LíderCast 260 - Helder Peixoto

Data de publicação: 08/02/2023, 10:59

 

 

Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite. Bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o PodCast que trata de liderança e empreendedorismo com gente que faz acontecer. No episódio de hoje, eu trago um velho e querido amigo, o Helder Peixoto, que é um dos donos da Casa de Vídeo, uma produtora que está no mercado desde os anos 90. Conversamos sobre esse mundo da produção de eventos. Das dificuldades para sobreviver num segmento que passou por diversas crises. E por uma revolução tecnológica. Pitadas sobre liderança, conquista de clientes e algumas reminiscências fazem deste, um papo nutritivo. Muito bem. Mais um LíderCast. Esse aqui... eu não vou mais dizer que é especial. Porque toda vez que eu começo o LíderCast, eu falo que é especial. Mas esse aqui é especial.

Helder Peixoto: Você fala isso para todos.

Luciano Pires: É. É uma história antiga. Vamos contar como que essa figura chegou aqui. Esse caso aqui começou em 1990, 91.

Helder Peixoto: Não fala isso

Luciano Pires: É verdade. 90; 91. A gente começou a trabalhar junto.

Helder Peixoto: Já começou a doer as juntas.

Luciano Pires: Ele como fornecedor. Viramos amigos aí. É uma história compridíssima. Mas o fato é que eu fiquei... desde que eu comecei o LíderCast, que eu falo para ele: vamos gravar. E o bicho sempre dá um jeito de: ah, amanhã. Hoje eu quase que... marquei. Quase que melou de novo. Mas eu falei: vamos lá. Vamos gravar. Então, eu começo o bate-papo com três perguntas que são as únicas que você não pode errar. O resto você pode chutar à vontade. Essas três você tem que ir na linha. Seu nome, a sua idade e o que você faz?

Helder Peixoto: Quando entra para essa segunda pergunta... eu posso errar a primeira. Mas quando você fala a idade, o cara já não lembra mais o nome. Helder Peixoto. 62 anos bem vividos. E tenho uma produtora de vídeos. Sou o diretor artístico dos eventos corporativos.

Luciano Pires: Conheci o Helder já como dono de uma produtora. Como chama a sua produtora?

Helder Peixoto: Casa de Vídeo.

Luciano Pires: Casa de Vídeo. É a mesma?

Helder Peixoto: É a mesma.

Luciano Pires: Quando que você começou?

Helder Peixoto: 90. Eu acho que 90 foi quando a gente oficializou Casa de Vídeo como nome. Mas desde 85 a gente está aí na estrada.

Luciano Pires: Então? As condições que eu conheci o Helder foram sensacionais. Eu era o diretor da Dana, indústria de autopeças. E a gente tinha que fazer uma série de eventos para lançamento de um produto, que era uma coisa muito inovadora para nós. Era a primeira vez que a gente entrava para concorrer com um baita concorrente. O produto era anel de pistão, dominado pela Cofap, que é um monstro no mercado brasileiro. E a gente pequenininho. Ia chegar lá para brigar com a Cofap. Então nós tivemos que fazer uma sequência de lançamentos. A ideia era viajar o Brasil, fazer uma série de eventos e tudo mais. Eu precisava de uma produtora para me ajudar a organizar os eventos e tudo mais. E eu não sei como que a Casa de Vídeo chegou. Deve ter sido indicação por algum fornecedor. Alguém chegou. E nós: vamos chegar lá? E fomos trabalhar. E aí quando eu comecei a trabalhar com o Helder, eu tive uma sacada. Eu falei: esse cara é dos meus. Porque com o Helder não tinha tempo quente. Então cara, vamos fazer? Vamos fazer. Dá um jeito. Se vira. E a gente se virava. E a gente conseguiu botar dentro do budget. Conseguiu fazer com uma baita flexibilidade. E com uma margem de erro gigantesca. Porque tinha tudo para dar errado. E a gente fez um lançamento que foi memorável; o que a gente fez lá. Foi o Helder que me apresentou o Beto Hora. A gente fez um trabalho muito legal. Foi tão legal que a gente – dali para frente – começou. Continuou a trabalhar. Acabamos virando amigos. Fizemos uma série de coisas acontecendo lá. E aí a vida carregou cada um para um lado. Mas o Helder está lá. E o Helder é o tipo do amigo, que a gente não se vê. Mas o simples fato de ele estar lá, já dá um conforto. A gente sabe: a hora que eu precisar é só tocar o telefone, que o bicho atende lá. A gente acabou ao longo do tempo desenvolvendo essa amizade. Então é muito bom estar com você aqui.

Helder Peixoto: Não. Sou eu que agradeço. Foi muito, muito, muito legal. Aquele foi o primeiro roadshow que a gente fez, eu acho. Eu nunca tinha pensado na vida, que a gente pudesse botar uma equipe dentro de um ônibus e sair pelo Brasil com todos os equipamentos, com toda a parte de produção. Tinha tudo.

Luciano Pires: Sim.

Helder Peixoto: Você lembra? A gente levava tudo.

Luciano Pires: Era uma tonelada e duzentas de coisa.

Helder Peixoto: Era louco. E aí avião, também. Pegava. Porque a gente foi Brasil mesmo.

Luciano Pires: Eu acho que foram 13 capitais, se eu não me engano. 13 capitais que a gente fez.

Helder Peixoto: Exato.

Luciano Pires: Foi por volta disso aí: 13 capitais. E em cada capital, a gente chegava, montava uma estrutura e fazia um evento que tinha como atração do evento... era um telão. Que na época era uma loucura: tem um telão no evento. Tinha um telão. Naquele telão tinha uma projeção do Serginho Leite.

Helder Peixoto: Saudoso Serginho Leite.

Luciano Pires: Onde ele apresentava. Ele falava aquilo tudo.

Helder Peixoto: Imitava o Pelé. Ele imitava vários personagens.

Luciano Pires: No telão. E naquele telão, a gente escolhia. Apresentava três candidatas para ser uma delas, escolhida a Garota Albarus, na época. Era assim. E no lance, a apoteose do evento era quando – depois que as três eram escolhidas; tinha que escolher qual das três era a Garota Albarus – as três saíam da tela e se materializavam as três, ao vivo...

Helder Peixoto: Exato. Tinha uma passarela.

Luciano Pires: E ninguém acreditava que aquelas três estavam lá. Porque toda a interação era pela tela.

Helder Peixoto: E aí o Beto saía da tela também. E aí começava com as imitações ao vivo lá para a galera.

Luciano Pires: Que lance que era. Interação com a tela. A tela brigava. Um garçom derrubava as coisas no chão e o cara da tela falava. Foi uma loucura aquilo. Era muito louco. Era muito novo. Mas deu muito certo. Funcionou muito bem. Você nasceu aonde?

Helder Peixoto: Eu nasci aqui em São Paulo.

Luciano Pires: Paulista mesmo, da gema?

Helder Peixoto: Paulista. Eu nasci no Hospital São Paulo, para não deixar dúvidas de quanto paulistano eu sou.

Luciano Pires: Tem irmãos?

Helder Peixoto: Tenho dois irmãos. Um casal, mais velhos. Claudionor; ele reclama até hoje do nome, mas fazer o quê? O nome da mãe do Caetano.

Luciano Pires: É Dona Nono.

Helder Peixoto: É. É Claudionor o nome dela.

Luciano Pires: Eu não sabia. Dona Canô.

Helder Peixoto: E a Maristela. São meus dois irmãos.

Luciano Pires: O que seu pai e sua mãe faziam?

Helder Peixoto: Meu pai, coronel da PM. Minha mãe, do lar. Ela sempre foi. Mas assim, na minha infância, eu lembro muito. Eu acho que eu entrei um pouco mais para essa área, porque eles gostavam muito de atuar nos teatros da comunidade. Então tinha lá na igreja, tinha teatro. Então eles faziam peças. Estavam sempre envolvidos. O meu pai era maestro do coral da igreja. A minha mãe ensinava violão em casa. Então eu estava sempre... eu acho que foi isso que me levou a gostar desse lado artístico.

Luciano Pires: Sua mãe eu conheci. O Helder montou um esquema na empresa dele, que é uma baita família. Não sei se ainda tem. Mas tinha o almoço.

Helder Peixoto: Exatamente. Para conquistar clientes. Se não conquista pelo seu negócio, você conquista pelo estômago.

Luciano Pires: A gente chega lá e tem um almoço. O almoço é como se fosse um almoço de família. Todos os funcionários. A sua mãe cuidava da...

Helder Peixoto: Isso.

Luciano Pires: Não sei se cuida ainda?

Helder Peixoto: Não. Agora ela está quietinha em casa. Está com 93 anos.

Luciano Pires: Era muito legal. Como era o teu apelido quando você era criança?

Helder Peixoto: Eu nunca tive.

Luciano Pires: Não?

Helder Peixoto: Eu nunca tive apelido. Nunca. Tentaram. Mas nunca pegou nenhum apelido. Eu não sei se é porque eu acho que eu nunca liguei.

Luciano Pires: É só por isso.

Helder Peixoto: Mas eu nunca tive. Impressionante.

Luciano Pires: O que você queria ser quando crescesse? Molequinho lá?

Helder Peixoto: Ah, eu tinha tendência a querer seguir a carreira militar, por causa do meu pai. Mas eu fui tanta coisa. Eu fui para o lado de Economia, fui fazer Economia no Mackenzie. Não tem nada a ver comigo.

Luciano Pires: Você se formou?

Helder Peixoto: Em Economia no Mackenzie. Aí você imagina: eu fui ser salva-vidas. Porque meu pai era diretor do Clube da Polícia Militar. Aí eu frequentava muito. E eu gostava de nadar. Lógico, eu não gostava somente de nadar. E somente de... tinha o fato de ter aquele...

Luciano Pires: As meninas todas de olho no salva-vidas.

Helder Peixoto: É. De você ter aquela visão romântica do salva-vidas. Aí eu resolvi ser salva-vidas. Fui fazer curso. E aí fui durante muito tempo. Então, eu intercalava o banco – eu fui trabalhar em banco, porque eu estava fazendo Economia – com o final de semana, sendo salva-vidas de piscina. Olha só que coisa legal.

