LíderCast 249 - Dom Lancelotti

Data de publicação: 28/10/2022, 10:10

Luciano: Bom dia, boa tarde, boa noite. Bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o podcast que trata de liderança e empreendedorismo com gente que faz acontecer. No programa de hoje, Dom Lancelotti, um cearense que se formou em Direito, trabalhou como ator e um dia decidiu que precisava se envolver com ambiente político. Em 2018, criou o Movimento Gays Com Bolsonaro, derrubando disjuntor de muita gente. Uma conversa franca e nutritiva sobre comportamento, política, sexualidade e propósito. Muito bem, mais um LíderCast. Como eu sempre, eu começo contando como é que o meu convidado chegou até aqui. Esse foi bem interessante, porque foi uma troca de tweets, foi uma DM no tweet. Eu acho que eu devo ter tweetado qualquer coisa que eu não lembro o que foi e ele botou um comentário. E eu não tinha a menor ideia de quem era. Eu respondi para ele alguma coisa, ele: “Pô, espere aí, sou eu”. Eu: “Cara, espere um pouquinho, deixe-me dar uma olhada. Pô, cara, você não quer vir gravar aqui um LíderCast?” “Uma hora que der a gente vai”. Bom, demorou um tempo.

Lancelotti: Demorou.

Luciano: Demoraram uns três, quatro meses, alguma coisa assim. No final, estamos aqui.

Lancelotti: Demorou um tempinho.

Luciano: Então, o LíderCast começa com aquelas três perguntas que você já sabe que são as únicas fundamentais, o resto você pode chutar à vontade, mas essas três tem que ser para valer. Seu nome, sua idade e o que você faz.

Lancelotti: Meu nome é Dom Lancelotti, eu tenho 33 anos e sou bacharel em Direito e atualmente eu trabalho com gestão de redes sociais.

Luciano: Gestão de redes sociais?

Dom Lancelotti: Isso.

Luciano: Vem cá, Dom é nome ou é apelido? O que é o Dom?

Dom Lancelotti: Na verdade o Dom... eu também sou ator de profissão, só que graças à política eu fui expulso, olha só que democrático. Eu fui expulso do teatro. Assim que eu terminei o Direito eu entro para o teatro, só que aí vem aquele estopim de manifestação no Brasil, aquela coisa de política. Nessa época, estavam ocorrendo aquelas ocupações em Federal, em institutos federais. E aí eu fui convidado a me retirar do curso de teatro. E aí para o lado jurídico eu tenho o meu nome civil normal que eu utilizo como bacharel em Direito, como analista jurídico.

Luciano: Pode revelar qual é esse nome?

Dom Lancelotti: É Diego.

Luciano: Diego?

Dom Lancelotti: Diego. Isso. E, para o lado da arte, do teatro, precisava de um nome artístico, eu escolhi o Dom Lancelotti. Lancelotti...

Luciano: É cavaleiro...

Dom Lancelotti: Isso. Rei Arthur, Távola Redonda, um dos maiores... cavaleiros mais vitoriosos do Rei Artur. E Dom porque eu pensei: “Ah, tem que ser um nome que pelo menos tenha a minha inicial”. E aí ficou Dom Lancelotti. Acabou que eu fiz isso tudo para o lado artístico, só que a política me puxou. Ela puxou o Lancelotti para a política e aí estamos aí tocando até hoje, graças a Deus.

Luciano: Então estamos aqui com Dom Lancelotti, cara. Você nasceu onde?

Dom Lancelotti: Eu nasci em Fortaleza, no Ceará.

Luciano: Mais um cearense [desocupando] todos os lugares, inclusive o Café Brasil, o LíderCast, o segundo aqui, em uma semana, cearense com quem eu converso aqui. Fortaleza?

Dom Lancelotti: Fortaleza. Isso mesmo.

Luciano: Que idade você falou que tem?

Dom Lancelotti: Tenho 33.

Luciano: 33. Então estamos falando de anos 90...

Dom Lancelotti: 89.

Luciano: 89, 90. Cara, o comecinho. Eu tenho uma história longa com Ceará, cara. Eu sou de 1974, eu vim para São Paulo estudar, estava com 18 para 19 anos de idade. E aí fiquei, de lá para cá eu fiquei em São Paulo. Daquele período de 74 ao final dos anos 80, cara, eu estava em ebulição aqui em São Paulo. E aí baixa aqui em São Paulo um monte de artista de Fortaleza, cara. E chega o Fagner quebrando tudo, vem Belchior, vem aquela turma toda. O pessoal do Ceará, sabe aquela moçada toda? Cara, eu curtia esse povo ao cúmulo. Comprava tudo, tinha todos os discos, as músicas, tudo, então eu curti de montão aquela turma toda, foi muito legal o contato. Depois estive lá várias vezes, recentemente eu fui lá também, mas... é uma terra muito boa. Eu costumo dizer que se eu tivesse que morar em algum lugar de praia no Brasil seria Fortaleza. Seria em Fortaleza, porque tem tudo a ver ali, mas... legal. Você... família grande?

Dom Lancelotti: Grande... interior. Por que o que acontece? A minha mãe foi a primeira a sair do interior do Ceará para ir para a capital. E aí tem um costume que quando a primeira sai ela sai arrastando as outras quando vai melhorando de vida. E aí a mamãe sai do interior do Ceará, vai trazendo as minhas outras tias, traz a minha avó, só que aí, no decorrer do passar dos anos da vida, volta todo mundo para o interior e o pessoal faz a vida lá. Não conseguem fazer a vida em Fortaleza.

Luciano: Que lugar do interior?

Dom Lancelotti: Boa Viagem.

Luciano: Boa Viagem?

Dom Lancelotti: Ainda é no interior de Boa Viagem, é em um local chamado Camará dos Timóteos. Antigamente tinha... eles dividiam os interiores em vários interiorezinhos por famílias. E essa família Timóteo... acaba que a minha família vem desses ancestrais, digamos assim. E aí hoje, lá em Fortaleza, ficou o quê? A minha mãe mais, sei lá, três tias, mas atualmente... sempre moramos eu, minha mãe, meu pai e o meu irmão mais novo.

Luciano: Pequeno.

Dom Lancelotti: Quatro pessoas.

Luciano: Como que era o seu apelido quando você era criança?

Dom Lancelotti: Tinham vários. Eu era meio gordinho quando era criancinha, então, sei lá, Cabeção... o pessoal falava...

Luciano: Que maldade.

Dom Lancelotti: Antigamente podia, hoje o politicamente correto estraga tudo. E aí tinha aquele negócio de baleia, rolha de poço, aquela coisa toda.

Luciano: O que o Cabeção queria ser quando crescesse?

Dom Lancelotti: Cara, por incrível que pareça, Luciano, eu queria ser médico, acredita? Só que... e eu ainda fui nessa ideia até os 17, 18 anos.

Luciano: Seu pai, sua mãe trabalhavam com medicina, alguma coisa próxima?

Dom Lancelotti: Nada. Antigamente tinha um negócio...

Luciano: O que são pai e sua mãe fazem?

Dom Lancelotti: Eles são do comércio. A mamãe é gerente de vendas, sempre trabalhava no comércio. Papai é corretor de moda que é aquele cara que pega os clientes no aeroporto, rodoviária e leva para comprar. Depois deixa de novo onde pegou e despacha a mercadoria para onde o cliente for. Então papai recebia clientes não só do Brasil como, sei lá, Portugal, Itália, tinham vários clientes assim. A mamãe continua no ramo até hoje, o papai deu uma parada devido à pandemia, mas antigamente tinha um negócio dentro do colégio que era ou Medicina ou Direito. Tinha um negócio antigamente que era assim. E aí eu lembro que, no ensino médio, a gente era sempre condicionada: Medicina, Direito, Medicina. Ciências... humanas ou exatas? Alguma coisa assim. E acaba que eu fico com essa ideia, eu era da turma de... participei de turmas especiais de Medicina até os 17, 18 anos. E aí acaba que, poxa, não, não é isso que eu quero. Ainda bem que eu não passei, hoje eu agradeço por não ter passado.

Luciano: Você chegou a fazer o...

Dom Lancelotti: Eu cheguei. Eu levei bomba, levei bomba três vezes em Medicina. E aí: “Vamos para a segunda opção que é Direito”, então sempre gostei muito de ler, sempre gostei muito de livros, de história, essas coisas de relações internacionais, sempre gostei muito. E aí tentei ir para o Direito, passei, entrei. E aí segui na carreira do Direito, me formei, sou formado em Direito.

Luciano: Com OAB e tudo?

Dom Lancelotti: Não. Na verdade, de OAB eu quero distância. Mas estou aí. Não faço OAB, não fiz OAB, mas não tenho interesse também, diga-se de passagem. E aí segui nessa questão do analista jurídico também que às vezes eu faço. E aí acaba que eu me encontro nas redes sociais, gosto das redes sociais.

Luciano: Isso tudo em Fortaleza?

Dom Lancelotti: Isso tudo em Fortaleza.

Luciano: Você se forma... estamos falando em que ano?

Dom Lancelotti: Eu me formo em 2014, 15.

Luciano: Puta, foi ontem, cara. Foi ontem.

Dom Lancelotti: 14, 15. E aí lembrando que nesse período, se a gente for falar politicamente, a gente está na ebulição no Brasil.

Luciano: Em 2013 o Brasil virou do avesso, cara. Foi o momento da grande pegada. Você estava lá em Fortaleza?

Dom Lancelotti: Estava em Fortaleza.

Luciano: Na Universidade?

Dom Lancelotti: Na Universidade.

Luciano: Em 2013, fazendo curso de Direito, que normalmente é considerado um curso mais de direita. Era assim nos áureos tempos. Hoje em dia está tudo dominado, já foi tudo dominado. Na minha época, cara, quando eu fiz o Mackenzie, em São Paulo, eu estou falando de 74 a 77, foram três anos, meu curso era três anos na época. E eu estava vindo de um período muito conturbado na política, então eu estava em 74, mas em 68 aconteceu aquela loucura toda, a USP era do outro lado da rua. Mackenzie em guerra com a USP, (inint) [00:09:45] e tudo mais. E o Mackenzie era o lugar do CCC, o Comando do Caça aos Comunistas. E, do outro lado era a USP, estava toda avermelhada lá, então o bicho pegou. Em 74, havia uma herança disso ainda, então quando eu entrei no Mackenzie eu era uma mackenzista que automaticamente já era jogado na caixa do pessoal do CCC, pessoal perigoso, pessoal da direita, tudo. E a direita do Mackenzie era o curso de Direito, então era muito complicado, porque tinha o curso de humanas, tinham lá Comunicação e tudo, o pessoal... saiu uma faísca lá dentro. Mas era uma coisa muito... como é que eu vou dizer? Muito localizado. Você localizava esses bolsões dentro da Universidade. Depois com o tempo, cara, acabou, não tem mais bolsão nenhum aqui. Ela foi todinha dominada e dali para frente foi uma bagunça. Então, quando você se formou, já estava bagunçado.

Dom Lancelotti: Sim, já estava bagunçado. Mas eu me lembro de uma coisa assim, há dez anos, quando eu entrei na faculdade, tinham professores que falavam assim: “Gente, existe uma coisa chamada ativismo social, então a gente tem que ter cuidado”, porque geralmente as pessoas entram na faculdade ou para fazer concurso público e poucos... acho que da minha sala, sei lá, de 45, desses 45, 42 queriam concurso público, 3 queriam ser advogados. E aí galera... os professores falavam: “Cuidado com o ativismo judicial”, como se fosse algo hipotético. Olha dez anos depois...

Luciano: E do mal, hipotético e do mal.

Dom Lancelotti: E do mal, já era do mal. Mas olha onde a gente chegou dez anos depois. Hoje é o que a gente... hoje quase a regra é o ativismo judicial.

Luciano: Chegou no staffing.

Dom Lancelotti: Chegou no staffing.

Luciano: Está na instância mais alta do país. Mas então você está lá fazendo a sua... a sua ideia, quando você estava na Universidade o Direito, você entrou para fazer Direito, você entendeu que se formou em Direito e que ia fazer uma carreira naquilo? Certificado para sair...

Dom Lancelotti: Por incrível que pareça eu queria advogar. Eu era um dos três da minha sala que queria advogar.

Luciano: Quando foi que deu um clique em você que talvez...

Dom Lancelotti: Quando eu realmente mergulhei na política. Quando eu realmente mergulhei na política eu vi que as coisas, o que a gente estava inserido no Brasil, eu comecei a meio que me decepcionar com o Direito. Eu não tinha esse...

Luciano: Em que ano foi isso?

Dom Lancelotti: Eu estou falando de 2012, 2013, quando realmente explodem as manifestações no Brasil, que você realmente vê aqueles escândalos... sei lá, vaza áudio, você vê venda de sentença. A gente sabe que no Brasil isso sempre teve, mas agora começa a ficar meio escancarado. Tanto que, por ficar tão escancarado, é que você começa a meio que se decepcionar. Hoje as pessoas me perguntam: “Dom, você se arrepende de ter feito Direito?” Eu não me arrependo, inclusive eu aconselho que as pessoas façam Direito para você saber onde está pisando, você tem que saber que... para você não ser enganado você faz Direito. Mas que, no Brasil atual, não significa muita coisa você ter Direito, ser formado em Direito, não significa muita coisa. E aí eu acho que é quando eu começo a me envolver com política, quando eu mergulho realmente na política que eu começo... poxa. Por incrível que pareça eu não tinha esse senso crítico de OAB. Eu queria ser formado em Direito, vou fazer o caminho bonitinho, vou me formar, vou fazer estágio, tanto que eu passei dois anos do TJ-CE. Só que, por me envolver demais na política, acabei ficando consciente demais e aí, poxa, me formei...

Luciano: Esse seu envolvimento começa dentro da Universidade? Ou fora? Porque lá dentro devia ser um ambiente bem complicado.

Dom Lancelotti: Eu comecei... o que acontece? Eu tive alguns professores graças a Deus eu tive esses professores, que por incrível que pareça também... geralmente, nas Universidades, são os professores que levam os alunos para o caminho errado. Eu tive sorte de ter encontrado professores bons que me levaram para bons caminhos. Eu tive professores liberais, eu tive professores libertários que acabaram me mostrando... sei lá, bibliograficamente os livros. “Não estuda por esse cara aqui, não, estuda por esse”. Ou então o cara falava assim: “Quer estudar? Estuda os dois”. Eu sou adepto daquela ideia: livros de esquerda, precisamos ler livros de esquerda para a gente saber o que os caras estão pensando para a gente saber como combatê-los. Então o professor mostrava esse aqui: “Tem essa alternativa. Você quer ler esse daí, mas leia...” E aí esses professores liberais hoje alguns continuam meus amigos, continuam liberais, continuam libertários e, graças a eles, eu meio que tive um despertar de sair do armário político realmente, porque até então eu não tinha esse senso crítico: “Vou fazer Direito, quero advogar, ninguém enche o meu saco”. E aí, quando eu comecei a ter esse senso crítico demais, aí eu: “Poxa, a política me pegou de um jeito que agora eu não tenho um caminho de volta”. Hoje... beleza, OAB é uma reserva de mercado, aquela coisa toda, mas hoje.... se eu tiver que fazer, eu vou fazer só para ter no currículo. Não é uma coisa... “Vou lá, quero”. Não quero, não quero mais.

Luciano: Quando você começa a se politizar na Universidade, você se aproximou de partido político, de algum think tank ou alguma coisa desse tipo? Como é que era organizado? Tinha um DCE onde você estava ali? Como era essa coisa? Tinha um grupo, grupos do DCE que se pegavam lá? Como é que era?

Dom Lancelotti: Por meio desses professores liberais, alguns libertários, acho que coincide com o surgimento do Partido Novo. Esses meus professores eram próximos do Partido Novo, conheciam aquela galera que fundou o Novo, o Mota, o Amoedo, conheciam essa galera toda e eram muito... ainda não tinha reconhecimento nacional como tem hoje, o Partido Novo, não tinha candidato, não tinham realmente políticos eleitos. O Novo, até então, era só uma ideia, digamos assim, mas estava ali nas bases, mas eu mesmo não tinha proximidade com o Partido Novo.

Luciano: Não tinha?

Dom Lancelotti: Hoje a gente brinca. Eu tenho amigos que hoje não gostam mais do Novo, a gente vê o que o Novo virou, o que o João Amoedo virou também, mas hoje a gente brinca: eu, o Dom, ninguém vai achar uma foto minha com uma blusa do Novo. Mas os meus amigos... a gente brinca: “Eu tenho”. Mas eu posso dizer assim mesmo que eu fui para rua catar assinatura para o Novo, eu fui para a rua com papelzinho do Novo para distribuir no sinal, mas eu não tinha proximidade como esses... é assim, os professores tinham proximidade, os professores conheciam as pessoas, mas não. Eu sempre costumo falar que os meus professores me apresentaram outra visão e eu continuei estudando por meus meios. Os professores falavam assim: “Leia aqui [Mizis]”. Ok, eu vou ler Mizis, mas vou ler outras coisas. “Leia aqui”, sei lá, “Rothbard”. Eu ia ler Rothbard, mas também continua lendo outras coisas. Não seguia só naquela ideia do liberalismo simples, a liberdade simples e pura. Não, eu sempre fui muito curioso, desde criança.

