LíderCast 256 - Nestor Freire

Data de publicação: 10/01/2023, 12:17


Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite, bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o podcast que trata de liderança e empreendedorismo com gente que faz acontecer. Hoje o convidado é Nestor Freire, engenheiro que se dedicou às vendas até encontrar a sua verdadeira vocação, andar de bicicleta por todos os cantos do mundo. Ele acaba de lançar o livro sobre sua aventura pedalando do Oiapoque ao Chuí, e vem para uma conversa sobre o chamado para as aventuras, planejamento, riscos e propósitos. Essa conversa é uma viagem.

 

Muito bem, mais um LíderCast, sempre começo contando como é que esse meu convidado chegou até mim, estava eu anteontem trabalhando, quando de repente pelo LinkedIn entra uma mensagem para mim, Luciano, queria te mandar um livro, fiz uma viagem, não sei o que. Eu, que legal. Queria te entregar o livro. Eu falei, que legal, é o seguinte, cara, eu dei uma olhada no que ele me falou ali, no que ele fez, eu falei, cara, voltei a gravar o LíderCast, estou com uns horários aqui, você está livre? Dois dias depois estamos nós sentados aqui para gravar, então seja muito bem-vindo, o programa começa com três perguntas que são as únicas que você não pode chutar, depois você chuta à vontade, mas essas três são fundamentais, seu nome, sua idade e o que que você faz.

Nestor Freire: Bom, o meu nome é Nestor Freire, tenho 55 anos, sou escritor, ciclista profissional, e palestrante.

Luciano Pires: Ciclista profissional, isso aqui vai render. Nasceu aonde, Nestor?

Nestor Freire: Sou paulistano da gema, nasci aqui em São Paulo, no bairro da Vila Madalena, hoje eu moro aqui pertinho de você na Vila Mariana.

Luciano Pires: É? Vila Mada, cara, eu não vou negar que eu tenho um sonho de morar lá, viu? De um dia mudar para a Vila Madalena.

Nestor Freire: Eu, na verdade, eu sempre tive um lado meio artístico, estudei no colégio de equipe, então hoje em dia até essa questão de escrita, entendeu? Que eu sempre penso que a gente traz muita coisa da adolescência e da infância.

Luciano Pires: A Vila Madalena tem um clima todo especial.

Nestor Freire: É, e a Vila Madalena, ela tem essa, que nem você falou, esse clima, e eu sempre... que nem eu te falei, eu sempre penso que a gente hoje nessa idade a gente acaba trazendo essas coisas, eu sou psicanalista também.

Luciano Pires: A sua formação... vamos descobrir já essa história. Você tem família, quantos irmãos?

Nestor Freire: Eu tenho duas irmãs, eu sou daqui de São Paulo, fui criado aqui em São Paulo, meus pais são do interior, já faleceram, mas hoje na verdade, eu moro aqui um pouco em São Paulo, eu viajo bastante, mas transito também em Campo Grande, porque a minha esposa é de Campo Grande, então a gente faz essa troca, fica um pouco lá, um pouco cá.

Luciano Pires: O que que o seu pai e a sua mãe faziam?

Nestor Freire: Meu pai era vendedor, assim foi vendedor a vida inteira, e a minha mãe era do lar, criou os três filhos, tudo.

Luciano Pires: Como é que era o teu apelido quando era...

Nestor Freire: Quando eu era criança? Júnior. Porque na verdade eu tenho o nome do meu pai, então...

Luciano Pires: O que que o Júnior queria ser quando crescesse, qual era o sonho do Júnior?

Nestor Freire: Na verdade, eu sempre quis ser engenheiro.

Luciano Pires: Engenheiro?

Nestor Freire: Engenheiro, eu me formei inclusive em engenharia, sou engenheiro mecânico.

Luciano Pires: Da onde veio isso?

Nestor Freire: Rapaz, nessa coisa de você ficar tentando construir coisas, construir, mexer, eu sempre fui uma criança muito curiosa, assim mexer na... e sempre andei de bicicleta, tenho fotos minhas aí super antigas andando de bicicleta, então sempre tive essa coisa de desmontar bicicleta, montar bicicleta, preparar bicicleta para passeio ciclístico, sabe? Então, sempre estive envolvido com essa questão mecânica também da bike. E assim, eu fiz engenharia, isso é assim até um pouco contraditório, porque hoje psicanalista, escritor...

Luciano Pires: Você fez exatas para virar humanas lá na frente? Mas é legal, a base é boa.

Nestor Freire: Não, é verdade, mas assim tudo... é interessante, Luciano, porque assim, eu dou muito valor para as coisas que as pessoas principalmente que cruzaram comigo no passado, assim se eu não tivesse feito engenharia, talvez eu tivesse outro caminho que não esse que eu estou aqui conversando com você, porque a engenharia, ela me deu oportunidade de trabalhar em uma grande empresa aqui em São Paulo.

Luciano Pires: Ah, você tirou o diploma e foi trabalhar como engenheiro?

Nestor Freire: Na verdade assim, na parte técnica de engenharia eu nunca trabalhei assim, só que a empresa que me contratou na ocasião em São Paulo, ela exigia que...

Luciano Pires: Engenheiro de vendas, é isso?

Nestor Freire: Exatamente, queriam um engenheiro de venda e foi aí que a coisa começou a mudar, porque assim, tinha acabado de sair da faculdade e descobri que eu gostava de conversar com pessoas, de interagir com pessoas, não gostava de ficar... e tive oportunidade de ficar em fábrica também, eu trabalhei em uma fábrica muito famosa em Osasco, que não existe mais, que é a Hurst, que é fabricava fio sintético, e então, falei, cara, aqueles ambientes lá dentro de fábrica, aquilo, sabe, começou a me dar um certo asco assim, sabe? E depois eu trabalhando nessa empresa, eu acabei tendo uma carreira profissional de vendas de muito sucesso nessa empresa, ganhei bastante dinheiro, consegui construir um pé de meia bem legal.

Luciano Pires: Como vendedor?

Nestor Freire: É, como vendedor. Os meus chefes eram judeus, então assim, sabe, os caras me ensinaram a trabalhar na área de vendas, tiveram toda a paciência comigo.

Luciano Pires: Isso que eu ia te perguntar, você vem com uma formação de exatas e engenharia e cai em um ambiente que é humanas 100%, ia te perguntar se você teve alguma orientação para isso, se você mirou em alguém, você teve algum mentor para ti?

Nestor Freire: Muito interessante essa pergunta, viu? Nunca me fizeram em podcast essa pergunta, porque eu mirei no meu pai, cara, justamente no meu pai, porque meu pai, ele era esse vendedor, entendeu? Então, ele trouxe... naquela época não tinha celular, na época que eu comecei a trabalhar estava começando a surgir o celular, mas tinha o Startac no celular, mas começou no Startac, mas eu ouvia o meu pai falando no telefone, cara, às vezes eu parava do lado e ouvia como ele conversava com as pessoas assim, sabe, essa capacidade de você... de convencimento do cliente, mostrando para ele o produto através do telefone, e é muito difícil, sabe, assim, fazer isso verbalmente com...

Luciano Pires: É, tem que ter a manha, a manha do raport.

Nestor Freire: E assim, eu fui aprendendo e eu saí completamente cru da faculdade, não sabia lé com cré, porque sai completamente cru, e fui desenvolvendo essa capacidade minha na área comercial, que nem eu te falei, eu tive muito sucesso financeiro nessa empresa, posteriormente quando eu saí dela e fui abrir a minha também. E assim, eu sou muito grato aí as pessoas que passaram na minha vida.

Luciano Pires: Mas aí quando você bateu em vendas lá e começou a lidar com aquilo, ficou claro para você que você não ia nunca voltar para engenharia, a carreira ia ser em vendas ali, não é?

Nestor Freire: Ficou claro.

Luciano Pires: Quanto tempo você ficou lá?

Nestor Freire: Ficou claro, Luciano, ficou muito claro para mim que a minha praia era aquela, trabalhar com pessoas. Eu fiquei nessa empresa, eu trabalhei nessa empresa entre idas e vindas oito anos, e daí depois eu fui trabalhar em uma outra concorrente dessa empresa, daí fiquei mais uns três anos, daí voltei para um outro braço que era da primeira empresa que eu estava, ou seja, em um pacote todo aí eu fiquei uns 15 anos circulando nessas empresas. E aí os últimos dez anos eu tive... resolvi montar uma carreira solo, ter a minha própria empresa, ser autônomo, tive sócio que não deu certo, aconteceu de tudo, até terminar a minha carreira nessa área, na área comercial ligada a mobiliário de escritório, mobiliário corporativo.

Luciano Pires: Que ano foi isso?

Nestor Freire: Cara, foi dois mil e... que eu terminei de estar no front foi 2016, 2016 para 2017, que eu terminei de estar no front, de ir até o cliente, de atender o cliente, de estar no front e perguntar para ele.

Luciano Pires: Você virou o que, virou um gestor de vendas?