Luciano Pires: Não faço ideia disso. Quando que o mundo do vídeo... eu quero chegar depois na produtora. Porque uma das ideias que eu tive para chamar você aqui é o fato de você ter uma produtora de vídeo há 30 anos.

Helder Peixoto: É.

Luciano Pires: Produtora de vídeo hoje é um dinossauro. Caiu um meteoro. Acabou com 90% do que existia. Algumas sobraram. E você tem um mérito. Você continua com a produtora de vídeo. E passou por isso tudo. Então eu falei: eu quero trocar uma ideia com ele sobre isso aí. Mas como você chega lá? Como é que você chega nesse mundo?

Helder Peixoto: Primeiro: eu gostava. Eu gostava muito dos bastidores. Eu sempre gostei dos bastidores de tudo que eu pudesse olhar, mesmo nos teatros amadores. Eu adorava a coxia. Eu adorava estar lá atrás e ver como as coisas aconteciam e como chegavam lá. Naquela época – você lembra – as câmeras... era... tinha o Viewfinder, que era o monitorzinho da câmera. Era preto e branco.

Luciano Pires: Sim.

Helder Peixoto: Então eu achava aquilo fantástico. Quando eu podia acompanhar alguma gravação de algum lugar. Eu olhava. Aquele Viewfinder estava em preto e branco. E eu olhava a cena colorida, ao vivo ali, acontecendo. Então eu achava aquilo um mundo fantástico, fascinante. Aí eu resolvi entrar no meio. Claro, para ganhar dinheiro, eu comprei câmeras e fui fazer eventos sociais.

Luciano Pires: Você já entrou como produtor? Você entrou para produzir?

Helder Peixoto: Eu precisava ganhar dinheiro. Então, o que eu fazia? A gente comprou; eu e meu irmão. Meu irmão que começou com a história. A gente já fazia alguma coisa com Super 8, etc. Eu gostava disso também, de fotografia, sempre gostei. Mas para ganhar dinheiro, a gente comprou os melhores equipamentos VHS, Sony, Mitsubishi da vida.

Luciano Pires: Você está falando de anos 80?

Helder Peixoto: Exatamente, anos 80.

Luciano Pires: Aqueles trambolhos.

Helder Peixoto: Exato. Eu tinha que andar com uma bateria de moto, carregando no ombro, para poder sustentar o tempo de gravação de um casamento. E eu muito chato, eu ia muito arrumadinho, na época. Os fotógrafos começaram a ver isso como uma novidade. E chamavam a gente. A gente ia e gravava nas melhores igrejas de São Paulo. Brasil, eu cheguei a fazer algumas fora de São Paulo. Mas Nossa Senhora do Brasil, eu fazia direto. Perpétuo Socorro. Cruz Torta. Ali na Paulista, a Ortodoxa. A gente ficava lá parado, gravando um casamento atrás do outro. Não tinha gente que fazia isso.

Luciano Pires: Sim.

Helder Peixoto: E a gente tinha um perfil diferenciado para fazer a edição do trabalho, naquela época ainda. E as pessoas não tinham nem VHS. A gente tinha que mostrar o casamento, levando o VHS até a casa do noivo, depois que ele voltava de lua de mel. Ia eu com o equipamento. Montava na TV deles. E mostrava para a família reunida lá, aquela uma hora e meia. Olha que coisa mais legal do mundo. Pensar isso hoje. A família toda reunida. A gente mostrava. Aí depois, eu pegava o equipamento, ia embora. E no dia seguinte: eu vou comprar um G9, um JVC G9. Lembra daqueles?

Luciano Pires: G9 era o Panasonic.

Helder Peixoto: Eu vou comprar. Então, no dia seguinte, eles compravam. Eu acho que eu comecei a dar...

Luciano Pires: Popularizar...

Helder Peixoto: Popularizar o uso do VHS aqui em São Paulo. Mas aí disso, eu já fui ser... entrei em produtoras de filmes, para poder ficar junto. Então eu fui ser modelo, ator de comerciais, modelo de mão, modelo de pé. O que quisessem que eu fizesse. Vem aqui, porque a gente está precisando de alguém que tenha... a tua mão é bonita. Vem aqui. Você vai espremer laranja enquanto o ator fala. Você vai ter o detalhe. Beleza. Eu ficava lá. Faziam a minha mão e tal. Para poder participar. Para poder estar dentro e entender como é que funcionava o esquema todo dos bastidores. Que tipo de equipamentos que eles usavam. A iluminação. Eu era o cara mais chato do mundo, de ficar conversando com os técnicos, enquanto os caras ficavam ali. Os atorezinhos ficavam lá fazendo a sua maquiagem, fazendo as coisas. Eu estava conversando com os técnicos. E daí o gosto foi indo, foi indo, foi indo. Ao ponto de a gente... e não sei como, caímos também no lado corporativo. Já sei quem indicou a gente. Eu acho que foi o Wagner – infelizmente faleceu – o Wagner da WRC, que vocês faziam alguma coisa de audiovisual com slides com eles.

Luciano Pires: Sim. Exato.

Helder Peixoto: E ele me procurou. Justamente. Foi ele um dos caras que me colocou dentro do corporativo.

Luciano Pires: É verdade. Eu nem me lembrava mais.

Helder Peixoto: Foi ele.

Luciano Pires: A gente fazia muita coisa com slide, [inint 00:16:42]. Ah, meu Deus do céu. Que loucura aquela época lá. É verdade. Aí foi o salto do slide para o... e a gente precisava fazer aquela produção. E o slide não bastava.

Helder Peixoto: Exato.

Luciano Pires: Tinha que ser alguma coisa de vídeo lá.

Helder Peixoto: Atenção vocês jovens: depois a gente vai dar um glossário no final. O Luciano promete. Explicando o que é slide. O que é cada uma dessas coisas que os tios estão falando aqui.

Luciano Pires: Sim. O que é VHS. Ninguém sabe mais o que é VHS. Ontem eu vi um post engraçadíssimo, em inglês. Era um foto de uma fita cassete, só da parte de cima dela, com um adesivo, com um durex em cima dela. O cara mandou assim: quem conseguir lembrar o que é isso...

Helder Peixoto: Quem não fez isso?

Luciano Pires: Por que o durex na...

Helder Peixoto: A gente punha o durex nessa partezinha do VHS para poder reutilizar o VHS. Gravar em cima.

Luciano Pires: Tinha um tabzinho, que você quebrava. E aí deixava...

Helder Peixoto: Isso. Quebrava o lacrezinho.

Luciano Pires: Não deixava gravar nada em cima. Você tinha que botar o durex para liberar.

Helder Peixoto: Exatamente.

Luciano Pires: Mas aí como você faz a transição de dois caras independentes fazendo isso aí, para uma produtora? Que aí já precisa de gente. E eu me lembro que na época uma coisa que chamava a atenção: produção de vídeo era um negócio gigante. Era câmera grande. Era muita gente. Era sempre uma confusão. Eu ficava puto quando eu ia gravar um vídeo. Estacionava um caminhão de externa lá na frente. E puxava cabo e iluminação. Era um negócio pavoroso. Era uma estrutura que não era pequena. Quando a gente vê hoje um cara com uma camerazinha na mão, detonando. Naquela época eram três, quatro, cinco, seis. Como é que vocês fazem um salto do produtor independente, que se vira; para uma empresa estruturada e...

Helder Peixoto: Eu acho que foi orgânico lá. Eu não tenho como... eu não tenho um ponto. Não teve um ponto de: vamos agora. Vamos montar. E vamos crescer de uma hora para outra. Eu acho que não. Eu acho que foi orgânico. A gente foi aos poucos, a gente foi atendendo à demanda do corporativo que vinha. Quem começou realmente, quem nos indicou foi o Wagner. Inclusive você foi um dos primeiros clientes. Aí logo em seguida veio o Banco Francês e Brasileiro. A gente só está falando de coisas que morreram. O Banco Francês e Brasileiro. E a gente trabalhou muito para eles, fazendo vídeos diferentes. Então, a gente quebrou alguns paradigmas na época, onde as produtoras que atendiam eram grandes produtoras. Eu lembro TVT. Tinha uma produtora do Osmar Santos aqui em Moema, aqui perto. Tinham várias produtoras. GTech. Que atendiam. Mas eles atendiam naquele formato corporativo, com locutor falando daquele jeito: desde 1974 a empresa...

Luciano Pires: Tinha o locutor...

Helder Peixoto: Tinha o Neville, tinha o Guilherme Queiroz.

Luciano Pires: O Neville que fazia em português e inglês. E a trilha sonora era Jean-Luc Ponty.

Helder Peixoto: Isso. Exatamente. Jean-Luc Ponty. E o Neville no final, quando ele acabava a locução. Mas era fantástico. Eu adorava também. E aí a gente quebrou isso. A gente entrou com uma linguagem muito jovem na época. Tanto que hoje em dia, a gente não pode mais fazer o que a gente fazia. De fazer brincadeiras dentro dos eventos corporativos.

Luciano Pires: Sim.

Helder Peixoto: Levei, por exemplo...

Luciano Pires: Para você que está nos ouvindo aqui, nós estamos falando da época do surgimento da MTV.

Helder Peixoto: Exatamente.

Luciano Pires: Não existia MTV ainda. Ela ia surgir em 90, 91.

Helder Peixoto: Exatamente.

Luciano Pires: Aí ela ia quebrar tudo. Ela apareceu com uma linguagem completamente nova.

Helder Peixoto: É. Eu não gosto dessa história de falar: eu fiz primeiro do que fulano. Mas a verdade é que a gente levou o Beto Hora para eventos, para fazer aquelas brincadeiras, que depois a gente via no Pânico. Via na MTV. Onde você entrevistava as pessoas, brincava com as pessoas. Fazia dublagens. Imagina: isso num evento corporativo. Vendedores vendo isso no final do evento. Eles morriam de rir. Adoravam. Marcava. E aí na sequência vinha uma Mix Som fazer um vídeo de encerramento. Ficava meio que...

