LíderCast 267 - Rafael Soares

Data de publicação: 29/03/2023, 14:31

Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite, bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o podcast que trata de liderança e empreendedorismo com gente que faz acontecer. No episódio de hoje temos Rafael Soares, empreendedor desde quando essa palavra não existia, fundador da Santa Carga e inventor nas horas vagas. Empresário como profissão, marketeiro por hobby e pai por vocação. Uma história sensacional de um batalhador que de vendedor de sanduíches na praia, se torna dono de uma franquia de mídia que cresce a taxas absurdas. Rafael mostra que ser um inconformado é o primeiro passo para quem quer fazer acontecer. Meu, que baita papo.

Muito bem, mais um LíderCast, eu sempre começo contando como é que o meu convidado chegou até aqui, esse aqui foi um amigo em comum, a Barbara Stock que falou, cara, o Rafael tem um negócio legal, precisa trocar uma ideia com ele, a gente fez uma live de business, que eu nem te conhecia, a gente conversou em uma reunião de um projeto que nós estamos pensando aí para o Café Com Leite, aí eu comecei a ver a história, cara, que baita história legal, vamos gravar, vamos, pronto, estamos aqui, então foi assim que ele chegou aqui. Eu começo sempre com três perguntas, que são as fundamentais, você sabe que essas três você não pode chutar, depois você chuta à vontade, mas seu nome, sua idade e o que que você faz.

Rafael Soares: Vamos lá, meu nome é Rafaela Soares, eu tenho 39 anos, e hoje eu sou fundador e diretor da Santa Carga.

Luciano Pires: Santa Carga, uma empresa de transportes?

Rafael Soares: Não, todo mundo faz a mesma pergunta, quando as pessoas entendem o que é o negócio, eles fazem assim, esse nome é bom, mas até você explicar o negócio. Não, Santa Carga é uma empresa que fabrica totens carregadores de celular, que salva as pessoas quando estão sem bateria.

Luciano Pires: Primeira necessidade, você viu aquela pirâmide de Maslow nova lá que a base dela é o wi-fi e uma bateria, sem ela não acontece a vida. Nasceu onde?

Rafael Soares: Eu nasci no Rio de Janeiro.

Luciano Pires: Rio de Janeiro?

Rafael Soares: Carioca, carioca mesmo.

Luciano Pires: Da gema. Tem irmãos?

Rafael Soares: Tenho uma irmã de 36 anos, fez 36 anos agora, que mora nos Estados Unidos, atleta, há muito tempo, ex-atleta no caso.

Luciano Pires: Seu pai e sua mãe faziam, fazem o que?

Rafael Soares: Vamos lá, meu pai era soldador e minha mãe era dona de casa.

Luciano Pires: Soldador e dona de casa.

Rafael Soares: Soldador e dona de casa, típica família média brasileira.

Luciano Pires: E teu apelido quando você era moleque, qual era?

Rafael Soares: Cara, sinistro, puxei no carioca agora, parece com x, meu apelido quando eu era moleque era sinistro, cara.

Luciano Pires: Sinistro, bicho, imagina o que que você aprontava para ter um apelido desse.

Rafael Soares: Sinistro, porque não só de desmontar as coisas, mas porque eu era bem esquisito, então meu apelido era sinistro quando eu era mais novo.

Luciano Pires: Já ganhou, é o melhor apelido que eu recebi até aqui, sinistro. O que que o sinistro queria ser quando crescesse?

Rafael Soares: Cara, sinistro pensou em ser cientista, escritor, arrumador de pasta de dente de supermercado, quando eu era criança que eu falei isso para minha mãe, minha mãe ficou louca, acho que quando eu crescer eu vou querer arrumar as pastas de dente no supermercado, que eu gostava, mas eu queria mesmo era ser escritor, era uma das profissões que eu queria ser.

Luciano Pires: Quando era moleque?

Rafael Soares: É, quando era bem novinho.

Luciano Pires: O teu Rio de Janeiro era o Rio de Janeiro das praias, de onde é que era?

Rafael Soares: Não, o meu Rio de Janeiro era o da baixada fluminense, de Duque de Caxias.

Luciano Pires: Duque de Caxias?

Rafael Soares: É, ali era o meu Rio de Janeiro.

Luciano Pires: Brabo lá não é não?

Rafael Soares: O que não é no Rio? Tipo, hoje eu moro em Copacabana, mas realmente, Caxias assim é bem complicado, é uma zona mais distante, eu não sei como comparar aqui com São Paulo, com outro bairro.

Luciano Pires: Aqui, eu não sei se tem nível de comparação, porque é muito diferente.

Rafael Soares: É muito diferente, aqui também as coisas são muito espaçosas, por exemplo, Duque de Caxias fica a 25 quilômetros do centro do Rio, então falando assim não parece ser tão longe, é o sétimo município mais rico do país por causa da refinaria da Petrobrás que tem lá, mas é um local, mas não é Rio de Janeiro, Rio de Janeiro pintado por Manoel Carlos nas novelas.

Luciano Pires: Sim, mas aquilo que eu digo, o Rio de Janeiro, você saiu ali da avenida, da beira mar, você entrou duas quadras para dentro o Rio já muda, são duas realidades completamente distintas.

Rafael Soares: Cara, se você pegar Copacabana, ir para Ipanema, já é um outro local, se for para o Leblon já é um outro local, é um outro Rio de Janeiro e são bairros assim, são ruas atrás de ruas completamente diferente.

Luciano Pires: Durante muito tempo tinham tribos muito bem localizadas lá, você tinha... até na praia, embora a praia seja emendada ali, você tinha a tribo de cada uma delas, que é interessante, isso meio que mudou hoje em dia, está bem... o Rio está bem judiado, cara, eu tenho ido para lá de quando em quando, ele está bem judiado, cara, São Paulo também está judiado, então vamos lá, a gente vai chegar na conversa aí. Mas aí o sinistro olha para a vida dele, fala, vou ser escritor, o que que você fez para buscar esse sonho que você tinha na época?

Rafael Soares: Então, vamos lá, venho de uma típica família brasileira, típica que eu digo da minha realidade, da minha bolha, que era o pai que trabalhava, a mãe do lar, então meu pai era soldador, sustentava a casa, minha mãe tomava conta da gente, esse era o básico. E o que que acontecia? O meu pai, ele trabalhava sempre muito, muito, do tipo assim, de sair de manhã, quatro horas da manhã, chegar em casa de noite, a gente já estar dormindo etc. E a minha mãe, ela sempre foi muito assim rígida, mas não cortava os sonhos da gente, sabe? Ela sempre foi rígida, mas sempre deu corda assim para a gente sonhar, e tentar ser o que quisesse, então quando meu pai veio a falecer, eu tive que assumir minha casa.

Luciano Pires: Com que idade?

Rafael Soares: 17 anos. E minha irmã uma pré-adolescente ali, uma adolescente, supernovo, foi um baque muito grande e foi um ensinamento muito grande também, que foi o seguinte assim, meu pai, ele veio para São Paulo fazer um trabalho, um serviço, ele ia ficar aqui um mês, dois meses, ele chegou de surpresa em casa. Eu falei assim, o que que houve, o senhor voltou. E eu preocupado, ficou desempregado, não sei o que, e a gente vai entrar nesse pedaço da história, que foi quando a sementinha do empreendedorismo foi plantada na minha vida. Então, meu pai chegava, meu pai chegou e falou, não, só senti saudade de vocês, vim ver vocês. Achei aquilo estranho, tudo bem, enfim, lembro perfeitamente desse dia, estava passando o jogo do Brasil na televisão, falei assim, bom, meu pai dorme cedo, porque ele acorda cedo, o que que houve? No outro dia ele foi na empresa que ele prestava atendimento aqui e teve um AVC, e veio a ficar em coma aí durante sete dias, depois faleceu.

Luciano Pires: Caramba.

Rafael Soares: Foi como se ele viesse para se despedir, sabia? Então assim, depois você com tempo você vai ganhando maturidade, o tempo vai te ensinando, eu percebi que parece que quando a hora chega, acho que a gente sabe antes, sabe? Acho que a vida dá alguns sinais antes, então eu comecei a pesquisar sobre, sabe aquelas melhoras que às vezes a pessoa tem no hospital e depois... exatamente. Então, eu senti assim que meu pai veio se despedir, porque foi completamente uma surpresa, meu pai estava super bem, teve um AVC, ficou internado 7 dias em coma, e veio a falecer. E aí eu estava com a minha mãe, minha irmã, minha mãe teve uma doença que na época que descobriram somente 13 pessoas no mundo tinham, que era uma síndrome que ela ia acabando com os seus sentidos aos poucos, então minha mãe dormiu ouvindo, acordou sem ouvir, surda, completamente surda e já estava afetando os olhos, mas essa doença ela tem como você parar ela desde que você descubra com o diagnóstico correto, E era uma síndrome que só dava em descendentes de índios, então assim nós descobrimos, quando descobrimos ela já tinha perdido uma visão do olho e ela já estava deficiente auditiva, eu com a minha irmã ali, eu falei assim, cara, fodeu, agora eu vou ser o dono da casa. Só que vamos dar um passo atrás, o que que acontecia? Quando meu pai ficava desempregado, a gente dava um jeito, então assim de fome a gente não ia morrer, não ia passar fome, então a gente vendia salgado, vendi a caldo de cana com pastel na porta de casa, vendi cachorro quente na porta de casa, vendia sanduíche na praia de Copacabana, então assim eu conto para as pessoas que eu sou um ex ambulante de Copacabana que tentou abrir um cassino no Caribe, um plot twist que daria uma boa série da Netflix. E a gente sempre dava um jeito, E aí Luciano, foi quando a sementinha foi plantada, porque o que que acontecia? Meu pai acordava muito cedo, chegava muito tarde, a gente não tinha tempo para ficar junto, quando meu pai ficava desempregado a gente passava mais tempo junto, entendeu? Mesmo que fosse vender peixe na feira, cara, já vendi peixe na feira e vou te falar é horroroso, porque o cheiro não sai de você, se duvidar ainda deve ter um pouquinho de cheiro de sardinha aqui dentro do estúdio desde aquela época, então assim, mas a gente ficava mais junto, sabe? Aquilo gerava união, era mais difícil? Muito mais, porque você tem que acordar cedo, você tem que ir no sítio pegar cana, trazer, raspar a cana toda para colocar para vender, minha mãe fazia o pastel, fazia o bolinho de aipim, mas a família, ela ficava mais junto, gerava mais conexão, então ali parece que... tenho certeza que foi plantada a sementinha do empreendedorismo que, cara, isso é bom, isso dá mais liberdade. E quando o meu pai faleceu, eu nunca tinha tido nenhum emprego, muito mal um estágio, me lembro que uma vez eu consegui um menor aprendiz, hoje é jovem aprendiz, menor aprendiz, mas na época era alguma coisa de meu primeiro emprego com os Correios, que era quatro horas por dia para ganhar meio salário mínimo, eles me botaram em uma sala separando carta, foi a única experiência que eu tinha. Então assim, quando o meu pai veio a falecer, eu falei assim, cara, agora eu tenho que assumir a minha casa, como é que a gente faz? Como é que funciona?