Nestor Freire: Exatamente, aí depois de 2017 aconteceu uma coisa muito legal, em 2012, na verdade, um amigo meu... uma amiga minha sabia que eu pedalava e tal, e ela comentou comigo, falou assim, olha... inclusive era uma pessoa que era minha cliente nessas empresas, ela virou para mim e falou assim, Nestor, você nunca pensou em viajar de bicicleta? Daí eu falei assim, é uma boa ideia assim, daí eu falei, como é que funciona isso? Daí ela falou assim, tem um amigo meu que vai fazer uma viagem na Argentina, e se você quiser, você se junta ao grupo, você pode fazer. Assim, achei uma boa ideia e tal a experiência, ia um grupo e tal, e eu me meti nessa daí e fui, e eu conheci esse sujeito, você tinha falado de mentor, do meu pai, eu acho que a gente dentro dessa jornada do herói, que eu me sinto sempre dentro da jornada do herói do Campbell, a gente sempre tem um mentor, e esse sujeito, Mariano, que é um argentino muito experiente com viagem de grupo, eu tive a oportunidade de sentar do lado dele uma noite no Chile, lembro até hoje, em frente ao vulcão Antuco, onde a gente estava acampando, e ele falou para mim toda a logística da viagem, como é que empregava, e ficamos conversando horas e horas durante a madrugada, e quando eu voltei para o Brasil, eu falei, caralho, eu acho que eu consigo fazer essa porra sozinho, não preciso de grupo, não preciso de ninguém.

Luciano Pires: Dá um break aí que aqui a gente vai e volta. Quando é que você... essa paixão pela bicicleta, você falou que desde moleque você andava de bicicleta, mas você passou... a vida inteira você fez isso de forma não profissional, de forma regular, andar de bike era o teu caminhar, o teu exercício físico, tudo, andar de bike de forma o que que era, diária?

Nestor Freire: Não, por prazer assim, porque existem muitos...

Luciano Pires: Mas era uma rotina? De tal hora a tal hora eu vou andar...

Nestor Freire: Não, era uma rotina de lazer de final de semana, que nem você aqui em São Paulo, falar assim, ah vou pedalar na ciclofaixa em um domingo, hoje não existe mais a ciclofaixa, mas é um exemplo mais ou menos disso, então por lazer eu pedalava, como sempre pedalei por lazer.

Luciano Pires: Mas não era uma coisa assim de... porque tem um pessoal que é religioso, do mesmo jeito que o cara vai na academia cinco, seis vezes por semana, tem cara que pega a bike e pedala 12 quilômetros por dia, 10 quilômetros por dia, com regularidade.

Nestor Freire: Ah sim, exatamente, não era o meu caso nessa época, hoje em dia já é, mas assim não era o meu caso nessa época, eu pedalava por lazer, por curtição, porque você pode pedalar de bicicleta de várias formas, por lazer, outra por esporte, que nem você está falando, competição, a outra por transporte, então ciclo mobilidade, essa molecada que entrega aí o Ifood para gente, entendeu? Deslocamento para o trabalho. Então, nessa ocasião era lazer para mim.

Luciano Pires: Quando essa tua amiga veio e falou, já pensou em viajar de bicicleta?

Nestor Freire: É, é.

Luciano Pires: Bom, qual foi a primeira viagem que você fez?

Nestor Freire: Então, daí voltando dessa viagem...

Luciano Pires: Essa tua ida no Chile foi uma viagem de bicicleta?

Nestor Freire: Foi uma viagem de bicicleta, assim muito bem estruturada, acampamos aí durante cinco dias na Cordilheira dos Andes, mas assim, tudo com carro de apoio, hoje em dia eu falo que é uma viagem gourmet, sabe? Que você só vai para pedalar, então... eu achei bacana como primeira experiência, mas como eu te disse, eu voltei dessa experiência e falei, cara, eu quero fazer esse negócio sozinho, eu quero me desafiar, quero tentar fazer sozinho, e assim, acho que o Mariano lá tinha me dado umas dicas, falei, acho que eu consigo fazer sozinho. E eu planejei uma viagem, uma primeira viagem de bicicleta, respondendo a sua pergunta, no final de 2013, que foi da estrada real. Vi uns roteiros aí no Brasil, eu falei, não, eu vou sair lá de Diamantina e vou até Ouro Preto, de Ouro Preto, eu vou até Parati, dá 1200 quilômetros essa viagem, primeira viagem de bicicleta que eu fiz. E fiz um planejamento, comecei a ver que eu gostava de colocar as coisas na planilha e ver elas...

Luciano Pires: Olha o engenheiro aí.

Nestor Freire: É, tem a parte do engenheiro.

Luciano Pires: Essa viagem, essa trilha, é trilha, é estrada?

Nestor Freire: Estrada, estrada real é um dos ícones da colonização do Brasil.

Luciano Pires: A minha pergunta para você é em que estado ela está? Você vai numa boa como uma estrada tranquila ou você pega trilha?

Nestor Freire: Não, você pega muita estrada de terra, nessa época que eu fui pela primeira vez em 2013, eu peguei muito mais inclusive, hoje em dia ela está mais asfaltada, mas tem trechos de terra também, eu voltei a fazer ela em 2021, em janeiro de 2021, que já tinha acontecido o desastre de Mariana, então na época que eu fui não tinha nada disso. Então, ela foi um baita de um desafio assim para mim, sabe? É muito calor, muita subida, e eu estava ali meio que me acostumando as coisas, não sabia muito... eu sabia que eu queria fazer aquilo lá, entendeu?

Luciano Pires: Você tem que estar fisicamente em dia para encarar uma... você estava?

Nestor Freire: Estava, estava, eu me preparei um ano para fazer essa viagem, e daí começou a surgir assim, depois dessa viagem começou a surgir outras viagens, e eu vi que assim, ao contrário do que muitas pessoas pensam, sabe, Luciano, você fala, a pessoa viaja de bicicleta, então você abre, você digita aí viagem de bicicleta no Google, você vê umas fotos bonitas das pessoas, com paisagens maravilhosas e assim, cara, é um puta de um desafio que se você não estiver preparado muito bem para fazer, se você não estiver muito bem planejado, se você não estiver muito certo do que você quer, tiver um foco realmente no seu objetivo de concluir, a viagem vai para o beleléu, e assim e vai para o beleléu em situações assim às vezes muito perigosas, como uma última agora aí que eu peguei, era uma tempestade quando estava atravessando a Islândia, entendeu? Então, é essencial... eu notei isso, que era essencial essa questão do planejamento estratégico.

Luciano Pires: Aquela viagem da estrada real quando foi?

Nestor Freire: Foi 2013.

Luciano Pires: 2013? Aí a coisa começou a ficar séria.

Nestor Freire: Daí eu vi que eu gostei do negócio.

Luciano Pires: Então, me conta essa coisa aí, você não conhecia a estrada, você não foi lá antes para dar uma olhada, você deve ter pegado o mapa, conversou com quem foi evidentemente, os caras te deram a dica toda e você se meteu lá sozinho?

Nestor Freire: Me meti lá sozinho.

Luciano Pires: E quando eu falo sozinho, o que que é sozinho em uma... é sozinho, mas cruzando com outros caras que estão fazendo, por exemplo, se eu for fazer o Caminho de Santiago, eu vou cruzar com um monte de gente fazendo o Caminho de Santiago, então o sozinho é entre aspas, você não está sozinho, abandonado no ambiente, você está em um lugar onde vai cruzar com pessoas, vai ter um boteco, vai passar pelo povoado e tudo mais, não é uma coisa erma, não é, como deve ter sido a Islândia, por exemplo, não é? Como é que era isso, você foi só, é só ou você estava dividindo com outras pessoas, encontrou com gente no meio do caminho, parou, dormiu bem em um lugar, ou teve que... foi só perrengue, como é que...

Nestor Freire: Não, não, essa viagem especificamente da estrada real, eu me propus a fazer ela sozinho, e assim o sozinho que você diz, na verdade, você está remetendo ao encontro de pessoas, então assim realmente o que acontece assim, você encontra com pessoas, lugares, pessoas que assim, sabe, algumas que estão fazendo alguma coisa parecida com o que você está fazendo, pessoas no meio do caminho andando, pessoas que querem te ajudar, pessoas que você não conhece, entendeu? Então, é muito interessante você encontrar com as pessoas. Só que você no fundo, na verdade, você está sozinho, eu costumo sempre falar que existe dois tipos de solidão, existe a solitude e a solidão, a solidão é aquela amargura de você se sentir sozinho, não ter ninguém, não tem um companheiro ou companheira, sabe? E a solitude é você viver a sua experiência com você mesmo de uma forma positiva, e assim eu comecei a encarar essas viagens de bicicleta focando na solitude e não na solidão, porque a solidão não ia...

Luciano Pires: Não é boa não.

Nestor Freire: Não, e é muito difícil, Luciano, hoje eu entendo bem disso, que a pessoa mais complicada e mais difícil de lidar é você mesmo, entendeu? Então assim, nesses momentos que você está sozinho, por mais que você encontre pessoas, a maior parte do tempo você passa sozinho, você passa em cima da bicicleta, você passa pensando, refletindo, você comentou do Caminho de Santiago, que eu fui fazer o Caminho de Santiago também em 2014, de bicicleta, saindo de Barcelona, inclusive, então assim, essa vivência, eu costumo falar que ela te desnuda, ela mostra assim todas as suas mazelas, todas as suas qualidades também e faz você ter uma avaliação de você mesmo para o que que você quer nesse momento da vida.

Luciano Pires: Eu fiz a trilha do Everest, eu não sei se você sabe, mas eu fui para lá e o pessoal pergunta e eu falei exatamente isso, 15 dias na montanha andando três, quatro, cinco, seis, nove, dez, doze horas por dia, cara, o que que você faz enquanto você anda oito horas, oito horas andando, o que que você tem que fazer? Evidentemente eu estou em um lugar que cada lado que você olha é uma maravilha diferente, e é uma demanda física tremenda, que você está mal, a cinco mil metros de altitude, então tem um monte de demandas ali físicas que são complicadas, mas a maior parte do tempo você está em uma coisa mecânica, um passo a frente, outro passo a frente, respiração, e aí quando você meio que entra em um transe onde aí é você com você, e aí começa a passar um filme na tua cabeça.