Luciano Pires: É verdade.

Helder Peixoto: Não ficou tão legal esse nosso vídeo de encerramento. Porque vocês quebraram tudo...

Luciano Pires: O que nós tínhamos até então era um padrão. O evento tinha... não era nem mestre de cerimônias. Era um apresentador de terno, todo soturno. Senhoras e senhores: queremos agora ler aqui bá-bá-bá. E tinha entrega de prêmios. Aquela coisa enfadonha. Era tudo muito regrado, muito...

Helder Peixoto: Exatamente...

Luciano Pires: Todo mundo cheio... de repente, entravam esses malucos...

Helder Peixoto: Isso...

Luciano Pires: E metia lá dentro o Beto Hora fantasiado de Nérso da Capetinga, que entrava já quebrando tudo. E a plateia caía na gargalhada. E aquilo mudava o clima do evento. Era completamente diferente.

Helder Peixoto: E daí para frente, os clientes começaram a solicitar mais a gente. Inclusive na criação do evento. Poxa, já que vocês têm umas ideias tão legais para fazer aqui nesse espaço tão reduzido. E se vocês entrarem para ajudar um pouco mais, desde o começo? Lá na hora que a gente está criando esse evento? Senta aqui com a gente. Aí eu falei: poxa, legal. Aí começamos a entrar nessa de virar uma agência de eventos. E num determinado momento, a gente virou uma agência de eventos.

Luciano Pires: Isso quando? Quando que vocês fazem essa transição?

Helder Peixoto: Foi em 2005, eu acho. Porque a gente já estava fazendo. Já estava criando. Já estava ajudando no processo inteiro, desde a criação de um logo, de um tema, do mote do evento até a entrega. Até cenário. Ou até entrega mesmo de produção do evento. E aí as pessoas começavam: poxa, mas vocês são casa de vídeo? Casa de evento? Casa do quê? Aí resolvemos. Está certo. Então vamos criar uma agência aqui. Daí a gente criou uma agência. Para isso, eu trouxe gente de fora, do mercado. Montamos uma empresa chamada Tempero da Casa. Inclusive teve a brincadeira por causa da comida lá, que todo mundo gostava tanto da comida caseira, do tempero. Eu falei: então vamos fazer o Tempero da Casa. E aí essa agência ficou comigo durante – acho – três anos, quatro anos. E aí eu vi o quanto é ruim você ser responsável pelo tamanho da camiseta que o cara vai receber na hora que ele está chegando ali. Ah, vocês erraram a grade da camiseta. E sobrava para quem? Para a pessoa mais conhecida. Aí eu falei: ah não. Aí vendemos para os próprios funcionários nossos, que continuaram. Tocaram. E a agência continua até hoje. Está lá firme, até hoje.

Luciano Pires: E a produtora você montou com foco lá?

Helder Peixoto: A produtora... aí voltamos para o foco...

Luciano Pires: Tem um case interessante aí. Eu tenho uma palestra chamada Planejamento Antifrágil, aonde eu vou para a nascente do planejamento. Então, o que você faz? Primeiro tem um processo todo de especular. De ver como é que estão as coisas. Depois tem o envolvimento do pessoal. Aí tem explorar as possibilidades. E tem a execução. Aparecem quatro coisas lá. E aí eu bato muito na tecla de que a gente tem o erro de fazer todo o processo de criação. E aí levar para a execução. Quando a execução devia estar no começo. Você tem que ter alguém da execução no começo. Então quando você fala para mim: deixa eu encampar tudo? Para mim fica muito claro que muda tudo. Porque quando a gente senta para ter uma ideia e na mesa está sentado junto com a gente o cara que tem possibilidade de executar. Ele não só vai ajudar a gente a deixar aquela ideia mais eficiente. Como ele vai trazer para a mesa, possibilidades que a gente nem sonha. Então você fala: o cara da produção está aqui e nós vamos criar um negócio. Vem cá: dá para fazer? Não. Isso não dá. Não. Faz por aqui, que é muito mais barato. Vai para cá. Por que vocês vão fazer também mais isso? Então quando você traz isso tudo e tem a chance de fazer essa coordenação, dá para inventar. Eu fiz um evento. Infelizmente, não foi com vocês. Eu até acho que uma vez, eu levei vocês para cotar alguma coisa, o pessoal do Vidro, Simple Vidro. Alguma coisa assim. Mas evento que sai do chão. Sai do terreno baldio. E em cima do terreno sobe um galpão Sansuy, que vira um circo. E aí você vê aquilo tudo acontecendo e fala: é fantástico. Porque estão todas as coisas envolvidas. Mas você falou um negócio interessante. Coordenar isso tudo tira você...

Helder Peixoto: Do meu foco...

Luciano Pires: Do teu negócio.

Helder Peixoto: Do meu negócio.

Luciano Pires: Do teu foco.

Helder Peixoto: E me tira também daquilo que eu gosto: que é criar, que é trabalhar com as pessoas. Eu adoro. E hoje eu faço isso bastante. É trabalhar com executivos. De dar... eu acho útil uma palavra meio estranha. Eu gosto de colaborar com as apresentações dos executivos. Então, os eventos hoje – que eu sou chamado – a produtora vai. Mas tem o diretor artístico – o Helder – que vai para colaborar exatamente com essa apresentação no palco, dos executivos. Então, nem todo mundo tem essa desenvoltura e esse brilhantismo que você tem no palco. Então a gente dá uma forcinha ali.

Luciano Pires: Uma coisa que ficou muito clara – e isso é uma característica interessante – eu até conversei com outros caras a respeito, a gente falando. O que a Casa de Vídeo tem? A Casa de Vídeo tem o Helder. Eu quero falar com alguém, eu quero falar com o Helder. Vem na reunião. Vem o Helder. Porque o Helder tinha um jeitão de você sentar lá. É aquela história: não tem tempo quente. Eu não vim aqui para trazer problema. Eu não vim para dizer que não dá. Eu vim: vamos inventar. Não deu por aqui, a gente inventa. Eu me lembro. Nós chegando para fazer aquele evento em Vitória do Espírito Santo. O evento acontecia na ilha. Como é que chama aquela ilha que tem um Sesc? Uma coisa assim.

Helder Peixoto: Eu lembro.

Luciano Pires: E nós chegamos para fazer o evento lá. E a gente ia para o evento. O nosso evento tinha um pé direito. E você chegava no lugar. A gente só ia ver o lugar na hora do evento. A gente não mandou ninguém na frente para ver. E chegava no lugar. O pé direito não dá. E nós chegamos lá naquela ilha. Foi uma das decisões mais difíceis que eu tive que tomar. Chegamos no local do evento. Não cabia. Não dava o negócio. Então ou diminui, corta, muda o evento. Ou nós vamos fazer noutro lugar, que era descendo a lateral do hotel. E lá embaixo tinha outro lugar; meia boca, esquisitíssimo.

Helder Peixoto: Parecia estacionamento.

Luciano Pires: Parecia. E aí podia chover. Eu me lembro: eu parado lá em cima. A equipe toda esperando. Vai ser aonde? Eu parado lá em cima, olhando o mar na frente e falando: catzo. Eu tenho que tomar a decisão. É aqui em cima ou é lá embaixo? Vamos lá para baixo. E aí fizemos acontecer. Mas essa flexibilidade muda na hora. Arranca a telha. Tira a telha. Faz subir esse negócio aqui. A luz não dá para apagar. Me dá aqui o estilingue. Pá. Quebra a lâmpada. Depois eu pago para o cara a lâmpada. Então essa coisa toda acontecendo na hora. E essa predisposição: vamos resolver o problema. É uma característica que você sempre teve. Que sempre foi legal trabalhar com vocês.

Helder Peixoto: Eu não tenho dúvidas de que eu sou... assim, para mim: tem que resolver. Mas eu gosto – hoje – eu gosto que nós temos um time lá na produtora que, primeiro, eu criei – eu acho que eu posso dizer isso sem nenhum problema, eu espero que eles escutem – eu os criei bem criados. Então a maioria que está lá comigo, está lá há muito tempo. Fernando, Ludmila. E todos seguiram uma linha. Então criar é uma brincadeira. Mas todos seguiram essa linha. E eles fazem isso. Eles atendem dessa forma. Mas eles também – hoje precisa disso – têm uma dosagem. O Fernando, por exemplo, é muito mais parecido comigo. Vamos lá que eu dou um jeito. A gente vai lá. A gente faz. Aí tem a Ludmila – graças – que dá uma parada. Calma. Calma, que vai precisar de equipe. Vai precisar disso. Vai precisar daquilo. Não é bem assim. Não é bem assim é a frase famosa, eu brinco com ela. Não é bem assim. E ela tem toda a razão. Não dá mais. Eu acho que antigamente, a gente tinha essa liberdade de chegar e falar: não. Vamos mudar. Vamos sair daqui e vamos lá para baixo. Você tinha. Hoje se eu fizer isso, tem equipe de segurança que vem junto. Tem o técnico que é o CEO de segurança de não sei quê. E ele não vai deixar. Porque a gente vai ter que fazer aqui acesso. E tem razão. Eu não estou nem tirando a razão deles, de hoje você ter esse tipo de dificuldade.

Luciano Pires: É muito menos exposição para correr riscos, do que a gente tinha naquela época. Nos anos 90 é o seguinte: liga essa porra aí e vamos fazer. Bota no ar.

Helder Peixoto: Exatamente.

Luciano Pires: Vamos fazer. E esse: vamos fazer; construiu cases que são impensáveis. Quando eu lembro a nossa sequência de eventos lá; para vocês terem uma ideia de como o negócio foi. Nós fizemos roteiro. A gente gravou o vídeo. Nós fizemos ensaio. E o grande elemento do evento todo lá era um cara que imitava o Fernando Collor de Mello.

Helder Peixoto: Exatamente.

Luciano Pires: Ele era o apresentador. E a gente se reuniu. Fez os ensaios. Estava tudo lindo, maravilhoso. Na última hora esse cara pega – por alguma razão – não vou mais.