Luciano: Cruzou com o Olavo no caminho?

Dom Lancelotti: Nesse meu tempo você cruzou com o Olavo. Acho que não tem como você não cruzar com o Olavo. E aí eu começo a entender... quando eu era criança sempre gostava muito de ficção científica, então eu era o cara que levava para o colégio aquele negócio da Nova Ordem Mundial que até então era conspiração. Eu tinha esses livros assim. Gostava muito dessas questões de como que funciona o mundo, de onde que vem o dinheiro, para onde que vai o dinheiro. Então eu que levava essas coisas para o colégio. Então quando eu cresço, que eu me envolvo com político, eu meio que faço uma ponte com a criancinha que eu era, de... “Então isso tudo virou isso?” Eu lembro que antigamente, não sei se você lembra, tinha um jogo de cartas chamado Nova Ordem Mundial que era INWO, que era o jogo da Nova Ordem Mundial. Eu que levava essas coisas para o colégio. Uma criança de 13 anos levando essas coisas para o colégio. Eu que levava essas coisas para o colégio.

Luciano: Sim, porque o discurso é maravilhoso.

Dom Lancelotti: Sim.

Luciano: O discurso, a forma como eles embalam aquilo é irresistível, você não vai conseguir achar um moleque de 15 anos que não se entregue para aquele discurso. O discurso é muito bom. Até o momento em que você começa a descobrir as cordinhas. “Deixe-me ver, onde é que está preso isso daqui? Olha a cordinha, olha quem está manipulando isso daqui”. Eu acho que esse é o momento da descoberta, quando você começa a conectar os pontos, aí dá uma porrada.

Dom Lancelotti: Aí, nesse meio tempo que eu começo a ler outras coisas, que não só aquilo que está na minuta da faculdade, no curso da faculdade, você começa... tem outros caminhos por aqui também. E aí eu faço essa ponta. Ah, Nova Ordem Mundial. Ah, como está a Nova Ordem Mundial hoje? E aí vão coincidindo as coisas, por incrível que pareça. E aí você conhece o Olavo de Carvalho, aí você vai entrar... aí pronto. Depois que o mínimo entra na sua vida, cara, não tem caminho de volta. Só que é aquele negócio, eu sempre gostei de pensar por mim, eu nunca... tipo, os meus professores hoje, no Brasil de hoje, esses meus professores liberais, libertários não são bolsonaristas e eu me entendo bolsonarista. Esses professores de hoje não se dizem: “Sou conservador”. Não, eles continuam dizendo... e eu me entendo conservador, eu não sou um liberal. Acaba que eu sempre gostei disso, de... se você hoje diz: “Dom, eu gosto dessa ideia aqui. Leia aí”. Ok, Luciano, eu vou ler, mas não significa que eu vou seguir por essa ideia. Eu vou continuar pensando, tentando refletir o máximo por mim.

Luciano: Você está pregando um valor de uma individualidade, sabe, de um individualismo que deve incomodar muito as pessoas, então eu imagino naquela época da escola lá, um monte de treta que você deve ter entrado ao evidentemente questionar o... como que é? O bom senso que gera, que toma conta da Universidade. Você começa a se engajar em ações políticas enquanto está na Universidade?

Dom Lancelotti: Lembrei agora de um caso...

Luciano: Me diz uma coisa, pegar assinatura para o Novo...

Dom Lancelotti: Ok.

Luciano: Eu não considero uma ação política. É uma ação política, mas é fácil. A ação política que eu digo é botar a cara, se identificar e defender bandeiras e tudo mais.

Dom Lancelotti: Sim. Só voltando um pouco, eu me lembro de uma época na escola que às vezes até eu fico me perguntando assim: “Por que eu sou assim?” Eu lembro que uma vez na escola, no ensino médio ainda, dividiram as turmas assim para o vestibular, quem vai fazer inglês é esse professor e quem vai fazer espanhol é esse professor. Todo mundo amava o professor de espanhol, todo mundo amava o professor de inglês, então a turma meio... “Ah, não sei o que”, aquela coisa. Só que o professor de inglês vai e fica doente, sai da escola, entra outra professora chata para caramba, enchia o saco de todo mundo e aí todo mundo sai da aula do inglês e vai todo mundo para o espanhol.

Luciano: Não, o contrário.

Dom Lancelotti: Não, o professor de inglês sai.

Luciano: O de inglês que sai?

Dom Lancelotti: O de inglês que sai doente.

Luciano: Entra outro...

Dom Lancelotti: E entra uma chata para caramba e aí vai todo mundo para o espanhol, porque todo mundo... tipo, professor demais, professor de, sei lá, dez anos dando aula para todo mundo na escola. A professora começou a encher o saco da coordenação do colégio. E eu nunca fui de... “Ai, fala com a secretária”. Eu chegava na direção: “Quero falar com a diretoria”. E o pessoal ficava: “Não sei o que, tem que falar com a secretária” “Não, eu quero falar com quem decide”. Desde criança eu sempre fui assim. Acabo que eu decido por mim não fazer mais inglês, por mais que a professora batesse o pé. Fui para a aula do espanhol e tal. A professora arranjou uma confusão no colégio porque eu... ela me queria na aula de inglês contra a minha vontade e eu disse que não ia. Arranjou confusão, enfim, rodou, fiz um acordo com a direção, não fico no inglês, vou para o espanhol. Para dizer que o quê? Na faculdade era a mesma coisa. Eu nunca fui de ficar... “Ah, fala que...” Se tinha um problema eu não ia à secretária, eu não ia... eu queria falar com quem resolvesse o problema. Na faculdade, acaba que eu consigo entrar para o DCE e continuo sendo essa mesma pessoa. Eu não falo com, tipo... “Dom, resolve isso aqui, a gente precisa fazer uma ação em bairro tal”.

Luciano: Você entrou no Diretoria Central dos Estudantes?

Dom Lancelotti: Entrei.

Luciano: Era um Diretoria Central de Estudante de quê? De esquerda, de direita, de... porque ele nunca é neutro.

Dom Lancelotti: É, mas a galera... antigamente era muito escondidinho, sabe assim? É um povo meio que isento. É um povo isento, o pessoal não fala, os alunos não falam por si. Antigamente não tinha isso de marcar bandeira, marcar território. Era um pessoal muito isento. Só que eu falava demais, a questão é essa. Eu sempre fui de falar demais. Sou assim, por isso, por isso e por aquilo outro. Ainda mais que eu era de um grupo de recitais de poesia de arte dramática, aquela coisa e tal que essa professora... tanto é que sou amigo dela até hoje e ela hoje se entende conservadora, por incrível que pareça, porque na época da faculdade ela não falava. Ela não falava: “Eu defendo isso, defendo aquilo”.

Luciano: Estava todo mundo escondido.

Dom Lancelotti: Estava todo mundo escondido.

Luciano: Tinha um moedor de carne esperando quem botasse a cabeça para fora. Isso foi pacientemente construído ao longo do tempo. Eu assisti gente sendo crucificada, cara, num nível assim... a gente fala hoje em dia... como que é? Estão cancelando o sujeito na internet. Na minha época, não tinha internet, cara, e a gente via... era um repúdio público, cara, ficava destruindo a vida do sujeito sem ter rede social. Então muita gente fez ações muito ruins. Caras que eu admirava, sabe? Depois que você descobre o que os caras fizeram, os caras são... distância, cara. Eram ruins, eram canalhas de verdade, mas eram caras admiráveis. Pagava um pau tremendo para os caras. Depois vou descobrir na frente que eles tinham essa coisa do pensamento hegemônico, se aparecer alguém com gracinha nós vamos destruir esses caras. Por isso é que muita gente ficou escondida durante muito tempo. Então, naquela época, você tinha três ou quatro ícones do que poderiam a vir a ser de uma direita no Brasil que nem existia, mas tinham três ou quatro caras. Aí você tinha um Roberto Campos ali, você tinha um Gustavo Corção lá na frente, você tinha... cara, você contava nos dedos. O [Maksoud] aqui, por aqui, mas era muita pouca gente que se expôs. E quem se expunha é porque tinha estofo, sabe? O cara tinha grana, o cara tinha posição, tinha poder. O resto do povo ficava quietinho, cara. Não aparecia, não, porque ia ser degolado.

Dom Lancelotti: Eu sempre brinco dizendo assim, eu já nasci cancelado. Das minhas lutas pessoais, eu nasci cancelado praticamente, então... porque as pessoas nunca olham o seu background, sempre olham o que você está agora, o que você tem agora. Então, nas redes sociais, hoje, o pessoal: “Riquinho, riquinho, branco, padrão”, porque como a gente brinca muito, eu principalmente, contra o Movimento LGBT, por mais que eu seja homossexual, a gente pode falar disso um pouco mais na frente, mas eles vêm me atacar: “Padrãozinho, só pode morar em bairro rico”. E a galera não sabe da onde eu veio. O meu bairro é o menor IDH... um dos menores IDH de Fortaleza, de periferia. Tem rua perto da minha casa que não tem rua, é lama. E o pessoal não se lembra de onde... não sabe de onde vem, nem procuram saber de onde eu vim, ver o que eu passei. Durante muito tempo, minhas brigas eram – com o meu pai lá em casa – sobre essa questão de paternidade, porque querendo ou não o meu pai não foi aquela pessoa que nasceu para ser pai. Hoje, graças a Deus, está tudo bem, eu amo o meu pai, tal, mas durante muito tempo... meu pai veio morar comigo eu já tinha 12 anos. Tipo, o meu pai não me criou, digamos assim. Eu fui uma criança que pegava o ônibus sozinho para ir para o colégio, pegava o ônibus sozinho para ir pagar conta. A minha mãe sempre trabalhou, então...

Luciano: A sua mãe foi pãe? A sua mãe até os 12 anos foi pãe?

Dom Lancelotti: Sempre foi pãe. E o meu pai nunca foi, assim, tipo, “ah, sou um pai”. Eu até brinco com o meu irmão. O meu irmão... nós somos hoje em cinco irmãos, porque o meu pai tem outros filhos fora do casamento, mas o meu irmão mais novo, que é o caçula hoje em dia, ele foi o único que teve pai. Os meus outros irmãos até falam isso. O meu irmão mais novo, nosso irmão mais novo foi o único que teve pai. Meu pai foi pai para ele. Hoje ele não pode falar: “Ah, o meu pai...” Não, ele teve pai. Meu pai veio para a minha vida no momento em que eu já tinha personalidade formada, já sabia... digamos assim, beleza, uma criança, 12 anos, mas eu já sabia... tipo, já tinha vontades, já sabia o que eu queria, para onde eu queria ir, aquela coisa toda. E aí, quando você tem uma pessoa que você... até então estranha... o que acontece? Eu vou crescendo, o meu aparece assim: “Precisa levar para o médico”. Meu pai vinha e me levava para o médico. “Precisa ir em uma entrega de boletim”. Meu pai ia à entrega de boletim. Então é uma presença ausente, digamos assim. Eu não posso dizer: “Tive pai ausente”. Não, não tive.

Luciano: Ele estava lá, mas a relação de amor de pai para filho...

Dom Lancelotti: Não teve.

Luciano: De melhor amigo.

Dom Lancelotti: Não teve. E aí hoje muitos homossexuais vêm me atacar dizendo, falando isso, não sei o quê. Eu não me preciso fazer de vítima. Eles querem que eu me faça de vítima, eu não me faço de vítima, não tenho motivo para me fazer de vítima. A vida me fez a ser assim. Sei lá, não é fingimento. Eu realmente não me faço de vítima, sinto muito.

Luciano: Você não vem de uma família de posses, você não herdou uma herança.

Dom Lancelotti: Quem dera.

Luciano: O que você fez você construiu...

Dom Lancelotti: Eu construí.

Luciano: Com o suor, no seu trabalho.

Dom Lancelotti: E psicologicamente, digamos, sabe? Porque não vem... hoje o pessoal fala muito de sexualidade. Até então, a gente tem um movimento (inint) [00:27:45]. E minha sexualidade nunca foi um problema meu. Minhas brigas com o meu pai nunca foram por causa de sexualidade, minhas brigas com a minha família nunca foram por causa de sexualidade, nunca foram, dentro da minha casa nunca foram. Sempre foi esse relacionamento de pai e filho, de mãe e filho, porque eu sempre pensei assim: “Minha mãe (inint) [00:28:10] para o meu pai”. Eu sempre pensava assim. E hoje não, hoje eu entendo muita coisa das decisões que a minha mãe tomou. Hoje eu entendo muito das decisões que o meu pai também. Meu Deus, hoje eu entendo para caramba. E não me faço de vítima. E eu acho incrível que os homossexuais hoje, grande parte que se deixa levar pelo movimento LGBT em si, se fazem de vítima, porque é fácil. Você terceirizar uma culpa, Luciano, é muito fácil. Você não ser responsável... graças a Deus eu aprendi cedo que eu sou responsável pela minha vida. Sofri para caramba no meio do processo? Sofri para caramba. “Ah, mas é porque você...” Como é que eles falam? “Você é privilegiado”. Privilegiado de quê? Eu não entendo o privilégio. Se eu tive um privilégio foi de ter sofrido essas coisas cedo para hoje eu não ser um cara vitimista, um coitado, sou minoria da sociedade. Não.

Luciano: Você está dizendo que o seu privilégio foi sofrer cedo?

Dom Lancelotti: Foi sofrer cedo. Graças a Deus eu sofri cedo.

Luciano: O privilégio é sofrer cedo. Cara, isso é muito doido. Você... olha que interessante. Você, em 2013, 14, você estava com que idade? 19?

Dom Lancelotti: Em 2013 eu estava com 24.

Luciano: Já estava com 24. É, você já estava começando... virou adulto. Estava virando adulto já para valer. Mas você já vinha de um ambiente... você falou que começou a se enturmar na política, começou a se envolver com essa coisa toda da política em 2010, por aí?

Dom Lancelotti: Em 2010, por aí.

Luciano: Quatro anos. Então uns 20 anos de idade. E, ao mesmo tempo, essa questão da sexualidade estava presente na sua vida lá também, porque eu imagino que você nunca escondeu. Você não era um enrustido, trancado no armário? Você assumia o que era claramente? Quer dizer, você tinha algumas brigas.

Dom Lancelotti: Sim.

Luciano: Você tinha que enfrentar todo esse peso da questão da sexualidade dentro de um ambiente altamente competitivo, que é o da Universidade, e ao mesmo tempo o peso do armário... sair do armário político. Os dois armários ali. Cara, que pressão filha da mãe que era isso. Eu não sei como que era lá em Fortaleza essa situação, eu não sei como que se trata essas questões todas lá no Ceará, mas deve ter sido pesado. Você deve ter ido dormir umas noites bem chateado, cara, bem invocado.

Dom Lancelotti: Sim. O que acontece? Eu sempre volto a uma história. Com 15 anos, a minha mãe me deu uma lição de moral. Eu apanhei bastante. Eu apanhei, a minha mãe era de bater mesmo, fiquei muito de castigo no canto da parede de joelhos, aquela coisa toda. Mas aí com 15 anos, eu até brinco, eu não minto para a minha mãe desde esse dia. Desde os meus 15 anos que eu não minto para a minha mãe.

Luciano: Não mente?

Dom Lancelotti: Não minto, não minto mais para ela desde esse dia. O que acontece? Eu queria ir para uma... tinha um role com uns amigos e o role era na Beira-mar. Lá em Fortaleza, a galera gosta de ir para a Beira-mar, aquela coisa toda. Eu disse para a minha mãe que tinha uma festa no colégio. “Mãe, a festa no colégio tal hora, tal hora, tal hora”. Ela: “Está bom, ok. Pode ir”. Falei com quem eu ia e tal. Infelizmente, no meio do caminho tinha uma vizinha. Na Beira-mar tinha uma vizinha. E aí a vizinha... eu acho que liga para a minha mãe: “Olha, fulano está aqui”. Minha mãe não me liga. Eu nem tinha celular nessa época, sei lá, não lembro. Minha mãe não fala nada. Eu chego em casa, minha mãe pergunta: “Estava boa a festa?” “Estava, mãe, estava boa a festa, aquela coisa toda”. Aí ela: “Estava tão boa que você foi bater na Beira-mar?” Meu Deus do Céu. Aí eu pensei: “Ela vai me dar uma surra, com 15 anos de idade já pode apanhar pesado”. Aí ela: “Não, senta aqui”. Aí pronto, deu uma lição de moral: “Olha, eu não criei filho para ser mau caráter. Eu não criei filho... eu estar preocupada com outras coisas, em pagar conta e o meu filho estar batendo pé na Beira-mar da vida. Não criei filho para estar mentindo para mim, você sabe”. Aí pronto, começa. Lição de moral de mãe, lição de moral de pai a gente sabe como que é, faz você se sentir um lixo sem te dar uma palmada sequer. E aí, desde essa época, desde os meus 15 anos que eu não minto para a minha mãe. Quando eu comecei a me entender como homossexual e quando eu comecei a namorar o meu primeiro namorado, isso quando eu entrei na faculdade também, em 2010, eu tinha 20 anos, 20 para 21 anos, eu pensei assim: “Poxa, é agora”. O meu maior medo era alguém, sei lá, que sempre acontece isso. Jovem que faz besteira sabe que isso acontece, de vir um vizinho, uma tia, alguém que vai contar para o pai. Eu ficava pensando: “Poxa, eu vou estar aqui com um namorado, alguém vai ver e vai contar para a minha mãe”. E eu queria ser essa pessoa a contar para ela. E aí quando eu decidi: “Não, realmente estou apaixonado por esse cara, eu estou gostando dele, vou chegar para a minha mãe e vou contar”. Ela não esperava num primeiro momento, ela realmente não esperava que eu fosse chegar assim: “Ó, mãe, senta aí, vamos conversar”.        