Nestor Freire: Exato.

Luciano Pires: As coisas que eu faço, que eu vou, por que que eu aceito isso, por que que tem que ser assim. Então, eu costumo dizer isso, ninguém volta igual ao que foi de uma experiência que não tem que ser a trilha do Everest, pode ser bike, pode ser correr uma maratona de 42 quilômetros, pode ser pegar um barco e atravessar um oceano, alguma coisa assim, qualquer função que você coloque eu e o meu corpo mecanicamente durante horas, vai me botar em meditação, não tem como.

Nestor Freire: Eu sou totalmente partidário do que você está falando, porque é o que eu costumo dizer para o pessoal que me segue, os leitores que leem os meus livros, assim, você não precisa fazer o que eu faço assim sabe, eu costumo sempre usar a Jornada do Herói do Campbell como exemplo assim, porque uma senhora de 80 anos não vai fazer o que eu faço, mas ela pode ter um mentor de... um cara bom aí que faz bolo, que cozinha bem e fazer, se desafiar a fazer um bolo para a família, entendeu? Então assim, isso é muito interessante o que você falou.

Luciano Pires: Você citou duas vezes aí a Jornada do Herói, talvez se alguém estiver ouvindo a gente e não souber o que é, cara, isso remonta a história da humanidade, se você for olhar lá Ulysses, se você for olhar a história... como é que a história é contada tem um processo todinho, eu pego um desafio, vou treinar para esse desafio, encaro o desafio, quebro a minha cara, volto frustrado, aí retomo a desafio, adiante encontro meu mentor, o mentor me dá uma orientação, eu retomo aquilo, um dia eu vou vencer, então tem um ciclo que você vê repetido em todas as histórias, então assim, se fosse esses Vingadores, tem a jornada do herói, então ela está... e se traz para a vida da gente, é exatamente isso, se eu pegar a minha história do meu Everest, é a jornada do herói, ela está em todo lugar.

Nestor Freire: Exatamente, eu costumo dizer, Luciano, que se as pessoas tivessem, de uma maneira geral, se elas tivessem mais consciência do que realmente é a Jornada do Herói, a vida das pessoas seria melhor, porque assim a gente tem...

Luciano Pires: Tem um roteirinho ali.

Nestor Freire: É, você tem um roteirinho e o ser humano, na verdade, ele tende a procrastinação, entendeu? Assim, agora está bom, porque a gente tem uma tendência a economizar energia, então assim, então hoje eu não vou treinar, assim, sabe, então é colocar esses desafios, é dia a dia dentro da sua rotina de vida faz parte do crescimento.

Luciano Pires: O que eu acho legal da Jornada do Herói é que ela contempla o voltar atrás, ela não é só para frente, ela não é um negócio que vai em linha reta sempre para frente, bateu voltou, cara, volta, refaz, pega de novo, faz, então ela tem um vai e volta. Eu uso muito isso na palestra do Everest, que eu falo aquela história de como é que o alpinista chega no topo da montanha, ele não sai subindo e chega lá, ele para e volta, ele vai e volta.

Nestor Freire: É muito interessante isso.

Luciano Pires: Então, nove horas subindo, ele chega lá em cima, o que ele faz? Ele volta, desce e vem dormir aqui embaixo, ele leva seis horas, o que tinha levado nove, agora é seis, e ele volta, agora é quatro, então esse vai e volta faz parte da subida. Mas então, você faz a primeira viagem, o saldo da tua viagem da estrada real, que foi a primeira que você fez, chegou ao final, você parou e pensou, meu, isso aqui é o máximo ou então, não, isso aqui é muito doído, desse jeito não dá, qual foi o saldo no final dela?

Nestor Freire: Cara, foi uma sensação de prazer enorme de ter conquistado, chegado ao mar, simbolicamente, termina em Paraty a viagem, então a estrada, ela chega ao mar, que era o caminho do ouro na época da colônia aqui no Brasil, então eu fiquei em êxtase quando eu cheguei, eu falei, puta que pariu, eu quero fazer de novo, entendeu? Eu quero fazer de novo.

Luciano Pires: Quantos dias?

Nestor Freire: Não foi muito, foram 16 dias só.

Luciano Pires: Bom, mas 16 dias em cima de uma bike para rodar 1200 quilômetros.

Nestor Freire: Para rodar 1200 quilômetros, então assim um desafio muito grande a questão do calor, depois eu ia enfrentar mais aí o calor nas viagens seguintes, e o frio também, mas assim como primeira viagem ela foi impactante.

Luciano Pires: Então, a minha praia não é a bike, minha praia é o tracking, fazer o tracking, a viagem a pé, e a gente quando olha as várias... os vários trackings, tem muitas trilhas famosas no mundo, os caras medem ela por dois pontos, tem a medida... o desafio físico e tem o psicológico, dão notas, então por exemplo, o desafio psicológico de sair daqui para ir para o monte Roraima é muito maior do que sair daqui e ir para o monte Everest, entendeu? Porque você vai sofrer mais, e o psicológico o que que é, cara? Eu vou para o monte Roraima, eu vou andar na lama, na chuva, mosquito me picando, cara, é uma merda, um calor desgraçado, então é um sofrimento psicológico que derruba você. E muitas vezes a questão não é nem física, cara, eu desisto porque eu estou psicologicamente acabado. Então, tem notas. Com bike é assim, você quando olha para uma trilha é assim também?

Nestor Freire: Eu costumo dizer para as pessoas que às vezes... eu trouxe até um livro aqui para você que a gente vai falar depois, mas fiz a travessia do Brasil de norte a sul, do Oiapoque até o Chuí, 6400 quilômetros, e eu tinha... qual a pergunta que você fez mesmo?

Luciano Pires: Não, eu estou comentando do desafio físico e psicológico.

Nestor Freire: Perdão, do desafio físico e psicológico. Eu costumo dizer para as pessoas que... as pessoas, que legal, caramba, você deve ter se preparado fisicamente tantos anos para fazer essa viagem do Oiapoque ao Chuí, foi muito difícil, peguei 56 graus de temperatura em Palmas no Tocantins, daí eu costumo... a minha resposta geralmente é que é 30% físico e 70% psicológico, porque se não é muito difícil você concluir o que você se propôs a fazer. Porque tem justamente isso que você tinha falado anteriormente, esse vai e volta, e às vezes quando... e aconteceu comigo de um dia que eu estava em uma cidade fronteira do Tocantins com o Pará, eu me olhei assim no espelho, cara, eu estava esquelético, porque eu tinha passado muito mal, tive desidratação por conta do calor extremo, eu falei assim, cara, eu não vou conseguir terminar essa viagem, cara, eu estou na divisa do Pará com o Tocantins, eu tenho que chegar no Rio Grande do Sul, cara, entendeu? Vai ser muito difícil terminar essa viagem. E daí foi aquele momento que você volta, você assenta as coisas, você sai um pouco desse pânico que você cria na sua cabeça e vai de pouquinho, daí você vai de pouquinho, vai experimentando, daí foi assim, até o dia 72, quando eu cheguei lá.

Luciano Pires: Eu joguei bola durante muito tempo, era goleiro, joguei muita bola, futebol de salão, muito futebol de salão, depois passou o tempo, fiquei um pouco mais velho, aí eu com 30, 35 por aí, eu jogava futebol society, lá em uma quadra em Alphaville, estava lá eu, aquilo era... quarta-feira à noite era dia do jogo, então não me inventa casamento, nascimento, não inventa nada que eu tenho meu jogo que é sagrado. E um dia, eu já devia estar com meus 30 e cacetada, talvez até 40, alguma coisa assim, eu estava lá jogando, fui jogar, estou eu lá no gol, chovendo, frio para cacete e eu no gol, de repente, cara, de repente, uma luz, o que que eu estou fazendo aqui, cara? Meu, eu estou na chuva, eu estou no frio, eu já pulo na bola eu me arrebento, que merda eu estou fazendo aqui? Voltei para casa, eu nunca mais entrei em um campo de futebol, e ali eu encerrei, parei de jogar, nunca mais fui jogar, porque foi como se tivesse um momento assim de revelação, sabe? Até então, cara, fazia todo sentido eu estar envolvido com essa coisa, mas estava doendo tanto que virou a chave, sabe? De repente falei, cara, não é mais a curtição, agora começou a doer, agora começou... e eu acho que eu posso gastar meu tempo melhor em outro lugar. Evidentemente a idade, tudo pesou, mas foi um momento assim de revelação, quando você fala para alguém que você chegou lá no lugar, olhou no espelho, estou fudido, que merda, cara, para que isso aqui tudo? Não teve algum momento de você parar e falar, meu, deixa eu voltar para uma vida de gente normal e fazer minha família andar, cuidar dos meus filhos, cuidar de ganhar algum dinheiro ao invés de ficar nessa loucura aqui?

Nestor Freire: Esse daí foi um dos momentos, assim foi interessante, Luciano, porque essa viagem eu fiz em 2020, do Oiapoque até o Chuí pedalando, em plena pandemia sem vacina, e quando eu saí para... quando eu anunciei que eu ia fazer essa viagem, que era julho de 2020, porque eu saí no dia 9 de setembro de 2020 do Oiapoque.

Luciano Pires: Expectativa de chegar quando de volta?

Nestor Freire: Eu tinha um planejamento de... eu consegui bater o prazo que eu...

