegas. Fazendo show em Las Vegas. E um dia ela vai fazer um show. E está sentado ali na primeira fila, um produtor foda. O cara vê a Tina e fala: meu Deus do céu. Chega na Tina e fala: Tina, posso trabalhar com você? E ela – nada a perder – pode. Eu trouxe uma música para você aqui do Mark Knopfler, guitarrista do Dire Straits, chama-se Private Dancer. A Tina ouviu e falou: ah não sei. Isso não tem nada a ver comigo. Ele falou: não. Vamos gravar. E grava. E aí vira a Tina que todo mundo conhece. Vira um monstro. E se o cara não tivesse ido ver o show da Tina naquela noite? E se ela faz o show terça e quarta? E o cara estava em Las Vegas quinta e sexta? Entendeu? E se ele mostra a música e a Tina fala: ah não gostei. Não vou gravar. É um detalhezinho que vira a história de ponta cabeça.

Dener Lippert: Isso é muito louco.

Luciano Pires: Se chama isso de sorte.

Dener Lippert: Eu acredito que tem muito isso mesmo. Só que o lance é o quanto tu te expõe a ela.

Luciano Pires: Exatamente.

Dener Lippert: Por exemplo, a galera está numa vibe do contra o escritório. Tudo é home office. E lá a gente é oposto disso. Eu sou 100% office. Pelo lance de... não sei se tu já ouviu falar dessa: serendipidade. Que é o lance de cooperar com o acaso.

Luciano Pires: Eu tenho um programa inteirinho.

Dener Lippert: Sobre isso?

Luciano Pires: Procura o Café Brasil Serendipidade lá, que eu conto a história inteirinha dela.

Dener Lippert: Então eu falo assim: óbvio que tu vai performar tão bom quanto sobre aquilo que tu já sabe. Só que vai que no dia que tu está no escritório, está lá o Bicudo, que acabou de vir para o nosso grupo e era CEO da WonderM00n e da Century Interactive e tu troca uma ideia com o cara e muda a tua vida? Em casa, tu sabe direitinho o que vai acontecer. Nada de novo. Tu tem que sair de casa para te expor.

Luciano Pires: Você tem que promover encontros. Se você fica na tua casa, trancado ali dentro, não tem encontro.

Dener Lippert: Não é sobre o que tu já sabe fazer.

Luciano Pires: É aquela história. Eu vou toda manhã na padaria tomar meu café da manhã. Um dia eu perdi o horário. Eu me atrasei. E saí fora do meu horário e fui na padaria. E cruzei com uma garota levando o cachorro para passear. E aí a gente trocou olhares. Essa garota... a gente se apaixona. Ela vira minha mulher. Se eu não tivesse perdido o horário e não tivesse saído fora do horário. E não tivesse me exposto a um encontro diferente daqueles que eu estou acostumado a fazer. Não teria acontecido nada. Então se expor aos encontros é o grande lance.

Dener Lippert: Então tem várias dessas aí ao longo da vida. O lance de eu ter ido para a faculdade. Ter sido encubado na faculdade. Coisas que aconteceram lá. Foi a dica que o cara me deu lá no começo. Vai lá. Vai só para ti conhecer gente diferente.

Luciano Pires: Se expõe.

Dener Lippert: Hoje um dos padrinhos do meu casamento é um cara que eu conheci na faculdade. Então se eu não tivesse ido, provavelmente teria sido tudo diferente.

Luciano Pires: Você está ouvindo o LíderCast, que faz parte do ecossistema Café Brasil, que você conhece acessando mundocafebrasil.com. São conteúdos originais distribuídos sob forma de PodCasts, vídeos, palestras, e-books e com direito a grupos de discussão no Telegram. Torne-se um assinante do Café Brasil Premium através do site ou pelos aplicativos para IOS e Android. Você pratica uma espécie de MLA, Master Life Administration, recebendo conteúdo pertinente, de aplicação prática e imediata, que agrega valor ao seu tempo de vida. Repetindo: mundocafebrasil.com. Vamos chegar na V4. Eu quero o start.

Dener Lippert: Nesse um ano que eu fiquei trabalhando no mercado, uma das empresas que eu fui trabalhar era uma indústria de equipamento de pilates. Que tinha uma vaga para diretor de marketing. Eu estava no primeiro semestre da faculdade, fazendo uma cadeira. Eu falei: porra, eu vou aplicar para essa vaga aqui. Qual é a probabilidade do cara me chamar? Zero. Mas foda-se.

Luciano Pires: A característica do empreendedor é a cara de pau.

Dener Lippert: Cara de pau.

Luciano Pires: Cara de pau. Se não for cara de pau.

Dener Lippert: Confiança pra caralho

Luciano Pires: Cara de pau.

Dener Lippert: E aí o cara me chamou. E aí eu contei essa história, que eu já tinha quebrado business. E ele se amarrou na história. Ele falou: puta velho. Incrível. Eu não posso te contratar para essa vaga obviamente. Mas tem uma vaga de vendedor, insight sales. Telemarketing. Nem chamava insight sales. E aí eu: beleza. Bora. Tem uma história curiosa com essa empresa. Só uma aspas. Que com uns 14 anos lá, quando eu estava começando a fazer as festinhas, eu estava procurando estágio de escola. E um estágio que eu fiz foi nessa empresa. Cinco anos antes de eu ter conseguido trabalho nela. Só que era tipo assim: minha mãe fez meu currículo. E eu estava tentando estágio de colégio. E aí eles me chamaram para uma entrevista, com 15 anos. E na entrevista foi muito marcante. Porque estava escrito no meu currículo que eu era proativo. E minha mãe tinha escrito o currículo. Aí o cara perguntou: o que é proativo? Eu falei: caraca, eu não sei. [Inint 00:39:37]. Aí cinco anos depois, o cara me contratou para ser vendedor lá. E aí o cara falou: eu posso te chamar para a gente trocar uma ideia fora da empresa aqui? Aí eu falei: pode. Aí fui trocar ideia com o cara. O cara falou: isso que tu fazia no Orkut e no MSN, das festinhas é social media. As empresas vão começar a contratar isso e tudo mais.

Luciano Pires: Que ano nós estamos?

Dener Lippert: 2012. Que era o Facebook começando a ascender no Brasil. O Orkut e o MSN já estavam em downside. E aí ele falava vários termos. E eu queria trabalhar com tecnologia, tem um pouco da minha inspiração lá. Mas eu não manjava nada de programação. O meu negócio era vender mesmo, comunicação. E aí eu falei: incrível. Bora. O que eu tenho que fazer? Ele falou: a sociedade é o seguinte, tu vende e eu faço. Aí eu: beleza.