Luciano: Ela não tinha nenhuma ideia?

Dom Lancelotti: Existe até um livro, Luciano, mãe sempre sabe. A gente vem delas, então mãe sempre sabe. De criança, abrindo um parênteses aqui, de criança a minha mãe me levava para a loja: “O que você acha dessa bolsa?” O que você acha dessa bolsa para um menino de 10 anos, 11 anos? “O que você acha desse sapato?” Eu sempre escolhia, gostava, tinha bom gosto, digamos assim. Mãe sempre sabe, mas ela não tinha ideia que eu...

Luciano: Que você fosse verbalizar: “Senta aí que eu vou te contar”.

Dom Lancelotti: “Mãe, senta aí que lá vem história”. E aí eu cheguei para ela, isso já com 20 anos. “Senta aí. Mãe, entrei para a faculdade, na faculdade eu conheci um garoto, estou gostando desse garoto”. Eu falei assim: “Acho que a gente vai namorar”. Coisinha de faculdade, passei um mês com esse garoto, digamos assim. Luciano, não derramei nenhuma lágrima. A minha mãe chorou muito. Meu deus do Céu, ela chorou, chorou, chorou, disse que tinha muito medo do que poderia acontecer. E o que acontece? Geralmente os homossexuais acham que quando a mãe fala isso é por preconceito.

Luciano: Não, é porque ela sabe o que o filho vai enfrentar.

Dom Lancelotti: É medo, é medo do que a gente vai enfrentar lá fora. E eu não chorei. Eu já estava muito bem resolvido nessa questão, porque essa minha questão da sexualidade eu acho que me resolvo, sei lá, 16, 17 anos. Eu lia bastante sobre isso. Eu tinha curiosidade em saber o que eu era. Meus amigos todos namorando com meninas, eu namorei meninas também. Eu tive relacionamento com meninas, mas não sentia... não era aquilo. Eu sabia que não era aquilo. A gente sabe que não é aquilo. E aí tive algumas namoradas, mas eu tinha certeza que não era aquilo, então eu sofria sozinho, calado. Eu e Deus, e meus livros.

Luciano: Vamos articular mais isso porque eu acho que você pode ajudar muita gente, cara, dá para ajudar muita gente. No momento em que você levanta essa hipótese de que, cara, talvez a minha praia não seja com as meninas, necessariamente já apareceu o outro lado? Já que não é aqui é lá? Ou você passou um período no escuro? “Eu não sei direto o que acontece”. E aí você foi buscar entender... pelo que eu estou entendendo, você não foi conversar com ninguém, você não foi...

Dom Lancelotti: Não, não fui conversar com ninguém.

Luciano: Você foi buscar por sua própria conta, lendo livros. Como é que você trabalhou isso?

Dom Lancelotti: Eu olhava para as meninas... tipo, eu tinha uma namorada. Eu olhava para a minha namorada, não me sentia atraído sexualmente por ela. Mas olhava para um colega do colégio: “Hm, aqui é interessante”, digamos. E eu... “Tem alguma coisa errada. Tem alguma coisa errada”. Só que, tipo, a gente está falando... sei lá, na época que a gente já sabe o que é homossexual, o que é gay, o que é ser lésbica. Isso aí a gente já sabe, sexualmente a gente já sabe o que é isso. Criança, não. Criança... não tem por que criança ficar pensando em sexo. Eu meio que desenvolvi a minha sexualidade bem tarde. Eu sempre gostei de videogame, sempre gostei de anim. Eu gostava muito de Pokemon, gostava muito de DragonBall Z, gostava muito de jogar videogame, Nintendo, Playstation. Eu fui uma criança... eu tive uma boa infância, então não tinha espaço para essa questão de sexualidade. Não tinha um espaço: “Vamos pensar em namorar”. Não. Eu lembro... a minha sempre foi muito rígida. Eu chegava do colégio, sei lá, meio-dia... a minha mãe ligava para a vizinha. A vizinha que, sei lá, ficava de olho em mim, porque eu sempre fiquei sozinho em casa. E aí... “Ele não chegou ainda, não” “Como não chegou ainda?” “Não, espere aí”. A vizinha ia à locadora de videogame, estava eu lá, passava a tarde no videogame. Então, tipo, nunca levei bomba no colégio porque eu sempre fui muito responsável, também graças à minha mãe que ficava: “Olha, pelo amor de Deus, tem que estudar”. Mas eu não tinha espaço para sexualidade. Quando eu comecei a desenvolver a sexualidade, eu começava a olhar para os meninos diferente. Eu sentia que, tipo... eu olhava para os meninos e achava interessantes os meninos. O fato de eu ter namoradas eu acho que... poxa, eu ficava pensando: “Não, não é possível que eu seja gay, não é possível que eu seja, não é possível”. Eu ficava pensando nisso. Até então você não se aceita. Você pensa: “Sou homossexual” e sai batendo no peito. Não é assim. Quem diz que é assim está mentindo. No começo, né? E aí eu tive as namoradas, mas não me sentia atraído. Olhava para os meninos de uma maneira diferente. Mas eu sempre tive... quando eu comecei a me entender nessa questão de sexualidade, de relacionamento, eu pensava assim: “Poxa, eu quero casar”. Sempre gostei da ideia de casar. “Quero casar, quero ser pai, quero ter uma família”, aquela coisa. Sempre gostei muito desse romancezinho, dessa história. E aí quando eu comecei a me ver diferente dos meninos, de não gostar das meninas, eu: “Não, tem alguma coisa errada”. E eu comecei a ler. Sério, questões sobre homossexualidade. Começo a buscar nos livros, psicologia, aquele negócio todo. Começo a ler realmente sobre isso. E aí...

Luciano: E isso foi bom para você?

Dom Lancelotti: Foi bom para mim, claro. E ainda tem um detalhe, nessa época em que eu não me aceitava eu ficava dentro da igreja. Eu ia para dentro da igreja. Tinha aquele negócio lá, “é pecado”. Aí eu ficava... a gente sempre passa por isso. “É sujo” “Vai para o inferno”.

Luciano: Você é católico?

Dom Lancelotti: Não, a minha família sempre foi evangélica. Hoje eu sou católico, hoje eu me entendo católico. Graças ao Marcio, o meu marido hoje, o meu companheiro. O Marcio cresceu em um ambiente... é ao contrário. Ele cresceu em um ambiente católico, eu cresci em um ambiente evangélico, mas eu comecei a me entender católico. E aí... mas era uma família evangélica, mas eu fiquei indo à igreja. Aí chorava. “Vou para o inferno, é pecado. Mas como eu vou arrancar isso da minha cabeça?” Aquele negócio todo. Mas aí, tipo, você começa a ler, ler bastante sobre isso, você começa a entender que são meros detalhes, sabe? Eu não vou ficar apegado nisso de, ah, vou deixar de viver a minha vida porque um dia... eu me entender como errado. Poxa, o cara... eu entendo hoje que Deus me fez assim. Eu não pedi para nascer assim, Deus me fez assim. “Ah, Dom, você entende que dá para alguém virar homossexual? A partir de hoje eu vou virar...” Eu entendo que dá. Por isso que hoje eu combato muito a questão da sexualização infantil, entendeu? Precoce, dentro da escola. Combato muito isso, porque, sim, se você for direcionado por esse caminho, assim como se você for direcionado a cometer crimes, crianças que cometem crimes, você vai cometer crimes. Mas eu entendo também que... eu entendo que eu nasço assim, eu nasci assim, eu não pedi para nascer assim, porque é uma carga de... você sofre muito durante todo o processo. Eu entendo hoje, às vezes os meninos... a gente tem muitos meninos do movimento que se entendem conservadores e que às vezes eles vêm falar assim: “Fulano de tal é de esquerda, não sei o quê”. Eu digo: “Gente, a gente tem que ter paciência com esse pessoal. A gente tem que ter paciência, porque às vezes a pessoa não experimentou pensar por ela”. Vê um discurso fácil, eu sou uma minoria, eu sou um coitado, sim...

Luciano: Entra nesse coletivo e é nesse coletivo que protege, me sinto protegido, eu tenho outras pessoas que estão na mesma condição que eu, a gente pode trocar uma ideia, pode se sentir debaixo de um guarda-chuva que vai me proteger de toda a maldade que está lá fora de onde vem a maldade daqueles senhores que são todos conservadores e não sei o quê.

Dom Lancelotti: E nem todo mundo é obrigado a... bem, deveria ser assim, de a pessoa se entender por si e não se fazer de coitado, mas a galera não vai nessa onda, vai no discurso fácil. E aí...

Luciano: Quer dizer, você entendeu em algum momento, bem cedo, que não era uma questão de opção. Não é que você chegou... virou a chavinha. “Escolho ir por esse caminho”. Não foi isso?

Dom Lancelotti: Não foi isso.

Luciano: Não foi isso.

Dom Lancelotti: Não foi isso. É muito difícil, porque dentro principalmente dessa questão religiosa isso afasta os homossexuais, principalmente quando você está tentando se descobrir. Ao invés de... por que eu não me afastei da igreja? Porque eu não fui para a igreja pedir uma aceitação. Eu não cheguei lá no pastor e... “Pastor, sou homossexual. Por favor”. Não. Eu pegava a minha Bíblia, eu ia para a igreja, chorava, chorava, chorava, rezava, orava, pedia a Deus, aquela coisa toda, voltava para a minha casa, belo, satisfeito, sem problema nenhum. O que muitos homossexuais fazem é que eles vão a igreja esperando aceitação. E não. Antes de você ir para a igreja, antes de você sair de casa... é o que eu sempre digo para eles lá. Não se aceite. “Dom, como que eu faço para entrar na política para falar dessa questão de Movimento LGBT, não sei das quantas, conservador?” Se aceite. Se aceite. Você se aceita? Se você se aceitar, é o primeiro passo para você aguentar o que vai vir de lá, porque não é fácil, realmente não é fácil. Então muitos homossexuais vão para a igreja, seja qualquer fé que tenha. Sei lá, “Igreja Católica recrimina”, “Ah, não sei o quê”. Não, é porque você vai para lá esperando uma aceitação. “Ai, minha família...” Muitos deles... outra coisa que eu sempre falo: “Não briga com a família de vocês”. Muitos deles vão brigar. “Mãe, sou homossexual, vai ter que me aceitar, sim” “Meu pai vai ter que me aceitar, sim”. E não é assim. Uma pessoa que faz isso não se aceita. Aí vira esse tipo de militante que o Movimento LGBT mais gosta.

Luciano: Eu acho que isso cria uma revolta e fica uma revolta embutida ali contra todas as ameaças que [unem]. Então de repente um olhar que pode ser o olhar de curiosidade vira um olhar de ameaça. É um olhar de ofensa, é uma coisa ofensiva. Teu irmão mais novo é...

Dom Lancelotti: Não, ele é hétero.

Luciano: Ele é hétero?

Dom Lancelotti: Ele é hétero.

Luciano: Quer dizer, não é nem uma questão do ambiente onde você estava?

Dom Lancelotti: Não é uma questão.

Luciano: Não foi o ambiente?

Dom Lancelotti: Não foi.

Luciano: É uma questão inata mesmo?

Dom Lancelotti: E uma das preocupações... aí, nessa época com 20 anos eu conto para a minha mãe, pouco tempo depois eu conto para o meu pai. É engraçado, porque para minha mãe eu contei, eu estava namorando. Quando eu tive que contar para o meu pai, eu já não estava mais namorando, já tinha passado, o garoto já era, já não era mais, então não era uma questão de “vai ter que me aceitar e pronto”. Quando eu contei para o meu pai eu não estava mais namorando, mas tive que contar para ele já para me... para ser naquela mesma situação ali. Eu queria superar aquela situação.

Luciano: Demorou do pai para a mãe?

Dom Lancelotti: Não, questão de dias, mês, um mês.

Luciano: Sua mãe estava junto quando você contou para o seu pai?

Dom Lancelotti: Estava junto. Só que com papai... minha mãe é contida, minha mãe é muito rígida com ela mesmo, mas ela é mais contida. Meu pai... eu pensava que ia ser o contrário, que minha mãe faria um escândalo, que o meu pai ia ficar dentro daquele negócio ranzinza dele. Não, ele foi o inverso da minha mãe. Não aceitou, não sei o que, vou embora de casa, aquela coisa toda. E aí com ele foi mais difícil nessa questão, só que eu não fiz: “Vai ter que me...” Eu não peitei o meu pai, digamos, entendeu? Eu não fui para cima. “Eu sou homossexual”.

Luciano: Mas foi um momento conflituoso?

Dom Lancelotti: Foi um momento conflituoso. Foi porque ele...

Luciano: Não foi como... sua mãe chorou e tudo mais, mas seu pai foi conflituoso?

Dom Lancelotti: A mamãe chorou, mas não queria saber de relacionamento. Eu queria contar as coisas, compartilhar com ela, ela não queria saber. Hoje ama o meu marido, se dão muito bem. Meu pai não. Meu pai de primeiro momento: “Eu vou embora de casa”.

Luciano: Ele falou que ele ia sair? Ele ia embora?

Dom Lancelotti: Ele falou. Não, arrumou mala. E eu: “Pai, para com isso, deixa de teatro”. Mas foi bem difícil. Até agora no último Dia dos Pais eu contei essa história nas redes para que ajude também outras pessoas, porque pelo que eu entendo, meu pai tem 68 anos. Meu pai me falou muitas besteiras quando eu contei para ele que eu era homossexual. Disse que... “Por mim você não tinha nem nascido. Eu não quero mais nem olhar para a sua cara. Eu não tenho filho assim”. Então, como eu estou num ambiente político, as pessoas sempre fazem o paralelo com o Jair, com o Jair Bolsonaro. “Por que esse rapaz é presidente se esse cara sempre falou isso, fala isso?” Poxa, eu ouvi isso dentro de casa. E muitos homossexuais não são diferentes, ouvem do mesmo jeito.

Luciano: E você tem certeza que o seu pai não é um cara do mal?

Dom Lancelotti: Não é um cara do mal. Não, pelo amor de Deus, eu amo o meu pai. Para quem, sei lá, 14, 15, 16 anos que eu queria que o meu pai, sei lá, sumisse da minha vida. E hoje meu pai, meu Deus, meu pai é maravilhoso, entendeu? Ele estava no nosso casamento. Tanto que foi essa história que eu contei, que meu pai de, sei lá, 12 anos, 11 anos atrás estava quase me matando, dirigindo um carro, dizendo que não queria um filho que... desejava que eu nem tivesse nascido. E eu sempre brinco. Meu pai me rejeitou duas vezes. Ele me rejeitou lá atrás e me rejeitou quando eu contei, já adulto, que eu era homossexual. E em nenhuma das duas vezes eu pedi a aceitação dele. Não pedi aceitação do meu pai para nascer, óbvio, porque eu não tinha nem consciência disso e não pedi aceitação para o meu pai quando eu contei para ele que era homossexual. Eu simplesmente... ser homossexual... nascer, ok, eu nasci, mas para ser homossexual, para contar para ele, eu só comuniquei, era uma comunicação. “Pai, não estou pedindo a sua aceitação. Estou dizendo que sou homossexual”. E aí tive que entender que cada pessoa tem um tempo. Minha mãe levou o tempo dela de entender que eu era homossexual. Meu pai levou mais tempo um pouquinho? Levou, mas também entendeu que eu sou homossexual. E o meu irmão, quando eu contei para o meu pai que eu era homossexual, meu irmão... eu acho que ele tinha oito anos. Eu tinha vinte e ele tinha oito. Aí ele falou assim uma vez, o meu pai: “E o seu irmão? O que o seu irmão vai dizer?” E aí eu já tinha outro namorado. E aí eu chamei o meu irmão: “Daniel, o que o fulano é meu?” “É teu namorado, não é, não?” Aí eu: “Está vendo? Uma criança tem mais consciência do que o senhor”. Ele achava que, eu por ser gay, o meu irmão também seria homossexual. A preocupação dele era essa.

Luciano: Essa coisa pega, né? Não anda muito perto, não, porque pega.