Helder Peixoto: Foi proibido. Foi proibido de fazer a imitação. Proibiram o filme. Ele era ator do filme. E aí ele foi proibido de fazer essa imitação.

Luciano Pires: E aí a gente para embarcar no dia seguinte, a gente não tinha o apresentador. Ai o Helder me liga e fala: eu estou com um problema aqui. O que é? Não tem mais o apresentador. Porra e agora? Não. Espera aí. Mas eu tenho um amigo – é um cara que eu conheço – o cara é muito bom, Beto Hora. É meio na linha do Serginho. Vai por mim. Bom. Eu confio em você. Eu fui conhecer o Beto na hora de embarcar, no aeroporto, no balcão de checking. Para um evento que ia acontecer de noite.

Helder Peixoto: E era uma série de eventos.

Luciano Pires: Sem ensaiar. Sem nada. Nada acontecer. É um negócio que é absolutamente impensável hoje em dia. Não há mais espaço para essa... eu era um puta de um inconsequente. Você também. Vamos embora. Vamos fazer. E aí nós fizemos. E o Beto foi crescendo ao longo do evento.

Helder Peixoto: Foi. Você depois patrocinou a dupla. Ele com o Alaor Coutinho.

Luciano Pires: O Beto conta essa história até hoje. No avião...

Helder Peixoto: E eu apresentei o Alaor Coutinho para o Beto, também num evento que nos fomos fazer em Aruba.

Luciano Pires: Sim. Eles contam essa história. Eu fiz um podcast com eles aqui. Eles contam essa história. O Beto fala até hoje. Nós estamos voltando de viagem. Eu acabei me aproximando do Beto. A gente ficou amigo e tudo mais. A gente voltando de viagem – eu com ele no avião – eu: Beto, quanto você cobrou para fazer isso aqui? Porque ele tratava com a produtora do Beto. Eu não me lembro quanto era. Mas eram mil dinheiros. Quanto você cobrou isso aqui? Eu cobrei mil dinheiros. Eu falei: legal. Vou te pagar dois mil. O quê? Deixa, que eu vou te dobrar. Porque a importância dele. O que era um elemento de apoio virou o principal elemento do evento. Ele cresceu de tal forma lá. Eu olhei para aquilo e falei: esse cara virou a alma do evento. E aí no avião eu falei para ele. Ele não acreditou naquilo. Eu vou te pagar duas vezes o... mas era um lance muito legal, que gerava todas essas... e que aceitava correr riscos que não se corre hoje em dia.

Helder Peixoto: Exatamente.

Luciano Pires: E cá entre nós, Helder. Está chato trabalhar com essas empresas.

Helder Peixoto: Pois é...

Luciano Pires: Eu como palestrante...

Helder Peixoto: Ser obrigado a pegar briefing: você não vai falar disso. Não pode falar disso. Não pode falar daquilo. Cuidado.

Luciano Pires: Teve cara que me pediu para eu mandar meus slides na frente. Mandar na frente, para examinar os slides. E ligaram para mim para eu trocar slides, porque tinha uma imagem e... é um negócio... é tão absurdo que você fala: não é possível que não tem alguém... não tem. Não tem mais. Responsabilidade não é comigo. Tira do meu colo. Põe no colo de alguém.

Helder Peixoto: Porque uma hora a corda estica tanto, que vai estourar. Não vai ter jeito. Uma hora vai estourar. E aí quando estourar vai voltar tudo. Porque claro que a gente tem que concordar com muitas coisas que foram feitas durante esse período todo. E respeitar bastante essa mudança. Mas começa a ter certo exagero. Por exemplo, eu estou fazendo um evento grande. Me liga a menina, tradutora de Libras, para falar sobre onde ela vai estar no evento. Eu reconheço que existe a necessidade. Eu reconheço que a gente tem que pensar nisso. Mas ela me ligar. Um diretor artístico de um evento com 1.500 pessoas, um artístico de mil coisas. Ela ligar diretamente para mim? E assim: eu preciso saber com antecedência. Porque a gente precisa se programar, etc. e tal. Eu falei: bom. Beleza. Vamos pensar. Tem razão. Não vou discutir sobre isso. Só eu achei exagero ela me ligar. Mas beleza. Vamos discutir e tal. E aí fui com a agência que está produzindo o evento. Vamos discutir. Vamos ver como é que faz. Ela vai ficar num palco? São dois palcos, um longe do outro. Então ela não pode ficar num palco. Porque quando as coisas acontecerem no outro palco, evidentemente que os surdos vão perder a visibilidade. E não vão poder vê-la num palco e as coisas acontecendo no outro. Então, como que a gente faz? Bom. Resultado: nós descobrimos que na empresa tem um surdo que vai no evento. Então vamos botar ela na frente dele. Gente: resolvemos o problema. Vai ficar ali com ele, do lado. É um. Então não é uma coisa que... porque é certo fazer. Ter toda a acessibilidade. É certo. Correto. Mas não é correto você colocar isso de uma forma onde ela me ligou; e ainda colocando como se fosse realmente uma necessidade máster do evento. Prioritária do evento. Não é. É tratar todos igual.

Luciano Pires: Surdo. Ela está lá pelo surdo. Ela está lá para os não surdos, todos os 1.499 não surdos verem que a empresa tem uma preocupação. Olha que empresa, que coisa fantástica. Ela está lá por isso. Não é para o surdo. Se fosse pelo surdo, era isso que você falou: vem cá. Reúne o pessoal aqui. A gente bota a turma. Eu fiz isso em evento. Estão todos aqui? Então reúne para eles.

Helder Peixoto: Para resolver o problema dele ali. E não criar esse tipo de visibilidade para a empresa. Eu acho que não tem necessidade. Isso que em pega um pouco. Que me deixa... o modismo. Eu não gosto do modismo.

Luciano Pires: Está muito chato.

Helder Peixoto: Eu acho que se a gente entra para esse lado: não. Temos que ter porque é moda. Aí já não. Entra porque tem necessidade. Já tem um surdo? Então vamos resolver o problema dele. Vamos resolver o problema dele. Não vamos atrapalhar o problema de 1.499.

Luciano Pires: Sim. Nem que tenha que criar alguma coisa só para ele. Bota lá. Mas resolve o problema dele.

Helder Peixoto: Lógico. É. A gente pensou até em colocar um iPad para ele. E ela vai ficar com uma câmera. Para não tirar ele do lugar. Então põe um iPad para ele, que vai ficar ali com a tradução. E ela com a câmera. Tudo bem. A gente investe nisso. Mas eu não vou colocar ela num palco. Não tem por quê.

Luciano Pires: Meu caro, o segmento de produção de vídeo sofreu uma revolução. O negócio é absurdo. O que a tecnologia fez com a produção de vídeo é um negócio absurdo. Quando a gente lembra aquela estrutura que você montou e o que é hoje. O que se fazia na época, o que se faz hoje. É um negócio absurdo. Era uma coisa caríssima. Para você montar um estúdio era um negócio burral. Aquelas mesas de som de 100 mil dólares. Câmera de sei lá quanto. Isso vem mudando no caminho. De um lado veio a produtora, o custo de entrada para produzir caiu barbaramente. Todo mundo virou produtor. Todo mundo passou a filmar. E, ao mesmo tempo, houve uma queda do pessoal que está sentado assistindo. O padrão de qualidade da Globo caiu também. Porque antigamente: você não vai me botar essa imagem borrada de VHS no ar de jeito nenhum. E hoje essa imagem entra. Não é que vai ser produzido assim. Se tiver que entrar, tem. É mais importante o conteúdo do que está lá, do que a iluminação perfeita e tudo mais. E culmina com a pandemia chegando. O pessoal fazendo live com cachorro latindo, com a mulher entrando na sala, aquela coisa toda lá. Esse mercado virou de ponta cabeça. E muita empresa de produção quebrou no meio do caminho. Quebraram porque não conseguiram manter o custo. Porque as empresas não quiseram mais pagar o que se cobrava. Eu me lembro das agências cobrando quatro milhões para produzir um vídeo de 30 segundos, da Ford. Era um negócio absurdo.

Helder Peixoto: Isso mesmo.

Luciano Pires: Isso desandou tudo. Como é que se sobrevive? Você ficou vivo 30 anos. Qual é o segredo?

Helder Peixoto: Eu sempre passei por essas... porque do VHS veio o Beta Max, que quem comprou – coitado – sofreu. Logo na sequência, começaram a surgir os softwares de edição. Eu lembro essa fase, que eu brincava lá na produtora, eu falava: gente, se a gente não mostrar o diferencial na criação. Na hora que você vai entregar o produto. Eu brincava: qualquer um hoje compra uma caixa de sucrilhos e vem um software de edição de brinde. Qualquer um faz edição em casa. Isso eu estou falando no começo dos anos 2000, talvez, ou um pouco antes, quando começou a parte do digital chegar forte. E eu acho que a diferença está na criação. Está na forma de você fazer entrega. Continua sendo – apesar do clichê – continua sendo as pessoas. Eu acho que eu não me vejo concorrendo com um monte de moleque que tem aí fazendo coisas bacanas. Eu tento me inspirar neles, até para poder fazer alguma coisa diferente também. Então eu não sei. Eu nunca tive problemas com esse tipo de concorrência. Eu tive problemas com as mesmas pessoas que pensam que nem a gente. Que pensam de uma forma positiva. Vamos fazer um trabalho decente. Não precisa realmente agora, mais, tanta coisa. Então, antigamente, eu vou te dizer que metade era por necessidade. E metade para justificar o preço que se cobrava.