Luciano Pires: Equipamento de pilates. É isso?

Dener Lippert: Aí foi um side job. Sacou? O cara me contratou para trabalhar na empresa que ele era diretor. E em paralelo, ele me convidou para ser sócio num novo negócio dele. Entendeu? Num side job dele.

Luciano Pires: Entendi.

Dener Lippert: Aí eu fechei os dois. Eu virei empregado dessa empresa para vender equipamento de pilates. E montei a sociedade com o cara, side job.

Luciano Pires: De dia Clark Kent, à noite Super Homem.

Dener Lippert: Exato.

Luciano Pires: É isso aí.

Dener Lippert: Eu sei que em 30 dias, eu fechei um contrato com um amigo do meu irmão, de dois mil reais, para o cara pagar para essa empresa que eu montei com o cara. Só que daí passou uns dois meses. E o cara não tinha 70 seguidores, 80 seguidores no Facebook. E não estava dando em nada. E esse cara...

Luciano Pires: Qual era o serviço que você prestava?

Dener Lippert: O serviço era marketing no Facebook. Era algum tipo de social media.

Luciano Pires: De prestação de social media. É isso?

Dener Lippert: É. E aí eu: putz. Não estava dando resultado. E esse cara já tinha me ensinado: resultado. Tem que vender. Isso é o que importa. Eu já tinha experiência ruim de sociedade com a minha irmã e com os outros caras nessas festas. Aí eu estava lá tentando vender equipamento de pilates ao mesmo tempo. Aí eu falei para o cara: mano, fica com a empresa aí, que eu vou tentar fazer outras coisas. Eu vou ficar aqui na empresa. Aí ele disse: tá bom. Ele não seguiu com o negócio. E eu acabei sendo demitido dessa empresa do pilates. Porque não estava vendendo. Estava tentando um side job e tudo mais. E aí eu sentei na cozinha da cada da minha mãe lá em Canoas e falei: mano, eu vou montar essa empresa de marketing e branding experience. Comecei a misturar um monte de conceito das festas com redes sociais. Eu queria uma empresa para ser uma empresa de branding experience, que era para fazer uma ação de live marketing numa festa, numa rave, que estava no auge lá no sul. E de bônus, eu dava social media para o cara. Essa era a minha ideia. Aí eu comecei a ligar para o Brasil todo para vender. E aí ligando, ligando, ligando. Eu sei que deu uns 30 dias...

Luciano Pires: Então? Pausa. Aqui tem essas pausas de vez em quando. Pausa. Alô, Seu João. Aqui é o famoso quem.

Dener Lippert: Exatamente assim.

Luciano Pires: Eu vou lhe oferecer um negócio, que o senhor não sabe o que é, para o senhor comprar um negócio que o senhor não precisa. E eu sou o quem...

Dener Lippert: Qual era a parada? Youtube. Youtube tutoriais. Como vender? Aí eu ia lá no Youtube e via um vídeo do Ricardo Jordão, do Flávio Augusto sobre como vender. E tentava. E até criei um framezinho na minha cabeça: fé, pesquisa e atitude. Eu acreditava que eu podia fazer. Pesquisava. E ligava. Pesquisava. E ligava. Aí eu aprendi sobre que o cara tem que ter uma conexão. Eu não posso ligar para uma pessoa que não faz ideia de quem eu sou. Aí eu vi uma empresa que patrocinou um evento na minha faculdade. Aí eu liguei para a empresa: vi que vocês patrocinaram um evento na faculdade. Eu estou aqui na faculdade. Então eu queria mostrar o meu trabalho para vocês.

Luciano Pires: Você não foi necessariamente buscar uma conexão, como se fosse alguém indicando você para a empresa?

Dener Lippert: Não, não.

Luciano Pires: Você pegava alguma coisa que aconteceu no universo da empresa...

Dener Lippert: E volume. O lance da exposição. Serendipidade. Eu liguei para 70 negócios. Até que um maluco falou: bora. Um cara de Santa Catarina. Eu nunca vi o cara na vida. Não tinha WhatsApp. Não tinha Skype. Ele que me apresentou o WhatsApp. Ele falou: tu não tem WhatsApp, para a gente falar? Eu falei: vou dar um jeito aqui. Aí eu fui lá ver o que era. E comprei um celular para atender o cara. Mas o ponto é: 30 dias tentando vender. Aí chega minha irmã e minha mãe e falam assim: desiste. Vai montar uma agência. Vai trabalhar numa agência, que daqui a uns 10 anos tu pega experiência e começa a empreender. Aí eu falei: daqui a 10 anos eu não vou ter espaço. Esse mercado está começando agora. Eu tenho que me ferrar hoje, para daqui a 10 anos eu domino esse mercado. Se eu me ferrar hoje. Aí no outro dia esse cara assinou esse contrato. Dois paus e 800 por mês. E ele depositou na conta da minha mãe. Porque eu não tinha conta em banco. Aí eu abri a empresa em 04 de outubro de 2012.

Luciano Pires: A tua empresa era a cozinha da sua mãe? É isso?

Dener Lippert: A cozinha da minha mãe. Qual é o aprendizado que eu tive ali? Por que esse cara depositou dois paus e 800 na conta da minha mãe? Porque não era nada para o cara.

Luciano Pires: Era pouco.

Dener Lippert: O cara faturava uns três milhões por mês. O cara falou: eu vou tentar com esse cara aí. Tanto faz. Tá ligado?

Luciano Pires: Sim.

Dener Lippert: E para mim: 2.800 reais. A pessoa mais bem-sucedida na minha família ganha 2.000 reais. Um cara me pagando 2.800. Se eu tiver três, quatro, eu vou ganhar 10, 15 mil. Aí eu comecei a ter uma dimensão do capitalismo. Do poder de fazer dinheiro. Três, quatro clientes, eu já ganho muito mais se eu fizer toda essa porra dessa faculdade aqui e tudo mais. E aí comecei a atender esse cara.

Luciano Pires: Deixa eu só te dar mais um insight aí. Eu tenho um projeto de... já existe o Café Brasil Premium, que é assinatura recorrente. E na discussão com os caras de: vamos botar preço. Depois eu aprendi muito com a discussão. Que preço tem que ser? Tem que ser um preço que não incomode.

Dener Lippert: É isso aí.

Luciano Pires: Tem que ser um preço que quando ele olhar aquilo lá, ele não vai chegar no final do mês, ele vai ver o extrato do cartão de crédito: opa. Chamou a atenção. 10 reais não chama a atenção. 12 não chama. Agora, 45, 50 chama. Então, faça algo que passe desapercebido ali. E vai no volume. Acredita no volume.