Luciano Pires: Eram quantos meses?

Nestor Freire: Eram três meses, mas eu acabei fazendo em 72 dias, entendeu? Um pouquinho menos.

Luciano Pires: Você estava casado?

Nestor Freire: Não, nessa época não.

Luciano Pires: Você estava solteiro?

Nestor Freire: Eu estava solteiro, eu tinha uma namorada, mas eu briguei com ela nessa época também. Mas o que eu ia te contar é que quando eu anunciei essa viagem em julho para a família, para a namorada na ocasião, para todo mundo, o pessoal virava para mim e falava, você está louco, cara, você não está batendo bem, deve ser a Covid que afeta o cérebro também. E falavam assim, não, você vai ser atropelado, você vai ser... vai pegar Covid, entendeu? Vai...

Luciano Pires: Os bandidos vão te matar na estrada.

Nestor Freire: É, vão te matar lá em Marabá, as gangues lá do garimpo, sabe, os índios vão te colocar lá em um caldeirão no Amapá. E eu comecei a notar que todas essas pessoas que me dirigiam assim a palavra, o medo era delas e não meu, e como eu estava afrontando o que elas estavam falando, justamente indo no sentido contrário, as pessoas ficavam indignadas, que é mais ou menos aquela cena do filme, não sei se você assistiu, o Midnight Express, o Expresso da Meia Noite, que ele começa a rodar em sentido... em determinado momento ele começa a rodar em sentido contrário do círculo, que todo mundo vai falar... o certo é o sentido horário, por que que ele está rodando no anti horário? O cara é louco.

Luciano Pires: Todo mundo vai parar ele, o pessoal tenta parar ele lá.

Nestor Freire: Tenta parar ele, e ele estava em um manicômio, onde as pessoas já eram loucas, então essa coisa de você... a gente tem a mania de pegar para a gente a situação, o medo, e na verdade, você na verdade está fazendo o desafio dele, entendeu?

Luciano Pires: Então, não tem uma dose... quando você vira para a tua mulher hoje, para a tua família e fala assim, estou embarcando em uma viagem para cruzar o deserto do Saara de bicicleta, vai levar seis meses, e você vai sozinho, não tem ninguém com você, não tem uma dose aí de você...

Nestor Freire: De narcisismo você está falando?

Luciano Pires: Não é narcisismo não, sabe, eu quero tudo para mim, de egoísmo, não tem um egoísmo? Porque vamos para a Disney com a família? Vamos. Vamos para Paris com a família? Vamos. Cara, vou sozinho pedalar durante três meses, não tem um egoísmo aí de você largar todo mundo e vou eu fazer a minha curtição, estou construindo a minha história e quem tiver comigo fica esperando aí que um dia eu volto?

Nestor Freire: É, eu acho que as pessoas que convivem comigo, elas se acostumaram que assim se eu não viver dessa maneira, fica difícil conviver comigo, entendeu? Tanto eu comigo mesmo, e eu com as outras pessoas. Eu costumo dizer que você vai entrar em um relacionamento, e você gera um monte de expectativas em relação ao outro, mas assim, para você estar em um relacionamento bacana, você precisa estar bem em primeiro lugar assim, não adianta você colocar suas frustrações ou suas expectativas no outro.

Luciano Pires: Eu vou arrumar uma parceira que adora bike e que vai fazer...

Nestor Freire: Por exemplo, a minha esposa hoje em dia, ela pedala, entendeu? Ela é uma triatleta também, então ela entende bem o que se passa, então me apoia, fiz algumas viagens com ela também, essas viagens grandes eu faço sozinho, mas fiz também já algumas viagens menores com ela, então...

Luciano Pires: Você sabe que eu fiz, eu fui, eu fiz o Everest, fiz o Polo Norte e fiz o Aconcágua aqui, foram as três grandes viagens da minha vida e eu só não fiz mais porque em 2008 eu virei empreendedor brasileiro, então aí minha aventura passou a ser manter a empresa andando, e aí não consegui mais, é meio que uma desculpa isso, mas cara, realmente eu não consegui mais, ah vou tirar 30 dias, se eu tirar 30 dias não se paga as contas. As três eu fiz sozinho e fiz questão de ir sozinho, embora eu me juntasse a um grupo, então o Everest eu me juntei a um grupo, mas é um grupo norte americano, de gente que vive em outro mundo e eu era o único brasileiro nesse grupo. No Polo Norte eu fui em um navio com gente do mundo inteiro, mas eu estava eu sozinho na minha cabine e eu era o único sul-americano já dentro, era eu. E no Aconcágua, eu estava indo com um grupo, troquei o grupo, mas fui no grupo brasileiro lá. Mas tinha essa ideia mesmo de eu vou me jogar nisso, porque se eu levar alguém comigo, por exemplo, meu filho, minha filha, minha mulher, meu primo, eu passo a ter uma preocupação com o bem-estar dessa pessoa, e aí o meu foco que era deixa eu focar na montanha, passa a ser eu vou focar na montanha, mas eu estou preocupado com as pessoas que estão comigo, sobre as quais eu vou ter algum tipo de responsabilidade, mesmo que a pessoa seja... cara, pode ser um amigo que foi, entendeu? Eu tenho com ele, porque cara, eu quero estar vivo, mas esse cara tem que estar também, então eu estou dividindo a minha atenção, ela devia ser da montanha e passa a ser da montanha, mas também das pessoas. E é uma coisa que eu falo que se é para ir, então eu vou mergulhar de cabeça. Então, a primeira vez que eu fiz para o Everest, eu fiz mais ou menos aquela que você falou do gourmet, eu peguei um grupo tudo pronto, porque eu falei, cara, eu nunca fiz isso na minha vida, é um puta de um desafio, eu quero reservar 120% da minha energia para a montanha, eu não quero reservar a minha energia para montar uma barraca, sabe, montar uma barraca, fazer comida, eu quero... o meu negócio é caminhar na montanha, era a primeira vez e acho que fiz muito certo, mas com o tempo, depois você fala, bom, agora que eu já peguei a manha, agora eu já quero ter a experiência de eu montar a barraca, entendeu? Isso vai desenvolvendo com o tempo, mas acho que tem um lance aí de você, cara, não vem ninguém comigo não, porque aí eu sozinho me preocupo só comigo, só com a minha integridade, eu estou com o foco colocado. É por aí?

Nestor Freire: É por aí, exatamente, é por aí. Quando você... teve uma situação que aconteceu agora, você estava contando, eu estava lembrando também que aconteceu comigo na Islândia, pedalei sozinho o entorno da ilha, e em um determinado momento eu conheci um ciclista canadense, e a gente ficou preso em um vilarejo no sul do país, as estradas fecharam porque teve um temporal nesse dia, e a gente não conseguia sair de lá, e eles têm uma previsão de tempo lá na Islândia muito certa, é muito correta assim, sabe, é incrível...

Luciano Pires: É porque o tempo lá... quando você fala tempestade quem está ouvindo a gente aqui tem no repertório uma tempestade brasileira, tempestades do Brasil, uma grande tempestade no Brasil eu tenho na memória, cara, não tem nada a ver com uma tempestade na Islândia.

Nestor Freire: Não, não tem nada a ver. E assim, a gente monitorando o tempo lá pelo aplicativo deles e por outros aplicativos, o Wind, Vedor, todos os aplicativos que a gente tinha possíveis, a gente viu que abriu uma janela em um determinado momento que possibilitaria a gente pedalar 80 quilômetros, entendeu, pela estrada. E daí partimos aí no dia seguinte, eu e ele, e em um determinado momento, a gente pegou um vendaval, ele ficou para trás, e nessa hora, Luciano, você vê que é cada um por si, cara, entendeu? É muito complicado.

Luciano Pires: Essa foi a situação complicada que você falou que pegou lá de risco de vida, inclusive?

Nestor Freire: Teve outras também, teve piores do que essa, mas assim essa eu estou citando para você porque é o exemplo que quando você... e você acaba ficando preocupado com a pessoa, porque eu falei, ele ficou para trás, eu fiquei na frente...

Luciano Pires: Eu paro para esperar o cara...

Nestor Freire: Não, você imagina você no topo de uma subida, depois de você subir 30 minutos pedalando carregando 60 quilos, entendeu? E o cara não chega e você está ali congelando, você está perdendo calor no corpo, todo molhado, então cara, você tem que partir, meu, entendeu? Você não vai descer, voltar tudo para... você não tem energia para voltar depois, entendeu? Então, é muito complicado quando você está com alguém e você se responsabiliza, que nem você falou, você acaba se responsabilizando de alguma maneira por essa pessoa assim, eu fui com ele até onde dava, depois eu conversei com ele, tinha arrebentado a corrente da bicicleta dele, ele conseguiu consertar, mas assim, é uma situação que você não consegue ficar ali parado, cara assim, você consegue dar apoio e ajuda até um determinado ponto.

Luciano Pires: Quem não vive esse tipo de perrengue, não está lá, não consegue entender, quando eu conto as histórias do montanhismo, o pessoal pergunta, como é que deixaram o cara morrer? O cara está subindo, o cara está morrendo... mas passou, passou pelo cara? Passou pelo cara. E não pegaram o cara? Não, não pegaram o cara. Mas por que que não ajudaram? Não ajudaram porque se você parar para ajudar o cara, morre todo mundo junto.

Nestor Freire: Exatamente.

Luciano Pires: A situação é tão crítica que você tem que tomar uma decisão, cara, ou você se salva ou você morre junto com o cara. E dizer isso como eu estou dizendo aqui parece que, porra, isso é inadmissível.