Dom Lancelotti: Tipo isso. E aí eu meio que... eu nunca fiz disso uma cruz, nunca fiz. Eu não fiz uma cruz por meu pai ter me rejeitado lá atrás, eu não fiz uma cruz por meu pai ter feito... atrapalhado a minha vida. Para você ter noção, eu tinha passado de ano com o meu pai enchendo o meu saco, brigando dentro de casa porque para ele eu tinha que estar dentro de casa tal hora, tal hora eu tinha que estar dentro de casa. E eu não cresci assim, tal hora dentro de casa. Para ele, eu tinha que, sei lá, ficar com o meu irmão, sim, eu tinha que cuidar do meu irmão, sendo que eu tinha que estudar, tinha que ir para o colégio fazer prova. Eu tinha um vestibular para estudar, eu estudava para Medicina nessa época. Então o meu pai atrapalhou a minha vida para caramba. E não me fiz de coitado nessa época, não me fiz de coitado quando contei que era homossexual. Por que estão me tentando fazer de coitado? Eu não entendo que essa galera acha que a gente tem que se fazer de coitado. E tenho que sempre estar nos lugares: “Olha, eu tenho que sentar nessa cadeira porque essa cadeira aqui é destinada a homossexuais”. Não precisa, cara, não tem necessidade. As pessoas costumam sempre fazer da sexualidade uma bandeira e não é.

Luciano: Mas sabe o que é que eu... cara, eu não tenho problema nenhum com isso. Tenho um monte de amigos de todo tipo, sabe? Do gay caricato, que fazia todo o mise en scène do gay até o cara que você olha e fala: “Não, esse cara é homem e não tem nada”. E o cara... então eu nunca tive problema nenhum. Mas uma coisa que eu entendi no meio do caminho, isso se aplica, eu acho, para todos os momentos da vida da gente, é a construção de um estereótipo que beira à caricatura. Então vem o gay caricato e o pessoal pega aquilo e joga aquilo como o modelo do que é o gay na sociedade. Pega um negro caricato, esse é o modelo do negro da sociedade. Pega... eu não resisto. Pega o Olavo caricato e diz: “Esse é o cara”. Eu falo: “Não, cara, esse é uma caricatura. Tem gente que é assim, mas esse não é o todo”. Então tem um cara que... olha, tem um senhor de 68 anos que é um puta de um ogro e que ele é grosso, ele é grosseiro e tudo mais, mas espera um pouquinho. Esse não é o modelo de todos os senhores de 68 anos que estão aí. Esse é um. E você não pode transformar essa caricatura no todo. E o que eu tenho encontrado muito é essa coisa da... que para mim lá atrás era uma caricatura e que hoje virou rótulo, porque o cara pega, rotula. Vamos usar o que nós... bota num rótulo assim, ‘bolsonarista’, e põe dentro desse rótulo tudo o que existe de ruim na sociedade. Agora até está sofisticando, porque é pedófilo. Como que é? Canibal. Canibal, pedófilo. Põe tudo ali e gruda aquilo em qualquer pessoa que tiver uma atitude que não seja aquela que a pessoa teria. Então, espera aí, se eu não critiquei o Bolsonaro, logo eu sou bolsonarista, o que significa que eu também sou tudo aquilo que o estereótipo que esse cara tem na cabeça é.

Dom Lancelotti: É tão surreal que eles dizem que eu sou um gay homofóbico. Eu sou um gay homofóbico.

Luciano: Mas, então, deixe-me entender essa daí, esse momento aqui. Quer dizer, a gente já entendeu... então você assumiu a sua sexualidade. E aí eu acho que você tem um privilégio, porque pelo que você me contou não foi uma coisa... a sua saída do armário não foi uma coisa absolutamente traumática que marcou a sua vida para o resto da vida, porque se o seu pai aceitou de boa, a sua família aceitou de boa, tem um privilégio aí, que eu acho que você tem um monte de história de gente que não conseguiu essa passagem como você fez aí que deve ter problema até hoje na família, deve ter abandonado, deve ter agressão e tudo mais. Mas você consegue, de certa forma, equacionar essa questão. E aí, ao mesmo tempo, você está na questão da política onde você vai sair do segundo armário, que é aquele vou me revelar dentro do ambiente universitário, como um cara de direita, um cara conservador que vai contra tudo o que essa grande maioria barulhenta está falando. E aí não casa as coisas, porque gay não é conservador, gay não vai à igreja. De novo, eu estou exagerando aqui, estou dando um estereótipo.

Dom Lancelotti: Sim, sim.

Luciano: Jamais vai ter um gay que vai votar no Bolsonaro, porque o Bolsonaro mata gay. Jamais vai ter um gay que vai à igreja porque padre é aquela coisa conservadora também, então dá um nó nas pessoas. E você está lidando com isso com 20 anos de idade. Como é que foi esse processo? Porque era um caldeirão muito complicado para...

Dom Lancelotti: E aí você citou o Olavo. E aí tem um texto do Olavo que eu acho que é um dos capítulos do Imbecil Coletivo, não sei se o um ou o dois, que são mentiras gays. O Olavo... inclusive hoje o que eu faço? Eu pego esse texto, tirei o nome do Olavo, porque para chegar nos homossexuais com o nome do Olavo já estampado vão ter certa aversão por causa da mídia, aquela coisa toda,

Luciano: Você não ouviu o Café Brasil que eu fiz há anos. Eu fiz o programa inteiro com texto do Olavo. Eu não vou contar...

Dom Lancelotti: Não vai dizer.

Luciano: Só no fim do programa eu contei que era do Olavo. Aí os caras já tinham ouvido, senão eles paravam no começo.

Dom Lancelotti: Aí eu tiro o texto “Mentiras Gays” e dou para a galera e falo assim: “Leia aí, leia esse texto, depois você vem conversar comigo”. E aí tem esse texto que eu li esse texto nessa época, nesse turbilhão que era o Brasil em 2012, 2013. Esse texto, resumidamente, o Olavo diz assim: “Homossexual não tem que estar em pedestal por ser homossexual”. Resumidamente é isso, porque o Movimento LGBT faz os homossexuais entenderem que eles têm que estar em um pedestal. E aí quando você coloca um homossexual num pedestal, do nada aparece um novo polo LGBT no carro, porque os homossexuais... tem que ter um carro homossexual, tem que ter uma garrafinha d’água homossexual, tem que ter um microfone LGBT. E não é assim. E aí eu li esse texto, e aí eu concordei com tudo o que o Olavo fala nesse texto. E aí, dentro da política, eu já começo a me interessar também, desde sempre, por essa questão de como que o mundo funciona, política internacional, o que acontece lá fora e que não acontece aqui. E aí eu começo a me interessar muito também por política norte-americana. E aí eu começo, dentro da faculdade, a ficar próximo dessas questões de política norte-americana, começo a ver o que está acontecendo... aí vem aquela questão do Obama vence a eleição, aí Love Wins, Yes, We Can, aquela coisa, aquela coisa toda daquela época que eu já não concordava. E aí você começa a perceber questões de valores. Eu não vou mais... não me baseio por sexualidade, eu me baseio pelos valores. Quais valores que eu defendo? Então desde criança eu sempre respeitei o meu pai e a minha mãe, desde criança eu sempre tive dentro da minha casa uma fé, minha mãe, minha família toda era evangélica, só tinha um tio que, inclusive, hoje é meu exemplo da Igreja Católica, que eu sempre tive esse tio católico e que minhas tias olhavam para ele... “Católico”, entendeu? Mas eu sempre tive esse exemplo, mas não era um exemplo prático. Tanto que, com dez anos, eu fugi do catecismo. Minha mãe dizia assim: “Vai para o catecismo”, forçado. “Entra aí”. Eu entrava, quando ela ia, voltava para casa, eu saía por outra porta e ia para a quadra brincar com os meus colegas, não ia para o catecismo, porque não tinha o exemplo. Mas tinha o exemplo de ter fé em Deus.

Luciano: Os valores estão lá.

Dom Lancelotti: Os valores cristãos eu tinha. Então foram esses valores... até um terapeuta amigo nosso, o Jason, que ele fala, os princípios ordenadores. Eu tinha esses princípios ordenadores de criança que esses princípios, sim, me faziam me basear com as coisas que eu ia escolher para a minha vida lá na frente. Então na política eu me baseava por esses valores. Qual lado da política que é cristão, qual lado da política que defende a família. Eu sempre me baseei com esses valores. Era a minha régua, até hoje é a minha regra para eu saber por quais caminhos eu devo ir. E, politicamente, eu comecei a ver internacionalmente quem, onde, que país que defendia esses valores que eu defendia. E aí lá... sei lá, a gente está em 2013. Aí em 2014 o Brasil continua... tanto que, lá no meu Twitter, quem for ver, a capinha do meu Twitter é uma manifestação em 2013, junho de 2013.

Luciano: Dos 20 centavos. (Inint) [00:55:06] foi em maio, né? Maio, junho e a continuação...

Dom Lancelotti: A continuação, no meio daquele turbilhão ali. E aí eu começo a me aproximar também da política norte-americana que aí a gente começa a ter o Partido Republicano tentando decidir quem que seria o candidato deles. E aí na questão do empreendedorismo eu já era próximo dessa galera de liberalismo econômico, de mais liberdade, de [MIS] não sei das quantas. E aí eu começo a ver Trump, um empresário, Donald Trump, o apresentador do O Aprendiz, que, sei lá, nas medidas, a gente tinha o Roberto Justus aqui no Brasil, então eu gostava muito daquele meio empresarial ali. E eu começo a me basear nesses valores     para ver onde que eu iria. E aí me aproximando da galera nos Estados Unidos eu comecei a ver os movimentos que iam direcionando para que culminassem na eleição do Trump. E eu começo a me ver...

Luciano: Que é um outsider.

Dom Lancelotti: Que é um outsider.

Luciano: Ele é um outsider. Ele não é um cara republicano que chega lá no meio dos republicanos e... “Eu sou candidato”. Ele força a barra, ele entra com os cotovelos. Ele ocupa o espaço. E ele não é um republicado. O partido dele era o Trump, cara. Isso para mim sempre foi muito claro. Esse cara é um outsider, ele vai causar um rebuliço gigantesco lá porque ele vai desequilibrar a balança. E a balança americana sempre foi muito equilibrada. Quer dizer, democrata, republicano, isso historicamente. Só que no momento em que os democratas começam a sair de órbita, começam a ficar mais agressivos e tudo mais, surge um elemento como o Trump e aí o bicho... aí o que aconteceu foi uma loucura, que esse cara entra como uma... como que é? É uma cunha. Ele entra na porrada, cara. Ele abre espaço, entra lá e ninguém aceita o cara, nem a turma dele e nem a turma que é contra ele. E no meio a imprensa inteirinha contra ele. Aí foi uma situação... cara, foi um momento de virada na história da humanidade.

Dom Lancelotti: Da humanidade. Sim. E aí as bases daquilo onde surgem? Hoje eles chamam de... porque no Brasil não é tão popular como nos Estados Unidos a questão dos fóruns, os fóruns de internet. A gente tinha o Orkut, que era mais ou menos parecido com o fórum, tinham as comunidades do Orkut, antigamente, mas nos Estados Unidos tem uma coisa chamada fórum. E eu, de forma... eu sou muito audacioso. Eu comecei a fazer amizade com essa galera nesses fóruns. E foram nesses fóruns que começaram a meio que desenhar para onde caminharia a comunicação de um futuro Governo Trump, de uma futura eleição do Trump. E eu fiz muitos amigos nesses fóruns que hoje, se você falar, “são nazistas, supremacista branco”, aquela coisa toda. E aí tanto que a mídia aqui no Brasil, na pandemia, me colocou dentro daquele QAnon que era um movimento, assim... disse que ia eleger o Trump. Eu fui um dos... eu fui candidato em 2020 em Fortaleza a vereador. Como que o QAnon chegou ao Brasil. E aí eu sou um dos candidatos. Tinham três candidatos do Rio, outro, sei lá, de Santa Catarina, eu era o candidato que trouxe o QAnon para o Brasil. Mas foram nesses fóruns que surgiram. E, por ter amizade com essa galera nesses fóruns, eu comecei a ver os movimentos que tinham influência e que tinham participação na eleição do Trump nos Estados Unidos. Um desses movimentos que eu acho que começa a juntar agora, onde que a gente chegou hoje, onde eu cheguei, principalmente, que é o Gays For Trump. Dentro desses fóruns, dentro das redes sociais que se movimentaram para eleger o Trump, existia um movimento chamado Gays For Trump. E eu, poxa, como assim Gays For Trump?

Luciano: Um candidato que já era considerado homofóbico, machista, misógino. Tudo, estava tudo lá.

Dom Lancelotti: E todos os “istas”. E aí eu comecei a pensar assim: como assim um gay de direita? É aí que aparece, por que o que acontece? Aqui no Brasil a gente tem ideia de um gay de direita o Clô, Clodovil Hernandes. A gente olhava para o Clodovil, o Clodovil defendia família, tem vídeo do Clodovil dizendo que nasceu de ais heterossexuais, que ele é contra a Parada Gay.

Luciano: Tem vídeos sensacionais. Tem vídeo dele em um evento, que o evento é todo LGBT, ele pega o microfone...

Dom Lancelotti: Ele é vaiado. Entendeu?

Luciano: Destrói ali.

Dom Lancelotti: Destrói. A Maria do Rosário fica fazendo: “Está bom. Encerra, encerra, encerra” para ele. E ali eu... caramba, gay de direita? Porque, beleza, no Brasil, todo gay, a noção que a gente tinha até então, é que todo gay era de esquerda, porque a gente via gay PCdoB, PSOL, PT, aquele negócio todo. Partido Comunista. E aí, poxa, gay de direita? Gays apoiando Trump? Cara, eu vou ficar próximo desses caras. Tipo, já tinha aquele negócio ali de fórum, eu ficava acompanhando... a galera pensa que não, mas a galera lá estuda. Existe esse diferencial da galera de estudar. A galera não está num fórum sendo besta. Ali há gente muito inteligente para caramba.

Luciano: Está lá para trocar ideia e crescer e não para ficar ofendendo um ao outro.

Dom Lancelotti: E não para ficar ofendendo ninguém. Antigamente, tinha muita curiosidade de adolescente: “O que é deep web?” “Ah, tem venda de armas, tem venda de drogas”. Tem, mas tem várias outras coisas. De toda essa história que eu te contei agora, quando eu era criança, eu não tinha livros no colégio. Ou pagava matrícula ou comprava material didático. Eu cresci com essa ideia. Eu nunca tinha livro, eu tinha que ficar, sei lá, falando com os meus colegas: “Me empresta aí quando terminar de estudar. Pode ser?” Então eu sempre gostei muito de ler. Então o meu primeiro computador, aqueles cabeçudos brancos ainda, das antigas, a primeira coisa que eu fazia quando aprendi a mexer de verdade na internet era entrar na deep web para quê? Para comprar droga? Não, para baixar livro, para ler livros que não tinham no Brasil. Então até essa questão do idioma eu fui atrás de aprender porque eu queria saber como as coisas funcionavam. Então eu sempre gostei muito dessa questão de ler, então utilizava os fóruns para fazer amizade, utilizava os fóruns para aprender idioma, utiliza os fóruns para baixar livros principalmente, porque tinha, se você soubesse acessar, você poderia fazer coisa errada? Poderia, mas poderia também estudar. E comecei a ficar próximo dessa galera do Gays For Trump. Comecei a ver o que eles entendiam, o que eles defendiam. E eu fiquei pensando: “Poxa”.

Luciano: Você não entrou no movimento? Você não era um representante?

Dom Lancelotti: Não, eu não fui.

Luciano: Você estava assistindo e estava aprendendo com aquilo?

Dom Lancelotti: Eu só aprendi e enchia o saco dos caras. Eu enchia muito o saco, porque eu queria entender essa questão de como eles se apresentavam, como eles falavam com as pessoas, se eles realmente eram odiados, como o pessoal falava que o Trump era homofóbico não sei das quantas. E fiquei próximo dessa galera e tentava... e eu ficava pensando assim: “Poxa...” A gente cresce no Brasil, Luciano, com aquele negócio assim, política é tudo corrupto. Negócio de política... “Ah, meu tio é político” “Família rouba”. É um rótulo também. E a gente cresce com essa ideia. E, nos Estados Unidos, os caras estavam idolatrando alguém... eu sou fã desse cara não porque o cara é empresário, mas porque o cara estava prestes a ser um político amado, aquela coisa toda. Eu queria muito entender isso. E eu sempre...

Luciano: Até porque no polo oposto tinha um cara que o cara estava sendo endeusado. O Obama... cara, nem quem não gosta dele, cara. O Obama é uma figura, cara. Ele (inint) [01:03:28] tem um carisma que é um negócio impressionante. Não tem como você olhar para o cara e falar: “Esse cara...” Tiro o chapéu para ele, cara. Não vou nem questionar as ideias dele, mas o cara sabe falar, sabe se apresentar.

Dom Lancelotti: Foi muito bem construído.

Luciano: E esse era o modelo. E aparece o Trump na outra ponta. Então na (inint) [01:03:44] que o outro vai falar: “Olha a diferença”.