Dener Lippert: É isso aí. Que nem a estratégia de precificação da Apple, o mais caro que ela puder cobrar e o cara estiver disposto a pagar. Não é baseado no quanto ela gasta em supply. Isso aí é o mínimo para ela saber o [inint 00:45:42] veio. Daqui eu invento.

Luciano Pires: Sim. Aquilo lá é outra coisa. É o fenômeno da Harley-Davidson. Quem compra uma Harley não compra moto. Ele está comprando outra coisa. Não é motocicleta. Quem quer moto não vai comprar uma BMW. É uma máquina. Harley é outra coisa.

Dener Lippert: Total. Aí começou. Dez anos atrás. Tem 10 anos de história no meio do caminho.

Luciano Pires: Mas quando você começou ali, você não sabia direito o que era?

Dener Lippert: Não.

Luciano Pires: Você começou um treco. Eu vou ajudar as pessoas a botar...

Dener Lippert: Marca. Fazer uma empresa de marca...

Luciano Pires: A fazer uma coisa...

Dener Lippert: Abstrato pra cacete. Eu tinha pouca formação. Eu não sabia.

Luciano Pires: E a gente sabe que a dinâmica de rede social é um negócio complicadíssimo. Muda a cada segundo.

Dener Lippert: Muda. Não tinha mídia no Facebook na época.

Luciano Pires: Muda tudo. Então? Isso exige um mergulho nessa ferramenta, que é um negócio... é complicado. Eu sofro aqui barbaridade cada vez que... quando eu aprendo a lidar com uma, aparece uma nova. Aprendi o Facebook, veio o Instagram. Eu vou mexer no Instagram, já tem Tik-Tok. Então é uma merda. É uma atrás da outra. Mas isso exige algum tipo de especialização que você foi aprendendo. Como é que foi? Você estudou?

Dener Lippert: Sim.

Luciano Pires: Você mergulhou para estudar as mídias?

Dener Lippert: É. Daí eu já estava na faculdade. Aí nesse meio tempo, eu consegui encubar a empresa dentro da faculdade. Eu e o meu sobrinho, que está comigo até hoje e mais a minha noiva. E a gente começou a desenvolver uma metodologia. Beleza. Eu quero escalar. Eu quero fazer um negócio grande. Qual é o padrão do processo de [inint 00:47:12]. Isso tem um processo para dar escala num serviço. E aí a gente começou a criar um processo. O que faz uma empresa vender através da internet, que não seja tão dependente de um veículo? Porque eu não fazia faceboqueiro na época. Porque nem existia. Eu fazia marketing digital para o cara, trazer vendas através da internet para o cara, de alguma forma.

Luciano Pires: Usando qualquer canal?

Dener Lippert: Usando qualquer canal. Nesse meio tempo eu conheci a obra do Sérgio Zyman, que foi diretor de marketing Coca Cola, que se chama O Fim do Marketing Como Nós Conhecemos. Que ele falava que marketing só é marketing quando vende o seu produto. Vende para mais pessoas. Vende para mais [inint 00:47:49]. Por isso que é V4 o nome da empresa. E aí eu falei: eu tenho que vender. Porque o cara quer vender. O meu processo de venda depois de...

Luciano Pires: Repete o conceito da Coca Cola.

Dener Lippert: Marketing só é marketing quando vende tudo que a empresa é capaz de produzir. Isso aí é meio bizarro. Ele é pouco conhecido. Mas a Coca Cola aumentou 50% de receita na gestão dele. E ele criou a New Coke, que foi um grande fracasso, mas ele...

Luciano Pires: Eu falava: mas a Coca é tão conhecida. Para que ela continua fazendo anúncio? Todo mundo já sabe quem é. Por que continua anunciando? E os caras cada vez aumentavam mais a pancada. Depois ficou muito claro. As gerações vão mudando.

Dener Lippert: E o Sérgio Zyman foi o cara que criou a New Coke, case de fracasso? Porque a Pepsi estava ganhando marker share pra cacete. Então ele fala muito disso. Ele conta vários cases. E aí eu falei: eu tenho que vender. O meu negócio é vender. Pensa assim: o foda do serviço de marketing é que não existe um inconsciente coletivo. Não é que nem moto. Tu fala moto, todo mundo: Harley-Davidson. Tu fala: marketing. Cada um pensa um treco diferente, abstrato, maluco. Então eu não vendia marketing. Eu vendia vendas. Eu vou te fazer vender mais com internet especificamente, com foco nesse canal. E aí o cara não quer saber se eu estou usando Facebook, Google. Tanto faz. Eu quero saber se eu investi um e voltou três. Todo sentido o negócio. Então eu queria saber o processo. E não era sócio do Facebook. E aí a gente passou quatro, cinco anos desenvolvendo e testando um processo. Como é que faz o cara vender? E aí esse processo que fez a gente franquear cinco anos atrás. Que foi a aplicação desse método.

Luciano Pires: Delineia esse processo para mim.

Dener Lippert: É um processo praxiológico. É uma constatação. Ele é irrefutável. Toda venda, todo processo, todo business ele vai passar por esses quatro pilares no fim das contas, que é: tráfego, engajamento, conversão e retenção. Então tipo assim, se eu fizer um pit para ti: Luciano, eu tenho um ponto no Iguatemi grátis. O Iguatemi me deu aqui, gosta de mim. Vamos montar um treco lá? Uma loja? Vender alguma coisa? Provavelmente tu vai dizer: vamos. E eu nem falei que loja é. Porque é o Iguatemi de São Paulo. É o melhor ponto do Brasil. O que o Iguatemi me vende? Tráfego. É a mesma coisa que o Google. Mesma coisa que o Facebook. É o primeiro ponto do processo de venda.

Luciano Pires: Tudo que você botar ali...