Luciano Pires: E não passou pela tua cabeça ter que arrumar um emprego? Não, eu tenho que arrumar uma fonte de renda.

Rafael Soares: Não, o que que aconteceu? Quando o meu pai faleceu, os donos da empresa que ele trabalhava me deu um emprego, me deu um emprego de auxiliar de escritório, então peguei, comecei a trabalhar lá na empresa deles, falei assim, cara, eu não tenho escolha, não tenho plano B, não tem como, só que eu acordava, a mesma coisa que meu pai fazia, quatro horas da manhã, pegava ônibus, duas conduções cheias, chegava no trabalho, voltava, estava de noite, morrendo de cansado. Cara, ali eu descobri o que eu não queria para a minha vida, entendeu? Acho que muito mais importante do que você descobrir o que que você quer, você ter certeza do que você não quer. Então, eu falei assim, cara, eu não quero isso para a minha vida, então eu peguei, trabalhei lá durante três meses, foi meu contrato de experiência, pedi para não renovarem, nesses três meses, eles ainda me deram uma gratificação e eu peguei, e eu comprei um bar em frente a casa da minha mãe, que tinha, que eu morava e eu montei a minha primeira lojinha de informática, coloquei uma plaquinha, conserta-se computador, daí eu ia...

Luciano Pires: Você comprou um ponto, foi isso, você comprou um ponto?

Rafael Soares: Comprei um ponto, exatamente, por 800 reais.

Luciano Pires: Quanto?

Rafael Soares: 800 reais.

Luciano Pires: Um ponto? Duque de Caxias.

Rafael Soares: Em Duque de Caxias, em um bairro, por ironia do destino, o nome do bairro era Copacabana e a rua Ipanema.

Luciano Pires: Estava no destino.

Rafael Soares: Só que aí o que que aconteceu, Luciano? Eu comprei, lembra do sinistro lá atrás? Eu sempre fui uma criança muito curiosa, então sempre desmontei televisão, desmontava carrinho de controle remoto, queria saber como as coisas funcionavam por dentro, sabe? E é muito importante falar isso porque os meus pais me incentivaram o seguinte, uma vez meu pai me deu um computador, era um 486, cara, só a galera de lá de trás que vai lembrar o que que é, era o 486, in enter, sabe, abrir aquele Windows 3.1. E aí uma vez eu quebrei o computador que o meu pai me deu, e aí meu pai falou assim, vamos lá levar para consertar, e quando eu entrei na salinha do cara para consertar, eu falei assim, cara, eu vou sentar do lado dele, eu vou ver tudo o que esse cara está fazendo, tudo, tudo, eu fiquei olhando tudo o que ele estava fazendo, quando eu saí de lá, eu virei para o meu pai e falei assim, acho que bem que eu sei consertar computador. Meu pai falou assim, tu não sabe porra nenhuma. Eu falei, cara, eu sei, acho que eu sei, acho que eu sei. E coloquei uma plaquinha na casa e comecei a pegar computador para consertar, e não tinha Google, a internet não era difundida assim não.

Luciano Pires: E você não tinha estudado para isso, você nem estudou?

Rafael Soares: Nada, nada, nada, nada, mas assim eu sempre fui uma criança muito curiosa e sempre gostei de tecnologia, esse é o grande pulo do gato, e aí eu peguei, meu pai veio a falecer, voltando lá, peguei aqueles 800 reais, comprei o ponto, botei uma plaquinha, uma mesa, uma cadeira, conserta-se computador.

Luciano Pires: Conserta-se computador?

Rafael Soares: Conserta-se computador, exatamente. E era uma época, Luciano, que o computador não era o que você consegue hoje em casa esquina, só quem vendia computador, Casas Bahia, Ponto Frio, Lising, computador era lising, era o bem que a pessoa tinha.

Luciano Pires: Se bobear era um Itautec...

Rafael Soares: Exatamente, Compac, IBM...

Luciano Pires: Importado, não pode esquecer, não tinha nada.

Rafael Soares: Exatamente, não tinha nada. Eu comecei a consertar computador, e ali o ex-patrão do meu pai, ele decidiu investir em mim, acho que ele viu algum talento, alguma coisa, e a gente abriu uma loja no centro de Caxias.

Luciano Pires: Técnica de computador, é isso?

Rafael Soares: Exatamente, venda de peça de computadores.

Luciano Pires: Você ficou sócio dele?

Rafael Soares: Exatamente, fiquei sócio dele. Só que eu tinha um fornecedor no Paraguai, entendeu? Que trazia as peças muito mais baratas nessa época que só tinha Casas Bahia e Ponto Frio. Cara, assim, eu anunciava uma página de jornal inteira no final de semana, eu vendia, tipo, 10 computadores por dia.

Luciano Pires: Você montava computador também?

Rafael Soares: Montava e vendia, exatamente, montava e vendia, consertava, montava e vendia.

Luciano Pires: Os primeiros o que que era, as montagens do Paraguai, bicho.

Rafael Soares: Cara, exatamente.

Luciano Pires: Um XT... como é que é?

Rafael Soares: Um XT 600, tinha...

Luciano Pires: Tinha a linha desse tamainho, com a linha verdinha com o cezinho piscando ali. Quando eu comprei, botei na minha casa, eu liguei, eu não sabia onde apertava o on daquele treco, agora, o que eu faço com isso? Era o pré-história daquilo lá.

Rafael Soares: Era pré-história. Então assim, quando a gente começou a montar a coisa já estava mais evoluída. E aí eu comecei a vender computador, a gente de uma loja, a gente passou a ter cinco lojas, tipo, em um ano.

Luciano Pires: Que ano era isso?

Rafael Soares: Cara, isso foi... meu pai faleceu em 2002, meu pai faleceu em 2002, isso foi 2003, 2004.

Luciano Pires: Ah então você já tinha, você já tinha passado o bug do milênio e tudo. Quando eu falo para você, eu estou falando de 1990 e alguma coisinha.

Rafael Soares: Não, não, já tinha passado, isso foi 2003, 2004, meu pai faleceu em 2002. Então, peguei, começamos ali, aí estava já tirando um dinheiro, aquela coisa toda, vendendo computador para caramba, então, eu tinha uma jogada de marketing muito boa, que eu sempre pensei o seguinte, cara, acho que o meu cliente não quer ter trabalho, então eu vendia já tudo junto, o computador, a impressora, a mesa, a cadeira e o estabilizador, botava tudo em um pacote, o cara ia lá, pegava aquele pacote com móveis e tudo e levava.

Luciano Pires: Vem cá, a origem desse computador era paraguaia?

Rafael Soares: Tudo do Paraguai.

Luciano Pires: Tudo por baixo do pano.

Rafael Soares: Tudo do Paraguai. Tinha um fornecedor que vinha, a gente calculava o dólar ali na hora, e tudo do Paraguai. E aí o que acontece, Luciano? Tem um problema que é o seguinte, quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza, eu nunca tinha visto dinheiro na minha frente, dinheiro, sabe? Aí você está vendendo ali 10 computadores por dia, faturando ali seus 10, 15 mil num dia, cara, nunca tinha visto tanto dinheiro, e aí eu me tornei uma pessoa extremamente arrogante, sabe? Soberba, porque era um mundo muito novo para mim.

Luciano Pires: Que idade você tinha?

Rafael Soares: Cara, eu tinha 18 para 19.

Luciano Pires: Puta merda, cara, a síndrome do jogador de futebol, o moleque com 18 anos vai para a Europa...

Rafael Soares: Cara, o que que eu fiz? Irmão, eu comprei carro importado, comprei carro com teto solar, não tinha nem habilitação, Luciano, comprei carro, vinha para São Paulo almoçar, pegava avião para almoçar em São Paulo e voltar, nesse nível, e eu digo assim, que eu tinha me tornado uma pessoa soberba e eu sou muito grato porque isso aconteceu no tempo certo, quando eu era novo, eu consegui aprender certo, e aí a minha mãe, que sempre me ajudou, que sempre me apoiou, para falar comigo, ela tinha que marcar horário na agenda, se não não atendia a minha mãe. Minha mãe já chegou na minha empresa e eu não atendi ela porque eu não tinha horário na agenda, de tão insuportável que eu me tornei.

Luciano Pires: Você ficou sinistro, cara.

Rafael Soares: Fiquei sinistro. Aí... enfim, só que aquilo, a conta não fecha quando você gasta mais do que você ganha, faturamento não é lucro, a conta não fecha, com essa conta não fechar, o que aconteceu? Quebrei.

Luciano Pires: O teu sócio não te deu uma brigada, nada?

Rafael Soares: Mas sabe o que que eu enxergo hoje, Luciano? Do fundo do coração, assim com mais maturidade, que eles só investiram como uma forma meio de cala a boca, sabe?

Luciano Pires: Cala a boca ou uma forma de ajudar o seu pai, a família do seu pai, alguma coisa assim, por gratidão.

Rafael Soares: Pode ser, porque não tinha cobrança, exatamente, não tinha cobrança, eu não sei se a legislação tinha alguma coisa pelo meu pai ter falecido na empresa deles, sabe, por alguma coisa assim, eu não sei ao certo, mas sei que não tinha nenhum tipo de cobrança, eu me lembro que ele chegou uma vez e falou, cara, vamos botar 30 mil aí. Ele injetava dinheiro, eu mostrava o que é que estava acontecendo, mas eu não tinha nenhum tipo de cobrança, então hoje eu enxergo dessa maneira e acabou que eu quebrei, cara, quebrei assim, devendo todo mundo, devendo aluguel, a fiadora na época da sala que eu tinha do escritório, era a avó de uma ex-namorada minha, e aquela tensão em família, que a gente vai perder a nossa única casa, e que não sei o que lá, cara, eu só tinha o carro. Eu falei assim, não, vamos ficar tranquilo, eu vou vender o carro, amanhã eu vou vender o carro e aí a gente paga os alugueis e tá bom, não tem problema.

Luciano Pires: Quer dizer, você quebrou espetacularmente aos 18 anos de idade, é isso?

Rafael Soares: Aos 19, aos 19 anos eu quebrei, quebrei na solda mesmo ali, quebrei de verdade, epicamente falando.