Luciano Pires: Você está ouvindo o LíderCast, que faz parte do ecossistema Café Brasil, que você conhece acessando mundocafebrasil.com. São conteúdos originais distribuídos sob forma de podcasts, vídeos, palestras, e-books e com direito a grupos de discussão no Telegram. Torne-se um assinante do Café Brasil Premium através do site ou pelos aplicativos para IOS e Android. Você pratica uma espécie de MLA, Master Life Administration, recebendo conteúdo pertinente, de aplicação prática e imediata, que agrega valor ao seu tempo de vida. Repetindo: mundocafebrasil.com. Eu te dei uma provocada no começo, antes da gente gravar. Você até falou um negócio interessante. Eu falei: você lembra quando 100 anos atrás, eu cheguei para você e falei: para com o caminhão. Para com isso tudo. Vem aqui com uma camerazinha. Seja ágil e tudo mais. E você falou: se eu fizesse isso, os caras iam achar que eu não era profissional.

Helder Peixoto: Não era profissional. Exatamente. O cliente via o equipamento. Isso eu digo para produtores de filme e de comerciais. Esses que você falou que custa um absurdo. Eu olhava e falava assim: não é possível. 30 segundos. Vocês vão demorar três dias para fazer um filme desse daqui? Na época, eu lembro que tinha muito diretores fantásticos, que eu aprendi com eles, que falavam assim para mim: aqui eu só estou para fazer o filme. Eu faria em meio dia. Mas a produtora tem que mostrar que a coisa... então era um parto para fazer um comercial de 30 segundos. Eu participei de vários. Então, para tirar aquela câmera de 35 milímetros, botar ela de um lado para outro. Sabe? Era assim: putz, para tudo. Daqui a três horas, a gente vai continuar a cena. Para fazer um contra plano. Então você fazia um plano aqui. Para fazer um contra plano eram três horas depois. Você ia lá... putz, era um absurdo. Mas tinha que mostrar. Tinha que fazer.

Luciano Pires: Tinha que justificar os quatro milhões.

Helder Peixoto: Tinha que justificar aquela grana toda investida. Então numa época, a gente chegava realmente a levar o equipamento. Metade por necessidade. E metade, porque tinha que justificar. Tinha que mostrar que você está cobrando para isso. E a partir de certo ponto, hoje em dia, não faz mais sentido. As pessoas têm celulares que são tão bons quanto muitas câmeras que estão por aí no mercado. Então você tem que mostrar que você sabe o que você vai fazer ali, a qualidade da gravação. Você é o exemplo vivo do que pode fazer uma pessoa sozinha. Você tem uma qualidade de gravação aqui, profissional. E você sozinho toca tudo. Você me mostrou ali. E é fantástico, o que você faz. Mas também não foi de uma hora para outra.

Luciano Pires: Não, não.

Helder Peixoto: Você teve que aprender muito com o teu filho.

Luciano Pires: Sim. É. Havia uma... tem uma direção. Eu falei: eu estou indo para aquele caminho.

Helder Peixoto: Mas é o conteúdo que vale. É isso que eu quero falar: não adianta você ter tudo isso bacana, bonito, uma qualidade fantástica. E o seu conteúdo ser...

Luciano Pires: Você está me lembrando do Glauber Rocha nos anos 60. Quando aquelas câmeras gigantes se transformam. E você consegue ter um 8 milímetros. Lembra?

Helder Peixoto: Lembro.

Luciano Pires: Surgiram as câmeras de 8 milímetros. Uma câmera pequenininha. E aí foram entrevistar o Glauber Rocha. E ele soltou aquela frase famosa: uma ideia na cabeça e uma câmera na mão. E aquilo apareceu como sendo: acabou. O mundo vai mudar. Porque todo mundo vai ter acesso a uma câmera. E aí se descobriu rapidamente que não adianta nada você ter uma câmera sem a ideia. O problema é a ideia na cabeça, não é a câmera na mão.

Helder Peixoto: Exato.

Luciano Pires: É a ideia na cabeça. Então tem conteúdo para justificar? Quando não tem, você traz a parafernália.

Helder Peixoto: Exatamente.

Luciano Pires: Faz barulho. Faz aquela coisa toda.

Helder Peixoto: Exatamente.

Luciano Pires: Mas a pergunta que eu tinha te feito. Eu estou mais preocupado com a questão da gestão do teu negócio. Do ponto de vista do resultado artístico e tudo mais, eu entendi. Eu sei. Você se envolve. Você escreve o roteiro. Você – se bobear – entra lá e faz a locução. E você conhece todos esses pontos. Você não é um cara que vai chamar alguém para fazer algo que você não conhece. Você conhece. Eu vi você fazer locução no lugar do locutor. Tira o locutor. Deixa que eu faço. Então essa questão para mim está muito bem equacionada. Você estudou. Você aprendeu. Você falou aqui: quando estava todo mundo se maquiando lá, eu estava lá conversando com os caras para ver como era. Mas a questão da gestão? Você vai gerir um negócio. De repente, de você e seu irmão, que se viram. Você monta um negócio onde tem cinco, seis caras. Têm cinco, seis famílias, que passam a depender do teu negócio. Que passam a depender da tua empresa. E o mercado é altos e baixos e tudo mais. E você, do cara de criação, tem que ser um gestor. Passar a gerir o negócio.

Helder Peixoto: Para isso existem sócios. Por isso que eu acho que essa sociedade – quando fala sociedade – não é a divisão das cotas. E sim, a divisão das funções. E eu tive a sorte... o meu irmão realmente, ele não queria mais continuar, num determinado ponto. Antes de ter a Casa de Vídeo, ele vendeu a parte dele da empresa nossa, que se chamava Online na época. Vendeu para o Élcio, que era um amigo meu. Não de faculdade, mas de bar de faculdade. Ele frequentava lá o Mackenzie. Adorava. E gostou do que a gente fazia. E ele comprou essa parte do meu irmão. E o Élcio casou comigo. Ele é o meu par. Mais do que... é uma figura. E eu acho que essa divisão sempre foi muito clara lá. Ele cuida da parte administrativa, a gestão financeira. Chegou uma época, quando a gente cresceu nessa área de eventos. Ele entrou um pouco na área de cenografia. Porque ele entende muito disso também. Mas depois também, a gente viu que a gente estava desviando. E eu estava perdendo ele da área financeira. Eu estava perdendo ele exatamente do olhar diário, do dia a dia do negócio, que era o nosso foco principal. Então tudo isso valeu para a gente aprender e vender a agência. Mas eu te digo que foi essa dupla. Esse casamento perfeito aí de quem coordena uma área financeira bem feita. Que ele sempre fez. E eu no contato e criação. Eu não sei dizer para você exatamente quais foram os... de que forma? Qual foi o segredo de subir aqui, de crescer ali? A não ser realmente isso: um bom atendimento e uma boa aceitação entre os dois. Cada um sabendo dos seus limites. Não adianta ele me pedir para fazer um PIX até hoje, que eu não faço. Eu não sei. Nem gosto. Nem quero. Me recuso a fazer. Mas ele – ao contrario – tenta buscar as melhores formas de investir, de buscar para a gente na área financeira, o melhor caminho. E não se mete muito comigo, na parte minha. Não só na criação. E sim na gestão dos clientes. Eu sou muito chato com isso. Em tratar bem os clientes. Em tratar os clientes como deuses mesmo. E não é nem o fato de falar: você está puxando. Não é nada disso. Eu não sou um cara chato, de ficar ligando. Eu não ligo para cliente. Eu acho que nem ligava para você, na época. Eu não ficava te incomodando.

Luciano Pires: Não.

Helder Peixoto: Nem nada. Mas o que eu acho é assim: eu preciso atender você bem. Só isso. Eu preciso que você seja bem atendido. E bem atendido significa que você tenha o melhor trabalho que você me pedir, no tempo mais rápido possível. E, se possível, eu vou te dar mais do que você pediu. Eu vou te mostrar alguma coisa nova. Eu vou fazer uma coisa diferente.

Luciano Pires: Tem outra característica, você acaba desenvolvendo uma amizade com essa turma toda lá.

Helder Peixoto: É natural.

Luciano Pires: Eu tive um monte de fornecedor meu que me tratava como pão-de-ló até o dia que eu parei de fazer trabalho com ele. Quando eu parei, acabou tudo. Nunca mais falaram comigo. E a gente... paramos e a gente continuou a...

Helder Peixoto: Nossa... eu tenho tantos clientes que naturalmente saem. Aposentam. Pelo amor de Deus. Continuam sendo amigos. E também com o celular. Qualquer necessidade: vamos embora, parceiro. A maioria sai da área farmacêutica. Sai para ser consultor. Ou do agronegócio, que você sabe que a gente trabalha bastante também. Eles saem e viram consultores. E vira e mexe precisa de alguma coisa. Eu preciso fazer um vídeo. Eu sou consultor de uma pequena indústria farmacêutica aqui. Eu precisava fazer. Vamos embora. O que você precisa? Eu vou lá. Eu mesmo faço. Às vezes, eu faço locução. Às vezes, eu ajudo. Mas estamos juntos sempre. Imagina. Pelo amor de Deus. Como é que você vai perder um contato, uma amizade feita de anos, por que: ah não. Saiu. Parou. Acabou. Parou tudo. Não. Não existe isso.

Luciano Pires: Eu não sei se você reparou. Aqui vai até onde você consegue ir no comentário aqui, para você não se complicar todo aí. Mas eu notei que caiu barbaramente a qualidade dos contratadores de palestras, por exemplo. O pessoal que contrata palestra, antigamente eu ia lá, eu sentava na frente do vice-presidente da empresa. E o cara me dava uma visão macro, com objetivos e tudo mais. Era um negócio extremamente sério lá. Hoje eu trato com a sub-assistente da coordenadora de não sei o quê. Que coloca a importância do palestrante no mesmo patamar da coxinha. Se a coxinha vai estar quente ou não? Se o vasinho está bonitinho ou não? É tão importante quanto se o palestrante é bom ou não. Ou seja, me dá o briefing aí.

Helder Peixoto: Eu concordo 100% com você. E acho que não é a pessoa que contrata o palestrante. Eu acho que é o profissional. O profissional de eventos. Eu diria que nós estávamos numa época até 2019, onde a gente tinha... se não me engano, em 2018, a gente tinha um nível muito grande, muito bom de profissionais trabalhando na área.