Dener Lippert: Se a gente sentar ali, botar uma banquinha com camiseta do Café Brasil vai vender. Se a gente botar uma fruteira vai vender. Beleza. Tráfego. Qual é o segundo pilar? Engajamento. Se for uma banquinha de fruta vai vender “x”. Se for coisa do Café Brasil vai vender 2x. Se for uma franquia da Arezzo provavelmente vai vender 100 vezes x. O que é isso? Visual, merchandising, marca. Todo o processo que tu faz para a pessoa que passa e engaja e tudo mais. Segundo pilar. E se a gente deu certo e eu consigo o mesmo deal no Iguatemi de Porto Alegre? Aí a gente chega lá e monta a mesma Arezzo. A Arezzo é até mais conhecida lá, eles ficam lá em Campo Bom, mesmo ponto, Iguatemi. Só que não está vendendo igual. A gente vai lá observar e a gente descobre – tu já sabe, as pessoas que eu falo de São Paulo, soa melhor – que existe no Rio Grande do Sul, Banco do Estado do Rio Grande do Sul, que tem um meio de pagamento que chama Banricompras. Que para passar tu precisa de uma maquininha específica que é a Vero. E o cara que não é do Rio Grande do Sul não sabe e não botou, não vende. Conversão, terceiro pilar. E o último é retenção. Eu sempre dou o exemplo. Uma vez eu fui comprar na Renner um perfume. Eu cheguei lá e falei: eu quero comprar um perfume em dinheiro. E a menina perguntou: tu tem cartão Renner? Eu falei: não. Eu tenho dinheiro. Ela falou: faz um cartão Renner. 60 dias para pagar. Parcela em trocentas vezes sem juros. Por quê? Porque cartão Renner é estratégia de retenção. Até o Galló fala isso no livro dele, que é o que traz rentabilidade. Então, no fim das contas, o que eu quero? Tráfego, engajamento, conversão e retenção. Se eu não estou vendendo o que eu gostaria de vender é porque eu não estou com uma boa estratégia num desses pilares. Eu falo que é um jogo com quatro cantos. Não tem onde mais. O jogo é esse, quatro cantos. Qual estratégia tu vai fazer? Eu vou fazer Facebook? Google? Tik-Tok? Youtube? PodCast? O PodCast engaja mais do que mídia paga? Ou vou para SO, mas SO engaja menos. Ou vou criar uma [inint 00:52:03] x, y? Qual vai ser o meio de pagamento? Vai ser time de [inint 00:52:06]? Vou levar o cara para o PDV? Essa é a estratégia que tu monta no meio do jogo. E aí nós fomos criando planos de jogo.

Luciano Pires: Como é que você chegou nisso tudo aí? Tem autoria nisso tudo que você está me contando? Ou você pegou um livro nos Estados Unidos? Ou você desenvolveu isso?

Dener Lippert: Eu desenvolvi isso. Está no meu livro. Inclusive eu botei no meu livro. Não tem uma fonte que de essa... tem gente que fala do funil de venda. Mas cada um define de uma maneira. Eu nem acredito no funil de venda. Eu acredito que o mundo não é linear mais. Não é assim: eu compro um anúncio no Google e vai dar venda. Hoje o cara vai me ouvir aqui no Café Brasil, no LíderCast, daí o cara: vou seguir o Dener no Instagram. Eu vou ler o livro do Dener. Amanhã ele vai lá no Google e compra. Aí o Google fala: vendeu por minha culpa. Mas foi por causa do meu conteúdo no Instagram que vendeu o livro.

Luciano Pires: Essa é a briga. Eu quebrei o pau com os caras da agência. O cara veio com essa história toda [inint 00:53:03]. Botou o número na minha frente. Olha aqui: você investiu três mil e vendeu 15 mil. Então é cinco vezes. Eu falei: vem cá, quem garante que essa venda não veio do meu PodCast? Você investir dinheiro de mídia paga num puta monte de lugar. Só que é o seguinte: eu tenho uma turma no Telegram. Eu tenho o meu PodCast. Eu tenho e-mail. Eu tenho uma porrada de coisa que eu já faço.

Dener Lippert: Total.

Luciano Pires: Quem garante que não fui eu que vendi? Você põe o pixel. E o pixel diz que você vendeu. Mas era o meu cara.

Dener Lippert: Era o teu cara.

Luciano Pires: O cara me ouviu no PodCast. Abriu o Facebook. Estava lá. Ele comprou. Então tem todo um composto aí que não dá para realmente...

Dener Lippert: Que é o non linear marketing, que é o conceito.

Luciano Pires: Eu trato como hiperlink. O conceito do hiperlink. O hiperlink não vai para frente. Ele vai para frente, para cima, para baixo, para um lado, para o outro. A internet botou essa loucura.

Dener Lippert: Isso. Exato. A gente tenta organizar o máximo que dá e separar os elementos. Mas a ciência da ação humana é complexa sim. Ela não é uma ciência natural. A ciência do comportamento tem essa complexidade. Mas isso não é claro. Então o meu desafio é deixar isso mais claro. Criar uma consciência coletiva sobre o que é marketing. Que é outro ponto do meu objetivo, como empreendedor, como negócio. Então foi isso, a gente criou essa metodologia...

Luciano Pires: Você estudou economia comportamental?

Dener Lippert: Estudei.

Luciano Pires: Você foi para cima? Foi fazer algum curso?

Dener Lippert: Não. Tudo lendo mesmo. E parte disso está no meu livro.

Luciano Pires: Mas então você bota a V4, ela começa a funcionar. Começa a crescer. E aí você tem uma ideia de...

Dener Lippert: Começa a crescer bem devagarzinho.

Luciano Pires: Mas você tem uma ideia de transformar esse processo no teu produto? Que é o momento que você citou. De franchising, alguma coisa assim? O que foi? O que apareceu?

Dener Lippert: O que eu fazia? Eu vendia o serviço, uma assessoria, para implementar esse processo. Muito diferente de como as agências de se posicionavam.

Luciano Pires: Espera um pouquinho. Você tinha clientes que compravam de você o serviço?

Dener Lippert: Isso.

Luciano Pires: Você fazia para eles o trabalho de media social.

Dener Lippert: Eu falava para eles assim: Luciano, eu vou te assessorar no teu processo de vendas na internet. Aí eu começava lá a fazer tráfego. Daí eu via: tráfego não basta. Tem que fazer engajamento. Aí eu fui descobrindo essas paradas que eu acabei de te explicar, fazendo. Vendendo e fazendo. Vendendo e fazendo.

Luciano Pires: Então eu estou comprando de você o serviço de você me expor na internet para que eu tenha vendas?

Dener Lippert: Isso. De te assessorar no teu processo de vendas pela internet.

Luciano Pires: Isso. Aí esse processo que você faz de assessoria se transformou num produto?

Dener Lippert: Isso.

Luciano Pires: Você falou: se eu ensinar, eu posso vender.

Dener Lippert: Porque já era um produto, que era a assessoria em si.

Luciano Pires: Era a assessoria. Mas aí o...

Dener Lippert: A franquia e as outras coisas...

Luciano Pires: Você criou uma série de ferramentas, um processo, que fazia funcionar o teu negócio. E aí você foi vender esse processo para outras pessoas, como franquia?