Nestor Freire: Parece que é desumano.

Luciano Pires: Até porque tem histórias que os caras fazem opções, tem um casal brasileiro que já tentou subir o Everest, a Helena e não me lembro o nome dele, várias vezes, em uma das vezes eles estavam prontos para subir, no meio do caminho encontraram um português, o cara estava acabado na montanha, e os caras tiveram que tomar uma decisão, eles trocaram o cume da montanha, que era um sonho que já tinham tentado várias vezes, para poder ajudar o cara. Então, o cara vê desmoronar o sonho dele inteirinho para ajudar um cara que ele... não era um conhecido assim, não era um amigo, mas espera, vamos pegar o cara e vamos levar o cara, então pegar o cara e salvar o cara significa desistir de todo o restante da missão. Algumas vezes isso é muito nobre, como aconteceu com eles, outras, cara, isso é botar todo mundo em risco.

Nestor Freire: Todo mundo em risco, exatamente.

Luciano Pires: Cara, eu tenho que continuar andando senão eu vou congelar aqui, e se eu parar para ajudar o cara eu não posso fazer nada por ele. São situações limites que só quem entra nesses desafios consegue entender.

Nestor Freire: Exatamente.

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Me fala uma coisa, depois que você fez aquela viagem do... que eu estou entendendo que é aquela viagem tua da estrada real, ainda foi hobby, ainda era hobby?

Nestor Freire: Sim, ainda estava no hobby, exatamente.

Luciano Pires: E aí quando é que o andar de bike vira o teu foco?

Nestor Freire: A chave virou em 2017, com uma série de acontecimentos que aconteceram, um deles foi o falecimento da minha mãe, eu já tinha perdido meu pai para o câncer, minha mãe morreu de câncer também, muito perto dele, um ano e meio depois, então eu falei, cara...

Luciano Pires: Minhas raízes estão... não tenho mais raízes.

Nestor Freire: Não tenho mais raízes, exatamente essa frase que você citou, entendeu? Foi isso que eu pensei, eu falei assim, cara, não tenho mais raízes, e eu... cara, eu estou em um momento que, sabe, não aguento mais fazer o que eu estou fazendo, entendeu?

Luciano Pires: Profissionalmente você estava aonde?

Nestor Freire: Estava com uma empresa no mesmo ramo que eu sempre trabalhei.

Luciano Pires: Era tua, você tinha virado empreendedor.

Nestor Freire: Era minha, eu tinha um escritório bacana assim, sabe, tinha montado um espaço que era meu, comprei lá o espaço, aqui na Vila Mariana também, e daí olhei, um dia eu cheguei lá, olhei para tudo aquilo, eu falei assim, cara, o que eu tenho mais de precioso aqui, e aí olhava assim para as coisas, para os bens materiais, porque era um escritório voltado para decoração de interiores, então era tudo bem montado, com know-how lá dos arquitetos que me ajudaram a decorar e tal, eu tenho experiência em decoração de interiores corporativos também, e daí eu falei assim, cara, não é nada disso que eu... o meu maior patrimônio do aqui são os meus clientes, então não dá para sair assim jogando tudo para cima, fechando as portas, então vou vender essa carteira. E foi esse movimento que eu fiz, eu achei um parceiro comercial, eu fui atrás de um parceiro comercial, vendi a minha carteira para ele, ele começou a ir para o front por mim, atender esses clientes e eu fiquei somente na captação dos clientes, porque eu tinha lá controle de todos os sites, de todas as formas que chegavam os clientes em mim. E daí eu falei assim, cara, eu vou investir no que eu gosto, no que eu quero, no que eu amo, o que que é isso? É viagem de bicicleta.

Luciano Pires: Que idade você estava?

Nestor Freire: Eu estava... hoje eu tenho 55...

Luciano Pires: Foi em 2017?

Nestor Freire: É, 2017.

Luciano Pires: 50, você estava nos 50, 50 anos de idade. Cara, é uma idade interessante, eu fiz o meu turn around aos 52, Jô Soares aos 50 anos de idade deixou de ser humorista para ser apresentador de talkshow.

Nestor Freire: Eu não sabia, cara, eu não sabia que era com 50 anos.

Luciano Pires: É um movimento foda, cara, porque é o movimento em que você rompe com tudo aquilo que você construiu até então para se transformar em outra coisa, você não perde nada daquilo, a raiz está toda lá, tudo aquilo que te levou até o momento em que você decide fazer uma escolha construiu você.

Nestor Freire: Exatamente.

Luciano Pires: Você não vai perder nada daquilo, todo o treinamento que você teve como engenheiro está lá, está tudo presente, lidar com os clientes, tudo isso te ajuda a construir você, e um belo dia você fala, muito bem, agora eu vou sair desse caminho e vou para esse outro aqui, levando tudo o que eu aprendi nesse outro aqui, quer dizer, não é deixo de ser A para ser B e esqueço tudo não, tem uma construção feita lá. Mas tem que haver uma certa coragem de tomar uma decisão dessa.

Nestor Freire: Ah sim, mas você tinha perguntado o que me levou a tomar, eu citei aí a questão da minha mãe e do trabalho, mas assim, eu tenho dois filhos também, e eu praticamente criei esses filhos... hoje eles já estão grandes, um tem 25 e o outro tem 22 anos, inclusive faz audiovisual o de 22 anos, adoraria que ele conhecesse o seu espaço, um dia eu vou trazer aqui se você permitir, e daí na época eles eram muito pequenos quando eu me separei, um tinha quatro anos e o outro tinha dois, e assim por uma decisão em conjunto com a mãe deles, eles vieram morar comigo, e eu acabei criando os dois durante todo esse tempo, então assim essas viagens longas realmente nesse período elas eram muito difíceis de fazer, então a coisa entrava mais por hobby que nem você falou, assim então os meninos vão ficar com alguém no período de 16 dias, agora fazer uma viagem de 72 dias era impensável, hoje em dia já consigo.

Luciano Pires: Quando você decide... quer dizer, com o escritório de design de interiores e de móveis e mobiliário você ganha dinheiro, andando de bike eu não sei se dá para ganhar dinheiro. Quando você vai tomar uma decisão de para tudo aqui, e agora vou me dedicar aquilo que eu curto fazer, que é pedalar e tudo mais, como é que fica essa história do... meu ganha pão vem de onde? Alguém vai me pagar para eu pedalar, eu vou ter que sair por aí para arrumar patrocinador? Como é que você visualizou um negócio que te desse sustento, ou você resolveu virar hippie e viver das pessoas que você encontra, como é que foi isso?

Nestor Freire: Não. Assim, essa foi a primeira pergunta que eu fiz, inclusive, como é que eu vou fazer para me virar? Bom, primeiro quando eu decidi virar a chave, Luciano, eu posso te dizer que eu tinha construído um patrimônio muito bom na área comercial, muito bom na área comercial, e eu fiz dentro disso, fiz um planejamento financeiro para investir no meu negócio, aquela parte engenheiro que você falou, do planejamento voltou à tona de novo e tomei algumas decisões que me deram uma base para me sustentar um tempo e comecei a ir atrás das coisas para fazer o meu negócio virar, então uma das coisas era colocar as minhas publicações em livro, em prática, mas livro não dá dinheiro, livro só...

Luciano Pires: Faz fumaça.

Nestor Freire: Exatamente, e daí o que que foi que eu imaginei? Eu falei, assim eu sempre gostei muito de contar histórias, sempre fui um bom contador de histórias desde pequeno, eu falei, eu vou pegar essas experiências que eu vivo nessas viagens e contar às empresas, vou fazer palestras em empresas e comecei a fazer isso, entendeu? Comecei a fazer palestras em empresas falando da experiência, porque as pessoas, elas têm uma ideia diferente da viagem de bicicleta, que nem você falou, ah o cara é um hippie e tal, viajando, não sei o que, e eu comecei a levar para as pessoas uma forma diferente de olhar, que assim poxa, legal, muito bacana você atravessar o Brasil de norte a sul, só que você precisa fazer um bom planejamento para isso e ter uma boa estratégia.

Luciano Pires: Uma pergunta anterior que as pessoas fazem, para que, bicho? Quando eu falei o negócio da montanha, eu vou para o Everest, bicho, para que? Vou para o Polo Norte para que? Por que que alguém vai em um lugar desse, cara? Cara, isso custa dinheiro, custa tempo, tem risco, para que, para quê? Viajei do Oiapoque ao Chuí, para quê? As pessoas não conseguem entender. E aí eu uso uma frase do George Mallory, que era um alpinista inglês, você sabe a história dele...

Nestor Freire: Inclusive, tem uma citação dele não nesse livro, no meu anterior, do Mallory.

Luciano Pires: Que é do Everest?

Nestor Freire: Isso.