Dom Lancelotti: E a gente está falando desse período de ebulição no Brasil, 2013, 2014. E aí vem aquele negócio de, poxa, eu queria tanto que o Brasil voltasse a amar o Brasil, assim como os norte-americanos. O norte-americano tem a bandeira dele pendurada dentro de casa. Norte-americano dá valor, é gentil, aquela coisa toda. Por que a gente não pode ter isso no Brasil? E lembrando que, no colégio, eu estudei em colégios que eram católicos, eu estudei em colégios que cantavam o hino nacional, cantavam o hino da Independência, que rezavam antes de entrar para a sala de aula. Então esses valores eu já tinha. E eu comecei a ver que eu queria um país que também tivesse esses valores. E eu comecei a ver nos Estados Unidos a galera defendendo esses mesmos valores, só que uma galera gay, uma galera homossexual. E aí eu... poxa. Só que no Brasil a gente não tinha alguém que captasse esse espírito das ruas, como o Olavo fala em muitos dos textos dele. “Um dia, se alguém entender o pedido das ruas e abraçar, essa pessoa vai ser o Presidente do Brasil, essa pessoa vai ser um guia da direita”, digamos assim. A gente não tinha... a gente tinha Jair Bolsonaro no Superpop da Luciana Gimenez, tinha o Bolsonaro indo no Ratinho.

Luciano: Que eram caricaturas.

Dom Lancelotti: Eram caricaturas.

Luciano: Eram só caricaturas.

Dom Lancelotti: Tinha Bolsonaro indo no CQC, tinha Bolsonaro indo no Pânico, tinha Bolsonaro brigando em comissões contrárias àquele negócio de sexualização infantil nas escolas, o kit contra homofobia, aquela coisa toda. Não tinha um candidato. E aí eu estou falando de 2016. Não tinha um candidato. Eu via o que os Gays For Trump fizeram, eu vi que os caras elegeram o Trump em 2016 e eu fiquei pensando: “Poxa, queria tanto isso no Brasil”. Só que não tinha um candidato. Hoje eu tenho Gays Com Bolsonaro, mas não tinha... até então era o Gays Com, o Gays For alguma coisa, não tinha um candidato.

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Luciano: Você tinha outras pessoas com você nessa ideia?

Dom Lancelotti: Negativo.

Luciano: Fora o que você viu nos Estados Unidos, nasceu um aqui no Brasil também ou não tinha? Você não tinha leitura com quem trocar essa ideia?

Dom Lancelotti: Não tinha com quem trocar essa ideia. Eu estava em Fortaleza. Eu até brinco, Fortaleza... as coisas demoram a chegar lá. Ceará, o Nordeste... as coisas demoram a chegar no Nordeste. Muita gente: “Ah, não sei o que, xenofobia”, aquela coisa. Não, mas o Nordeste realmente é uma coisa diferente para ela, porque demora. A gente veio para São Paulo porque aqui as oportunidades acontecem. Eu passei 32 anos em Fortaleza e não aconteceu o que aconteceu em São Paulo em seis meses aqui na minha vida. De verdade. Realmente é diferente, são difíceis as coisas para lá. Mas eu estava sozinho... aí você imagina. Eu em um bairro de periferia em Fortaleza, falar de liberalismo econômico, falar de... tem gente que defende as ideias? Tem, mas é muito difícil. Hoje, graças a Deus, as pessoas gostam de falar isso, mas antigamente não tinha esse negócio de você falar... você não sabia nem o que era. Ainda mais brasileiro, brasileiro não tem gosto por leitura. E aí não tinha um candidato. E aí eu fico naquele negócio. Fica aquele negócio de aparecer alguém, de aparecer alguém. Aí acontece que, em 2018, o Jair vem naquela ascensão, aquela coisa toda, Jair é recebido em aeroporto, nos lugares. E não era nada, só pré-candidato. E aí em 2018 foi o momento, quando o Jair, acho que foi em fevereiro, março, não lembro ao certo, mas no comecinho de 2018, o Jair decide sair candidato. Aí eu até brinco que eu fiz uma pastinha em 2016 Gays Com. Não tinha o quem. Tinha só a ideia do movimento de gay de direita no Brasil. Eu sabia que o Clodovil seria, sei lá, uma das figuras importantes que a gente poderia usar de exemplo do movimento, mas não tinha a pessoa-chave de política, de movimento político. E essa pessoa aparece em 2018 com Jair, quando o Jair decide: “Vou sair candidato à Presidência da República”. Aí eu só fiz... peguei aquela bandeira pride flag que tem gente que até hoje não engoliu a ideia da pride flag no movimento de direita, mas eu tinha que usar política de identificação. Como que eu ia chegar para os caras dizendo assim “somos gays”? A pessoa tem que ver... até brinco, uns amigos conservadores que criticaram muito. Eles olhavam aquela pride flag num movimento de direita, aquele pensamento, aquele franzido de testa dele, eu já tinha conseguido entrar na mente do cara, entendeu? Pra ele saber: “Deixe-me ver o que é esse movimento aqui”. E aí fiz... peguei uma pride flag, coloquei em destaque mais ou menos as cores do Brasil, verde, amarelo, azul, e aí botei o Gays com Bolsonaro. Em um primeiro momento, você...

Luciano: Em 2018?

Dom Lancelotti: 2018.

Luciano: 18?

Dom Lancelotti: 18.

Luciano: Quando você criou isso e votou esse nome, tudo, não era nada? Era uma página em algum lugar? Era uma página no Facebook?

Dom Lancelotti: Era uma página no Instagram. Foi no Instagram.

Luciano: Não era movimento, não era coisa nenhuma? Era um...

Dom Lancelotti: Alguma coisa.

Luciano: Não tinha os dois mil seguidores com você lá?

Dom Lancelotti: Eu sabia o que era. As pessoas que vissem não saberiam o que era. Eu sabia. Eu sabia que era aquela ideia lá de 2016, que eu vi os caras conversando em um fórum de internet norte-americano, que os caras saíam dos fóruns, os caras organizavam as manifestações no fórum. Não era em rede, porque até então se você falasse que era trumpista, defendesse o Trump, você era cancelado. Já existia isso nos Estados Unidos. Como as coisas demoram a acontecer aqui, os caras faziam no fórum. Eu aprendi com esses caras lá. E aí não era nada. Eu tenho guardada até hoje a pastinha bonitinha, fazendo a logo, tenho o primeiro print com dez seguidores, sei lá, dezesseis seguidores, vinte e dois seguidores, para hoje, 2022, outubro de 2022, estar com setenta mil seguidores.

Luciano: Você não tinha, até então, nenhuma atuação, alguma conexão, alguma... você era conhecido pelo Movimento LGBTQIA+?

Dom Lancelotti: Não, nada.

Luciano: Nada? Ninguém... você era...

Dom Lancelotti: O máximo que eu fazia era projeto social no bairro.

Luciano: Mas não em nome do movimento, nada disso?

Dom Lancelotti: Não em nome do movimento, nada.

Luciano: No momento que você bota essa coisa pública e aparecem Gays com Bolsonaro, que é o... como é que chama? Esqueci o termo aqui. Que é o cúmulo, que no momento em que aparece um candidato machista, homofóbico, aparece um cara dizendo: “Ei, eu estou com ele”. Isso te levou para debaixo do holofote, não?

Dom Lancelotti: muito, mas primeiramente negativo.

Luciano: Sim, imagino que tenha sido assim. “Olha aqui esse trouxa. O que esse trouxa está querendo?”

Dom Lancelotti: Só que eu sempre falo hoje, hoje eu e o Marcio tocamos o movimento, mas eu e o Marcio entendemos isso como uma missão. A gente tem uma missão, seja ajudar outros homossexuais a entenderem, a se entenderem, seja ajudar outros homossexuais a se entenderem no meio político, seja ajudar a família de outros homossexuais a entenderem a questão da sexualidade sem o viés do Movimento LGBT. Muitos deles pedem: “Eu quero material sem o viés do Movimento LGBT”. A gente tem essas coisas hoje, mas a gente sempre entendeu como missão. Então, lá em 2018, sei lá, março de 2018, quando eu criei essa ideia, trouxe essa ideia para cá, para o Brasil, eu não tinha... já recebi muita ameaça de morte. Mas o quê? O cara está me ameaçando, vai me matar? Ok, mas eu sei o que eu estou fazendo.

Luciano: Eu fui ameaçado, cara.

Dom Lancelotti: Não duvido.

Luciano: De tomar (inint) [01:11:56] na rua por um cara que se dizia Presidente do Movimento LGBT de Campinas, alguma coisa assim, porque eu escrevi um texto dizendo que... da Eguinha Pocotó, aquele texto que abriu, que começou tudo aqui. E lá no texto eu dizia que o cara está cantando Eguinha Pocotó, de repente entra um sujeito estranho, com atitudes afeminadas, um tal de Lacraia. Bastou isso, cara. O cara mandou para mim, disse que ia me pegar na rua para eu largar de ser besta, que eu ia aprender o que era assim. Era um cara de um movimento desse. Imagina você, então, o que deve ter sentido, porque você é um traidor. Eu, não. Eu era o preconceituoso. Você, não. Você era o traidor.

Dom Lancelotti: E aí, quando eu criei, quando o movimento vai crescendo, eu achava que estava só. Eu achava que estava sozinho. Eu pensei assim: “Poxa, tem o Clodovil, mas é o Clodovil e ponto. É o Clo e ponto”. Tinha o Bruno Tolentino lá, que era um amigo do Olavo, um poeta, mas também... a galera não lê, Luciano. Para saber quem é Bruno Tolentino... a galera não lê. A galera nem sabe quem é Bruno Tolentino.

Luciano: Você está citando mortos.

Dom Lancelotti: Pois é. Você entende?

Luciano: O Clodovil estava vivo ainda? Quando Bolsonaro... não, já tinha morrido.

Dom Lancelotti: Não, tinha morrido.

Luciano: Então, você está citando mortos.

Dom Lancelotti: Sim. E, tipo, tem vídeos do Clo com o Bolsonaro, por incrível que pareça, tem lá. Tem esses vídeos do Clo falando contrário ao Movimento LGBT. Mas a galera hoje... porque eu acho que a maioria é jovem também, eles fecham os olhos para isso. Os mais velhos fingem que nada existe. E os mais novos não têm curiosidade de ir buscar.

Luciano: De buscar a origem.

Dom Lancelotti: Não tem.

Luciano: Vou te contar um lance interessante aqui. Quando começou aquele rolo todo... lá na eleição, em 2018, a minha filha... está fazendo 32 anos hoje. Então, em 2018, ela tinha oito... quatro, né? Tem 32, tinha 28 anos.  Completamente desconectada de qualquer coisa política, cara. Não fazia a menor ideia. Se você perguntasse como que era o sistema político ela não sabia. Nem sabia... vai falar que nem a Anitta lá. Como que é? Deputado...

Dom Lancelotti: Deputado municipal.

Luciano: Não sabia absolutamente nada. Então ela chega para mim na hora do jantar e falou assim; “Pai, vem cá”. Estava chegando a eleição. “O Bolsonaro é tudo isso? O que é isso? Meus amigos, tudo... eu não sei o que fazer”. Eu falei para ela: “Gabi, entra no Youtube e assiste aos vídeos, mas vai buscar os vídeos e assiste”. E ela: “Está bom”. Dois dias depois, ou no dia seguinte, ela chega para mim e fala: “Pai, eu fiquei até seis horas da manhã no Youtube. E ele não é isso o que eles estão dizendo”. Eu falei: “Como é que você descobriu?” “Eu fui ver os vídeos inteirinhos”. Então ela não assistiu à edição em que o Bolsonaro vira para o outro e fala: “Dá que eu te dou outro, dá que eu te dou (inint) [01:14:37]”. Ela foi ver o que aconteceu antes daquilo. Então ela entende que tem um momento, tem uma provocação, o bicho tem um gatilho rápido e, a partir da provocação, ele detona aquilo. Só que aquele momento da reação dele descaracteriza tudo o que aconteceu antes, ninguém está preocupado com ela de acusá-lo de... “Você é um...” Como ela fez, mas pega aquele modelo e dali esse cara é machista, homofóbico, não gosta de mulher. Aí vai... ele falou que ele tinha um cara que pesava oito arrobas.

Dom Lancelotti: Sim.

Luciano: Daí ele vira um racista. E ela falou: “Pai, eu fui assistir, e eu assisti aos vídeos inteirinhos”. E aí mudou a cabeça dela. Pô, não é assim. Ele respondeu duro porque ele foi provocado. Botaram numa situação... e a gente sabe, o cara tem pavio curto, o cara é... a educação dele é uma educação... pô, eu fiz quatro programas falando de onde é que ele veio, como é que ele veio. E eu estou falando essas coisas não é para dar o aval para o que ele faz. Dá para você entender perfeitamente, cara. É a mesma coisa que você falou do seu pai. Falou: “Pô, meu pai tinha 68 anos, está dentro de casa e a reação dele era de se esperar”. Era uma reação de alguém que tinha uma educação que ele teve.

Dom Lancelotti: Diferente.

Luciano: Cara, e o que eu vou fazer? Eu tenho que respeitar. E com ele foi a mesma coisa, mas quando... e eu estou dizendo isso porque você citou a coisa dos jovens. Jovens pegam o rótulo criado ali e aquilo vira a verdade para eles. E, quando você tenta explicar, você é o passador de pano, você está... como que é? Está tentando aliviar as coisas, seu bolsonarista nojento e ista, aqueles istas.

Dom Lancelotti: Quando eu crio o movimento eu achava que estava só, como eu ia dizendo. E aí a direita em si, aquele comecinho de direita entendeu. Não teve um momento em que eu disse: “Poxa, não está dando certo”. Não teve esse momento que eu pensei assim: “Deu errado. Volta, deu errado”. Não teve esse momento. A galera começa a entender, por mais... não sei se imbuídos por um “ah, um gay de direita, vamos lá, vamos apoiar porque talvez ele...” Mas não teve esse momento em que a direita não entendeu. Já recebi várias críticas por essa questão da pride flag que eu disse. A pride flag é a bandeirinha colorida dos gays, porque a pride flag realmente... se você usa uma pride flash, ah, Movimento LGBT, você já está em Movimento LGBT, você defende tudo o que aquilo ali defende. E não era. Eu usei a pride flag justamente para criar uma identificação para que, quando os caras viessem para cima... e havia uma explicação para os caras ali.

Luciano: Você deve ter sido criticado pelos dois lados.

Dom Lancelotti: Da direita nunca tanto. Eu até brinco, porque tiveram algumas rusgas pontuais de gente que... eu sempre pensei assim, não tiveram a ideia, queriam ter a ideia. E aí teve isso, entendeu? A galera meio que ranzinza porque as ideias que eles tiveram não funcionaram, eu tive uma boa ideia, a ideia funcionou, essa ideia fez com que eu alcançasse muitas coisas que essas pessoas não alcançaram. Talvez essas pessoas queriam cargos pelas ideias que elas tiveram, não conseguiram os cargos. Eu nunca quis cargo, consegui muita coisa que essas pessoas não quiseram. Os projetos que essas pessoas fizeram sumiram do mapa, elas não estão aqui hoje conversando com o Luciano Pires, eu estou, então as críticas que eu recebi foram sempre essas, que o movimento recebeu isso, foram sempre essas.

Luciano: Mas deixe-me voltar, porque eu gosto de pegar esses lances aqui, a gente dá um coroamento. O que eu vejo acontecer? Eu vejo que você foi muito claro. Você falou: “Cara, eu tenho valores que são bem definidos, esses valores me guiam. A hora que surge uma oportunidade como essa eu trago aqui porque eu quero com isso fazer alguma coisa melhor para o Brasil. Eu não quero arrumar um carguinho em algum lugar. Eu não estou fazendo isso aqui para aparecer ali”. E um monte de gente que surgiu veio com essa intenção. Surgiram porque queriam cargo, cara. A outra queria ser ministra, o outro queria ser consultor, não sei o quê. E, no momento em que ele não é, vira de lado, vira inimigo, fica down. Está muito claro. Quer dizer, quem vem com essa... cara, eu venho para construir algo muito maior. Não é para me ajeitar. O que veio para se ajeitar virou esse monte de traidor que você está vendo aí e que são ridículos. E que desaparecem. O povo enxerga isso tudo e vê o valor que está ali.