Dener Lippert: Isso. Só que o motivo não foi esse. O motivo foi o seguinte, uma crítica que eu tenho às agências, às empresas de publicidade é que se tu perguntar aqui para a galera que está nos ouvindo: fala uma agência de publicidade aí? A galera não sabe. Porque elas são hipócritas pra caralho. Elas falam assim: faz isso com o teu dinheiro. Mas com o dela, ela não faz. Porque elas não investem em mídia.

Luciano Pires: É. Hoje não mais. Eu sou da época que você pedia, eu falava quatro para você. Agora, não é porque elas estavam fazendo propaganda. É porque vinham atrás. Aparecia um anúncio maravilhoso da Volkswagen, na sequência: fui eu que fiz. Vou trazer o meu reels. Vou te mostrar o meu reels. Então em todo lugar os caras apareciam. Então era pop. O Washington Olivetto era um cara pop. O cara estava na televisão.

Dener Lippert: É. Hoje a galera nem sabe quem é Washington Olivetto.

Luciano Pires: Ninguém mais sabe quem são esses...

Dener Lippert: Quando a Artplan veio comprar a [inint 00:56:44] V4, eu não sabia quem era Artplan. Eu tinha nove anos de mercado. Eu não sabia nada da história.

Luciano Pires: É. Isso mudou completamente [inint 00:56:52] tinha um universo...

Dener Lippert: Mas isso o Sérgio Zyman criticava no livro dele dos anos 70. Ele falava que no Fim do Marketing Como Nós Conhecemos. Ele falava: as agências vão morrer. As agências são uma merda. Porque elas têm conflito de interesse. Elas estão ali para ganhar prêmio, não para fazer o cliente vender. Marketing só é marketing quando vende. E aí a gente veio com essa pegada de: vamos fazer isso. AV4 é um banco de investimento. O cara coloca dinheiro e quer sair outro ali do outro lado. E o criativo, essas paradas do meio, ele não está nem aí.

Luciano Pires: Você estava falando da crítica. Eu te interrompi.

Dener Lippert: Eu falei que a crítica que foi me levar a fazer uma franquia. Eu comecei a fazer o meu próprio marketing. Fazer a minha própria marca. Hoje a gente é um dos nossos maiores clientes. Hoje a gente investe 15 milhões em mídia na marca da V4. O meu time de marketing, 40 pessoas. Eu sou meu maior cliente. São 60 vendedores. Não era assim na época que eu franqueei. Mas eu já estava fazendo. Eu tinha um canal no Youtube e tudo mais, da marca da V4, para atrair clientes. Então tudo aquilo que eu falava para os caras fazer, eu fazia com o meu dinheiro. Então é muito diferente. Qual é a agência que chega aqui para te vender um serviço vai falar: eu estou colocando do meu bolso um milhão de reais no mês na minha marca. O cara não coloca. Não coloca 100 reais. Então é fácil pedir para tu botar com o teu. É foda. E eu fazia e dava certo. Então gerava mais demanda de clientes, do que eu era capaz de atender. Aí eu: como é que eu escalo? Porque eu não conseguia contratar e treinar. Eu estava bootstrap. Sempre estive. E, ao mesmo tempo, como eu fazia o meu próprio marketing, começava a aparecer profissionais de comunicação, para aprender comigo. E eu: tem uns caras aqui que querem aprender comigo. Eu não tenho nada para vender para os caras. E me falta mão de obra e eu tenho mais clientes. Aí eu comecei a conectar os pontos e falei. Aí eu comecei a pesquisar também modelos de escalas de serviço no mundo, sobre as [inint 00:58:32] sobre as Century da vida, como que os caras fizeram. Eu falei: se eu vender para esse cara um modelo associativo a ver com a V4, uma franquia, no qual eu garanto o cliente por ele, porque eu tenho a máquina de vendas. E eu tenho mais cliente do que eu sou capaz de atender. Vai ser uma puta oferta. E eu tenho cara para me ajudar a entregar para esses clientes. Eu ganho royalty no negócio. Parece um big deal. E aí eu fiz um teste. Ofereci. Cinco caras compraram. Entregaram serviço melhor do que eu, para os clientes. Aí eu tenho outras crenças de por que isso acontece. Eu achei fantástico. Porque eu sou um cara que gosto do empreendedor. Então eu falei: a franquia é um jeito de eu criar uma empresa composta de empreendedores. Cada franqueado é um empreendedor.

Luciano Pires: Claro.

Dener Lippert: E aí hoje são 220 franqueados e três mil pessoas.

Luciano Pires: Tem 220 empresas. CNPJ em torno do teu negócio?

Dener Lippert: Hoje eu não atendo mais cliente. Hoje eu tenho 200 colaboradores diretos, que só dão suporte entre cliente franqueado. Eu virei um market place. O sistema ali que faz essa conexão.

Luciano Pires: Você não tem mais cliente então?

Dener Lippert: Direto não.

Luciano Pires: Você é o cliente da... que legal.

Dener Lippert: Eu sou um dos meus maiores clientes. Porque eu contrato as minhas franquias para me atender como marca. Então eu pago por mês 100 mil reais...

Luciano Pires: Se eu quiser abrir uma franquia da V4 é o mesmo sistema de uma franquia tradicional que tem por aí?

Dener Lippert: Mais ou menos...

Luciano Pires: Vou me candidatar. Você vai dar uma olhada no meu currículo.

Dener Lippert: Mesma lei. O que acontece? A franquia foi um modelo legal, viável no Brasil, para fazer isso. Fora do Brasil existem outros modelos legais. Então eu segui a lei das franquias, tem COF, pa-pa-pa. Mas não é uma loja. Então é um pouco diferente o processo de cooperar esse negócio do que seria abrir uma loja.

Luciano Pires: Sem contar que o investimento é ridículo perto do que...

Dener Lippert: É bem menor.

Luciano Pires: Você investe numa franquia tradicional, você tem que meter dinheiro na frente e cruzar os dedos para dar certo.

Dener Lippert: Para dar certo. E não tem garantia. Eu garanto cliente até hoje. Porque o meu franqueado não vende. O meu franqueado só opera. Mês passado eu fechei 550 contratos novos, que estão distribuídos nessa rede. O meu maior franqueado hoje é de Sinop, no Mato Grosso. Eu nem sabia que existia essa cidade, quando ele virou franqueado. Ele atende a XP, nosso maior contrato. Ele nunca acessaria a XP sem ser pelo meu canal de venda. Então virou um puta business para o cara. E aí ele me paga 20% da receita dele.

Luciano Pires: Quantas pessoas você tem direto com você, no teu negócio?

Dener Lippert: 200.

Luciano Pires: E nesse sistema?

Dener Lippert: Três mil.

Luciano Pires: Que loucura.