Luciano Pires: Por que que em 1920 e pouco ele se preparando para tentar subir o Everest, mas por que que... o jornalista pergunta, mas por que que você vai lá? Ele falou, porque ele está lá. Because it's there. Por que que você vai lá? Porque ele está lá. E aí tem aquela coisa do ser humano que o... o que que faz o português entrar no navio e se atirar no mar sem saber se volta para casa, o que que faz o explorador se atirar no Ártico, entrar no meio do gelo sem ter a menor ideia se volta para casa ou não, o cara entrar no deserto e eu não sei se eu vou voltar para casa, eu não sei o que tem do outro lado, eu não sei se vai ter um dragão me comendo lá do outro lado. O que que faz alguém sair de casa para... cara, é esse espírito humano, bicho, eu vou desbravar, eu preciso... onde é que está a fronteira, eu quero chegar até ela, eu quero ir além. E quem nunca foi não consegue entender. Você explicou isso aí, você falou, quando eu cheguei no final da estrada real e vi o mar, a sensação que você teve naquele momento é inexplicável para quem não foi lá. Eu abro o meu livro do Everest com um texto de uma uruguaia, gordinha, cara, eu cruzei com ela na trilha, ela estava indo para lá pela segunda vez, a primeira vez ela foi, ela não conseguiu ir e voltou, bem gordinha ela, e ela estava indo de novo, e ela explica lá, o que a trilha do Everest me dá é impossível de explicar para quem não foi lá. Entendeu? Tem que ir para entender o que que é essa coisa da conquista, que é a explicação, por que que você faz isso, cara? Porque bicho, a sensação que me dá quando eu termino um projeto desse e olho para trás, eu falo, cara, eu fiz, é inigualável, é um negócio que é uma cachaça, quero ir de novo, quero fazer outra vez, onde é que é tem outro?

Nestor Freire: É que assim, as pessoas, na verdade, Luciano, querem explicação para tudo nos mínimos detalhes, e assim eu falo às vezes em um verbo só, eu faço porque eu gosto, cara, entendeu? Eu faço porque eu gosto, porque é a minha paixão, porque eu amo, entendeu, fazer isso que eu faço hoje, e essa é a minha missão de vida, entendeu, hoje em dia, é fazer essas expedições e compartilhar essas histórias, esses aprendizados que são muito grandes nessas viagens com o público que, sabe, não tem acesso a isso, que olha para você e fala, porra, esse cara aí tem... sabe, aquilo que eu falei, vai pegar Covid, fica em casa, cara, porra, entendeu? Juntou dinheiro toda essa vida para que? Fica em casa, vai para um spa, assim, sabe, isso não...

Luciano Pires: Os caras falam... eu já tive conversas, o cara, meu, pega essa grana, bicho, vai para Ibiza, vai para Disney, cara, o que que você vai se meter em um perrengue como esse? Bicho, desculpa, cara, ir para Ibiza é fácil, ir para a Disney é muito fácil, é fácil fazer, para qualquer pessoa normal é uma aventura ir para a Disney, é legal, quebra a tua rotina, mas é fácil fazer. Eu quero ver ir para onde ninguém vai, que aí tem um outro... uma recompensa que é aquela que é impossível você contar, que raio de recompensa é essa você poder dizer que cruzei a Islândia de bike, que porra de recompensa tem nisso? Cara, tem que ir, tem que fazer, tem que olhar o desenho, tem que fazer o desenho, e falar, cara, eu vou cumprindo isso aqui e falar, vou passar por vários perrengues, fiz cara, bota no meu currículo.

Nestor Freire: Não, e é incrível, porque assim quem acompanhou a minha viagem pela Islândia e assim, geralmente eu compartilho a viagem nas redes sociais e viu a dificuldade e os perrengues que eu passei por lá. Daí terminei a viagem, voltei para o Brasil, não sei o que, daí me perguntaram, eu falei, poxa, eu sempre faço uma viagem menor, vamos dizer assim, no começo do ano, e a grande viagem eu faço no final do ano, o ano que vem eu vou fazer... a grande viagem ficou para fazer no Japão, eu vou atravessar a ilha. E o que que você vai fazer agora em fevereiro e em março? Eu falei, cara, eu vou voltar para a Islândia. Mas você já se fudeu lá, quer se fuder mais, cara? Eu falei assim, não, não, eu quero conhecer como é que é lá no inverno, entendeu? Eu fui no verão, eu fui em junho, julho...

Luciano Pires: A capital lá é Reykjavik, não é?

Nestor Freire: Reykjavik.

Luciano Pires: Islândia, o nome dela em inglês é Iceland, terra do gelo, que se eu não me engano aquilo é um vulcão, pedra coberta de gelo, quer dizer, a maior parte do tempo é assim, tem umas séries novas que estão na Netflix feitas lá, tem um cinema interessante lá, inclusive, e tem uma série recente que eu assisti lá, que era onde... é uma história, começa a sair gente de dentro de um vulcão, um pessoal que desapareceu, começa a aparecer de volta, tudo, e uma das coisas mais fascinantes ali é uma paisagem que tem lá que é absolutamente árida, não tem nada lá, não é aquela coisa que coisa linda, não, cara, é um lugar árido, mas é fascinante, o mar é horrível, é feio, é gelado, tudo é feio lá nessa série, imagino que tenha lugares lá que são lindos, mas o que que leva alguém a ir fazer uma volta na Islândia, cara, por que Islândia?

Nestor Freire: Bom, primeiro porque quando eu construí o projeto, eu coloquei em um pedaço de papel, um amigo meu que fala isso, toda vez que você quer fazer algum projeto, seja ele de vida ou qualquer coisa, primeira coisa, você só precisa de duas coisas, um papel e um lápis. Então, eu peguei esse papel e esse lápis dessa vez e comecei a rascunhar os lugares que eu gostaria de visitar no mundo de bicicleta, e um deles era a Islândia, sempre tive muita paixão, vontade...

Luciano Pires: No mundo da bike é um lugar... por exemplo, no mundo do tracking a trilha do Everest é o the best, quando você bota no mundo do tracking tem muitas trilhas no mundo, a do Everest é uma que é the best, se não for a mais badalada, mas ela está lá, qualquer compêndio de tracking que você abriu, a trilha do Everest está lá, se eu abrir um compêndio de bike tem a trilha da Islândia lá?

Nestor Freire: Então, isso é muito interessante, porque por exemplo, se você quer pedalar em ciclovias, em lugares seguros que assim, sabe, com uma estrutura bacana de ciclovias e cicloturismo, a Islândia é um dos piores lugares para você fazer isso, porque a Islândia, ela não é convidativa para a bicicleta, não é, às vezes eu encontrava pessoas lá, as pessoas me paravam no meio do campo, o que que você está fazendo aqui, cara? Entendeu? Porque...

Luciano Pires: Por causa do tempo, é isso?

Nestor Freire: Por causa do tempo, a estrada principal deles lá, que é a rodovia 1, ela não tem acostamento, Luciano, entendeu? Ela é uma rodovia sem acostamento e ela é uma rodovia curta, estreita, ela é muito estreita, ela dá a volta no país, a rodovia 1. Então, ela faz o... eles chamam de ring road, que é a rodovia que dá a volta no país, então não é convidativo assim, sabe, você tem tempestade de vento, você tem situações muito difíceis que assim, uma coisa é você estar em uma campervan, outra coisa é você estar de bicicleta exposto à todas essas intempéries.

Luciano Pires: E quando você fala que... e é você e a bike, não tem um carro de apoio, é você e a bike?

Nestor Freire: É eu, a bike e o equipamento de cozinha e o equipamento de camping, assim, toda a comida, tudo, carrego em torno de 50 quilos, carregava em torno de 50 quilos nessa viagem, mas é um país, cara, tanto é que eu estou voltando agora em março, é muito interessante, cara, porque você olha para aquele país, você fala, como que esse povo consegue viver aqui.

Luciano Pires: Eu tenho muita curiosidade de conhecer a Islândia.

Nestor Freire: Assim, sabe, é o que você falou, é uma pedra no meio do mar do norte, cheio de vulcão, então assim, os caras construíram lá um país de primeiro mundo, se não me falha a memória é o quarto ou quinto IDH do mundo o da Islândia, é um top assim, sabe, não tem pobreza, não existe isso lá.

Luciano Pires: Tecnologia é um negócio impressionante lá.

Nestor Freire: Tecnologia de ponta, energia completamente limpa, eles não dependem, a matriz energética deles são as... vem de origem vulcânica e hidrelétricas, então é um país assim muito, muito curioso de você conhecer, com toda aquela atividade vulcânica, então isso me encantou e eu falei assim, rapaz, eu quero pedalar lá, e daí eu fui atrás das informações, conheci ciclistas que moram lá.

Luciano Pires: Eu tenho uma ouvinte minha que mora lá em Reykjavik, mora lá, e ela me escreveu, uma vez ela estava em São Paulo aqui, escreveu para mim, mandou mensagem e tudo, acho que ela foi me visitar na gravação, eu moro lá. Cara, quem mora na Islândia... eu moro na Islândia. Não sei, nunca mais tive contato, mas deve estar lá até hoje. Mas é um país que eu tenho curiosidade. Tem coisas legais aí, cara, eu já era para ter feito muita coisa, sabe? Eu tinha algumas ideias, eu queria cruzar o Saara, eu queria... eu fiz o Polo Norte e fiquei alucinado em fazer o Polo Sul, não fiz porque é muito caro, custa muita grana para ir para o Polo Sul, Mongólia, cruzar o Afeganistão, coisas desse tipo aí. Tem lugares no mundo que quando você olha para aquilo e fala, cara, não tem nada a ver com a trilha normal de um turista normal, é completamente fora, mas aquilo te leva para lugares que é inacreditável. Cara, se você é um cara que prega inovação, fazer diferente em tudo, cara, é na tua viagem que você leva isso ao máximo. Me fala uma coisa agora, em termos de planejamento de uma aventura como essa aí, entendo, uma coisa é o equipamento que você já é do ramo, você já sabe o que é, você bate o olho e bom, já sei o que que eu tenho que ter, você já tem a bike, aliás, a bike é maravilhosa, vou bater uma foto de você com ela, embaixo eu vou ilustrar o programa aqui, o pessoal vê a bike. Você já tem uma ideia clara de equipamento e tudo mais, quando você olha para uma proposta como essa de fazer uma... Islândia não, porque... me dá um lugar mais selvagem, uma coisa mais selvagem, se você quiser ir cruzar a África de bicicleta, que é uma coisa mais selvagem, quais são os componentes que você olha para aquilo, o que que é, quanto disso é logística, quanto é segurança, sabe, quanto é a saber se tem hospital no caminho ou não, como é que você bota, equaciona essas coisas, vou fazer uma viagem pelo Brasil, bom, tem cidades, eu olho o mapa, eu vejo as cidades, mesma língua que eu falo, mesmo idioma, qualquer coisa eu pego o telefone, eu me viro no Brasil, agora se eu for para um país estranho, e eu nem sei o que que eu vou ver lá, o que que você olha, você vai antes dar uma olhada, como é que você faz para estabelecer para não morrer no caminho?