Dom Lancelotti: Durante esse período de quatro anos, surgiram algumas questões assim, o Movimento do Dom. E eu sempre falo, nunca foi o Movimento do Dom. Eu fiz esse movimento para quando as pessoas... uma das gratificações maiores que eu tenho é quando um homossexual diz assim: “Dom, eu vi o Gays com Bolsonaro, eu vejo você, você me inspira e hoje eu não tenho mais medo de dizer os valores que eu defendo”. É isso. Se o Gays Com Bolsonaros, se o Dom Lancelotti criou esse movimento lá na periferia de Fortaleza, foi por isso. “Ah, mas você saiu vereador em Fortaleza”. Eu saí mesmo vereador em Fortaleza porque eu queria ajeitar a rua do meu bairro lá, cara. Ainda hoje, Luciano, estamos falando de 2022. Faz dois anos que eu saí candidato e não fui eleito. Mas ainda hoje tem rua lá que não é rua, é lamaçal. Mas muita gente diz assim: “Dom, você tem que vir a federal”. Eu: “Gente, não faz sentido para mim vir federal, deputado federal, se eu não consigo ajudar o meu bairro”. É o que o Peterson fala das 12 Regras: arruma o seu quarto primeiro, cara. Quer ajudar o mundo? Arruma o seu quarto. Para os homossexuais eu falo: quer se envolver com política? Se aceita primeiro, o que não deixa de ser um arruma o seu quarto. Não é um arruma... dentro de você, se arruma primeiro para você querer arrumar outras coisas. Então não é por cargo. “Dom...” Se eu estivesse vindo vereador. Beleza, fui eleito. “Você tentaria outro cargo?” Não faria sentido. Eu estaria em Fortaleza hoje exercendo o grau de vereador. Vereador corta árvore sim, vereador ajeita calçamento sim, buraco de rua sim. Vereador consegue vaga em creche para criança, em escola para menino, vaga em hospital. É isso. Você servir a outras pessoas. E o movimento hoje... se hoje eu sumisse do mapa, o movimento continua. Não é o Movimento do Dom.

Luciano: Quantos seguidores tem hoje a página?

Dom Lancelotti: No Instagram eu acho que está perto de 70 mil. Tem também no Twitter, tem 30, 33 mil, mais de 100 mil seguidores. Fora as minhas redes sociais que também giram em torno disso. No Twitter, eu tenho 130 mil, mais 30 mil, 40 mil no Instagram, então...

Luciano: Quer dizer, é um movimento que nasce político.

Dom Lancelotti: Nasce político.

Luciano: Ele nasce por causa da política, ele nasce com o DNA político. E a ideia dele, como é que você o define hoje? Se eu te perguntar: “O que é Gays com Bolsonaro?” Amanhã o Bolsonaro não é mais candidato, ele sai fora e vai ter uma continuidade com o Roberval da Silva. Vai mudar? Gays Com Bolsonaro e vai entrar Gays com Roberval? Como que é?

Dom Lancelotti: Não, não vai mudar. Então, o Gays com Bolsonaro surge como um movimento político para política, para acompanhar o mandato do presidente Bolsonaro e, se Deus quiser, um segundo mandato. A gente está aí às vésperas do segundo turno. Assim também como nos Estados Unidos, e aí isso você descobre quando você vai buscar, quando você vai estudar história e principalmente a questão da política norte-americana. Assim como o Gays For Trump também é um movimento político, nos Estados Unidos, dentro do Partido Republicano, existe outra organização chamada Love (inint) [01:22:00] Republicans que são os gays conservadores do Partido Republicano. Os gays conservadores, o Love (inint) [01:22:06] nos Estados Unidos agem de forma abrangente, não só política, então eles estão também na guerra cultural. Eles têm apoiadores na política, sim, eles têm apoiadores na mídia, eles têm apoiadores em Hollywood. Hollywood hoje, beleza, virou um antro globalista, progressista, virou... mas tem a galera lá que é conservadora que eles também recebem apoio.  Eles estão nessa guerra cultural. O Love (inint) [01:22:34] Republicans sempre fazem um jantar anual para colher fundos. O Trump está lá com os caras. A Melania é a speaker dos caras para eles levantarem os fundos para eles fazerem os projetos que eles têm ideia. Agora no começo de 2022 eles juntaram essa grana e abriram uma mídia no Oriente Médio. Para que, Dom? Para trazer as notícias dos homossexuais que estão sofrendo perseguição lá no Oriente Médio. Tem gente que não pode sair na rua, tem gente que... porque a gente sabe como o Oriente Médio, o islamismo trata essa galera. Só que para a América, para cá, para o ocidente, para o nosso lado daqui, cadê o Movimento LGBT? O Movimento LGBT, rapidamente... um histórico, ele surge com um ativista querendo descriminalizar a homossexualidade no mundo, ali na Europa, por ali. E o cara fala: “Está errado o Estado se meter, querer me prender, querer que eu passe anos e anos na cadeia. Tem um código penal dizendo que eu tenho que ser preso por ser homossexual. Está errado o Estado se meter nisso. Se eu sou maior, plenamente capaz, pago os meus impostos, sei lá, eu vivo a minha vida, por que o Estado quer se meter nisso?” O Movimento LGBT surge assim, em 1869. E o Movimento LGBT esqueceu esse fundamento histórico deles. Hoje o Movimento LGBT quer o quê? Sexualizar crianças. Hoje o Movimento LGBT quer o quê? Banheiro sem gênero. Hoje o Movimento LGBT... ideologia de gênero. Pronome neutro. 2022, cara.

Luciano: Um braço de alguma coisa muito maior.

Dom Lancelotti: Em 2022...

Luciano: O feminismo aconteceu a mesma coisa. Eles viravam braços de algo muito maior do que eles, de outro movimento que é muito maior e que utiliza como um braço operacional.

Dom Lancelotti: Tem deles... tem homossexuais que vêm me atacar: “Você está negando as origens do Movimento LGBT”. Negativo. Eu não estou negando as origens. O Karl Maria Kertbeny, que é esse primeiro ativista... inclusive, ele que inventou o termo homossexual, porque antes era uranianos, que nem eles usam no banquete de Platão, os uranianos. Antigamente chamavam assim, “ele é uraniano”. E o cara inventou o nome homossexual, foi ele quem inventou. E aí eu estou falando desse cara, porque quando eles vão contar a história do Movimento LGBT hoje, (inint) [01:25:00]: “Em Stonewall, na Batalha de Stonewall...” Stonewall foi ontem. Stonewall foi em 1969. Eu estou falando de cem anos antes que os caras queriam... existia um Artigo, no Código Penal Alemão, que dizia assim, se você é gay, você vai ser preso, vai para o trabalho forçado. E não é assim. “O cara olhou para ti, é gay”. Se você tivesse o mínimo de trejeito o cara já te denunciava e dizia: “É gay”. E muitos homossexuais sofreram com isso. E, pior, quando eu tenho... eu não sei se você sabe, mas eu estou sendo perseguido pelo PT, porque eu estou falando mal do PT nas redes sociais e que não pode, 2022. E aí a gente tem um Partido Comunista, um partido de esquerda perseguindo homossexual. Eu até brinquei agora esses dias, poxa, não é nada de novo na história o que está acontecendo, porque antigamente era assim, eles não só ficavam satisfeitos com a prisão de um homossexual por ser homossexual, como onde a esquerda chegou ao poder eles pegavam outros homossexuais para denunciar os homossexuais. Mandava um cara lá, o cara era um espião, “ah, não sei o que, vem aqui, eu estou a fim”. Chegava lá, o cara prendia. Ou seja, um homossexual entregando outro homossexual. Então o Movimento LGBT esqueceu disso tudo. A gente tem em 2022 pessoas trans que não podem sair de casa na Chiba, Eu não estou inventando. Dá um Google, como a gente diz, procura na internet. Eu não estou inventando. Mas quem está lá no Oriente Médio trazendo essas notícias para a gente aqui no Ocidente é o Love (inint) [01:26:34] Republicans, que são os gays conservadores do Partido Republicado. Então a gente, eu e o Marcio, abriu um Instituto Gays Conservadores do Brasil. “Ah, o Bolsonaro vai passar”. Se Deus quiser, com o segundo mandato. E aí? E aí é que a gente vai continuar. Tem o Gays com Bolsonaro, que foi um movimento político que surgiu para acompanhar o presidente durante os mandatos políticos dele e tem o Instituto Gays Conservadores do Brasil que vai tratar dessas outras questões de guerra cultural. A gente agora em novembro, só passar essa eleição, a gente está tentando construir imersão para outros homossexuais, para a gente se entender nesse meio da política, também para outros pais. A gente recebe muitas mensagens de pais e mães, amigos de outros homossexuais que querem... “Como que eu lido? Eu não quero ser rude, mas eu estou achando que o meu filho vai ser homossexual, vai me dizer isso a qualquer momento. Como que eu lido com isso?” Então semelhante também ao Love (inint) [01:27:35] Republicans a gente quer isso no Brasil, porque, modéstia à parte, a gente rompeu essa bolha, a gente rompeu uma bolha. Em novembro do ano passado, eu lancei um curso bem basiquinho. Gravei cinco aulas, fiz um site lá, lancei, hospedei os vídeos lá. “Eu, gay, conservador no Brasil”. Pode ser gay cristão? Pode ser gay conservador? Pode ser gay e defender a família? As maiores perguntas que fazem para mim. Gravei umas aulas e botei lá. Quem divulgou o curso foram os haters. Beleza, eu tinha uns amigos meus que... “Ah, divulga aí”. Mas quem divulgou tudo foram os haters. Os alunos que eu tenho hoje lá no curso foram os haters que conseguiram.

Luciano: O ódio é uma coisa maravilhosa para fazer marketing, cara. O ódio para marketing não tem nada melhor. É muito maior do que o amor, do que a paixão. O ódio não tem barreira, cara. Ele não morre, não perde a força. Ele é aquela coisa impressionante.

Dom Lancelotti: E aí, assim, Luciano, de verdade, eu sou muito audacioso, porque eu acho que eu sou aquela frasezinha assim, por não saber que era impossível foi lá e fez, porque, para você ter uma noção, do nada eu estou em casa, acho que ano passado, durante a pandemia. Estou lá em casa, de boa, eu recebo uma mensagem no Instagram. Quando eu fui ver, um selinho azul. Ok, quem será? Cara, era nada mais e nada menos do que o Richard Brennan. O Richard Brennan, na época, era embaixador do Trump. O Richard Brennan é homossexual, o Richard Brennan era o encarregado do Trump para descriminalizar a homossexualidade no Oriente Médio. “Dom, como esse cara te viu?” Sei lá. Eu não sei. Não sei se for por meio do Love (inint) [01:29:21] que eu também fiquei próximo dessa galera, mas eu nunca pedi nada a eles. Eu gosto de aprender com os caras, não gosto de ficar pentelhando os caras. Quem sou eu? Eu não sei se for por meio do Love (inint) [01:29:30] que eles me acharam e disseram assim... e aí o Brennan falando. “Oi, Dom. Quero ir para falar para vocês no Brasil”. Meu Deus do Céu. O cara me deu o telefone dele. Eu tenho o telefone do cara hoje. Infelizmente a pandemia atrapalhou alguns planos que a gente tinha, mas olha onde a gente chegou, olha onde a gente chegou para eu ficar com esse medinho de ai, vem me matar. Vem me matar, então, me acha e me mata. Não faz sentido, porque a gente entende isso como missão. E aí, beleza, o presidente Bolsonaro pode passar, o Gays Com Bolsonaro vai continuar acompanhando o mandato dele. Ah, não foi eleito, ok, tem o Gays Com Bolsonaro que vai ficar marcado na história. O Gays com Bolsonaro foi a nossa ponta de lança, a gente furou a bolha com eles, mas o Instituto Gays Conservadores do Brasil vai continuar com essa parceria que, se Deus quiser, a gente vai estreitar ainda mais com o Love (inint) [01:30:23] Republicans, uma galera muito boa, uma galera que... eles são respeitadíssimos nos Estados Unidos, porque eles não surgiram ontem que nem a gente. A gente... coitado, a gente chegou agora, a gente não pode sentar na janelinha agora, entendeu? Os caras estão lá, sei lá, eles estão registrados desde 1980, 90, se não me engano. Os caras têm ativistas... tem um quadro imenso de ativistas, aquele... os caras são homenageados, que saem do movimento, os caras estão lá na parede dele, entendeu?

Luciano: No Hall of Fame.

Dom Lancelotti: NO Hall of Fame. Isso. E aí os caras parceria com a gente.

Luciano: Deixe-me perguntar, deixe-me perguntar uma coisa para você matar uma curiosidade. Você quando monta o movimento e... em algum momento você se aproxima do Bolsonaro, você chega até ele?

Dom Lancelotti: Sim.

Luciano: Chegou até ele. Até porque para a campanha dele era extremamente conveniente que você estivesse junto porque ajudaria a furar uma bolha lá. E você se vê diante de uma missão de apoiar um cara que vinha com uma bandeira tremulando dizendo o seguinte: “Prefiro ter um filho morto do que gay”. E aquilo foi estampado para todo mundo. Teve até aquele episódio que está mal explicado do CQC, lembra? Da inversão das perguntas e tudo mais. Como é que foi isso? Dá para se notar uma mudança no discurso do Bolsonaro de lá para cá. Eu não estou nem considerando se a cabeça dele mudou, o discurso mudou. Deu uma maneirada naqueles rompantes dele. Ou, pelo menos até que você cutuque o bicho, ele deu uma boa maneirada. Houve um processo de educação dele para que isso acontecesse? É um amadurecimento dele? Vocês tiveram alguma coisa a ver com isso? Como que é? Aconteceu alguma coisa assim no meio do caminho?

Dom Lancelotti: Olha, se a gente teve diretamente eu não sei, mas eu sempre costumo falar o seguinte, todos esses rompantes, essas coisas que ele falou nesse tempo todo desses vídeos que a gente tem, ele estava sempre se referindo à militância do Movimento LGBT. Assim como o meu pai me falou... teve uma frase que o meu pai me falou também. “Eu não quero um filho nu por aí”. Meu pai falou isso. E ele com muita raiva, eu comecei a rir. “Pai, qual é a ideia, pai, que o senhor tem... tipo, que eu estou dizendo que eu sou homossexual, o senhor está dizendo que não quer um filho nu por aí? Qual que é a ideia?”

Luciano: Porque na cabeça dele era Vera Verão, cara. Na cabeça dele, o filho dele era Vera Verão.

Dom Lancelotti: E aí eu faço sempre esse paralelo, porque essa consciência do meu pai que eu não quero um filho gay porque eu não quero um filho nu por aí é da militância LGBT. E quem que trouxe essa ideia, Luciano, foi o Movimento LGBT. Hoje eu falo sem dúvidas, sem dor na consciência, sem nada e eles bolam de raiva de mim, porque eu digo que hoje, o Movimento LGBT em 2022, é o movimento que mais atrapalha a vida dos homossexuais. Eu vejo, quando o presidente falou tudo isso, ele sempre se referia à militância LGBT, só que não tem como você explicar uma coisa detalhadamente. Imagina um tiozão do pavê explicando: “Não, eu estou falando...” Não é. Essa mudança de postura eu entendo assim, poxa, ele entendeu que existem outros homossexuais, assim como o Clodovil. O Jair conviveu com o Clodovil. Tem um vídeo do Jair maravilhoso, está na campanha dele de novo, colocaram agora, o Jair falando: “Eu admiro o senhor”.

Luciano: Sim, eu lembro.

Dom Lancelotti: a”Eu admiro o senhor”.

Luciano: O Clodovil está falando, ele pede uma parte e ele faz um speech.

Dom Lancelotti: “Eu admiro o senhor, eu admiro a sua ingenuidade. E eu sei que tem gente aqui olhando para o senhor agora, que quando o senhor sobe, fica de risinho, fica...” Como é que ele fala? Aparteando, acho que ele usa esse termo. “Fica aparteando o senhor”. Aquele ali é o Bolsonaro que trata o Gays Com Bolsonaro que vão à casa dele comer um churrasquinho com ele, com a esposa dele, tomar café, aquela coisa toda. Eu me vi, isso é histórico, eu... espero... eu e Marcio queremos ser pais e eu espero que um dia eu conte para os meus filhos essa história, que eu me vi, no Palácio da Alvorada, sentando, tomando cafezinho e comendo bolo de chocolate, sentado ali, dentro da casa do presidente. “Ai, não sei o que, ele é homofóbico, está usando você”. Ele está usando a gente em quê? Não faz sentido.

Luciano: Isso que eu ia te perguntar, você sentiu em algum momento que você só chegou lá para ser usado como uma bandeira?

Dom Lancelotti: Nunca, nunca.

Luciano: Porque aquilo gerou uma foto, aquilo foi parar nas redes sociais.

Dom Lancelotti: Nunca.

Luciano: Fizeram um baita barulho.

Dom Lancelotti: Nunca. A gente nunca se sentiu usado. Eu sempre penso assim, eu sempre falo isso, inclusive. Poderia ser, Luciano, qualquer outra pessoa. Poderia ser o seu Zezinho do Milho, Gays com o Zezinho do Milho, se o Zezinho do Milho defendesse os valores do meu país, de liberdade, de Deus, de defesa da família, de contrário à sexualização de crianças, de querer um país com pessoas honestas, com pessoas trabalhadoras. O Bolsonaro está ali... lembra que eu disse que não tinha um nome? Ele está ali porque ele representa esses valores. Poderia ser... uma vez uma repórter perguntou: “Por que você não fez o movimento com outras pessoas?” Poxa vida, porque não tinha uma pessoa que juntasse nela os meus valores, não tinha. “Ah, porque gays...” Sei lá, gays com Alckmin. Pelo amor de Deus, nunca. Não defendo os valores do Alckmin.