Luciano Pires: Você está bonzinho. Eu parei em 2008. Para mim parou em 2008. Foi na crise de 2008, a crise do subprime, que deu aquela queda horrorosa. Quando voltou, nunca mais...

Helder Peixoto: Eu diria para você que eu acho que em 2018 – eu lembro – a gente estava com bons produtores, principalmente na área de eventos. Eu digo que depois, quando veio essa paralisia total aí, a gente perdeu muita gente no mercado. Tanto que, quando começou agora em 2022, foi terror. Primeiro semestre de 2022 foi um terror. Porque não tinha profissional. Os profissionais migraram. Viraram suco. Viraram alguma coisa. Não tinha. Saiu muita gente. Porque as agências que suportaram, que conseguiram segurar um pouco, essas aí levaram vantagem. Agora, a grande maioria teve que mandar gente embora. Mandou. E quando foi contratar de novo, contratou outros. E foi montando. Então você imagina. Eu acho que... eu brinco que abriu o dique. Estourou a champanhe em 2022. É o estouro da champanhe. Quando começou tudo de novo. Quando recomeçou com aquela correria. E os hotéis tendo que dar vaga, porque já estava pago. Então tinha que dar. Uma noite. Mas eu te dou o que você pagou. Só que à noite, eu já tenho outro entrando aqui para a montagem. Então foi aquela coisa. Um confunde com o outro. Monta e tal. Então puxa disso para trás e você vai ver que dentro da agência, a confusão, essas agências que estão montando os eventos, o pessoal está batendo a cabeça lá dentro. E aí quem vai contratar lá dentro? A menina do artístico que vai buscar um palestrante. Qual é o tema, moço?

Luciano Pires: Eu quero motivar a minha turma.

Helder Peixoto: Motivar. Ou não. Vamos falar só de criatividade. Ou vamos falar de liderança. Você tem palestra de liderança é como se você estivesse tirando ali do armário uma palestra. Fala: está aqui a minha palestra. Não. É hora de conversar. Então não tem. Ainda não tem. Ainda hoje, eu te digo: não tem essas pessoas, esses profissionais, que são capacitados para pegar e entender qual é a necessidade do cliente e propor uma palestra para ele, que possa ser adequada a isso.

Luciano Pires: Tem uma lacuna então. Tem um buraco no caminho.

Helder Peixoto: Tem um buraco.

Luciano Pires: Porque essa molecada toda vai aprender. Eu vou olhar. Eu vou aprender com aqueles mais velhos. Eu vou pegar o que tem de melhor ali. Mas quando você tira fora o mais velho, quando você tira fora essa experiência toda, você tem um buraco.

Helder Peixoto: Exatamente.

Luciano Pires: Eu vou começar do zero. Eu vou começar outra vez. Vamos. Aí você se vê aos 62 anos back to the base. Deixa eu te explicar como funciona.

Helder Peixoto: Exatamente. Eu acho que não só você. Eu acho que tem muitos palestrantes aí sofrendo com isso. Alguns clientes atrás me pediram alguns nomes. Eu sempre vou dando os nomes. Dou as sugestões. Aí pergunto: vocês cotaram? Não. Por quê? Porque não era isso que a gente queria. Mas vocês nem conversaram. Vocês nem foram ver. Eu estou sugerindo, porque eu sei que ele vai lá, vai subir no palco e vocês não vão passar... o público não vai ficar entediado. Ele vai sair daqui com um conteúdo. Ele vai sair daqui falando: poxa, me provocaram. Vou levar embora isso aí como uma provocação. E isso vai ser interessante para você. Mas não. Eles não chegam a cotar. Não chegam a conversar. Então falta realmente isso nas empresas, que transferem para a agência, que transfere para aquelas empresas que têm banco de palestrantes. Que eu não gosto. Sinceramente, eu acho que eu nunca sugeri uma empresa dessas. Então você vê como é que funciona. A empresa que tem a necessidade. Você sabe que eu trabalho com grandes empresas. E eles têm a necessidade. Lá dentro não tem ninguém. Eles só pedem: eu preciso de um matadouro. Um buster no final lá para mim fazer a galera... ou: para abrir, eu preciso que alguém entre aqui e abra, para que depois a gente entra. Eu falo: poxa, beleza. Vamos entender. Então como eu estou dentro agora, fazendo essa área mais de direção artística, eu consigo entender e consigo visualizar uma necessidade. Eu falo: dá para entregar aqui algo pontual, bacana, que vai te deixar um residual bacana. Para quem você vai perguntar? Porque eu não posso contratar. Você tem toda uma regra dentro da empresa. Lá não. Você só está homologado para entregar isso: direção artística e produção de vídeo. Então tá. Então a agência que vai contratar. Então eu vou na agência. A agência, quem é pessoal de artístico da agência? Essa pessoa do artístico da agência não existe. Vai entrar uma produtora. E a produtora vai pegar o telefone e vai ligar para quem? Para uma pessoa que conhece. Que tem o contato dos palestrantes. Você deve estar em algum desses bancos. E essa pessoa dos palestrantes é que não vai saber vender. Infelizmente, você vê: vai passando, vai passando.

Luciano Pires: Vai perdendo a essência.

Helder Peixoto: Perde. Porque eu fui lá e falei. Eu diria que dentro dessa cadeia aí, a pessoa que tinha mais conhecimento era eu, lá no começo. Mas depois foi indo, foi indo, foi diluindo, foi diluindo. Quando você vê está lá embaixo. E não chega. Não vai chegar. Não chega nem a você, uma solicitação. Porque não. A menina deu outras indicações de amigos, de não sei quê. Ela vem com outros nomes. Aí já vai direto para o cliente. Aí perde-se tudo. E outra coisa, que eu acho também que poderia mudar um pouco essa história de palestrante. Palestrante – para mim – eu acho que hoje em dia não é mais o negócio. Eu acho que vocês... vocês não. Você e mais alguns que eu conheço que tem esse potencial. Vocês deveriam assumir o dia de um evento. Sabe? Você é o condutor do evento. Não é o palestrante. Você vai chegar antes, obviamente que isso tudo tem outro preço. Você tem que fazer exatamente aquilo que você falou. Pegar e entender o evento como um todo. Eu quero entender quais são os seus objetivos? Quais são as estratégias? O que vocês pretendem? O que nós vamos deixar para esse grupo, que vai sair daqui no dia seguinte, vendendo ou cascateando essas estratégias?

Luciano Pires: Eu tenho tentado fazer isso aí. Mas aí tromba naquela coisa daquela formatação antiga sabe? Por exemplo, eu peguei minhas palestras. E toda vez que eu estou falando: vai ter premiação? Vai. Como vai ser? Quando terminar a tua palestra nós vamos subir e vamos fazer uma premiação. Eu falei: não faz isso. Me dá a premiação. Eu vou enfiar dentro da palestra. Como assim? Dá aqui comigo. Ao invés de você me dar 90 minutos, mais meia hora de premiação, me dê as duas horas. E eu vou abrir uma janela no meio e vou fazer a premiação acontecer ao longo da palestra. Depois eu retomo e encerro o evento.

Helder Peixoto: Em grande estilo. Legal.

Luciano Pires: É fantástico. É maravilhoso. Mas tem muito cara que fala: não. A gente quer manter o modelo. Que é o modelo: vou ler o currículo, etc. e tal. Fazer a coisa.

Helder Peixoto: De novo: eu não quero criar um negócio. Porque esse negócio já existe. São os famosos consultores. Não é isso. Eu não quero que você seja um consultor que vai lá – como vários que eu faço em evento – e faz esse trabalho de costurar o evento inteiro. Eu acho que você dá mais que isso. É muito mais que isso. Porque essa costura não vai ser simplesmente aterrissar; usando o que o Terra usa sempre lá, sempre que ele acaba a apresentação: agora vamos aterrissar. Ele e o Igreja, os sócios lá. Eles são muito bons. Eles fazem isso. Mas eu acho que teria outro caminho. Que é aquele caminho que você usa com brilhantismo, de usar as analogias de música, de brincar com um pouco do Brasil, da brasilidade das coisas do Brasil, que você faz. Então, você imagina isso usando como pílulas durante o evento?

Luciano Pires: Sim.

Helder Peixoto: Amarrado a todo o conteúdo. Puta, isso é fantástico. Mas precisamos de alguém que...

Luciano Pires: Tem que ter um grau de confiança.

Helder Peixoto: Exato.

Luciano Pires: Tem que ter uma coisa também. Porque o cara está tratando aquele evento: é a minha imagem que está na mão desse maluco aí.

Helder Peixoto: É.

Luciano Pires: Fazer o que nós fizemos lá atrás. Quando eu chamei você: vamos embora. Entrega na mão. E a gente vai fazer acontecer. E todo mundo trabalhando para que aconteça. Então não tinha tempo quente lá não. Me fala uma coisa: o que está acontecendo agora? Para onde vai esse mercado? Para onde vai o teu mercado? Se eu te perguntar: daqui a 10 anos, onde vai estar a Casa de Vídeo? Fazendo o quê? Holografia? Videogame? Game?

Helder Peixoto: Já fizemos.

Luciano Pires: Game?

Helder Peixoto: Eu não sei. Eu acho que a gente – na hora que entrou a pandemia – o que a gente foi acionado não foi brincadeira. Porque obviamente, as pessoas começaram com a história de fazer eventos online. Então o digital cresceu muito. E eu diria para você que quase que a gente dominou essa área. Porque não tinha – que nem você fala – tempo quente para a gente. Por que: ah não, mas aí holografia é tão caro. Que holografia é caro? Você entra ali, pega uma imagem. Brincando: um evento que eu estava fazendo, o cara falou: poxa vida. O último evento presencial, a gente fez lá em Campinas, no The Royal – que você conhece muito bem, todo mundo lembra do The Royal, porque lembra do pudim do The Royal. Ele falou: putz, a gente fez lá. Eu queria brincar com o povo com o negócio do pudim. Eu falei: espera aí. Eu vou fazer o pudim aparecer na tua frente aqui, tipo uma holografia. Ah, mas isso é caro. Você vai no Photoshop, recorta o pudim. Bota um fundo Chrome. Põe lá. E fala para ele: na hora que você quiser a gente vai fazer ele subindo. Ele vai aparecendo lá na tua frente. Absolutamente custo zero. No meio da live, eu fiz um pudim aparecer na frente dele. E aí todo mundo... isso é o que eu falo de que a gente vai dando soluções.