Dener Lippert: Loucura demais. Nem eu acredito.

Luciano Pires: O número do faturamento é público?

Dener Lippert: Hoje a gente faz 13 milhões por mês de receita recorrente mensal, de serviço.

Luciano Pires: 13 milhões por mês?

Dener Lippert: É. E mais um 150 milhões por [inint 01:01:17] de mídia. Que os clientes investem. Mas a gente não cobra nada sobre isso.

Luciano Pires: Para aquele moleque que dormiu na rodoviária. Está bom isso aí.

Dener Lippert: Interessante. E isso é uma fraçãozinha desse mercado. Então a minha expectativa é que isso vai dar uns 150 milhões de receita recorrente anual. Eu acho que dá para fazer em três, quatro anos 4 bi, 5 bi de receita recorrente anual. Pensa: eu tenho 300 escritórios. Tem 20 mil agências no Brasil. Dessas, 10 mil faturam mais de um milhão por ano. Cada uma, uma loucura à parte. A gente quer organizar essa bagunça, abrir capital e fazer isso fora do Brasil.

Luciano Pires: Você está mexendo com essa coisa de curso online?

Dener Lippert: Lançamento é o tipo de cliente que a gente não atende.

Luciano Pires: Por que você não atende?

Dener Lippert: A gente atende alguns. O Karnal. O último lançamento que a gente fez foi o do Karnal. Foi superbem. Porque o problema desse nosso serviço é que... eu vou te dar um exemplo assim: NPS. Tá ligado nessa métrica do NPS? Net Promoter Score? Não conhece? NPS é um indicador de satisfação do cliente, que é um modelo que várias empresas no mundo usam. É tipo um [inint 01:02:27]. É tipo umas três estrelinhas do Google. Só que é uma pergunta que é assim: de zero a 10, Luciano, quanto tu indicaria esse PodCast para um amigo ou familiar? E aí tu vai dizer: sete. Sete é neutro. Quer dizer que tu cagou. Se for de 1 a 6 ou de 1 a 7 é detrator. E de 8, 9, 10 é promotor. Aí tu subtrai um pelo outro. Mais ou menos assim a conta. Vai dar teu NPS. Ele vai de -100 a 100. Beleza. Por exemplo, o NPS do Nubank é 80, da Apple é 70. Eles se orgulham disso. Mas o NPS da SAP e da [inint 01:03:08] que são grandes referências de empresa, o maior CRM do mundo, o maior RP é tipo -10. Por quê? Porque o processo de implementar uma pica dessas é horrível. Então, tu vai perguntar se o cara indica para um amigo ou familiar? Nem fodendo. Foi traumático. E um serviço que nem o nosso, ele é muito traumático. Porque não é linear. Seria muito mais fácil eu te falar: Luciano eu faço o site. Quer fazer site? Eu faço o site. Eu faço post. Só que não é o que tem valor.

Luciano Pires: Você está me falando de tática. Você está me falando do produto. É muito fácil eu falar para você: eu sou escritor. Eu vendo livro. Perfeito. Me dá o livro. Eu quero comprar o teu livro. Eu sou um palestrante. Eu vendo palestra. Me dá a palestra.

Dener Lippert: Eu tenho muito controle sobre isso.

Luciano Pires: Quando eu dou um passo atrás. O que eu vendo? Eu vendo um processo para melhorar a tua capacidade de julgamento e tomada de decisão. Fodeu.

Dener Lippert: Fodeu.

Luciano Pires: Ninguém sabe o que está comprando ali.

Dener Lippert: Na verdade, tu também está trazendo muita responsabilidade para si. Então pensa assim: mas tem vários negócios que são assim. Pensa um assessor da XP. Ele não pode falar: o que eu faço para ti? Compro ação. Não. O cara não vai contratar assessor da XP porque ele compra ação. O que tu quer? Teoricamente tu está ganhando uma assessoria. Ele vai te ajudar a ter retorno do teu investimento. Só que se tu não tiver, ele vai querer te matar. Então tem essa complexidade. Então a gente tem isso pra caralho. Tipo assim, 20% dos meus clientes me odeiam. Porque no meio do caminho tem um trauma. Mas beleza. Os outros 80% estão neutros ou me amando. Só que 20% te odiando dá trabalho demais. Eu tenho que diminuir demais essa porcentagem de clientes que me odeiam; que dão problema. Então a gente vai tentando identificar – esses 200 caras que trabalham para mim – como é que eu aumento a taxa de satisfação. E o processo ser um pouco mais pleno, sem tanto essa oscilação. E aí uma das coisas que a gente que a gente sempre teve: a gente sempre teve uma black list. Os negócios que a gente não atende. [Inint 01:04:56], esses caras que vendem pílula na internet, essas merdas. E recentemente, a gente colocou lançamento também. Porque um dos pontos que problematiza o processo é a gestão. Se a empresa não tem capital, não tem vários esforços, não tem time grande, quanto mais isso for empreendedor, mais artístico, mais oscila o resultado. Quanto mais oscila o resultado, mais no meu rabo o cara vai colocar. Então eu preciso encontrar negócios que o resultado oscile menos; e que eu tenha mais previsibilidade. E lançamento é um trabalho de artista. O cara doa o dinheiro. Eu brinco com uns amigos meus. Tem um bem claro. Eu falo com o Nigro. Eu falo do efeito Xuxa. Que é tipo assim: a Xuxa é foda porque ela tem uma fórmula. Tipo assim: se eu te botar na Globo tu vai ser a Xuxa? Não. Tem o efeito Xuxa ali. Eu não sei. Alguém foi com a cara dela. O Nigro é foda. Faz lançamento foda. Porque ele segue esse pay book. Ou porque, por algum motivo aleatório, os caras foram com a cara dele.

Luciano Pires: Bateu o vento ali.

Dener Lippert: Whindersson. Super aleatório. É arte.

Luciano Pires: É o que nós falamos lá atrás. A gente falou do negócio da sorte, do cruzamento, da hora H.

Dener Lippert: Exato.

Luciano Pires: Da hora certa. Tá certo. O cara tem o talento dele. Ele não está lá por acaso. Se ele não tivesse talento, era um zero à esquerda.