Nestor Freire: Bom, primeiro você tinha levantado alguns aspectos aí, primeira questão é segurança, para mim isso está em primeiro lugar em tudo quanto é... o primeiro item do planejamento que eu faço.

Luciano Pires: Só uma... eu conversei uma vez com um cara, eu não me lembro direito do que que era, eu não me lembro se era de moto ou era de bike, se era de bike, o que que era, mas o cara ia fazer... sair de São Paulo, do sul, e ia para o Alasca de carro, o caminho todo lá, e aí ele falou que quando ele trombou com a necessidade de passar ali pela Nicarágua, El Salvador, os caras falaram, bicho, bota o carro em um barco, manda para outro lugar, não passa por aí, porque tu vai arrumar confusão, no meio do caminho os caras vão te pegar. E ele fez, ele teve que fazer um contorno para não passar por um lugar desses exatamente pelo... o item segurança falou não vá, não faça isso, é esse tipo de coisa que você...

Nestor Freire: Sim, sim. Não, a primeira coisa é ter um equipamento via satélite, eu tenho hoje um para esse tipo de situação que eu enfrento, eu tenho o melhor equipamento via satélite que tem, que é o inint 01:07:20 da Garmin, que inclusive me patrocina, então a Garmin, ela disponibiliza esse equipamento para mim com o serviço, então via satélite eu consigo... não é um telefone especificamente, ele é um equipamento de rastreamento e segurança, com botão de SOS, então essa é a primeira coisa que eu carrego em todas as viagens, seja ela aqui no Brasil ou fora do Brasil. Quando você vai fazer um planejamento estratégico de uma viagem em um lugar muito ermo assim, uma das primeiras coisas que eu procuro é justamente...

Luciano Pires: Como é que eu saio de lá.

Nestor Freire: Não, pessoas que... eu tenho essa facilidade de conversar com... esses encontros até que a gente estava falando aí, encontro humano, com pessoas de lá, ou perto dos locais que eu vou estar, e a melhor pessoa para te dar informação é o nativo, então assim você consegue tirar muita... é muito interessante porque você consegue tirar muita informação e a gente... e eu procuro sempre buscar, eu tenho uma média de quilometragem que me faz... que é confortável para eu seguir uma viagem de longo prazo, dá em torno aí de 75, 80 quilômetros por dia, dependendo também obviamente também da altimetria que também tem uma influência grande, vento, tem um monte de coisa, mas assim, é importante você ter os pontos de apoio, e o ponto de apoio não necessariamente precisa ser uma cidade, ele pode ser um rio, entendeu? Então, quando eu estava atravessando do Oiapoque ao Chuí, para você ter uma ideia, eu dormi em uma aldeia indígena chamada Tucar, mas eu não sabia que eu ia ser recebido nessa aldeia, e assim, eu tinha como plano B, tinha como plano C, tinha plano D e o meu segundo plano era acampar justamente ao lado do rio dessa aldeia, porque quando você sai do Oiapoque você passa por uma dezena de aldeias indígenas, pelo menos toda aldeia ela beira o rio, então eu falei assim, pelo menos é do lado do rio, mesmo que não me deixem dormir na aldeia, eu vou estar mais seguro, até por ter pessoas por perto, por mais que sejam índios, entendeu? Mas antes de saber disso eu fiz uma pesquisa no site da Funai que não ajudou muito, mas tudo bem, mas conversei com pessoas de lá, tinha muito pouca informação sobre o Amapá, sobre o norte do Amapá, sobre aquela região já com divisa com a Guiana Francesa. Então, eu vou meio que é um trabalho de formiguinha, sabe, Luciano? Eu vou pegando informações para compor algo maior para você montar um planejamento, montar uma planilha para poder olhar. E deixa eu só falar mais uma coisa, teve uma coisa interessante, eu fiz uma viagem para o Cabo Norte, na Noruega, em 2019, que é onde as estradas terminam, e eu montei uma mega de uma planilha com, sabe, quanto que eu ia pedalar por dia, quanto tinha de altimetria, qual que era a declividade, era super completa, de altimetria, e daí eu lembro que eu parei em uma vila, eu estava na Suécia, eu parei em uma vila, e encontrei com um rapaz que estava lá no mesmo acampamento que eu estava, daí ele falou assim, eu queria ver aí, você tem alguma coisa para me mostrar onde você começou? Daí eu peguei e mostrei a planilha para ele. Daí ele olhou para mim e falou assim, nossa, rapaz, você tabulou todos esses dados, que fantástico, cara, que planejamento. Daí eu falei, cara, isso daqui não é planejamento, isso daqui é uma planilha, o planejamento é outra coisa, o planejamento é você saber mudar...

Luciano Pires: É botar o conhecimento e cima da informação.

Nestor Freire: Exatamente, e saber mudar na hora que tem que mudar. Não, mas amanhã você vai andar... não, mas é só um guia isso aqui, isso aqui não é planejamento, planejamento está aqui, entendeu? Então, é interessante porque às vezes as pessoas, elas se apegam a esse worksheet, essa coisa, nossa, o cara sabe... e muitas vezes não é.

Luciano Pires: Não, o planejamento é a saída, é encontrar a saída. Qual foi o pior lugar do Oiapoque ao Chuí aí, qual foi o lugar mais complicado, mais... que você achou que, cara, não ia dar, foi aquele que você falou?

Nestor Freire: Ah, foi em Xambioá, que é uma cidade que fica na fronteira do Pará com o...

Luciano Pires: Que tem o Rio Araguaia na frente, não é?

Nestor Freire: Sim, que tem o Rio Araguaia na frente, conta a história de Xambioá, inclusive, tem uma história interessante. Assim, naquele momento o calor, ele estava me derrubando, porque assim, o que acontece? Quando eu saí lá do Oiapoque, eu pegava em torno de 50 graus de temperatura na estrada, e a estrada muito difícil, BR256, ela passa... porque o Amapá, na verdade, ele é um anexo da Floresta Amazônica, então você passa no meio da floresta assim, então a umidade é muito grande naquela região do norte do Amapá. E quando você chega no Tocantins, eu falei, porra, pelo menos eu já baixei de altitude, estou na linha do Equador, cara, o calor, ele fica seco, entendeu? E aquele negócio começa a te sufocar assim, sabe, e eu ia tinha passado mal uma primeira vez lá no Amapá, mas quando eu cheguei em Xambioá eu quase desisti da viagem, porque tive assim sérios problemas gastrointestinais, e tudo o que você pode imaginar.

Luciano Pires: Estava na tua planilha que ia ser assim um lugar ruim de passar?

Nestor Freire: Não estava.

Luciano Pires: Olha o planejamento.

Nestor Freire: Pois é, isso não estava, eu sabia todos os picos de calor nessa época do ano, porque assim, o que que acontece? A BR256, que é a rodovia, e isso fez parte do planejamento, óbvio, que é a rodovia que você atravessa quando você sai do Oiapoque, você não consegue atravessar ela em janeiro, por exemplo, entendeu? Então, ou você vai...

Luciano Pires: Chuva.

Nestor Freire: É, exatamente, só para você ter uma ideia, tem ônibus que sai de Macapá, capital do Amapá, e chega no Oiapoque, Luciano, uma semana depois, só são 532 quilômetros, entendeu, de distância, uma semana para andar 532 quilômetros, então fica parado na estrada, o pessoal desce, sabe, você come... até melhorar a condição. Mas assim, tem uns vídeos assim... você caminhão até o topo, cara, você só vê a parte de cima do caminhão atolado, porque assim é uma rodovia de tráfego pesado, é muito pesado. Ou seja, o que eu quero dizer é que assim, eu tinha que ir nessa época mesmo, e essa época está muito quente, então era a oportunidade que eu tinha de fazer essa parte norte do Brasil que era mais difícil, eu tive outras inúmeras dificuldades assim, por exemplo, quase fui atropelado várias vezes, entendeu? Quando cheguei no sul peguei 5 graus de temperatura, então assim, sabe, muita chuva também em um determinado momento, mas você vai se adaptando, que é o planejamento que a gente falou.

Luciano Pires: Quantos quilômetros deu do Oiapoque ao Chuí?

Nestor Freire: 6475.

Luciano Pires: Em 72 dias?

Nestor Freire: 72 dias, eu fiz uma travessia pelo Rio Amazonas também.

Luciano Pires: E em algum momento você teve que botar a bike em um caminhão, em um carro, em um avião, em um barco?

Nestor Freire: Não.

Luciano Pires: A não ser para cruzar um rio, uma coisa assim?