Luciano Pires: Mas moleque ainda, você não tinha dimensão do que era quebrar desse jeito na época?

Rafael Soares: Não, não tinha, eu descobri depois porque eu entrei em uma depressão meio braba, porque você imagina, aquele cara que saía todo arrumadão, entrava no carro, a última Coca-Cola do deserto, enfim. Aí eu falei assim, olha, no outro dia eu vou vender o carro, e vou quitar isso tudo. Saí da casa da minha namorada, geniamente falei assim, vou pegar uma contramãozinha para chegar em casa que é mais rápido, peguei a contramão, porrei em um carro de um polícia, que estava vindo um policial, bateu meu carro, meu carro voou no muro, e é engraçado assim, quem já sofreu algum acidente de carro, você consegue ver em câmera lenta perfeitamente tudo o que aconteceu na hora. Então, eu lembro perfeitamente, o carro bateu no muro, eu bati com a cabeça no parabrisa, rachou o parabrisa, não machuquei, abri a porta do carro, quando eu botei o pé para fora, enfiei o meu pé em tolete de cavalo, de cocô assim, que eu falei assim, cara, acho que é o universo desenhando para mim que realmente eu estou na merda, acho que agora o universo provou para mim que não tem como mais eu não entender o que está acontecendo com a minha vida. E aí eu peguei e falei assim, cara, mas tudo bem, mas o carro ainda tem seguro, está tranquilo, vamos lá, vamos seguir, chamei meu amigo, meu amigo veio, fez o boletim de ocorrência, porque eu não era habilitado, falando com o policial, poxa, tem seguro, vai pagar os dois carros, tudo bem. Fui dar entrada na seguradora, a seguradora faliu.

Luciano Pires: Ô loco, bicho, que maré.

Rafael Soares: Que fase, irmão, que fase. Aí a seguradora pediu falência, fiquei no prejuízo nos dois carros.

Luciano Pires: Quer dizer, perdeu o carro que você ia vender, teve que pagar o carro do polícia, e quebrado.

Rafael Soares: Exatamente, e um adendo muito importante assim, o que que aconteceu? Nessa época, antes de quebrar, porque ninguém fica rico do dia para noite, e ninguém fica pobre do dia para a noite, são decorrências de fatos que vêm acontecendo dia após dia, se a pessoa não consegue identificar, ela acha que foi da noite para o dia, ela acha que foi do dia para a noite, não é assim, então assim, ninguém fica pobre da noite para o dia, são fatos que vêm ocorrendo que se você não prestar atenção, uma hora vai acontecer. E o que que aconteceu? Eu já sabia que a empresa não estava indo bem, e aí eu peguei dinheiro emprestado com agiota para manter o padrão de vida, sabe? Cara, quando eu quebrei, eu quebrei com a dívida da empresa, com a dívida com agiota, com dívida com um monte de gente. E até legal contar essa parte do agiota, é legal agora, na época foi foda, na época que eu peguei dinheiro emprestado com agiota, olha que interessante isso, o agiota, eu comprava muita coisa em dólar que vinha do cara do Paraguai, ele preferia receber em dólar aqui no Brasil. E esse agiota falou assim, eu tenho três mil dólares aqui para te emprestar, beleza, juros de 30% ao mês. Sabe como é que esse cara me deu os três mil dólares? Se eu te contar, tu não acredita, duas notas de mil dólares e duas de 500 dólares, era uma nota extremamente rara, e eu não tinha o mínimo de maldade na época, é uma nota raríssima de... ele me deu duas notas de mil dólares, eu não acreditei que aquilo era verdadeiro, tanto que quando eu cheguei na casa de câmbio, quando eu mostrei para o meu fornecedor, ele não aceitou, porque ele achou que era mentira, quando eu cheguei na casa de câmbio, eu vi um alvoroço ali dentro na casa de câmbio e os caras na hora trocaram. Na hora me deram real, na hora, resolveu e para mim Brasil, fui embora. Aí depois, hoje em dia, cara, será que essa nota existe? E existia mesmo, só existia acho que mil notas dessa no mundo.

Luciano Pires: Caramba, eu não tinha ideia de que tinha nota de mil dólares.

Rafael Soares: Existe a nota de mil dólares e a nota de 500 dólares, são raríssimas, mas existem, e aí assim, se eu soubesse o valor daquilo, era muito mais alto do que qualquer dinheiro.

Luciano Pires: Então, quando a gente quebra espetacularmente desse jeito que você está comentando aí, bom, cara, vou falar com meu tio, pegar um dinheiro com meu tio, vou pegar com meu avô, vou pegar com o pai da minha mulher, vou dar um jeito aqui, vou no banco, pegar uma grana no banco, você tinha para onde correr nessa época?

Rafael Soares: Cara, então, eu até tinha, mas eu acho que meu orgulho na deixava, e aí o que que aconteceu? Quando eu quebrei, quem foi a única pessoa que me ajudou? Minha mãe, a que tinha que marcar horário comigo, minha mãe entrou em desespero, então ela pegou empréstimo consignado, ela pediu dinheiro para a tia, para a vizinha, para a prima, ela pediu dinheiro para todo mundo, ela conseguiu levantar todo o dinheiro que eu precisava e me ajudou a pagar as dívidas.

Luciano Pires: Ê mãe, hein, cara, qual o nome dela?

Rafael Soares: Lídia.

Luciano Pires: Dona Lídia, dona Lídia.

Rafael Soares: Cara, assim, a maior prova do que é o amor incondicional, porque na época eu não tinha filhos, hoje eu tenho uma filha, então você entende o que que é o amor incondicional, independente do que você faça, a pessoa, ela te ama e ela vai estar com você. E aí minha mãe me ajudou a sair dessa, eu entrei em uma depressão, porque eu fiquei em casa, eu falei assim, cara, o que que eu vou fazer agora? Eu sou novo, para mim minha vida tinha acabado ali, falei assim, cara, acabou. Só que o que acontece? Eu precisava dar um jeito de voltar, então fui voltando aos poucos, e como estava ainda... estava começando uma época, Luciano, de lan house, sabe essas lan houses, que eram casas de jogos, de acessar internet, ciber café etc. E na minha loja eu tinha montado muita lan house, então as pessoas sabiam que eu era bom em montar lan house, minha empresa era boa em montar lan house, então começaram a me chamar, poxa, você não quer vir aqui na lan house fazer uma manutenção, não? E cara, para mim aquilo era uma vergonha, Luciano, na época, sabe? Porque poxa, todo mundo me via com carro, o cara bem-sucedido, o cara que estava lá na loja, o dono das lojas, e aí eu botando minha mochilinha de volta assim nas costas, pegando ônibus, vamos começar de novo. O que restou daquela época? A lojinha em frente à minha casa, a lojinha em frente à minha casa manteve, então eu peguei o que eu tinha de peça de computador, botei quatro computadorezinhos lá e botei o nome de ciber café lan house, o pessoal jogar para gerar alguma coisa, e manutenção e lan house. Cara, nessa de manutenção e lan house, por na época eu ser uma referência naquela região de montar lan house, é muito fácil você... você era referência em locais, em bairros, porque não tinha a internet tão difundida, então era quem você conhecia e ponto final, igual quando você ia consertar seu carro, era o mecânico do bairro, você pega o mecânico do bairro, que era quem você conhecia. Eu comecei, as pessoas me chamaram para ser sócio de lan houses, então assim, passou nove meses, um ano, a gente estava com quatro lan houses, sabe, eu estava com sociedade em quatro lan houses ali na época.

Luciano Pires: Você arrumou o cara que financiava, o cara que botava a grana, você ia lá, montava tudo...

Rafael Soares: Porque na época parecia um investimento maravilhoso, porque o cara tinha o patrimônio do computador, e aquilo ali ainda gerava dinheiro todo santo dia. Cara, eu tinha lan house que ficava 24 horas assim, não fechava mais nunca, e a galera lotada, lotada, lotada todo tempo, eu lembro perfeitamente, era dois reais a hora, então assim lotada. Então, gerava uma boa grana. Só que aquilo, Luciano, quem já quebrou é tipo gato quando toma banho de surpresa, sempre fica ressabiado, não tem jeito. E o que que eu comecei a perceber? Que a internet... para você ter noção, a internet da lan house era de um mega, e era a mais rápida da época, que era a Velox de um mega, eu percebi que a internet estava começando a chegar nas casas das pessoas, entendeu? Que antigamente a gente só tinha internet discada, aquele barulho, que acessava de noite, enfim. O que que eu fiz? Eu falei assim, cara, eu vou sair fora, isso aqui não vai dar certo, isso aqui não vai dar certo, peguei, vendi todas as minhas participações em lan house e saí já com o pressentimento que aquilo ali ia quebrar.

Luciano Pires: Uma hora ia perder o sentido.

Rafael Soares: Com certeza, e perdeu não na época que eu falei, mas perdeu depois de uns dois anos, perdeu total sentido. E aí veio uma fase da minha vida que é muito interessante, que é o seguinte, eu peguei, eu fui em um bar comprar uma Coca-Cola para almoçar, e no bar tinha aquelas máquinas de caça níquel, sabe essas maquininhas de jogar, de caça níquel. E o cara pegou e estava abrindo essa máquina no momento que eu estava lá no bar, quando eu olhei dentro da máquina, era uma placa de computador, cara, eu não acreditei, eu falei assim, porra, esse caça níquel é uma placa de computador, tipo assim, esse caça níquel é a mesma placa que eu importava do Paraguai, eles usam aqui? Na minha cabeça não fazia sentido, porque eu não conhecia o que era. Beleza, fiquei com aquilo na cabeça, falei, caraca, é uma placa de computador, caça níquel, enfim, procurei as pessoas, networking, e comecei a fornecer as placas de computador para os fabricantes de caça níquel.

Luciano Pires: Quer dizer, o caça níquel que era um negócio ilegal...

Rafael Soares: Exatamente, ainda é.

Luciano Pires: E você fornecendo placas paraguaias...

Rafael Soares: Exatamente, para o caça níquel. Cara, e aí o que que eu descobri? Às vezes tinham jogos que eram antigos que não rodavam em placa nova, então eu comecei a comprar computador de leilão, cara, eu fui para Natal, comprei 300 computadores no leilão da Caixa Econômica, sabe? E aí eu desmontava os computadores lá mesmo, pegava dois ajudantes, vendia a sucata lá, para pagar os custos da viagem e trazia só as placas para o Rio de Janeiro, enfim, comecei a... só que não adianta, Luciano, o espírito empreendedor, ele bate no cara, ele quer crescer, independente da onde ele esteja, ele quer crescer. Eu comecei a fornecer as placas, comecei a falar, cara, estava bem assim, estava ganhando, na época eu me lembro que eu ganha 500 reais por semana, acho que o salário mínimo era 600 e pouco, enfim, fornecendo as placas estava bem. Só que, casa, você fala assim, como é que eu faço para ganhar mais? E eu falei assim, acho que eu consigo montar essa máquina.