Luciano Pires: Claro.

Helder Peixoto: Enquanto as pessoas complicam: vou fazer um pudim 3D. Vamos ter que gastar um milhão. Não. Pegamos imagem lá do pudim bonitão. Eu fiz o Photoshop na hora lá e joguei no Resolume, que é um software que... pronto. Na hora, soltamos lá o pudim para aparecer. Ele conseguiu fazer a graça dele. Fora outras brincadeiras. Sair foguinho. Esse negócio que a gente começou a fazer com essa facilidade, na hora que estava lá numa live. Com essa facilidade, a gente ia lá e falava: não. Calma. Não é difícil. Mas como que você vai fazer o negócio? Eu falei: sim. Vamos fazer chover aqui. Vamos fazer cair pétalas. Não é difícil. Então dá para fazer. E dá para fazer rápido. E tudo isso que eu digo para você, que se a gente continuar fazendo, daqui a 10 anos, seja lá o que vai acontecer, a gente vai estar fazendo a mesma coisa. A gente vai estar se adaptando. Vai estar se transformando. E fazendo acontecer rápido, de novo. Deixando a coisa desse jeito, mais fácil. A gente tem agora um núcleo dentro da produtora, que faz uns trabalhos para a Discovery. Então, a gente fez muita coisa de alimentos, de comida, com chefs, etc. Durante a pandemia a gente fez. Como que a gente vai fazer? Fizemos com celular dos chefs na casa deles. Então, isso aí é Felipe que dirige lá. O Felipe ficava que nem você aqui. Têm vários monitores. O Felipe ficava com os monitores. Cada um com seu celular, cada um no link. E a gente fez uma competição entre chefs. Tem Chef em Casa? O chef com algum parente, alguma pessoa, que tinha que fazer comida. E o chef só olhar lá. Não podia dar palpite. E essa competição foi toda na casa dos chefs.

Luciano Pires: Com o celular dos chefs.

Helder Peixoto: Com o celular. A gente tinha uma câmera lá fixa, que ia lá o cara todo paramentado, aquela coisa toda. Parecia o ET. O cara vinha com aquelas roupas todas assim. Botava a câmera lá. Deixava ligada uma câmera em grande angular. Uma câmera única. E o resto tudo com celular. E isso, a gente que propôs para a Discovery, para fazer uma coisa diferente. Então é isso que eu falo: ainda continua sendo a criatividade. As pessoas vão buscar soluções.

Luciano Pires: Sim.

Helder Peixoto: Tínhamos também um programa. Tínhamos não. Temos. Que é de reforma. 24 horas para decorar. Também na pandemia. Tinha parado? Não. Vamos fazer um. Aí fizemos também uma competição de arquitetos para decorar. E a mesma coisa: tudo remoto. E eu acho que daqui a 10 anos vai ser isso. Vai ser achando soluções para cada desafio que apareça.

Luciano Pires: Vamos lá. Vamos para o nosso finalmente aqui, que você está com cliente te esperando lá.

Helder Peixoto: Mas eu quero ficar aqui a tarde inteira. Eu adorei.

Luciano Pires: Em algum momento no meio do caminho, você abraça uma aventura fantástica, que foi ir para o teatro e depois ir para a televisão.

Helder Peixoto: É verdade. Eu tinha esquecido esse detalhe.

Luciano Pires: Você cria uma peça de teatro. Foi primeiro o teatro e depois TV? Foi isso? Ou foi TV e depois teatro?

Helder Peixoto: Foi TV e teatro.

Luciano Pires: Então primeiro TV e depois teatro. Você cria uma novela infantil e vai para a televisão. E, de repente, você não está mais lidando com cliente num evento. Você está lidando com um mercado pavoroso, louco.

Helder Peixoto: Louco, louco.

Luciano Pires: Quantos episódios você chegou a gravar?

Helder Peixoto: Eram 180. Mas a gente fez 130. 130 e poucos.

Luciano Pires: Uma novela infantil que começa... outro dia eu estava assistindo. Dá para ver claramente como ela foi evoluindo de uma brincadeira gravada num sítio, para uma produção de verdade, de novela. Me fala dessa experiência.

Helder Peixoto: Ah, foi a coisa mais louca que a gente já fez. E aí eu te digo que foi... por isso que nem sempre a gente acerta né? Então, a tentativa sempre foi de fazer algo diferente. Como sempre vai ser. Eu acho que eu nunca vou parar de tentar mudar alguma coisa. De transformar algum negócio para fazer melhor ou inventar. E a tentativa ali era fazer alguma coisa diferente para televisão. E a gente já tinha esse projeto há tanto tempo, que ficava na gaveta. A gente ia mostrando. Chegamos na Cultura. Bater na trave na Cultura, de quase fazer. Até que um louco lá na Record topou. E falou: não. Vem para cá. Por que não mostraram antes para a gente? E aí tinham umas pessoas no meio do caminho, que indicaram a gente e tal. Não. Vamos ser sócios do projeto e tal. Eu quero mais é que ponha no ar esse projeto. Porque eu acredito nele. Você lembra o quanto eu acreditava no projeto. E a gente foi para lá e fez. A gente estreou no dia 13 de agosto de 2001, no dia 11 de setembro caem as Torres. Imagina. A gente estreou no horário nobre. O Boris Casoy falava: fiquem agora com Acampamento Legal.

Luciano Pires: Eu ia falar exatamente isso. O Boris Casoy: fiquem agora com Acampamento Legal.

Helder Peixoto: Fiquem agora com Acampamento Legal. E aí a gente entrou, tinha patrocínio da Nestlé no começo. Tinha patrocínio de algumas empresas. Mas o dinheiro vem depois. O pessoal da Record era meio: daqui a pouquinho o dinheiro vai chegar. Mas está todo mundo aí. Realmente, tinham os breaks fantásticos. Eu falava: poxa, que legal. O dinheiro vem depois. Só que caíram as Torres. Aí o que a gente tinha de arte... quando eu falo arte é o tempo de novela. O tempo mesmo de novela. E não contando os breaks. O tempo total eram 30 minutos, mas de arte era 23. Esse era o tempo que a gente tinha que entregar. Então a gente entregava uma fita Beta lá na Record, de 23 minutos. E a partir do dia 11 – quando caíram as Torres – imagina. O Boris Casoy continuou. Então eles ligavam para a gente e falavam: reduz para 15 minutos. Aí: reduz para 10 minutos. Porque o jornalismo tinha prioridade. Então obviamente que isso aí já gerou para a gente um problema. Porque a gente começou a tropeçar na produção. E, em consequência disso também, o dinheiro não veio. Por que: ah, poxa, primeiro foi o camelo, a crise da Argentina lá. Primeiro veio o cavalo. Eu lembro as palavras do diretor da Record falando: primeiro veio o cavalo. Que é a crise da Argentina. Depois veio o camelo. Que foi a crise do 11 de setembro. Então está difícil. Eu falava: está difícil, mas e aí? A gente já tem...

Luciano Pires: Você está com uma produtora funcionando. Você tem ator, você tem...

Helder Peixoto: É. Eu tinha um...

Luciano Pires: Um mundo...

Helder Peixoto: Eu tinha acho que 20 atores.

Luciano Pires: Sim.

Helder Peixoto: Inclusive, dentre eles, os nossos amigos, o Norival Rizzo e tal. E o Rodrigo Lombardi estreando. E em 15 dias – depois do dia 11 de setembro – não recebia. Não tinha recebido um tostão. Aí começamos a desesperar. Eu acho que no final de setembro veio o primeiro, que deu para pagar conta sim. Enfim, resultado: novembro estava praticamente falido. Porque eles não conseguiram mais. E ai dezembro a gente continuava no horário nobre ainda. Em dezembro, eles resolveram passar a gente para de manhã. E diga-se uma coisa importante, que a gente entregava aquilo lá. Saí do jornalismo. A gente mantinha cinco pontos. Nunca ninguém fez dois dígitos lá. A gente começou com oito pontos. Depois foi para cinco. Aí ficamos alternando entre três e cinco pontos. É muita gente.

Luciano Pires: Uma novela infantil.

Helder Peixoto: Infantil. No horário nobre.

Luciano Pires: Depois do telejornal.

Helder Peixoto: Todo mundo falava que a nossa era a segunda TV. A gente não era a TV da sala. A TV da sala ia para o Jornal Nacional. A gente brigava direto com o Jornal Nacional. O Jornal da Record era antes. Imagina. Aí eu sei que eles passaram a gente para de manhã. E aí de manhã a gente entregava para a Eliana com três, quatro pontos. Então para mim assim: foi sucesso. Azar. Não tem problema que deu muitos problemas. A gente sofreu demais. E no final da produção, a gente estava fazendo exatamente o que você falou. Que hoje a gente faz. Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça. A gente já estava praticamente assim, no final, para poder cumprir com os últimos capítulos, que a gente precisava entregar. Eu fazia câmera. Fazia direção artística ali. Fazia tudo. Não tinha mais nada. Tinha os atores que toparam. E nessa dos atores que toparam... porque eu fui claro: não tem mais dinheiro. Acabou. Eu prometi que quando a gente conseguisse respirar melhor e ter algum dinheiro, eu ia montar uma peça. E eles... eu falei: eu não vou querer um tostão da bilheteria. A bilheteria é de vocês. E aí foi o que aconteceu. E aí, graças...

Luciano Pires: A peça...

Helder Peixoto: À ajuda também. Você também me ajudou. A Parmalat na época lá, do Adriano, também ajudou com algumas coisas. E a gente montou a peça. E a peça realmente foi um sucesso. Porque ela tinha 3D lembra?

Luciano Pires: Lembro.

Helder Peixoto: Na época ninguém falava em 3D.