Nestor Freire: Não, eu atravessei o Rio Amazonas, coloquei a bicicleta dentro de uma balsa para atravessar o Rio Amazonas, e tive oportunidade de conhecer uma cidade muito encantadora no Brasil, gosto sempre de fazer propaganda dessa cidade, que assim, eu acho que todo brasileiro deveria conhecer, que é uma cidade que fica na Ilha de Marajó, que chama Afuá, o pessoal fala que é a Veneza brasileira, porque ela é uma cidade em cima de palafitas, e lá é proibido o transporte motorizado, não é uma cidade pequena, é uma cidade de aproximadamente 30 mil habitantes, que fica na foz do Rio Amazonas.

Luciano Pires: Afuá?

Nestor Freire: É, Afuá. E todo mundo anda de bicicleta nessa cidade, não existe, o carro do corpo de bombeiros é um triciclo, ambulância, tudo, tudo... é proibido você entrar na cidade com qualquer transporte que tenha motor, tem que ser mobilidade ativa, ou seja, bicicleta, skate ou a pé.

Luciano Pires: Que interessante.

Nestor Freire: É, é muito interessante essa cidade, e eu tive a oportunidade de conhecer essa cidade, de estar lá, passar, dormir uma noite, conversar com as pessoas a respeito da cidade. E assim, uma coisa incrível, Luciano, é que assim você fica imaginando um dos países mais desenvolvidos no mundo em termos de ciclo mobilidade é a Holanda assim, Amsterdã, você vê que as criancinhas lá, você vai nas escolas, eu já tive oportunidade de ir para Amsterdã mais de uma vez, você vê que nas escolas, elas têm aula de trânsito desde pequenas, então eles ensinam já as regras básicas do trânsito, de respeito ao ciclista, ao pedestre, do maior para o menor, já ensinam para criança. Em Afuá não tem porra nenhuma disso, e as crianças sabem, respeitam do mesmo jeito, então assim, eu cheguei à conclusão que assim, o Brasil é um país incrível, assim eu sempre falo, eu tenho muito orgulho de ser brasileiro, sabe, de ter nascido aqui, porque lá as pessoas aprendem por osmose, entendeu? Porque assim...

Luciano Pires: É cultural, entrou na cultura do povo, acabou.

Nestor Freire: Entrou na cultura do povo, não tem placa, hoje eu falei... esse ano mesmo eu falei com um morador de lá, falou que agora colocaram algumas placas, mas não tem placa e qualquer tombo que você tenha naquelas palafitas, você cai no Rio Amazonas, Luciano, é uma loucura, entendeu?

Luciano Pires: Cara, eu vou dar uma pesquisada nisso aí.

Nestor Freire: Não, você pesquisa, porque é muito, muito legal, tem até um documentário de 20 minutos que a Renata Falzoni, que é uma ciclista aqui de São Paulo fez...

Luciano Pires: Renata vai estar aí em breve, conheço muito a Renata, a Renata fez comigo um livro, nós fizemos um livro juntos no Pantanal, no Mato Grosso.

Nestor Freire: Ah é? Poxa.

Luciano Pires: Antes dela ser ciclista, eu estou falando de 1988, alguma coisa assim, eu fui fazer... eu trabalhava em uma grande indústria, e eu vendi para os caras a ideia de ao invés de fazer um calendário de mulher pelada no final do ano, fazer um calendário sobre uma região do Brasil, meu irmão tinha contado uma história que tinha os ninhais, que era uma coisa impressionante, onde estão as aves em cima das árvores lá no Pantanal, e eu convenci a empresa, a empresa, vai embora. Aí eu montei uma expedição, fui para o Pantanal, e eu precisava de uma fotógrafa, e na época a Renata era fotógrafa de alguma revista, alguma coisa assim, eu falei, eu não quero um fotógrafo, eu preciso de um fotojornalista, e não de um fotógrafo de pose, o cara que vira para o lado e... e era a Renata, e chamei a Renata, nós fomos juntos.

Nestor Freire: Que legal, cara, quando foi isso?

Luciano Pires: Cara, 87 deve ter sido.

Nestor Freire: 87, caramba.

Luciano Pires: Depois eu perdi contato, outro dia eu mandei uma mensagem para ela, Renata, é o Luciano, vem gravar um LíderCast? A hora que você quiser. Eu vou trazer ela aqui agora. E ela virou uma biker, ela é a maior defensora do negócio da bike aqui no Brasil.

Nestor Freire: Sim, sim, eu tenho uma amizade muito bacana com ela assim, sabe? Tive algumas oportunidades com ela agora no final do ano, a gente fez uma palestra juntos ali em Ribeirão Claro, no Paraná.

Luciano Pires: Porra, meu.

Nestor Freire: Ela é bem paulistana, ela é bem paulistana. Mas ela é uma mulher de um conhecimento assim fora de série, e assim eu sou muito suspeito para falar dela, porque assim o nosso contato profissional, ele vai além dele, assim, sabe, eu gosto muito dela, conheço a mãe dela também, e assim eu tenho muito carinho por ela e assim, para mim assim, tirando esse suspeito que eu sou para falar, mas é a pessoa só ciclismo do Brasil, é ela.

Luciano Pires: Você estava contando que você fez alguma coisa junto com ela, que você estava conversando com ela.

Nestor Freire: É, nós fizemos agora no final do ano, nós participamos de um evento juntos lá em Ribeirão Claro no Paraná, que a gente deu uma palestra, ela falou de ciclo mobilidade, eu falei um pouco de viagem de bicicleta, então a gente participou juntos desse evento que teve lá no Paraná. E também tive uma comemoração, ela faz sempre uma comemoração na casa dela lá com o pessoal do ciclismo, ciclo ativistas, no final do ano também estive lá com ela nesse final de ano, mas já gravei bastante coisa com ela, já fiz YouTube.

Luciano Pires: Ela é uma figura.

Nestor Freire: É, assim é muito querida.

Luciano Pires: Você está indo para onde agora, qual que é a tua próxima?

Nestor Freire: Então, eu tinha te falado que eu...

Luciano Pires: Você vai voltar para a Islândia?

Nestor Freire: É, eu vou voltar para a Islândia, eu quero pegar alguns conteúdos para terminar agora o livro da Islândia, que vai sair agora em 2023, vou dar uma passada antes na Holanda, antes, porque tem uma cidade lá que eu tenho muita curiosidade de conhecer, que é inint 01:22:58 que fica a 46 quilômetros de Amsterdã, daí depois eu vou fazer uma rota de desafio no norte da Escócia, que chama NC500, e daí depois que eu vou para a Islândia, passar 10, 12 dias lá.

Luciano Pires: Essa é a viagem pequena?

Nestor Freire: Essa é a viagem pequena.

Luciano Pires: A grande vai ser?

Nestor Freire: Vai ser no Japão, em outubro.

Luciano Pires: Você vai cruzar a ilha todinha?

Nestor Freire: Vou cruzar a ilha todinha, estou na...

Luciano Pires: Quantos quilômetros?

Nestor Freire: Ah não dá muito não, vai dar uns 2700 quilômetros, não vai dar muito não, mas assim, então já estou na busca aí de patrocinadores, de empresas que queiram a minha palestra, que queiram saber um pouco mais assim, fazer essa analogia do planejamento de viagem com a vida profissional, e estou aí batalhando assim.

Luciano Pires: Como é que a gente te acha, quem quiser te encontrar, dá os caminhos aí.

Nestor Freire: É www.giraventura.com.br.

Luciano Pires: Giraventura, giraventura?

Nestor Freire: É, giraventura.com.br e tenho redes sociais, só jogar projeto Giraventura que você acha em tudo quanto é rede social, tenho Twitter, tenho Instagram, Instagram eu sou muito forte. Ou entrar pelo site mesmo www.giraventura.com.br.

Luciano Pires: Estou com o livro na mão aqui, Do Oiapoque ao Chuí, daqui a pouquinho ele vai fazer uma dedicatória aqui para mim. Legal, o livro em cores, excelente produção aqui.

Nestor Freire: Dois anos de trabalho para escrever esse livro.

Luciano Pires: Imagino, essa foto da bike aqui, é a bike que está aqui é aquela que está ali embaixo?

Nestor Freire: É, essa daí que está ali embaixo. E essa foto é na BR256, na parte asfaltada dela. E a foto da capa é a foto do farol do Chuí.

Luciano Pires: Ótimo. Meu caro, é isso aí, bicho, como é que é? O negócio é não parar, os americanos chamam de momentum, nunca perca o momento, não para, o negócio é não parar e continuar fazendo aí, que eu acho que você acaba inspirando um monte de gente, mas principalmente conhecendo esses lugares fantásticos aí e mostrando para a gente como é que é, não é? Espero que venha muito mais livro aí, muito mais palestra e que você tenha a chance de fazer muito mais loucuras aí. O dia que você quiser ir para ao Everest de bicicleta, você me dá um alô, eu te aviso, tem uns malucos que vão.

Nestor Freire: Isso é difícil, mas não, vou fazer, cumprir as etapas aí do projeto, que tem etapa até 2027 do projeto, entendeu? Então, tem bastante coisa pela frente.

Luciano Pires: Haja pedal.

Nestor Freire: Tá bom? Tchau, querido.

Luciano Pires: Caro, grande abraço, feliz 2023 para você aí, grandes viagens, viu?

Nestor Freire: Eu que agradeço, cara, um abraço.

Luciano Pires: Um abraço.

Luciano Pires: Muito bem, termina aqui mais um LíderCast, a transcrição deste programa você encontra no LíderCast.com.br.

 

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