Luciano: Não orna.

Dom Lancelotti: Não orna. Sei lá, gays com FHC. Não orna. Não faz sentido. Bolsonaro está lá no nosso movimento, o nomezinho lá porque ele dá sentido aos valores que a gente defende. Então, quando ele passar, o Instituto Gays Conservadores do Brasil vai assumir essa posição. E a gente tem muitos projetos nessas questões de guerra cultural, principalmente quando a gente tem os caras reconhecendo que a gente tem um potencial. Só que é aquele negócio que eu disse, os caras estão lá há bastante tempo. Os caras já passaram... às vezes a gente troca muita conversa, eu e o Marcio, porque às vezes ele absorve muitas coisas, eu não absorvo. “Vou te matar”. Ok, vem aí, marca a sua hora, só me diz para eu tomar um café antes. Eu sempre levo assim. Ele não, ele absorve. “Ai, aquele negócio todo...” Eu digo assim: “Marcio, a gente tem que entender, além de que a gente tem uma missão, a gente não pode absorver. Imagina que é uma empresa. Recebi um comentário de um cliente ruim. Tenta reverter. Não conseguiu? Sinto muito, senhor”. Desliga, pronto, passou. Se a gente ficar naquele negócio... eu não tenho medo. Eles fazem isso pensando que a gente tem medo. E a gente não tem medo.

Luciano: A grande arma é essa. O Alexandre de Moraes confessou semana passada. “É só prender um. Não precisa fazer mais nada. Prende um”. Acabou, cara. Você calou a boca da sociedade inteirinha. Se pegarem um, vão me pegar também, institui o medo. Deu. A pandemia foi toda assim. Institui o medo. Naquele momento... chegou o medo você faz o que quiser. Cara, você... quando a gente conversou com aquele tweet, aquela troca de tweet, eu lembro que você... não lembro, mas como é que chegou, como é que começou? Talvez eu até tenha no histórico dos tweets aqui a nossa troca de... ah, está aqui.

Dom Lancelotti: Achou?

Luciano: Achei. Deixe-me ver quando foi. “Oi, Luciano, passando aqui só para te dizer o quanto você me ajudou numa época sombria da minha vida e você nem sabe. Já derramei muita lágrima ouvindo o Café Brasil. Posso até dizer que você me salvou, entre aspas. Seu trabalho me dá inspiração, quero um dia ter 1% de você”, etc. e tal. E assim a vida segue. Eu não tinha a menor ideia de quem era você quando você mandou aqui. Sei lá quem é. Aí uma grande... “Dom, que mensagem legal”, “Pô, maravilha”. Está bom. E aí ficou por isso mesmo. E aí que eu fui clicar para ver quem era. Falei: “Que mensagem legal”, porque quando vem uma mensagem boa assim eu uso no programa, eu costumo passar adiante, eu não perco muito tempo com hater, eu gosto de... aí quando eu cliquei que eu fui ver a sua descrição estava lá, cara, movimento... quem que é esse cara? Aí que eu olhei, falei: “Espera um pouquinho”. E aí eu respondi você. “A bandeira que você está defendendo é uma baita bandeira, cara. Uma hora que você puder venha, vamos gravar aqui”. Aí você: “Cara, não acredito que você está me convidando”. Como que é essa história de você já conhecer o Café Brasil e...

Dom Lancelotti: O que acontece? Nesse período, em mais esse período sombrio que a gente viveu no Brasil, nessa época de manifestação, de pedido de impeachment da Dilma, aquela coisa toda, eu já entrava em contato com esses caras lá nos Estados Unidos e eu via assim: “Poxa, os Estados Unidos estão passando por uma barra, mas eles estão conseguindo se sobressair”. E eu ficava... eu sempre preso muito pelo otimismo. Eu sou meio Poliana nessa hora, na minha vida também. E eu ficava pensando: “Poxa, eu não vou desistir. Eu vou tentar, vou fazer o possível e o impossível para conseguir transformar o meu país”. Por isso que quando os haters vêm hoje... eu tenho uma missão, eu sei que eu tenho uma missão. E aí você aparece nesse período em que eu começo a pesquisar quem são as pessoas que podem me ajudar nesse caminho. E, nessa época, junto disso tudo que eu já te contei, eu também estava numa depressão. Eu estava numa depressão mesmo pesada e eu tentava encontrar meios de passar por tudo aquilo.

Luciano: Com 20 anos de idade?

Dom Lancelotti:  20, 21, 22, por aí.

Luciano: Isso é um perigo, bicho. Depressão nessa idade...

Dom Lancelotti: E toda vez... eu já chorei muito ouvindo, sério. Eu já chorei muito ouvindo os seus programas porque eu pensava assim, eu ouvia as histórias das pessoas... eu jamais imaginaria, jamais. E estar aqui hoje... é porque às vezes fica meio piegas, mas estar aqui hoje é tipo... eu estou coroando o que eu fiz, entendeu? E não tem nada a ver. E, tipo, não tem nada a ver com Bolsonaro, entendeu? Não tem nada a ver, não tem nada a ver. Ah, o presidente Bolsonaro... não tem nada a ver. É meio que eu ouvia as histórias, eu pensava assim: “Poxa, não desiste, não desiste, só não desiste”. Eu lembro, nunca vou esquecer. Nessa época, eu estava trabalhando numa contabilidade lá em Fortaleza e meu trabalho era bem maçante, era fazer... era uma coisa maçante, fazer romaneio de cliente que entra, sair daquela coisa toda. Era bem maçante. Eu só botava o meu fone, não falava com ninguém. O pessoal me tirava de chato, ranzinza. Eu não falava com ninguém. E eu estava nessa época depressivo e tal. Botava o meu fone e dá-lhe Café Brasil. Um atrás do outro. Quando cuidava... sei lá, entrava alguém... “Está chorando?” Eu: “Não, um cisco entrou aqui no meu olho”. E dá-lhe Café. E eu sabia, Luciano, sempre soube onde eu queria chegar, sabe? Eu sempre soube, sempre soube. Pode demorar, mas eu sempre soube. E eu não estou fazendo tudo o que eu fiz, tudo o que eu faço até hoje não é por cargo político, não é para conseguir aparecer na televisão. Já foi numa época. Na época em que eu queria fazer teatro que ainda bem que não deu certo, porque todo ator... “Ah, eu vou para a Malhação”. É isso que a gente pensava.

Luciano: Vende a imagem dele, não precisa da imagem dele.

Dom Lancelotti: E hoje não, não é para isso. Eu me satisfaço, de verdade... mas eu estou sendo hipócrita porque eu tenho que pagar as minhas contas, eu preciso de dinheiro para pagar as minhas contas, os meus boletos, aluguel, carro, essas coisas. Mas eu me satisfaço quando eu recebo uma mensagem de outro homossexual dizendo: “Cara...” Um dia desses, um cara mandou para mim: “Estou liberto”. Você tem noção... cara, você tem porque você recebe isso várias vezes, mas uma pessoa mandar para ti. Eu passei... eu ainda não consigo refletir 100% da mensagem daquele cara. O cara mandar e dizer assim: “Graças a você eu estou liberto. Graças a você eu estou liberto”. Isso é muito forte. Sério, isso é muito forte. E isso me paga, isso me paga.

Luciano: Eu entendo perfeitamente o que você está dizendo, porque isso é aquela... você passou por outra dimensão, cara. Você saiu da dimensão do “estou vendendo o meu trabalho para alguém, sendo muito bem pago pela minha competência de fazer bem feito algo que faz girar a economia”. Você está em outra dimensão, cara. Agora você está lidando, você está tocando no coração das pessoas, na alma delas. E quando você para pra imaginar: “Esse bosta aqui...” Eu que sou um bosta, cara. Alguém me manda um negócio chorando para dizer que alguma coisa que eu disse de alguma forma orientou a pessoa, cara, não tem dinheiro no mundo que pague isso. E aí que você começa a perceber o alcance do trabalho. Como eu falo, quando eu sento no microfone, começo a fazer o programa, eu não estou fazendo para alguém. Eu não estou com alguém mente me ouvindo. Uma vez eu brinquei com o Léo. O Léo Lopes estava... mandou para mim: “Cara, eu escuto você”. Eu falei: “Você acabou de me sacanear, cara, porque quando eu faço Café Brasil eu fico imaginando uma loira maravilhosa, seminua, deitada na cama e me ouvindo”. Só para sacanear ele. “Não um barbudo horroroso que nem você, Léo”. Mas, quando eu sento aqui, eu não estou fazendo para ninguém, eu estou fazendo para mim. E eu nunca sei como é que vai bater na pessoa lá. Então eu recebo uns feedbacks que você fala: “Cara, mas não é esse o ponto do programa, mas aquele momento, aquela música, aquela pausa, aquela palavra pegou a pessoa na hora certa” e aquilo... você pode provocar uma virada na vida das pessoas. E aí como é que você quantifica isso? Não tem como, cara, não há dinheiro no mundo que pague.

Dom Lancelotti: Em 2018, perto de 2017, que a gente já estava naquela pré-campanha de Jair Bolsonaro, muita gente dizia assim: “Por que você fala tanto de Bolsonaro? Por que suas redes viravam tanto Bolsonaro?” A política, Luciano, me tirou da depressão. Foi a política que me tirou da depressão. Quando eu comecei a ver quem eram as pessoas boas envolvidas em salvar o Brasil, e que eu encontro o Café Brasil também, foram vocês que me salvaram, entendeu? Eu não vou chorar. Foram vocês que me salvaram. Por isso que eu digo, estar aqui hoje... sério, é a coroação assim, poxa, óbvio, eu não estou tirando Deus, pelo amor de Deus. Deus sempre guiou a minha vida, Deus sabia para onde que eu estava indo. Mas foram vocês que me salvaram, indiretamente me salvaram. Quando eu disse para você que você realmente me salvou, é isso. Quando eu disse para você: “Eu penso em fazer...” Isso eu respondi para você já fazendo o que você sempre faz. Quando eu crio um movimento, aquela coisa que eu quero inspirar outras pessoas, é inspirar também no trabalho que você faz. Então quando eu digo que eu quero servir, assim como você faz para outras pessoas, acabei fazendo, entendeu? Porque era isso. Então a política, os exemplos de boas pessoas que fazem pensando no país, foram vocês que me salvaram da minha depressão. Hoje eu estou aqui contando essa história porque vocês me salvaram. Então muita gente criticava na época, “porque você só fala de Bolsonaro das quantas”, muitas dessas pessoas eram pessoas que se diziam meus amigos e não sabiam que eu estava numa depressão, e não sabiam o que eu estava passando, que não sabiam se eu tentei me matar. Não sabiam. Elas estavam vendo só o Bolsonaro. Elas estavam vendo só Bolsonaro, elas não sabiam o que estava ali por trás. Então foi a política que me salvou, foram pessoas como você que me salvara, foram pessoas como os meus professores lá da faculdade que me salvaram. Muitos deles eram assim... hoje, né? “Eu não sou bolsonarista, não” “Professor, eu não estou te cobrando que você seja bolsonarista, não é te cobrando”.

Luciano: Cara, eu acho um barato isso. São dois momentos, tem um momento pré-política, pré-eleição, tudo, que a pessoa vem conversar comigo, a primeira coisa ela faz questão de começar a falar com uma espécie de um statement, é um manifesto ali. “Não concordo com tudo que você fala, mas adoro...” Então ela se vê na obrigação de dizer... como se fosse assim, “não estou preso em você”. Isso era o normal. Quando pintou a questão da eleição e tudo mais, e já tinha passado, 2014 já teve uma pequena... quando era Aécio e Dilma que eu peguei e me posicionei politicamente. Já teve uma... deu uma tremedeira ali na hora dos ouvintes. Eu nunca tinha me explicitado. Quer dizer, quem tinha dois neurônios e ouvia meu programa já sabia que eu tinha uma posição mais para liberal e conservadora. Em 2014 eu manifesto em quem eu vou votar. Já veio um monte de gente tirar sarro e tudo mais. Em 2018, cara, na hora que entra o termo Bolsonaro na história, aí vira uma loucura, cara. Vira uma loucura e as pessoas passam a temer estar perto de alguém que diz que vai votar no Bolsonaro, então (inint) [01:48:05] Escriba Café. O Cristian. O Cristian me mandou... falou: “Cara, eu estou tomando, eu estou perdendo seguidor porque eu dei um like em um tweet teu”. Ele deu um like em um tweet meu, o cara viu e falou: “Não sigo em quem dá um like no tweet do Luciano”, como se eu fosse o demônio na face da Terra. Então a gente chegou num momento do Brasil que, cara, isso não pode ser mal. Não é bom   para ninguém, até porque está cheio de gente boa, legal que está do outro lado, sabe, e que a gente sabe que dá para construir um negócio muito legal no país. E houve um rompimento que não foi por acaso e não foi o Bolsonaro que causou isso.

Dom Lancelotti: É verdade.

Luciano: O Bolsonaro é... porque o Bolsonaro é consequência de um projeto de instituir o ódio no Brasil, cara. E ele surge, estava na hora certa, era um bobalhão, um bobão. Um Forest Gump. Ele estava na hora certa. De repente, o cara começa... ganha atração e aí ninguém mais consegue brecar.

Dom Lancelotti: Não para mais.

Luciano: Então o que eu tenho para dizer para você, cara? Eu te mandei aquela mensagem, porque a hora que eu vi o que você estava fazendo eu falei “meu, olha a coragem desse cara. Primeiro botar a cara e se dizer bolsonarista. Segundo, Gays com Bolsonaro que dão um nó na cabeça de todo mundo”. E sustentando isso em quatro anos que foram terríveis, cara. Foram quatro anos de muita gente má, cara, muita gente má tentando atingir a gente naquilo que é mais precioso, botando em questão o meu caráter. O cara que não me conhece, cara, entra xingando. Puta, a mais recente, tem um que me persegue há quatro anos. Eu sei quem é, porque o estilo do cara escrever é igual. A última vez ele mandou que eu mereço uma bala na cabeça que assim eu passo a ter algo dentro da cabeça. Cara, o que merece um ser como esse, entendeu, a não ser o seu desprezo total? É por isso que eu não dou muita bola para esses caras, eu quero dar bola para gente que nem você, que você fala: “O cara está tentando construir alguma coisa. O que ele quer no final? Ele pode querer um Brasil melhor”. E o começo disso tudo veio dessa consciência sua. “Eu quero aquilo que eu estou vendo de legal acontecendo lá fora”. Se tem essa transparência, se nasce assim, não pode ser uma ação para produzir mal lá na frente, entendeu? Então, cara, você está ouvindo a gente aí, bicho, você já ouviu... já sacou que o Dom não é um ignorante, o Dom não é um deslumbrado, o Dom não é um oportunista, o Dom não é um cara que está aí para aproveitar a onda, cara. Ele é um cara que tem senso crítico, a primeira coisa que ele falou foi exatamente isso, logo no começo. “No momento em que eu passei a ter um senso crítico...” Entendeu? Se ele está dizendo que ele está do lado do Bolsonaro, não é porque é um burro que é o que estão pensando. Diz para mim: “Você é um burro, cara”. Como se eu estivesse 22 anos de idade, encantado com o canto da sereia. É porque ele pensou, cara. Ele pensou, avaliou as coisas, comparou, viu o que existia e escolheu um lado e o que ele quer no final é um país melhor, gente se dando bem, todo mundo junto para construir o país e não essa loucura que nós estamos vivendo agora. Então, cara, parabéns pela sua coragem, viu, bicho? Eu acho que esse é o termo no final. Você é um puta cara corajoso, bicho.

Dom Lancelotti: Obrigado. E a galera... e ainda estar ouvindo de você, pelo amor de Deus. Eu até brinquei na semana passada, eu já estou em três inquéritos do PT. Em, sei lá, 15 dias, eles pediram o meu banimento da internet, de todos as redes, Twitter, Instagram, Facebook, Youtube, tudo, quebraram o meu sigilo bancário. Pediram, pelo menos, a quebra do meu sigilo bancário, telefone [por telemático]. E agora estou sendo monitorado pelo TSE também, graças ao pedido do PT. E isso também vem coroar. Desde que eu estou lá no meio da rua, em 2010, 11, 12, 13, esse pedido do PT também vem coroar o que eu estou fazendo. Significa...

Luciano: Que você está incomodando, que você é importante. Eles não vão se dar para quem não tem importância nenhuma.

Dom Lancelotti: E aí muita gente vem dizer, eu sempre costumo falar assim, a galera fala de coisas que não sabe. “Os conservadores odeiam os homossexuais”. Isso é mentira. Beleza, os conservadores podem não entender certos pontos? Podem. Eu tenho dito também que às vezes os conservadores tem que fazer um mea culpa de entender, fazer um mea culpa de entender o que está se propondo ali. Nessa questão do histórico do Movimento LGBT que eu contei, que o cara pediu lá para acabarem com o Artigo que criminalizava a homossexualidade, os conservadores não deram a mão para o cara. Quem deu a mão para o cara foram os sociais democratas. Foram a social democracia que deu a mão para os caras e não soltaram até hoje, estão usando isso até hoje. A esquerda, como um todo, está usando isso até hoje. E, no histórico do Movimento LGBT, resumidamente eu posso contar aqui que, sei lá, em 1978 estavam passando umas leis nos Estados Unidos que iam proibir homossexuais de serem professores nas escolas. E quem... além de proibir, quem era professor ia ser demitido pelo simples fato de ser gay. Eu estou falando de 1978.