Dener Lippert: Só que talento é volátil. E quanto mais volátil for, menos replicável é. Me fode. Então eu não posso pegar business de artista. Porque é muito volátil. Eu preciso pegar business mais replicáveis. Entendeu? Eu pego um e-commerce. Eu sei como vender um e-commerce. Eu pego um varejo. Eu sei como vender um varejo. Eu pego uma academia. Eu sei como matricular aluno numa academia. É a mesma coisa matricular na Smart Fit e na academia da esquina. Agora, uma escola vai matricular aluno tem x mil alunos. Tem histórico de dados. Venda todos os dias. Tem uma previsibilidade. Têm mais dados. Isso é a ciência da complexidade. Isso é bem louco. Eu nem gostaria muito de ficar entrando nisso. Mas quanto mais dados eu tiver, mais previsível fica. Quanto menos dados eu tiver, menos previsível fica. Quando tu traz para um artista, para um lançamento, que tu faz momentos de venda com janelas específicas.

Luciano Pires: Os dados não explicam. Porque tem coisa que você pode medir. Tem coisa que você pode sentir e tem coisa que você pode ver. Tem business que são calcados em cima do que você pode ver. Você não consegue medir. Como é que eu meço? Eu boto lá? Isso é interessante. Eu fiz um programa a respeito. Eu falei. Eu fui no auditório Ibirapuera assistir um show que tinha Cauby Peixoto e a que morreu agora. Não importa. Estavam lá, ícones. E o Cauby subiu no palco e começou a cantar Bastidores. Uma música maravilhosa e tudo. E conforme ele começou a cantar, eu comecei a chorar. Eu fiquei sentado e chorando. Eu chorava sozinho. Eu chorava, eu chorava. Aí terminou aquele negócio, eu parei para pensar. Eu falei: caramba. Eu já vi 500 caras cantar Bastidores. Por que esse puto fez eu chorar que nem um desesperado aqui? Eu até já vi gente que cantou até mais bonito do que ele. Mas ele me fez chorar. Como é que eu explico isso? Do meu lado tinha um cara da minha idade, que não fez nada. O cara só assistiu e legal. Mas eu chorei. Então tem um monte de coisa. Tem uma história. Tem uma porrada de coisa que constrói uma aura naquilo ali, que não dá para replicar para lugar nenhum. Você não bota isso em número. Eu não consigo botar isso em número. Não dá para medir. Porque a conexão do Luciano com o Cauby é que provocou essa coisa. E eu pagaria um milhão para passar por aquela coisa outra vez. Mas isso não dá para medir. Isso dá para você sentir ou, talvez, observar. Mas você não consegue medir.

Dener Lippert: Principalmente quando tem essas relações muito pessoais. Tu vendo outro cara cantar. Fica muito volátil o resultado daquilo ali, se tu vai chorar ou não vai? Então não faz sentido para nós trazer esse tipo de projeto. Porque ele vai oscilar muito na base e vai dar muito detrator. Porque uma parcela deles vai caminhar para o lado do problema e pode ser que estoure na minha mão. Por exemplo, como a gente é um cientista do marketing, eu preciso ter volume de dados. Então pensa num lançamento. Modelo clássico de lançamento – para quem não tá ligado – são janelas de venda específicas. Por exemplo, vou abrir o carrinho no dia x e vou fechar sete dias depois. A origem do lançamento é cinema. Cinema é o maior lançamento que tem ou o maior lançamento que tem é a campanha para presidente. O cara tem uma janela para conseguir os votos, senão ele vai se ferrar. Isso gera uma escassez. Tem um efeito de venda muito bom. Pensa: qual dia eu vou abrir o carrinho? Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado ou domingo? Então tem sete variáveis. Tu vai precisar de sete ciclos para testar cada uma delas, pelo menos. E ainda são poucos dados para chegar numa conclusão. Então no fim das contas, tu chuta. Tu vai falar assim: a galera me disse aí que [inint 01:09:51].

Luciano Pires: E se você testar e der que segunda-feira foi bom, foi para aquele produto.

Dener Lippert: E naquele dia e naquele tempo.

Luciano Pires: Na semana que vem você vai fazer de novo com um segundo produto. Já não é mais segunda. Não é mais aquele público. É um público mais velho. Já é na quinta.

Dener Lippert: Então a gente gosta de coisa que eu posso ir ajustando a cada segundo. Por exemplo, na V4 para mim fechar 550 vendas, que a gente fechou o mês passado, a gente gerou 10 mil leads. Desses 10 mil leads, cinco mil passaram um filtro inicial automático. Aí esses cinco mil caíram para o meu time falar. Aí o meu time falou. Foi mil reuniões. Dessas reuniões, 500 fecharam. Só que eu gerei lead todos os dias, todas as horas. E todo dia eu posso ir ali ajustar. Está muito caro. Está muito barato. Então a gente tenta ir para negócios que sejam com mais volume de dados.

Luciano Pires: Você virou o cientista que você queria ser quando era garoto.

Dener Lippert: É. E nesse meio tempo o Artplan, o Grupo Dreamers, comprou 10% da V4.

Luciano Pires: E aí você virou sócio dos caras que fazem o Rock in Rio.

Dener Lippert: E eu nunca fui no Rock in Rio. Eu vou ir à primeira vez esse ano.

Luciano Pires: Vai de camarote. Dá uma palhinha do teu livro.

Dener Lippert: Aí a gente fez o Cientista do Marketing como um manual para treinar essa força de trabalho. Porque toda empresa que escala vira uma escola. Isso é um lance que eu fui observando. Eu preciso ter três mil caras lá que saibam fazer o trabalho. Como é que eu vou treinar esses caras? Aí eu criei o manual, literalmente, 400 páginas A4. E aí a Editora Gente me procurou para publicar um livro. E eu tinha o livro. Eu falei: tem esse livro aqui, 400 páginas A4. Aí eles mudaram o livro para caralho para ele caber num livro comercial. E aí lançaram Cientista do Marketing Digital. Aí foi best-seller no lançamento o ano passado. E está sempre entre os 10, 15 mais vendidos do Brasil.

Luciano Pires: Você ficou satisfeito com o livro?

Dener Lippert: Fiquei médio, para te ser sincero. Porque eu preferia algo mais técnico. Só que algo mais técnico não é comercial. Então eu gostava do livro de 400 páginas. Ele ainda existe. A gente usa internamente. Mas não venderia. E afastaria muito as pessoas. Então eu acho que ele no fim, se tornou uma boa peça de entrada, para me ajudar a criar um nível de consciência sobre o que é marketing. Então virou uma marca nossa e tudo mais.

Luciano Pires: Isso é um desafio. Eu sou marketing old school. Eu sou marketing dos 4 P. E esses 4 P foram pulverizados. Já é outro mundo. É outra coisa. Vamos fazer um fechamento aqui. Volta para trás lá. Resume essa história toda que você contou aí. Eu vi uns atributos muito claros aí no meio. A gente começou falando dos super-heróis, que foi fascinante isso. O que um desenho de um super-herói, o que a Marvel pode me ensinar, além daqueles brutamontes explodindo bomba?