Luciano Pires: Montar o caça níquel?

Rafael Soares: Exatamente, eu fornecia as placas, para montar a máquina era um pulo, e aí comecei a montar as máquinas de caça níquel, comecei a montar as máquinas, abri uma fabricazinha, comecei a operacionalizar aquilo ali, comecei a montar as máquinas...

Luciano Pires: Você foi atrás de fazer design, de montar, de imprimir?

Rafael Soares: Eu peguei tudo que já tinha pronto na época, comecei a buscar os fornecedores, exatamente, na mesma hora que eu ia entregar as placas, tinha um fornecedor que estava entregando o caixote, que estava entregando o acrílico, que estava entregando o botão, falei assim, cara, beleza, quanto custa uma máquina dessa? Ah custa 1800, 2000 reais, puxa, eu vendo a placa por 500, eu não vou gastar 800 para montar uma máquina dessa, 1500 é uma boa margem, comecei a montar. E aí eu acabei me tornando um dos maiores fabricantes de caça níquel do Rio de Janeiro, assim, muito caça níquel.

Luciano Pires: Cara, na ilegalidade?

Rafael Soares: Totalmente, totalmente. E aí é bom a gente abrir um disclaimer aqui que é o seguinte, é ilegal, mas não é imoral, que a gente estava conversando, acabei de ouvir o último podcast com o Leo Baptista da Pay For Fun, exatamente, sobre bet, sobre apostas, cassinos etc, enfim, sobre jogo, geração de emprego, as bets estão aí a torto e a direita, enfim, o que que eu quero dizer com isso? Se você pegar um avião agora, ir para a Argentina, você joga, se você entrar dentro de um navio, você joga...

Luciano Pires: Se você for aqui nos lugares, nos Jardins aqui você também joga.

Rafael Soares: Você joga, todo mundo sabe que você joga. Mas eu peguei e comecei a montar essas máquinas, caça níquel assim. Claro, tinha... comecei a ter galpão gigante, porque é um movimento de dinheiro e é dinheiro, dinheiro vivo, surreal, e aí tem um fato bem interessante que foi uma vez assim, eu sempre fui muito curioso e sempre gostei de solucionar problemas, então comecei a montar não só caça níquel de bar, mas como máquina de bingo, entendeu? Desses bingos ali que tem clandestinos, então eu comecei a montar essas máquinas e eu já entendia tudo o quanto é software, cara, então assim, eu trazia jogo novo, conhecia pessoas que forneciam jogo novo, então eu estava muito dentro das coisas, e o jogo, ele tem um problema para o homem, porque ele envolve todas as vaidades do homem, ele envolve fama dentro daquele seu nicho, ele envolve poder, porque você passa a ter um poder paralelo ali naquele seu nicho, e ele envolve ali dinheiro, muito dinheiro. E o que aconteceu? Teve uma época que a polícia, ela estava apreendendo muito caça níquel nos bares, teve uma época que arrocharam lá no Rio de Janeiro, e aí os caras estavam perdendo muito caça níquel, não tinha como repor, não adiantava repor, porque se não eles iam perder de novo, e aí o que que vai fazer, o que que vai fazer? Cara, eu criei uma máquina que era em um quadradinho assim, retângulo, e o que que aconteceu? Eu falei com eles, olha, a gente vai fazer uma máquina diferente, vamos botar isso aqui no bar, quando a polícia chegar, o dono do bar aperta o botão, ela vira uma máquina de música, ela virou jukebox, entendeu? Porra, foi um sucesso, velho, foi um sucesso, eu tenho certeza que se fosse legalizado eu estava na capa da Veja.

Luciano Pires: Você inventou aquele treco?

Rafael Soares: Exatamente, eu coloquei lá, coloquei um suíte, falei assim, olha, quando a polícia chegar, o dinheiro não entrava na máquina, o dinheiro entrava na mão do cara do bar para não ter ali as notas, nada que ciscasse muito, o cara vai jogar aqui, se a polícia entrar, é só você apertar esse botão, que a tela muda para uma máquina de música, e a máquina de música era legalizada, tranquilo. Cara, foi um sucesso, e aí chegou uma hora que um cara chegou, um chefão lá de uma região, que eu vou até evitar assim locais, nomes, tenho o maior carinho, nunca tive nenhum tipo de problema.

Luciano Pires: Essa era uma pergunta que eu ia evidentemente fazer para você, cara. Se você está atuando assim à margem, você está na marginalidade ali, você está lidando com uma coisa que é ilegal e tudo mais, você está muito próximo de todos os tipos de ilegalidade, que nem escola de samba, se é o bicheiro que manda, tem de tudo ali dentro, então você vai passar perto do tráfico, vai passar perto do roubo, vai passar perto de lavagem de dinheiro, você está em um universo que é povoado por um tipo de gente que, cara, é perigosa, e acho que aí tem que ter uns certos cuidados para lidar, escreveu, não leu, o pau comeu, o bicho pega. Como é que era isso, cara?

Rafael Soares: Exatamente, e aí assim, mas é aquilo também, você tem que ser correto em tudo o que você faz, em qualquer lugar que você esteja. Então assim, eu sempre segui muito correto, então isso fez com que eu ganhasse muito mercado, digamos assim, na época, porque eu conseguia entregar no prazo, eu já tive loja, então assim, eu vim com aquela minha experiência do comércio, eu sabia o que que o cliente queria ouvir, o que que o cliente queria receber, então conseguia entregar no prazo, da forma correta. E cara, acontece cada coisa no jogo que é absurdo, é absurdo, porque está todo mundo envolvido, todo mundo envolvido. Enfim, aí um cara de uma região virou e falou assim, me chamou para conversar, falou assim, cara, passa lá no meu escritório, quero conversar contigo. Aí cheguei lá, Luciano, eu parei para conversar com ele, entrei em uma salinha, dois seguranças, passa por uma porta, passa por outra, senta aí, o cara falou assim...

Luciano Pires: Isso em Duque de Caxias tudo?

Rafael Soares: Isso não, em um outro bairro.

Luciano Pires: Mas era... você não estava na praia ainda, você estava na tua região?

Rafael Soares: Não, os bingos eram na praia.

Luciano Pires: Na praia, mas você estava lá no interior...

Rafael Soares: Exatamente, os bingos eram na praia. Esse cara me falou, ele falou assim, eu acho que você... eu fiquei sabendo que você inventou uma maquininha aí que muda para máquina de música, como é que é isso? Eu falei, não, é. Isso, imagina o seguinte, eu entrei em uma sala, uma salinha, eu estou conversando com o cara, mas eu não estou vendo ele, sabe por que que eu não estou vendo ele? Porque ele está atrás de uma mesa, atrás de uma montanha de dinheiro.

Luciano Pires: Isso é filme de gangster, isso é Hollywood, bicho.

Rafael Soares: Cena de filme, o cara está atrás de bolos e bolos de dinheiro, conversando contigo, fazendo outra coisa, e eu não conseguia ver o cara direito, 100% porque o cara estava atrás de uma bola de dinheiro, é como se tivesse dinheiro até aqui assim. E aí aquilo, você nervoso ali, o cara falou, fez uma maquininha... queria ver algumas contigo. Aí ele falou assim, quanto que é? Eu falei, cara, dois mil reais. Aí ele falou assim, tá, vou querer 500. Aí eu, tudo bem, mas eu só consigo te entregar 25 por semana. Não, não tem problema não, tá fechado? Eu falei assim, não, não tá fechado, cara, porque eu não tenho grana para bancar isso. Quanto você precisa? Cara, eu preciso pelo menos aí uns 30%. Aí ele, 30%? 300 mil? Fulano, faz uma bolsa ali, esse rapaz aí. O cara botou 300 mil reais.

Luciano Pires: Cara, isso é Hollywood, bicho, isso é filme de gangster.

Rafael Soares: Isso 2009, minha esposa na época estava grávida, minha namorada na época estava grávida, 2009 para 2010, minha filha nasceu em 2010, isso mesmo. Aí o cara botou assim dentro da bolsa, aí eu saí de lá com um saco com 300 mil reais aqui na mão, o cu na outra, porque eu estava nervoso para caralho.

Luciano Pires: E 300 paus em 2009, cara, isso é o que hoje, bicho?

Rafael Soares: E esse local ficava mais ou menos a uns 30 quilômetros da minha casa, e eu não sabia o que fazer, irmão, vou para onde? Esse dinheiro não pode entrar no banco, esse dinheiro vai lá para casa... ele só virou e falou assim, olha, você está nervoso, fica tranquilo, vai para casa, o que acontecer no caminho, você só liga para esse número aqui, de qualquer lado, vai tranquilo. Mas como é que você vai tranquilo, cara? Com 300 mil dentro de um saco plástico preto amarrado. Aí eu me lembro que tinha um amigo meu que estava embaixo com o carro, quando eu desci, aí ele me olhou assim, e ele falou assim, cara, você não subiu com essa bolsa. Pois é. Ele, porra, tu vendeu máquina, não é? Vendi. Só me fala quantas e para quando. Aí eu falei, cara, a gente tem três meses aí para entregar 500 máquinas. Aí ele, beleza, vamos embora. E aí a gente montou, a gente conseguiu entregar.

Luciano Pires: 500 máquinas?

Rafael Soares: 500 máquinas, cara, 500 máquinas.

Luciano Pires: O cara esparramou isso, devia ter todos os pontos?

Rafael Soares: Cara, o Rio de Janeiro é gigante, gigante assim, e quanto mais pobre o local, mais igreja e jogo vai ter, não tem jeito. O Rio de Janeiro é gigante, aí o cara pegou, colocou isso lá, a gente conseguiu entregar, enfim, demorou um pouquinho mais de tempo, porque tinha que correr atrás de peça, mas entreguei. E aí o que que aconteceu, Luciano? Dali qual era o próximo estágio da minha carreira nesse coisa? Ser o dono do bingo, esse era o próximo estágio que eu estava almejando, digamos assim, nessa minha carreira. E aí eu cheguei a ter um bingo meu, no caso, eu tinha um bingo em Ipanema, cara, para você ter noção assim, eu falo, as pessoas não acreditam, eu tinha uma casa em Ipanema que era um bingo assim, uma casa em Ipanema, em Ipanema só tem prédio, um negócio assim, e é incrível como jogo, os perfis de pessoas do jogo, sabe? As pessoas pensam que sempre são as pessoas mais pobres, nem pensar, na zona sul são as pessoas mais influentes da sociedade que você imagina estão naquele local para jogar.