Luciano Pires: Era muito legal.

Helder Peixoto: Tinha os óculos com 3D. Hoje é comum. Mas a gente está falando de 2002, 2003.

Luciano Pires: Botem os óculos aí. Aí todo mundo punha os óculos. Acontecia uma...

Helder Peixoto: 2002 né?

Luciano Pires: Não. Era genial. Foi muito legal.

Helder Peixoto: Foi.

Luciano Pires: Eu assisti àquela peça 500 vezes.

Helder Peixoto: É.

Luciano Pires: O que eu queria te perguntar lá? Quer dizer, era um produto legal, super bem feito, com um conteúdo legal. A molecada amava. Eu me lembro de ter ido num evento lá num shopping center. A molecada alucinada lá, vendo os personagens e tudo mais.

Helder Peixoto: O melhor business plan desse projeto, você que fez. Você que fez para mim. Eu tenho ele guardado até hoje.

Luciano Pires: Eu nem me lembro mais.

Helder Peixoto: É. Você fez um que serviu de exemplo para todos. O PPT bonitinho.

Luciano Pires: É verdade. Eu estou lembrando agora, para fazer a apresentação dele lá.

Helder Peixoto: É.

Luciano Pires: E estava um negócio legal, para um público importante, que era focado em criança, numa época interessante. Porque nós estávamos em 2011, já estava...

Helder Peixoto: 2001.

Luciano Pires: Desculpe. 2001. Já estava naquele processo de proibir propaganda infantil na televisão e tudo mais.

Helder Peixoto: Isso.

Luciano Pires: Que estava liquidando com a manhã infantil nas TVs. E mesmo assim, não vieram os patrocinadores?

Helder Peixoto: Não. Não vieram.

Luciano Pires: Não vieram.

Helder Peixoto: Eu não tinha área comercial. A área comercial era da Record.

Luciano Pires: Mas ali roda dinheiro para todo lado lá. Eu estou te especulando isso aí, porque eu lancei no ano passado um podcast infantil.

Helder Peixoto: Eu sei. Eu acompanhei.

Luciano Pires: Já fizemos 30 episódios. Está lindo. Está muito legal. Todo esse tesão que você tem para contar do conteúdo, eu tenho para contar. Porque ficou muito legal. Eu estou tratando aquilo como legado. Então eu levo, mostro. As pessoas ficam encantadas. O conteúdo. Esse conteúdo é tudo que as crianças precisam ouvir. É um negócio focado em coisa séria. Não é só blá-blá-blá. Só para vender alguma para a criança. É botar ideias na cabeça e tudo mais. É muito legal. E não vem patrocinador. Não vem. Você bate lá. Você nem chega. Você nem consegue chegar nos caras. Não vem. Como é que foi tua frustração? Você entrou em parafuso? Você é um cara sempre positivo. Porque aquilo rendeu problema. Quando você fala para mim: chegou no final nós estávamos quebrados. Não é que a novela estava quebrada. A produtora...

Helder Peixoto: A produtora...

Luciano Pires: Estava pagando a conta.

Helder Peixoto: Não. Eu acabei botando meu sonho lá dentro. É como eu falei: eu tenho parceiros que são fantásticos. Porque era para ter desistido. O Élcio era para ter aquela hora, ter falado assim: tchau. Pegado o boné. Mas não. Seguiram em frente. Fernando. São... por isso que a frustração é exatamente isso que você falou: não dá para entender. Porque tem tudo. Ali tinha tudo. Eu tinha um núcleo de atores meus; fantástico. Você lembra.

Luciano Pires: Sim.

Helder Peixoto: Ganhador de prêmio Schell. Tem humor. Tinha tudo ali. Tinha uma mensagem bacana. A gente estava falando de um costume que não era tão arraigado aqui no Brasil, de acampamento. Que é muito mais lá fora, esse acampamento de criança. De repente foi um boom, naquela época. Então a gente fazia no Sítio do Carroção, que depois virou referência em acampamento para grupos de crianças. E foi frustrante. A gente batia na porta também. Isso antes até da Record pegar. Eu cheguei em todos: Nestlé, Estrela na época. Não adianta. Não ia para frente. Sempre tinha uma coisa que... não era nem pelo dinheiro. Não era...

Luciano Pires: Isso que eu quero especular com você. Esse cara que não foi anunciar no teu programa, que não ajudou é o mesmo cara que aprova botar 400 mil, 500 mil num influencer de merda.

Helder Peixoto: Ah sim.

Luciano Pires: Com conteúdo horroroso. Com porcaria. É o cara que anuncia. Joga fora dinheiro. Rasga dinheiro. Eu não consigo entender ainda o que é isso sabe? Eu até cunhei uma coisa que eu falo para a turma aqui: eu levo o meu projeto. Eu apresento. E eu fico escutando assim: muito bem. Muito bem. Muito bem. Muito bem. Aí quando eu boto a proposta na mesa, vira assim: veja bem. Veja bem. Veja bem. E vêm as coisas mais estapafúrdias. E não é dinheirão. Eu não estou falando de dinheirão. Eu estou falando de dinheirinho. E mesmo assim não vem. O que é isso? É erro nosso? É nós que estamos errados? É falta de visão? Nós estamos propondo um produto que ninguém quer? Que os caras não querem? Eu não digo: não precisa. Eu tenho certeza absoluta que o Brasil precisa. Mas esses caras não querem. Se eles não querem, não tem grana e aquilo morre. O que é?

Helder Peixoto: Vou botar o mais simples possível. Mas eu acho que é o popular. Aquela coisa sempre de: vamos naquilo que o povo gosta. Que nem sempre é... que não vê cultura. Não tem a cultura. Vamos no... é que é chato falar isso. É chato. Infelizmente, a gente vive um momento que o público não quer saber disso. Eles pedem cultura. Pedem, pedem, pedem. Solicitavam tanto, que a gente precisava de um país com mais cultura. Mas não é isso que vende, na cabeça deles. Então o ruim é que...

Luciano Pires: E a máquina se alimenta. Ela se retroalimenta.

Helder Peixoto: Pocotó.

Luciano Pires: Ela pega dinheiro e põe...

Helder Peixoto: Na eguinha Pocotó.

Luciano Pires: O dinheiro vai para lá. E aí ele se realimenta. Entendeu? Se é lá que está o dinheiro, eu vou fazer mais disso. E aquilo se realimenta.

Helder Peixoto: Você fala das influências. Têm algumas que eu até acho interessante. Porque eu acabei trabalhando, fazendo alguns eventos para o Universo Feminino, que vão umas influencers falar sobre tudo. Sobre as necessidades do dia a dia delas. O problema que elas têm. Diversidade. Realmente é bem interessante. Algumas que têm conteúdo. Eu gostaria muito que minhas filhas ouvissem. Mas também já fiz alguns que você fala: pelo amor de Deus. Então têm bons e têm ruins. Como tudo. Você vai ter aquele... se ele está botando dinheiro certo, pelo menos em algumas que possam até acrescentar e colocar um pouco mais de educação e cultura para essas crianças, ok. Mas se está indo pelo número de views só, pelo número de seguidores.

Luciano Pires: É a conta burra.

Helder Peixoto: Não. Mas aí...

Luciano Pires: Você não qualifica nada. Você só quantifica as coisas.

Helder Peixoto: É. Aí a gente vai entrar para um lado, que é preferível deixar então... voltar os comerciais na TV, como tinha antigamente, das crianças, que agora é proibido e tal. Mas se é por aí, então, autoriza a volta poxa. Porque eu vejo algumas dessas influencers de números, que são ex BBB. Eu também trabalhei com algumas assim. Não tem nada a acrescentar. Nada. Gente, para. Ela pode acrescentar um toque do dia a dia dela de cabelo, de pele, que ela costuma fazer. Ok. Bacana isso aí. Vai lá e usa. Agora falar...

Luciano Pires: Como você deve viver sua vida...

Helder Peixoto: É. Aí já complica um pouco. Aí é querer abusar da nossa...

Luciano Pires: Mas nós somos mais chatos que eles. Você do alto dos seus 62. Eu nos meus 66, aqui. Eu sou mais chato que eles.

Helder Peixoto: A gente resiste.

Luciano Pires: A gente resiste. Nós somos mais chatos que eles. Estamos aí tocando. Meu caro, quem quiser encontrar agora a Casa de Vídeo, como que é? Dá os caminhos aí.

Helder Peixoto: Telefone, hoje em dia, ninguém mais liga. Aqueles fixos.

Luciano Pires: Só WhatsApp.

Helder Peixoto: É. A gente tem lá. Continua com o nosso velho e bom site, que não sai nunca do ar. Eu acho que está lá.

Luciano Pires: casadevideo.com.br?

Helder Peixoto: casadevideo.com.br. Instagram casadevideo.

Luciano Pires: @casadevideo?

Helder Peixoto: @casadevideo. E vem almoçar com a gente lá no Pacaembu.

Luciano Pires: Eu estou devendo. Eu preciso ir lá...

Helder Peixoto: Precisa almoçar no Pacaembu...

Luciano Pires: Numa casinha legal.

Helder Peixoto: É. A gente fica na Almirante Pereira Guimarães, 475, quase esquina ali com a Cardoso de Almeida. Pertinho do estádio. E o almoço continua sendo o tempero...

Luciano Pires: Da casa...

Helder Peixoto: Da casa.

Luciano Pires: Grande Helder.

Helder Peixoto: Obrigado meu querido. Obrigado mesmo.

Luciano Pires: Obrigado. Bom te ver.

Helder Peixoto: Obrigado. E adorei.

Luciano Pires: Precisamos nos encontrar mais. Uma vergonha né bicho? Grande abraço.

Helder Peixoto: Vamos.

Luciano Pires: Muito bem. Termina aqui mais um LíderCast. A transcrição deste programa você encontra no lidercast.com.br.

 

Locutor: Você ouviu LíderCast com Luciano Pires. Mais uma isca intelectual do Café Brasil. Acompanhe os programas pelo portalcafebrasil.com.br.

 

 

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