Dener Lippert: Eu não tenho filho. Tu tem filho?

Luciano Pires: Tenho. Tenho filho mais velho que você.

Dener Lippert: Eu acompanho muito gente que fala sobre criação de filho. Tem uns amigos meus que falam muito sobre isso, que é o Brasil Paralelo, tu até já entrevistou o CEO deles aqui. E eu acho que isso tem muita influência. Hoje em dia, eu fico olhando. Eles provocam muito isso no Brasil Paralelo. Que conteúdo o cara está assistindo?

Luciano Pires: Exatamente.

Dener Lippert: Faz muita diferença.

Luciano Pires: Esse negócio para mim é tão fundamental. Eu lancei agora um PodCast chamado Café com Leite.

Dener Lippert: Tu falou. Eu achei sensacional.

Luciano Pires: Focado nos filhos da turma que me escuta. Nove a 15 anos, vamos trabalhar ali.

Dener Lippert: Tem um cara que eu gosto muito que fala sobre liderança que é o Jocko Willink, que tem o livro Extreme Ownership. Já ouviu falar?

Luciano Pires: Do livro sim. Mas eu não li.

Dener Lippert: Ele é um navy seal e tem um livro sobre liderança Extreme Ownership. E aí ele e o filho dele começaram a sofrer uns bullying, umas paradas na escola. Ele foi lá e lançou um livro para criança tipo um gibi, sobre liderança de um navy seal. Então isso é um conteúdo legal.

Luciano Pires: Maravilhoso. E a gente fez...

Dener Lippert: A dica dele: como é que tu resolve bullying? Aprendendo a bater. Aprendendo a revidar.

Luciano Pires: Mas isso é lógico.

Dener Lippert: É ruim ou bom? É assim que é o mundo mano.

Luciano Pires: Tu vai apanhar. Eu vou apanhar. Eu vou bater também. Essa é a lógica. Foi assim que nós fomos criados. Eu fiz a primeira temporada. Eu fiz a temporada com seis. Aí fiz mais dois. Fiz oito episódios que foram nossa MVP. A gente fez a MVP real. Botamos no ar e ver o que acontece. E foi sensacional. O que eu estou fazendo? Eu estou pegando conteúdo do Café Brasil e traduzindo o conteúdo adulto para uma garotada.

Dener Lippert: Iradíssimo.

Luciano Pires: Um episódio fala de democracia. Outro fala como que a sociedade evoluiu. De cara que dava porrada um no outro para ser o cara que convive pessoalmente. O que é uma eleição? Por que o voto é importante? O que é um político?

Dener Lippert: Legal.

Luciano Pires: Então nós estamos pegando esses temas e falando. Eu não vim aqui: a titia vai te contar uma historinha. Não. Espera um pouquinho. Tem a brincadeira, tem todas as referências. Eu estou falando com o micro cidadão. E não com um incapaz. Esse garoto é um micro cidadão. E a gente quer conversar nesse nível. É onde está o buraco. Essa molecada está toda entregue para um tipo de influência aí que... mas a gente voltando. Por que nós estamos falando disso aí? Porque você falou lá atrás que...

Dener Lippert: Do Dexter.

Luciano Pires: Dexter. Era um desenho animado. O que ele faz? Ele bota na minha cabeça a influência de que, talvez, eu tenha que ser o líder. Eu tenha que liderar.

Dener Lippert: Criar.

Luciano Pires: Aí você foi para frente, com cara de pau. Você não tinha medo de errar. Quebrou a cara. E se vira. E levanta outra vez. Quantas empresas você quebrou?

Dener Lippert: Uma.

Luciano Pires: Quebrou uma. Tá bom. Têm caras que quebraram muito mais aí.

Dener Lippert: Eu tive várias quebração de cara no meio do caminho, mas eu mantive de pé.

Luciano Pires: E tudo isso com 28 anos de idade?

Dener Lippert: 28.

Luciano Pires: Quem quiser conhecer? Quem quiser entrar em contato, quem quiser saber mais, quem quiser trabalhar, quem quiser se candidatar...

Dener Lippert: Para ser sócio da V4.

Luciano Pires: Me dá o canal?

Dener Lippert: Busca V4 Company ou Dener Lippert no Google. Se a gente fez o nosso trabalho direito, tu vai achar.

Luciano Pires: Dener Lippert no Google vai chegar?

Dener Lippert: Vai chegar.

Luciano Pires: Tem site?

Dener Lippert: Tem. V4 Company no Google vai achar também.

Luciano Pires: V4 Company. Legal.

Dener Lippert: Se botar só V4 vai achar também. Se a gente fez o nosso trabalho direitinho. Uma boa prova.

Luciano Pires: Sensacional. Muito legal. Parabéns pelo trabalho.

Dener Lippert: Obrigado.

Luciano Pires: Com 28 anos de idade. Imagina você com 56. Você vai estar voando para...

Dener Lippert: Esse é o problema da minha geração, a ansiedade. O cara: eu estou com 25 anos. Não estou rico ainda. Eu falo: mano, daqui ao dobro do que tu viveu, tu vai ter só 50. Tu vai ter o dobro para viver ainda. E tu tá...

Luciano Pires: Sim. Essa molecada perdeu a paciência. Não tem mais paciência. Eu preciso de tudo já, agora, imediatamente, rápido. Tem que ser já. Me dá agora. E se eu não gostar, eu vou embora. Precisa soltar a raiz. Tem que ter raiz em alguma coisa.

Dener Lippert: A galera que conhece a V4 mais recente acha que eu estourei nos últimos dois anos. Eu estou há 10 anos crescendo consistentemente. E está no comecinho. A frase que eu gosto do meu livro é: o melhor remédio para a ansiedade é o planejamento de longo prazo. Então eu estou com um projeto de 30, 40 anos da minha gestão na V4. Então eu não estou preocupado.

Luciano Pires: Você está parecendo chinês. Chinês que pensa em 500 anos. Nós aqui queremos tudo amanhã de manhã.

Dener Lippert: Total.

Luciano Pires: Legal.

Dener Lippert: Bom demais. Um privilégio.

Luciano Pires: Parabéns. Que legal. Bem-vindo. Muito bom o papo. Valeu. Foi muito bom.

Luciano Pires: Muito bem. Termina aqui mais um LíderCast. A transcrição deste programa você encontra no lidercast.com.br.

Locutor: Você ouviu LíderCast com Luciano Pires. Mais uma isca intelectual do Café Brasil. Acompanhe os programas pelo portalcafebrasil.com.br.

 

 

 

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