Luciano Pires: Que é o povo que sai do Brasil para jogar em um cassino.

Rafael Soares: É, eu cansei de ver no bingo assim senhoras de 60, 70 anos, que a única companhia que ela tinha era no bingo.

Luciano Pires: Cara, eu me lembro aqui em São Paulo, tinha os bingos aqui, tinha umas casas grandes, até o governo fechar tudo, e quando ele fechou, a Dercy Gonçalves, cara, ela ficou alucinada, ela falou, cara, a única coisa que eu tenho na minha vida é vir no bingo, jogar meu bingo, vocês me fecharam meu bingo.

Rafael Soares: O que você vê de senhoras, mulheres que não tem ninguém além da empregada e estão lá só para jogar. Assim, tinha uma senhora que jogava, que ela recebia 60 mil na época de pensão, de brigadeiro, de não sei o que lá, e cara, ela não tinha o que fazer a não ser jogar no bingo e ganhava às vezes, sabe, se divertia, estava ali, e está tramitando que a legalização, enfim.

Luciano Pires: Deve retornar aí.

Rafael Soares: Eu espero que venha de verdade, não é uma área que eu atuaria de novo, sabe? Para mim eu fechei essa porta e eu não volto mais nela, mas é algo que o Brasil precisa pensar, o Brasil precisa amadurecer sobre isso, mas enfim, comecei... virei dono de bingo, só que dono de bingo você ganha mais visibilidade, porque consequentemente você ganha mais dinheiro, me lembro que na época, cara, esse bingo, ele me dava 5 pau por dia, todo dia, todo dia, sabe, todo dia assim, e eu comecei a ser responsável técnico de todos os bingos ali daquela região, então assim, eu tinha minha equipe de manutenção, negócio era organizado, sabe, tinha uma equipe de manutenção, tudo, então eu comecei a ganhar muita grana, dinheiro que eu jamais havia visto.

Luciano Pires: Que idade você estava?

Rafael Soares: Cara, eu estava com 27, 27, 28, foi isso mesmo, 27...

Luciano Pires: Seis, sete anos depois de quebrar espetacularmente você estava de volta ao...

Rafael Soares: Exatamente, eu estava de volta ao jogo, só que tem um problema do dinheiro do jogo, eu não vou colocar aqui a parte mística do dinheiro, do peso do dinheiro, do valor do dinheiro, mas sim a parte racional, em que você perde o valor do dinheiro, como assim? Por exemplo, você passa a não ter noção de quanto que vale 300 reais, porque se você ganha 5 mil reais por dia, 300 reais para você não é nada, para você sair de noite, você gastar mil, dois mil em uma noite não faz diferença, é muita coisa que você vê, naquela época assim, eu sempre abominei ostentação, só que o ambiente te molda, não adianta, o ambiente que você convive te molda, e qual era o meu ambiente, o meu ambiente era aquele pessoal, aquela figura perfeita e bicheiro, blusão, cordãozão de ouro, relogioão, enfim, carrão, tem o fato que eu lembro que eu vim aqui para São Paulo para trocar de carro, porque só aqui em São Paulo tinha o carro que eu queria, eu cheguei para o cara e falei assim, eu vim aqui trocar o carro, que eu tinha falado contigo, eu tenho esse aqui, vou te dar esse aqui. E o cara falou assim, não, beleza. Na época o carro era 100 mil, aí o cara falou assim, não, beleza, vou pagar 50 no seu, os outros 50 você vai fazer como, vai fazer no Ted, vai financiar? Não, eu trouxe aqui.

Luciano Pires: Está aqui na sacola.

Rafael Soares: É, trouxe aqui na mochila, conta aí que eu vou almoçar e já volto. O cara ficou assim meio atordoado, porque em um sábado o cara chegou com 50 mil na mochila, conta aí que na volta eu pego o carro. Você perde completamente a noção do dinheiro, completamente, e é um dinheiro que tem certo peso se você não tem maturidade para lidar com ele, sabe assim, acho que o dinheiro você precisa aprender a lidar com o dinheiro, eu aprendi sobre isso. Então assim, como você...

Luciano Pires: Se não ele manda em você.

Rafael Soares: Exatamente, então eu peguei... e aconteceu uma questão que para mim foi o ponto de virada, foi o fechamento da porta, que foi o seguinte, o brasileiro, ele não confia na polícia, ele não acredita na polícia, sendo a polícia federal, cara, ela é incrível, velho, ela é sensacional, as pessoas não acreditam. E aí teve uma operação da polícia federal, e nesse tempo todo, a gente... cansei de dormir sozinho em hotel com medo, porque ia ter operação da polícia, a polícia sempre chega muito cedo na casa das pessoas, e aí nesse dia teve uma operação da polícia, eu já havia dormido fora, porque a informação chega antes, e aí eu dormi fora, você imagina, não chegou nada lá em casa, tranquilo, estamos de volta ao jogo, segue normal, e aí eu liguei para um amigo meu, ele falou assim, cara, prenderam fulano e ciclano hoje, liga a televisão para você ver. Aí eu liguei, aquele estardalhaço, operação da polícia federal, não sei o que lá, aí ele virou para mim e falou assim, cara, eu acho bem que estão me procurando também, me encontra no local onde a gente se esbarrou um dia desses. E esse local era no centro do Rio de Janeiro. Peguei, parti para o centro do Rio de Janeiro, encontrei com ele, cara, vamos almoçar, vamos botar a cabeça no lugar, ele falou assim, não, vamos assim. Almoçando, ele falou, cara, vou ligar aqui para o advogado para saber se ele consegue ver se tem alguma coisa para mim. Aí ele ligou para o advogado, falou assim, doutor, me espera na Presidente Vargas esquina com a Uruguaiana. Não esqueço, cara, aí ele foi para lá, cara, quando ele chegou na esquina...

Luciano Pires: Estava tudo armado.

Rafael Soares: Não, o cara chegou na esquina tranquilo, daqui a pouco chegou um cara, agarrou no braço dele e falou, fulano de tal, polícia federal, você está preso. Quando ele falou isso, cara, o cara fez assim, fechou a Presidente Vargas, um carro voado e já botou o cara dentro do carro, e tipo assim, eu do lado do cara, e nada aconteceu comigo.

Luciano Pires: Ah, você estava junto?

Rafael Soares: Eu estava junto e nada aconteceu comigo assim. E aí aquilo ali me deu uma pane, sabe? Porque a minha filha tinha acabado de nascer, minha filha estava com três meses, isso era 2010, minha filha estava com três meses de nascida, cara, eu virei e falei assim, velho, eu não vou passar por isso, eu não vou passar por isso. E aí começa a chegar informação de lá de dentro, o pessoal estava querendo saber quem é o Rafael de Caxias, quem é o Rafael de Caxias, que eles sabem que monta máquina, quem é o Rafael de Caxias. Eu falei assim, cara, eu não vou dar esse mole. E aí eu virei lá para o pessoal e falei assim, olha, estou saindo fora, porque... e eu lembro perfeitamente a frase que eu falei para eles, eu falei assim, olha, você não me leve a mal, não é arrogância, mas eu sou inteligente demais para estar passando por isso, eu sei que vai ser difícil, mas para mim não dá. O cara, me olhou, beleza, o que que você tem lá? Falei assim, cara, ainda deve ter uns 100 mil de mercadoria e de equipamento. Não, beleza, eu compro tudo. Entreguei os 100 mil e falei assim, cara, acabou, não vou tocar mais esse negócio, vamos ver o que eu vou fazer daqui para a frente. Só que aí tem um problema, você não quer diminuir o seu padrão de vida, porque como eu falei antes, o ambiente, ele te molda, então eu estava em um ambiente que era extremamente ostentação, grana, mulher, bebida, assim, nunca usei droga, nunca joguei também, nunca me envolvi com essas paradas, mas você está em um ambiente que ali está te moldando, e você não quer demonstrar fraqueza para aqueles que ainda estão próximos, então queria manter o meu padrão de vida, peguei a família em dezembro, levei para férias na Disney, com Mickey, natal, os caramba a quatro, beleza, só que aquilo, imagina, uma caixa d'água, só sai e não está entrando mais. Só que tem aquilo, o jogo, ele não é viciante só para quem joga, o jogo é viciante para quem participa para todos os lados. E aí eu falei assim, cara, eu senti falta, eu estava sentindo falta da adrenalina, até da polícia eu estava sentindo falta, sabe, Luciano? Estava sentindo falta da adrenalina, estava sentindo falta daquela coisa ali.

Luciano Pires: É, ficou tudo calmo, a impressão que não está acontecendo nada.

Rafael Soares: Cara, minha vida era à noite, sabe? Eu só entrava nos bingos de madrugada, porque era mais seguro, e caraca, e agora, como é que vai ser da minha vida? E aí fiz uma pesquisa... teve um evento na câmara de Curaçau aqui em São Paulo, Câmara de Comércio de Curaçau, uma ilha do Caribe, eu peguei e falei assim, cara, eu vou lá, Curaçau tem cassino, Curaçau tem tudo etc, beleza, falei assim, porra, vou abrir um cassino.

Luciano Pires: Em Curaçau?

Rafael Soares: Em Curaçau, falei assim, vou abrir um cassino, velho, porra, é o que eu gosto de fazer, sabe, lá é legalizado. Peguei e fui para Curaçau a primeira vez para conhecer, conheci, vi os cassinos, vi a estrutura da ilha, que não estava em rota de furacão, incentivo para quem fosse para lá, sabe assim, imposto de 1%, falei assim, cara, perfeito, voltei para o Brasil, me reuni com as pessoas, que eu não tinha a grana toda para bancar o cassino, falei com o chefão lá, o cara adorou a ideia, porra, estou contigo para caramba, com certeza. Falei, cara, só vai legalizar, sabe, a gente vai estar legal, sete horas só de voo, vai daqui para Bogotá, Bogotá para Curaçau, a gente bota essas velhas no avião, vamos para lá, fora isso, vamos botar samba, feijoada, vai ser um cassino brasileiro em Curaçau. E Curaçau é uma ilha que ela recebe três voos diários da Holanda, que ela é colonizada pela Holanda, Aruba é um pouco mais americanizada, que é bem do ladinho ali, mas aí Curaçau, e cara recebia cruzeiro, recebia um monte de coisa, falei assim, cara, a ilha está crescendo.

Luciano Pires: Moeda corrente é o euro e dólar.

Rafael Soares: Paraíso fiscal, assim, cara, vamos para lá, vamos, vamos embora. Então, lembro que o... na época se eu não me engano, a gente ia gastar 250 mil dólares.