Luciano: Ontem.

Dom Lancelotti: Ontem. E aí tinha um cara que estava ensaiando ser presidente dos Estados Unidos. O cara já tinha sido governador em um dos estados lá dos Estados Unidos. E aí a lei ia passar, os conservadores, entre aspas, da época, estavam conseguindo passar em todos os estados essa lei que ia demitir os professores, que ia ser proibido homossexual ser professor de escola. E a lei ia passar, os caras iam ser demitidos e tal. Até que chegou a galera do movimento e recebeu uma ligação de um homossexual dizendo: “Eu sou assessor do fulano. Ele quer fazer uma reunião com vocês, porque ele quer entender o que vocês estão pedindo, porque ele está vendo uma discussão e ele quer ver se ele pode ajudar. Mas ele quer conversar com vocês. Vocês aceitam?” Em um primeiro momento os caras não quiseram, pensavam que a ligação era um bicote, até que aceitaram a reunião. Quando chegaram lá, encontraram nada mais e nada menos do que do outro lado da porta Ronald Reagan. O Reagan pediu para os caras explicarem o que era essa história desse banimento de professores de sala de aula. E os caras explicaram: “Olha, a lei é o seguinte. Quem for homossexual, que quiser dar aula em escola, não vai poder. Quem já for homossexual e já for professor, se entende como homossexual, vai ser demitido”. Reagan: “Mas isso é inadmissível”. Aí eles: “Mas é isso que a [Anita Wright] quer, o (inint) [01:55:05] quer”. Toda a galera que era pró-Reagan, digamos assim, que eram próximos do Reagan. Ele: “Não, isso é inadmissível”. No outro dia, o Reagan vai, faz um artigo no jornal, publica no jornal, publica em outros, sai em revista. A lei não passou, os homossexuais não foram demitidos por simplesmente serem homossexuais. E um dos fundamentos que o Reagan falou é: “Não faz sentido você ser demitido, você ser tolhido de seus direitos por ser quem você é. Se você cometer um crime, se você isso, aquilo outro, ok, tem a lei para punir. Mas você ser demitido, você ser proibido de ter direitos porque você é homossexual...” Eu estou falando de Reagan. Reagan é uma das maiores figuras do conservadorismo mundial. Mas a galera não sabe disso, Luciano, porque não lê. E isso está numa biografia, eu posso postar nas redes para as pessoas verem mais uma vez, uma biografia de um ativista de Movimento LGBT. Mas eles não leem, as pessoas... a questão do senso crítico. As pessoas não buscam por elas saberem de alguma coisa. Pegam um livrinho histórico do Movimento LGBT, aí o livro começa em 1969. E não é aí que o Movimento LGBT acontece. E aí vem em 2022 dizer que os conservadores são contrários aos homossexuais? Não são. Eu entendo completamente e eu também sou contra a militância do Movimento LGBT. Eu não preciso de um carro LGBT para defender direito meu, eu não preciso... uma das coisas mais críticas que eu ouço também é: “Você está dizendo que homofobia não existe no Brasil?” Eu nunca disse isso. E existe homofobia no Brasil, assim como existe racismo. O que eu sou contrário, vários ativistas do Movimento Gays com Bolsonaro também são contrários, o presidente também é contrário, é um partido de esquerda pegar uma ONG, um partido do Foro de São Paulo que pega uma ONG de esquerda, que recebe investimento internacional, pegar um senador de esquerda do partido do Foro de São Paulo e pular todo o procedimento legislativo, que é passar pela Câmara, passar pelo Senado, ter audiência pública e dar uma canetada lá no STF e equiparar homofobia a racismo. Isso eu sou contra. Mas a galera... “É verdade isso?” É verdade. Vejam lá quem são os autores da ADO 26 que criminalizou a homofobia. Aliás, que equiparou homofobia a racismo, que vocês vão ver quem que é o partido do Foro de São Paulo, que é uma ONG de esquerda que recebe investimentos de fora, que é um senador, um deputado que são do partido do Foro de São Paulo. Mas os homossexuais não estão nem aí para isso. E a gente... eu sempre brinco com os meninos do Gays Com Bolsonaro. A nossa diferença... qual que é a diferença nossa, que é a diferença da direita para a esquerda? Nós estudamos. Não adianta... “Ah, por que só você dá entrevista, Dom?” Quem que está estudando aqui do movimento? Esses dias eu brinquei. Tem uma entrevista semana que vem. Quem que vai dar entrevista? Todo mundo calado. Quem está lendo o quê? O que você está lendo? Todo mundo calado. É por isso que só eu que dou as entrevistas, porque eu já disse, “estudem”. Ah, quer se destacar? Quer like? Quer aparecer com o presidente? Por que só o Dom vai para Brasília? Quem que está estudando aqui? Eu não vou deixar... porque homossexual de esquerda para falar besteira e se fazer de vítima a gente tem. Se eu quiser um do Movimento LGBT eu chamo. Mas quem de vocês está estudando para fazer a diferença, principalmente a diferença na vida de outras pessoas? Não tem, por isso que só eu dou as entrevistas. E eu até brinco. Querem dar as entrevistas? Pois vai passar uma entrevista comigo antes. Até brinco. Eles: “Ah, não sei o quê”. Tem que estudar. “Porque eu sou homossexual”. Tem que estudar. Você tem que estudar não é porque você é homossexual, não é porque você é mulher, porque você é negro, branco. Você tem que estudar.

Luciano: Até porque você tem um cérebro, cara, o que interessa é isso. É isso que interessa. O movimento hoje é uma organização, é uma ONG?

Dom Lancelotti: É.

Luciano: Tem CNPJ?

Dom Lancelotti: Tem CNPJ.

Luciano: Está estabelecido?

Dom Lancelotti: Está estabelecido.

Luciano: Tem estatuto?

Dom Lancelotti: Os dois. Sim, tanto Gays Com Bolsonaro, como o Instituto Gays Conservadores do Brasil, até porque a gente tem esses planos de fazer esses projetos. E aí a gente precisa. E aí a gente veio para São Paulo principalmente com essa questão do Instituto que a gente quer procurar empresários que acreditam no Brasil também. A gente não quer dinheiro para ser sustentado. Não. A gente quer... por que nos Estados Unidos dá certo e aqui não dá certo? Porque lá nos Estados Unidos os caras estão vindo falar com a gente aqui no Brasil. E os empresários do Brasil? Cadê essa galera?

Luciano: Não existe essa classe.

Dom Lancelotti: Cadê essa galera?

Luciano: Esquece essa classe. Empresário no Brasil se interessa em ganhar dinheiro. Eles não têm nenhum tipo de... eu estive dentro, conheço, estava lá dentro e tudo. Não tem nenhuma discussão de ordem ideológico. Nada. O negócio lá é o seguinte, onde tiver dinheiro eu estou. E não interessa se é Lula, se é Bolsonaro. Você está vendo agora, o movimento na Faria Lima dos caras... os farias limers fazendo reuniões para eleger o Lula. Então qual é o interesse ali? É grana. Você não tem o bem comum. Para com essa história que não tem. E é uma consciência que um dia vai haver, mas isso já devia estar acontecendo, porque gerações novas estão assumindo o poder, já deviam ter outra consciência, mas está vindo uma geração preocupante, cara, que é muito (inint) [02:00:34] assumindo o poder agora e está complicado.

Dom Lancelotti: Aí a galera vem para a gente e diz: “Mas vocês não fazem nada”. Poxa. Como que a gente sustenta o movimento hoje? A gente vende caneca, a gente vende blusa, a gente abriu uma livraria, que é a Livraria Guerra Cultural, e a gente tem a parceria com a CEDET. A muito custo também a gente conseguiu, os caras acreditaram na gente.

Luciano: Não tem dinheiro do Governo para vocês?

Dom Lancelotti: Que dinheiro do Governo o quê?

Luciano: Não vem grana do Governo para vocês? O Bolsonaro não está alimentando vocês para... vem aqui, nada disso?

Dom Lancelotti: Tem que vender muita canequinha, muita blusinha também para conseguir sustentar. E às vezes a gente tira do bolso, porque não dá. E aí a galera vem: “Vocês não fazem nada”. A galera não sabe do background nosso, entendeu? A galera só quer... mas quando a gente tira uma foto com o Bolsonaro, aparece uma revista dessa da vida, nem que seja para falar mal a galera quer. A galera quer aparecer. “Por que só vocês...” A gente está agora na campanha televisiva do presidente. A galera só vê que a gente... “O Bolsonaro colocou vocês lá na propaganda”. A galera não sabe tudo o que a gente passou para passar aqui. A galera não sabe, não está interessada. Mas aí eu digo, agora eu meio que dei uma liberada nos grupos que a gente tem com os outros homossexuais para eles ficarem falando esteira, se conhecerem, porque eles são muito perseguidos também no relacionamento deles em si com outros homossexuais. E aí eu dei uma liberada nos grupos para eles se conhecerem, falarem besteira, quem são, de onde são, para onde vão, aquelas coisas todas. Aí eu falei: “Olha, passada a eleição esse grupo aqui vai virar grupo de estudo. Nós temos em cada grupo 200 e tantas pessoas. Eu quero ver quantas vão ficar” “Não, não, estamos aqui”. Vamos ver se estão aqui mesmo, porque é isso.

Luciano: Quantas são nesses grupos hoje? Se você somar tudo quanto dá?

Dom Lancelotti: De WhatsApp a gente tem, sei lá, 300 e tantas pessoas.

Luciano: Mas é um grupo se mexendo.

Dom Lancelotti: Sim. De cabeça, só não tem gente, sei lá, no Acre, mas em outros estados a gente...

Luciano: Estão lá. Eles estão esperando descobrir para chegar lá. Meu caro, quem quiser conhecer mais, ter acesso a vocês, trocar uma ideia contigo, dê o caminho para a gente aqui. Como é que faz?

Dom Lancelotti: A gente está em todas as redes. Tem o Dom Lancelotti, Instagram, Twitter, Facebook.

Luciano: O Lancelotti tem dois T?

Dom Lancelotti: Lancelotti com dois T... dois L e dois T. Lancelotti. E tem o Gays Com Bolsonaro também em todas as redes, Instagram, Facebook e Twitter também. E é isso. E aí mandem lá mensagem para a gente. O que acontece? Muitos deles não têm coragem de falar. Falam só por medo de mensagem. “Não posso seguir, não posso falar, porque eu vou ser cancelado”, mas falem lá, a gente tem ajudado muita gente. O que era até então um sonho hoje é praticamente quase realidade, porque quando a gente vê realmente... os caras batendo no peito e dizendo: “Olha, eu defendo isso mesmo”. Isso é muito gratificante. E a gente está aí para ajudar. E eu sempre digo assim, se pudesse dar uma mensagem para eles é assim, se aceitem. Quando você se aceita, eu repito, é o arrumar o quarto do Peterson. Arrume o seu quarto primeiro. Muitos deles perguntam: “Dom, como que eu me envolvo com política?” “Se aceite. Você se aceita?” Eu vou até entregar um spoiler aqui. No texto do Olavo, Mentiras Gays, o Olavo usa a palavra ‘homossexualismo’. E hoje, se você for um mimimizento, você vai... “Homossexualismo? Mas não é certo homossexualismo”. Quando o cara vem, que ele lê o texto do Olavo que deve ter três, quatro páginas. O cara lê quatro páginas, Luciano, e para no homossexualismo. Pergunto assim: “Você tem alguma dúvida no texto?” “Tenho. Ai, não, Dom, ele usou homossexualismo”. Eu já sei se esse cara vai passar de fase ou não.

Luciano: O disjuntor caiu na palavra, cara, o disjuntor... do mesmo jeito que você tira o nome do Olavo, se você botar o nome, o disjuntor cai e não acontece mais nada. E aí o cara vai parar na palavra e o que vem depois, a primeira vez que ele leu, nada.

Dom Lancelotti: Não entendeu mais nada.

Luciano: Nada fica. Cara, deu uma queda de disjuntor, porque esse cara está armado. Essa é a minha grande briga, essa é a minha grande luta. Os programas que eu faço, tudo, eu tenho um puta trabalho de desmontar disjuntor. E, quando eu sei que vai cair, eu falo no ar. Falo: “Espere aí, agora eu vou derrubar o disjuntor”. E aí eu falo tal coisa. E não tem outra. E aí vem... eu falo: “Bicho, você ouviu uma entrevista de duas horas. O que você tem para dizer é essa bosta que você está falando aí? Foi só isso que ficou na sua cabeça?” Não adianta, cara, é uma limitação que as pessoas têm. E é uma briga direta aqui.

Dom Lancelotti: E eu digo isso, se aceitem, é a chave. Para você continuar todo o resto, é você se aceitar. Nessa questão de sexualidade é isso. Na questão... eu sempre falo também para não brigarem com os pais. Cada pessoa tem o seu tempo, o Luciano tem o tempo dele, o Dom tem o tempo dele, nossos amigos têm o tempo deles, assim como pai e mãe também têm o seu tempo. Não adianta você chegar dentro de casa e forçar alguma coisa. Não adianta. “Ah, quero sair do armário”. Ok. Conta para a sua mãe, conta para o seu pai, mas saiba que nem sempre você vai receber do nada um abraço ou algo positivo. Muita gente tem esse privilégio? Sim, mas outras pessoas não. Mas, se você entender que cada pessoa tem o seu tempo, você não vai sofrer com isso. Não chegue em um lugar achando que... “Ah, tem que me aceitar”. E uma das coisas mais importantes que foi também o que me ajudou, e que tem ajudado outras pessoas também do Movimento Gays Com o Bolsonaro, é ter uma fé, acredita. Nós somos católicos, nós somos cristãos, acreditamos em Deus, então tenha uma fé, tenha um por que de você ir buscar de ser alguém melhor. Aí eu sempre falo: se você se aceita, se você não quer a aceitação de ninguém, entende que todo mundo tem um tempo, você ama a sua mãe, o seu pai, a sua família, se você tem uma fé ou se acredita em Deus, cara, movimento nenhum, Luciano, vai te pegar. Movimento nenhum com discursozinho fácil vai te pegar. Eu me lembro de uma frase de uma amiga, inclusive faz tempo que não a vejo, mas ela me disse uma vez, numa época em que eu estava muito mal, chorando, e ela me falou assim: “Mas eu estou sofrendo muito”. Aí ela falou: “Você está vivo, né?” Aí eu: “Sim”. Aí ela: “Você só vai parar de sofrer quando você morrer”. Viver é isso. Então você... “Não quero mais sofrer”. Então, amigo, se despede da vida, porque viver é isso, viver é sofrimento. O Peterson também diz isso. Mas eu nunca me esqueci dessa minha amiga que um dia me disse: “Se você está vivo... se está sofrendo é porque está vivo. Quando parar de sofrer, aí significa que você não está mais aqui”. Então é isso. Muito obrigado, Luciano, pela oportunidade, de verdade, de estar coroando aqui a história da minha vida. Realmente é um sonho realizado estar aqui. Você realmente é uma pessoa que me inspira. Eu quero... sei lá, daqui um tempo ser pelo menos um pouquinho do que você é, do que significa para mim e para outras pessoas.

Luciano: O mérito é seu, cara. Quanto tempo faz que você está em São Paulo? Chegou quando?

Dom Lancelotti: Estou há seis meses aqui só.

Luciano: Seis meses? Tem tudo para acontecer aqui então. Seja bem-vindo a Sampa, eu acho que tem muita coisa para acontecer, muita coisa legal. Nós estamos meio que num hiato, porque são dois anos de pandemia. Terminou a pandemia, essa loucura política que não passa. Terminada agora, vem a Copa do Mundo. Até ontem perguntaram para mim: “Qual é o seu prognóstico para depois da eleição?” Eu falei: “Olha, em tempos normais, viria a Copa do Mundo, iria jogar água na fervura e iria todo mundo tomar uma cerveja, festejar e acabava”. Mas não são tempos normais. Eu temo que a Copa só sirva para botar mais lenha na fogueira, ainda que a gente passe por essa Copa, tendo que assistir vizinho torcendo contra o Brasil porque o Neymar é bolsonarista. É o cúmulo, é o ápice da burrice. Eu não posso pensar em algo que seja pior do que isso. Cara, grande visita, grande papo. Obrigado, parabéns pelo seu trabalho. Vamos manter contato, cara.

Dom Lancelotti: Sim.

Luciano: Vamos agitar e fazer as coisas acontecerem.

Dom Lancelotti: É isso aí. Obrigado, gente.

Luciano: Muito bem. Termina aqui mais um Líder Cast. A transcrição desse programa você encontra no lidercast.com.br.

 

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