Luciano Pires: Que ano era isso?

Rafael Soares: 2011, minha filha já tinha nascido, 2011. Aí vim embora, beleza, 250, 500 mil dólares, alguma coisa assim, beleza, fui lá, fiz reunião, fui para Curaçau umas cinco vezes nessas idas e vindas, sabe, procurando local, fechando local, porque tinha que ter um hotel, lá não pode ser cassino, cassino, tinha que ser cassino hotel, então tem que ter alguma hospedagem, tanto que lá tinha uns cassinos menorzinhos, que tinha tipo, dois quartos em cima para falar que era hotel. Enfim, fui lá, tudo certo, não podia ser minhas máquinas, óbvio, as máquinas, porra, fabricação aqui no Brasil com comparação com máquina de cassino que vem de Las Vegas, com empresas de Las Vegas, só para você ter uma ideia, a empresa de Las Vegas, ela ia ganhar, se eu não me engano, acho que 5% do lucro da máquina.

Luciano Pires: Oferecendo as máquinas?

Rafael Soares: Todas as máquinas, colocando todas as máquinas lá dentro.

Luciano Pires: Você não pagava pelas máquinas?

Rafael Soares: Não.

Luciano Pires: Põe e pega 5%.

Rafael Soares: Pega 5% e a manutenção era dele.

Luciano Pires: Olha o tamanho desse negócio, cara.

Rafael Soares: Para você ver o tamanho desse negócio, exatamente, ter noção do tamanho desse negócio. Assim, cara, na ilegalidade o tamanho do negócio é assustador, sabe, Luciano, assim, assustador. Mas enfim, aí cheguei lá, deu tudo certo, consegui o hotel, o hotel era até patrimônio da UNESCO, Cura Holanda, um negócio assim de frente para o mar, bonito para caramba.

Luciano Pires: Que língua você falava lá, cara?

Rafael Soares: Cara, lá fala inglês.

Luciano Pires: Você já tinha dominado, você já dominava o inglês, o espanhol?

Rafael Soares: Cara, bem pouco, bem pouco, mas lá fala inglês, espanhol, francês e papiamentu. Holandês e papiamentu, que é a língua deles original. Cara, o mendigo, ele te pede esmola em quatro idiomas, é da escola isso, já vem de berço. Beleza, abri a empresa, levei 200 mil dólares para lá, que era o dinheiro que eu tinha, na época o dólar era 2,10, 2,25, e estava faltando, estava faltando 250 mil dólares, o aluguel do espaço era 25 mil dólares por mês, então daria 50 e poucos mil reais, mas saía na urina se fosse nosso business plan ali, porra, perfeito, coisa linda, beleza. Vamos assinar o contrato, vamos assinar o contrato, estou esperando o dinheiro do cara chegar, estou esperando o dinheiro do cara chegar, nada do dinheiro chegar, nada do dinheiro chegar, eu lá e Curaçau, já fui seis vezes, já fui sete vezes, dia de assinar o contrato, porra, cadê esse cara? O cara foi preso no dia da assinatura do contrato, cara. Eu não ia ter a grana para bancar o negócio, sabe, porque o primeiro passo é... a empresa de Las Vegas falou assim, a gente desembarca as máquinas aí desde que o local esteja pronto. Então, nossa linha do tempo ia ser a seguinte, nós vamos pegar o local, assina o contrato de locação do local, reforma o local, as máquinas vêm, a gente começa a operar, beleza? Beleza. O cara foi preso no dia de assinatura do contrato.

Luciano Pires: Esse é o risco, não é uma empresa estruturada que se você prender o diretor, a empresa continua, prendeu o dono, acabou.

Rafael Soares: Acabou, acabou, acabou. E aí eu peguei, cara, eu fiquei lá... saí de lá assim, eu me lembro perfeitamente da cena, saí de lá sem som e sem imagem, saí perdido, aí parei em um lugarzinho assim, em uma sorveteria, pedi um açaí, não tinha açaí.

Luciano Pires: Opa.

Rafael Soares: É isso que eu vou fazer. Tentei tomar um açaí...

Luciano Pires: Cara, empreendedor é um bicho desgraçado.

Rafael Soares: Tentei tomar um açaí, não consegui...

Luciano Pires: Vamos botar uma gasolina, não tem, opa, olha a oportunidade aí.

Rafael Soares: Tentei tomar um açaí, não consegui, porra, como assim? Fui em outro lugar ninguém sabia o que que era açaí.

Luciano Pires: Vou trazer açaí para Curaçau.

Luciano Pires: Você está ouvindo o LíderCast, que faz parte do ecossistema Café Brasil, que você conhece acessando mundocafebrasil.com, são conteúdos originais distribuídos sob forma de podcasts, vídeos, palestras, e-books e com direito a grupos de discussão no Telegram. Torne-se um assinante do Café Brasil Premium, através do site ou pelos aplicativos para IOS e Android, você prática uma espécie de MLA, master life administration, recebendo conteúdo pertinente de aplicação prática e imediata, que agrega valor ao seu tempo de vida, repetindo, mundocafebrasil.com.

Rafael Soares: Porra, falei assim, é isso, mano, muda a empresa, Açaí Brasil, saiu de Brasil Games para Açaí Brasil em dois tempos, vamos mudar a empresa para Açaí Brasil, já tinha ido para lá seis vezes, já conhecia toda a ilha, tudo, como é que funcionava, Curaçau é uma ilha que você de duas horas de carro você vai de uma ponta a outra. E lá você tem carro que dirige na direita, lá você tem carro que dirige na esquerda, então assim, eles não têm política de importação, você pode trazer carro do Japão, não interessa, irmão, não tem nem seguro na ilha, não tem para onde o cara roubar e esconder o carro, entendeu? Era uma ilha na época, pelo menos quando eu fui, era muito segura assim, eu falei assim, cara, é isso, açaí porra, açaí, açaí, açaí, caralho, vamos lá, vive o luto lá do cassino que não vai acontecer, mas vamos ficar no açaí, que o seu dinheiro já está lá, porra, show de bola, beleza, Açaí Brasil.

Luciano Pires: Isso que é pivotada, hein, cara? Porra, isso que é pivotar, bicho.

Rafael Soares: Cara, ia abrir a Açaí Brasil. Voltei para cá para o Brasil e vamos buscar fornecedor de açaí, e aí vem o problema da logística, como esse açaí vai chegar em Curaçau?

Luciano Pires: Comida tem um monte de coisa.

Rafael Soares: Então, eu não ia levar navio de açaí para lá, até porque eu não tinha grana para isso, eu falei assim, vamos aos poucos, vamos validar, vamos ver como é que funciona, se ele fosse para Miami, ele precisava do FDA, mesmo que fosse só a escala, então o que eu eu fiz, cara? E a maioria dos fornecedores aqui não tinha esse FDA, entendeu? O que tinha era uma marca muito famosa que aí custo se tornava inviável. Aí eu falei assim, cara, mas tem uma rota pelo Suriname, aí consegui, fiz todo o esquema, fui no Pará conhecer açaí, isso e aquilo, forma de armazenagem, que vai levar broto, vai levar já em forma de sorvete, como é que vai ser, etc, enfim. Chegou açaí em Curaçau, o primeiro brasileiro a levar açaí para Curaçau, chegou lá através de uma rota pelo Suriname, contêiner refrigerado, de avião, uma grana. Merchandising, botei na porta dos hotéis para o pessoal experimentar, lojinha bonitinha, o que aconteceu? O pessoal não consumiu o açaí, o pessoal não consumia o açaí.

Luciano Pires: Não colou?

Rafael Soares: Não colou, o pessoal não consumia, aí o que aconteceu? Eu fui perguntar assim, eu não conseguia entender porque aqui agora, por exemplo, se a gente descer agora aqui, a gente vai... se tiver um açaí vendendo, a gente tiver com vontade, a gente vai tomar um açaí, o açaí é como se fosse uma sobremesa para o brasileiro. Para os nativos de lá, e assim, o açaí, ele estava começando a explodir na Califórnia na época, ele estava começando a ser difundido na Califórnia, na Europa não tanto, e a maioria dos turistas de Curaçau, eles eram holandeses...

Luciano Pires: Não tinham a menor ideia do que era aquilo.

Rafael Soares: Não tinha a menor ideia, e aí eu percebi o seguinte, eles pensavam que o açaí era uma fruta energética que só quem era esportista poderia consumir, entendeu? Que era muito forte, então assim, só quem era, por exemplo, o Anderson Silva, só quem praticava esporte de alto rendimento poderia consumir.

Luciano Pires: Você tinha uma questão cultural, não era a qualidade do produto, não era produção, não era a logística, não era nada disso, era um problema cultural.

Rafael Soares: E aí o que que aconteceu, Luciano? Cara, eu não ia ter grana para mudar a cultura, entendeu? Eu não ia ter fôlego financeiro para ficar insistindo, toma aqui o açaí, enfiar o açaí goela abaixo deles literalmente.

Luciano Pires: Você tem que ter uma movimentação de marketing lá pesada.

Rafael Soares: Não, pesadíssima, eu não ia ter grana para isso, não ia ter fôlego financeiro, enfim, peguei minhas coisinhas, voltei para o Brasil, fica a experiência. E aí entra aquela parte da vida do empreendedor que é o desespero, porque cara, você já investiu toda a sua grana ali e o que que você vai fazer da tua vida? Resta um pouco de dinheiro aqui, esse pouco de dinheiro eu comprei um curso de inglês e comprei um bar, comprei dois negócios, e o bar quando eu comprei, eu comprei justamente na visão empreendedora.

Luciano Pires: Quando você fala que você comprou um curso, você comprou uma escola?

Rafael Soares: Uma escola de inglês de uma bandeira que não era tão famosa, só que ela prometia inglês em 12 meses. E nessa rua desse meu curso de inglês estava crescendo muito, que era uma rua de faculdade lá em Duque de Caxias, então era uma rua de faculdade, galera de faculdade gosta de beber, então tinham feito um bar bonito ali, e o restante era tudo pé sujo, sabe, pé sujo de ovo colorido na vitrine, nesse nível, aí eu cheguei para um dono de um perfume sujo desse e falei, cara, quanto tu quer nesse bar aí? Ele falou assim, quero 80 mil no ponto, 80 pau, eu falei, cara, essa região está crescendo, velho, a região está crescendo e não só de visão, mas de desespero, porque o bar na minha cabeça era uma coisa que me daria um retorno imediato, exatamente, você botou a cerveja para vender, vendeu, Brasil, a escola de inglês ainda ia demorar um pouco mais para dar um rendimento, ok. Abri o bar, comprei o bar, 80 mil, comprei a escola de inglês, escola de inglês faliu, porque você não consegue vender aquilo que você não compraria literalmente, sabe? Eu não conseguia, cara, sabe, eu não conseguia assim fazer nada ali, cara, o cara não vai falar inglês em 12 meses, entendeu? Isso aqui é uma enganação, o cara não vai falar inglês em 12 meses, e também na época que eu comprei, eu comprei ela achando que ela tinha uma quantidade de alunos, quando eu entrei eu descobri que era outra completamente diferente, enfim, teve uma jogada de desonestidade da pessoa que me vendeu, mas mais do que isso de querer tentar recuperar o negócio, eu não conseguia acreditar naquilo que eu vendia, então para mim não fazia sentido, então acabou fechando a escola de inglês, mas o bar continuou, e aí o que que eu fiz, cara? Marketeiro, empreendedor, peguei o boteco que era pé sujo, investi ali uns 20 pau de reforma, dei uma marca chamada Dialeto Carioca, coloquei lá bonitão, reinaugurei o bar, e foi um sucesso, e é muito bom ser dono de bar durante três dias só, porque depois você tem que... é bom você ser dono de bar durante os três primeiros dias, porque depois, puta merda, irmão, é difícil, Luciano.

Luciano Pires: Cara, mexer com serviço de alimentação, meu Deus, tem que ter nascido para isso, cara.

Rafael Soares: Exatamente, você definiu bem, tem que ter vocação para isso, porque no começo é muito legal, porque você é o centro das atenções, você é o dono do bar, o bar do Rafael é muito legal, vai lá no bar do Rafael, você está ali na noite e está todo dia, então, tudo fica muito legal, mas depois, meu camarada, assim que passa, você fala, o que que eu estou fazendo da minha vida, velho? Porque as pessoas têm preconceito, um pré conceito, de que eu não sei como é que é aqui em São Paulo, mas por exemplo, todo mundo fala assim, que pedreiro é uma profissão muito difícil de se lidar, porque o pedreiro enrola a obra, porque o pedreiro faz isso, porque nunca trabalharam com garçom, não generalizando, cara, porque assim, foi uma faculdade, só para contar, só abrindo um parênteses aqui, uma vez a gente chegou, naquela correria da noite, bar lotado, etc, o garçom chegava e falava assim, fechar a mesa 5, o cara pegava, chegava lá com a boleta do cartão, dava baixa no caixa, corre para lá, corre para cá, a gente descobriu que a máquina de cartão era dele.

Luciano Pires: Mas que filho da puta, cara.

Rafael Soares: Cara, isso foi uma das coisas que eu peguei no meu bar assim, o garçom tinha a própria máquina de cartão dele, ele usava a bobina da cor que a gente estava usando no dia, porque naquela correria você não vai conferir razão social, endereço, inscrição estadual, CNPJ, você vai conferir o valor, o valor que pagou aqui. Começou a dar diferença no caixa, começou a dar diferença no caixa, quando a gente pegou a boleta para entender o que que era, a máquina de cartão era do cara, ele passava a própria máquina de cartão dele. Era cada uma na noite assim, foi uma fase bem complicada.

Luciano Pires: E te exige uma energia extra, não é, cara, se bem que você já tinha um treinamento para viver à noite, mas eu imagino, porque aquilo é uma adrenalina, energia o tempo todo.

Rafael Soares: E aí você vem de uma vida que você tinha adrenalina, você vivia na noite, mas você tinha um volume financeiro muito grande, e aí você entra em um bar que o volume financeiro não chega nem perto daquilo que você trabalhava, mas como eu estava falando assim, a região, ela cresceu muito, abriram discotecas, grandes redes, boate, e aí chegou um cara e falou assim, você não quer vender esse bar, não? Falei assim, cara, quero, quero, tenho vontade sim. O cara ficou fascinado com aquilo ali, que o bar ficou bem legal, sabe, ficou um bar cool, galera jovem etc. Falou assim, quanto você quer? Eu falei assim, cara, 300 mil.

Luciano Pires: Você tinha pago 80.

Rafael Soares: Exatamente, investi 20. O cara falou assim, beleza, eu quero, mas eu não tenho os 300 mil agora. Eu falei assim, vamos fazer o seguinte, não tem problema, me dá 10%, daqui a um ano a gente concretiza, se a gente não concretizar, você perdeu os 10%, feito? Feito, contrato na mão feito, beleza. Cara, era um dia a menos, todo dia, sabe? Um dia a menos, um dia a menos, chegou no dia, o cara assumiu o bar, me pagou o restante, e ali, cara, eu fiquei... me vi livre, sabe? Falei assim, porra, graças a Deus, vendi, peguei essa grana, falei assim, cara, o que que eu vou fazer? Só que vamos voltar um pouquinho mais atrás, a gente está atravessando uma etapa, nesse bar foi que surgiu a Santa Carga, a minha empresa de hoje.

Luciano Pires: Que ano você está?

Rafael Soares: Nesse bar 2012... não, 2013 já. Nesse bar foi que surgiu a Santa Carga.

Luciano Pires: Ali que você percebe, qual foi o...

Rafael Soares: O insight foi o seguinte, eu tinha um bar muito legal, e as pessoas chegavam lá e falavam assim, tem carregador? Não, tem sim, espera aí que eu vou botar para carregar no caixa, aí botava lá para carregar o celular das pessoas, fazendo aquela gentileza, aquela correria da noite, aí um dia um garçom pegou um iPhone 4, 4S da menina, da cliente, botou para carregar e derramou um copo d'água em cima do telefone, aí queimou o telefone dela, eu fiquei no prejuízo por prestar uma gentileza, eu falei assim, cara, e agora? Vou ter que pagar um iPhone, mas eu não podia mais falar assim, não carrego mais telefone aqui, porque tinham vários bares em volta, falei assim, cara, eu preciso criar uma máquina para carregar isso. Experiência de máquina eu já tinha, eu só precisava criar uma máquina. Aí criei uma máquina de madeira, mandei fazer um caixote de madeira, botei uma tela, botei os cabinhos ali, e na tela eu coloquei o cardápio do bar, passando o cardápio do bar e começou as pessoas a perguntarem, como é que eu consigo uma dessa para o meu bar? Onde é que aluga, como é que eu faço para botar minha propaganda aí nessa tela aí que vai muita gente?

Luciano Pires: O negócio pintando aí.

Rafael Soares: Onde tem fumaça, tem fogo, aí peguei e falei assim, cara, vamos lá, projetei lá, vamos fazer isso aqui, aí botei um sitezinho no ar...

Luciano Pires: Você não foi copiar alguma coisa que você viu lá fora, você não foi atrás? Você criou da cabeça?

Rafael Soares: Foi sem querer, eu falei assim, vou fazer uma máquina, eu fiz um negócio bonitinho, porque como eu já tinha experiência com máquina, que você começa a ligar os pontos, eu fiz parecendo uma pilhazinha, bonitinha para caramba, coloquei lá no cantinho com a tela, e os cabinhos saindo, e a galera adorou aquilo, que eles ali tinham o controle do telefone. Eu peguei e falei assim, cara, vou botar um sitezinho no ar, mas eu preciso de um nome, como é que eu faço? Aí comecei a perguntar para as pessoas, falei assim, cara, qual a sensação que você tem, essa foi a pergunta que eu fiz, quando você acha um carregador e sua bateria está quase morrendo, você acha um carregador? Ah, salvou, alívio, não sei o que lá, aí eu estava convencido que o nome da empresa seria in charge, in charge, estava convencido disso, beleza, só que cara, lá dentro de mim estava assim, velho, eu posso fazer mais, sabe, pode ser melhor, pode ser melhor, aí eu peguei, olhei para a prateleira do bar, tinha uma cachaça chamada Santa Dose, falei, porra, Santa Carga é bom para caraca, entrei na internet, Santa Carga, tudo disponível, cara, assim, na hora eu registrei, santacarga.com.br, santacarga.com, @santacarga no Instagram, @santacarga no Facebook, botei lá Santa Carga, esse nome é muito bom, Santa Carga, botei um sitezinho no ar desses gratuitos mesmo, que você faz, você constrói, e começou a surgir demanda, começou a surgir demanda...

Luciano Pires: Eram bares pedindo o teu totem?

Rafael Soares: E eventos, começou para eventos, você não aluga para eventos? Você não tem um modelo com gaveta, você não tem um modelo que seja parecido com uma torre, que seja mais compacto, cara, e eu, irmão, no começo, eu não falo não para ninguém, tenho, como é que é que você imagina? Ah, eu imagino assim. Beleza.  Cara, eu desenhei os dez modelos de totens da empresa, conforme as pessoas iam me solicitando, e eu já estava de saco cheio do bar, vendi o bar, peguei essa grana, quarto de apartamento, peguei minha esposa, falei assim, cara, a gente vai começar aqui, bancadinha, dentro de um quarto de apartamento.

Luciano Pires: Como é que você fez com a parte industrial disso aí, tipo...

Rafael Soares: Então, no começo não era industrial.

Luciano Pires: Precisa de uma serraria, precisa de...

Rafael Soares: Exatamente, eu terceirizava com uma marcenaria...

Luciano Pires: Você dava o desenho para o cara, e ele...

Rafael Soares: Exatamente, e eu tinha bons fornecedores na época, eu tinha bons fornecedores, eu já entendia como funcionava.

Luciano Pires: Era a turma da maquininha lá atrás?

Rafael Soares: Exatamente. Eu peguei, comecei no quarto de apartamento, cara, a Santa Carga, o site no ar, aí a gente conseguiu nosso primeiro grande cliente, que foi uma montadora de automóveis, a Hyundai, que homologou meu totem para todas as unidades do Brasil, falei assim, cara, foi o ponto de virada, dali veio hospitais, Unimed, enfim, vieram...

Luciano Pires: Mas como é que você sacou o modelo de negócio? Eu consigo entender a Hyundai comprando o teu totem para ela, consigo entender a Hyundai alugando o teu totem...

Rafael Soares: Ela comprou o totem.

Luciano Pires: Ela comprou o totem, passou a ser propriedade dela?

Rafael Soares: Exatamente, personalizado, sempre com o modelo personalizado.

Luciano Pires: Pagando IPI.

Rafael Soares: Exatamente, pagando IPI, ICMSST, tudo direitinho, então peguei, a Hyundai foi um grande cliente, com entrada de caixa que eu já tinha, eu montei depois, acho que passou uns nove meses que eu fiquei em um quarto de apartamento, montei uma pequena fábrica em uma casa, aí a gente conseguiu alugar um galpão e aí a coisa foi crescendo, o ecossistema, ele vai se desenrolando.

Luciano Pires: E como é que você bolou o modelo de negócio? Era esse, vou fazer para vender?

Rafael Soares: Então, o meu primeiro modelo de negócio foi o seguinte, eu vou montar os totens com tela, eu vou espalhar pelo Rio de Janeiro e vou vender publicidade na tela dos totens.

Luciano Pires: Seria propriedade sua os totens...

Rafael Soares: Exatamente, esse foi o meu primeiro pensamento, que era uma forma de eu conseguir escalar muito rápido, só que, cara, você escala, ok, mas você vê a necessidade do mercado, e o mercado na época estava faminto por comprar e alugar, comprar e alugar, eu falei assim, cara, eu não vou deixar isso passar. E aí a empresa, ela pivotou para venda e locação, então a gente começou a fazer grandes eventos, fez Rock in Rio, fez Game XP, faz Rock in Rio até hoje, enfim, alugando esses totens e vendendo. Depois que vendeu para a Hyundai, tipo assim, foi uma vitrine sensacional, sabe, ficou muito grande, então a gente começou a ter muita demanda.

Luciano Pires: E aí esse teu modelo mudou no meio do caminho? Porque você tem hoje... hoje você vende totem, você aluga totem e também tem os teus totens...

Rafael Soares: E tem a minha franquia.

Luciano Pires: Aí você pensou em uma franquia?

Rafael Soares: Exatamente, aí vem a franquia. A gente trabalhou...

Luciano Pires: Então, mas deixa eu saber... qual foi o momento, então, da virada, que você falou, cara, meu negócio é a Santa Carga, é isso, vou me dedicar 100% a isso, esquece bar, esquece...

Rafael Soares: No momento em que eu vendi o bar, cara.

Luciano Pires: Você vendeu o bar, você mergulhou de cabeça...

Rafael Soares: Na Santa Carga, porque era máquina, que era uma coisa que eu gostava, tecnologia e não me escravizava igual o bar.

Luciano Pires: Era o teu quinto negócio, cara?

Rafael Soares: Era daí para mais, eu tive campo de paintball, tive lan house, tive um monte de coisa, vendia sanduíche na praia de Copacabana, cara, fiz muita coisa, muita coisa, enfim. Aí nesse negócio que a Santa Carga, ela se tornou, e ela nasceu para ser esse modelo de negócio que a franquia é hoje, mas o mercado pedia outro tipo de nicho...

Luciano Pires: Sei, ele queria comprar.

Rafael Soares: Exatamente, então a gente... e era o que dava dinheiro na hora, o fluxo de caixa era muito mais rápido, então a gente montou a Santa Carga, montamos a loja, montamos a loja não, montamos a fábrica, montamos tudo, os modelos de totem, melhoramos a parte fabril, começamos a produzir em alumínio, antigamente era em madeira, então ficou a maior linha de totens carregadores do Brasil, a gente sabe fazer marketing, então assim, a gente começa a entender como funciona, participando de eventos e feiras. Só que tinha aquela sementinha da franquia, sabe, falei assim, cara, esse modelo de negócio é legal, esse modelo de negócio é legal. Então assim, um ano e meio antes de eu lançar a franquia, eu validei com um amigo meu, com um ex-colaborador meu, eu falei assim, cara, eu tenho uma ideia de negócio aqui, você quer testar? Falou assim, porra, quero. Beleza, calma aí. Três meses depois ele pediu mais um, falou assim, me dá mais um aí que eu estou conseguindo ter sucesso ali. Mais três meses. Cara, isso está legal.

Luciano Pires: Quer dizer, o que que ele faz com você, ele fecha um contrato de franquia com você, ele compra o totem?

Rafael Soares: Exatamente, o equipamento é dele.

Luciano Pires: É dele, ele bota em algum lugar e vende propaganda na tela do totem, é isso?

Rafael Soares: Exatamente, ele ganha dinheiro com marketing, ele conversa com supermercado, fala, posso botar meu totem aí, aí o supermercado tem uma prestação de serviço para a população, que fornece wi-fi também gratuito.

Luciano Pires: Então, mas se você está vendendo para ele o totem, cadê a franquia?

Rafael Soares: Então, como funciona? A franquia, o totem, ele é exclusivo da franquia, então esse totem, ele não é vendido, só os franqueados têm acesso a ele. Então, só para a gente contextualizar, é um equipamento de dois metros de altura, uma tela de 40 polegadas, carrega 14 aparelhos ao mesmo tempo e fornece wi-fi, a gente conseguiu ter essa ideia. Então, ele para o usuário é sempre de graça, ele carrega o celular de graça e conecta na internet de graça com aquela captura de lead, então ele deixa ali o cadastro por causa do marco civil da internet e lgpd. E aí ele validou esse modelo de negócio.

Luciano Pires: Para ele validar, como é que ele vai... ele visita os lugares em volta dele para falar, fulano, quer comprar... você quer botar uma propaganda na...

Rafael Soares: Exatamente, ele busca um ponto de grande fluxo, então na época ele colocou em um bar que era em frente ao meu, que eu tinha, colocou em a outra padaria, que é igual essas padocas que têm aqui em São Paulo, que serve almoço, que vai até mais tarde, e aí o que que ele faz? Ele busca comércios locais no entorno, então você imagina o seguinte, quantas clínicas de estética não tem no entorno de um bar, quantos dentistas não estão em salas...

Luciano Pires: Petshop...

Rafael Soares: Petshop, transporte escolar, borracheiro, enfim, transporte executivo, consertar ar condicionado, todo tipo de prestador de serviço. E ele vende cada propaganda ali a 290 reais por mês, menos de 10 reais por dia, cabem 40 propagandas em um totem, ele consegue...

Luciano Pires: Fica passando a propaganda...

Rafael Soares: Junto com notícias, sabe essas telas de elevadores...

Luciano Pires: Igual a de elevador.

Rafael Soares: É a mesma tecnologia, só que com um software nosso, que foi feito para isso.

Luciano Pires: Então, você tem alguém gerando o conteúdo em algum lugar...

Rafael Soares: Não, ele já pega direto da fonte.

Luciano Pires: Não, então, você tem alguém gerando conteúdo em algum lugar ou não?

Rafael Soares: Não, já pego direto da fonte, então por exemplo, eu já consigo pegar direto do G1, consigo pegar direto da UOL, se o Café Brasil jogar um RSS eu consigo pegar lá dentro e jogo a notícia em tempo real, assim que você lançar no site, eu já pego e já coloco na tela do totem.

Luciano Pires: Viva a tecnologia, cara.

Rafael Soares: Exatamente, tudo em tempo na nuvem, então...

Luciano Pires: Quando aconteceu isso, quando é que você vendeu o bar e começou?

Rafael Soares: Cara, eu vendi o bar foi em 2014, que eu me lembro que na copa eu não estava mais com o bar, na copa eu já não estava mais com o bar, e aí lembra aquele CNPJ da lojinha lá de informática? Ele continuou comigo.

Luciano Pires: Puts, você não tinha fechado aquilo?

Rafael Soares: Não, ele ficou inativo, depois eu ativei de novo. Então hoje, a Santa Carga, ela está fazendo 20 anos, agora em junho, o CNPJ, minha primeira empresa.

Luciano Pires: Mas você começou para valer o negócio de totem, então, em 2014?

Rafael Soares: 2014.

Luciano Pires: Foi isso, e aí a coisa expandiu?

Rafael Soares: A coisa expandiu com evento, com venda, e aí essa validação, ela veio por um ano e meio da franquia, que franquia é uma coisa muito séria, você lidar com o dinheiro dos outros, sabe? É uma responsabilidade muito grande, é muito grande, então eu peguei e falei assim, cara, como é que a gente faz disso aqui uma franquia? Vamos colocar aqui um software, vamos mudar o modelo de negócio, como é que funciona? A gente descobriu que os totens que a gente fabricava, que era uma tela de 24 polegadas não fazia sentido para vender publicidade, porque era pequeno, não chamava atenção, cara, então ajusta, Rafael, não pode ser pen drive, tem que ter mais alguma coisa, cara, a gente coloca as notícias em tempo real para chamar atenção. Beleza. Veio a pandemia. E na pandemia a gente teve uma coisa chamada tempo, infelizmente a gente teve uma coisa chamada tempo, então eu tive tempo para sentar e pensar no meu negócio, falei assim, cara, vamos lá. Comprei um curso desses de como franquear um negócio, sentei no meu computador...

Luciano Pires: E montou uma franquia.

Rafael Soares: Cara, outubro de 2020 eu estava... o cartório abriu pós-pandemia, eu registrei meu CNPJ de franquia, porque tem que ser um CNPJ diferente, eu disse, cara, vamos validar, um passinho de cada vez, sozinho, peguei, fui lá, ajustei cofre, ajustei tudo, coloquei lá, de outubro de 2020 a dezembro de 2020 eu vendi zero franquias, nenhuma, e todo dia eu falava assim, o que será que eu estou errando? Não é possível, na minha cabeça o negócio era tão bom, sabe, o negócio é bom para caramba, o negócio é interessante, dá dinheiro, a galera precisa ganhar dinheiro, como é que pode, por que que eu não estou virando? Aí chegou janeiro, virou de ano 2021, a gente iniciou janeiro de 21 com um franqueado, esse rapaz que estava validando. Hoje, no momento em que a gente está gravando aqui, tem 412 no Brasil.

Luciano Pires: O que que foi a...

Rafael Soares: Cara, foi o momento.

Luciano Pires: Você vai falar que nem o Léo, você ouviu a história do Léo? Que ele fala, de quebrado, nós íamos fechar a empresa na sexta, eu vou em um evento, encontro um cara no evento, ele bota o dinheiro, no dia seguinte os clientes começam a aparecer do nada, cara, parece que tem uma mudança de energia, é muito louco isso.

Rafael Soares: Eu virava para a minha esposa e falava assim, cara, o que que será que a gente está errando, que eu não consegui vender nenhuma franquia, sabe assim, a gente não estava quebrado, a gente estava bem financeiramente, isso é até um ponto bem importante, eu falo muito para as pessoas o seguinte, cara, na pandemia, eu só tive paz para pensar na franquia, porque a gente tinha uma reserva financeira, eu cheguei para a galera e falei assim, olha só, gente, se essa pandemia durar um ano eu consigo segurar, ninguém vai ser mandado embora, vai todo mundo bem, fica todo mundo tranquilo, e aí vamos abrir mais um parênteses, na pandemia eu lancei o totem álcool em gel, a minha patente daquele totenzinho que pisa e sai o álcool em gel é de março de 2020 o meu pedido de patente. Então assim, a minha fábrica não parou, porque aquilo ali virou um...

Luciano Pires: Uma febre assim?

Rafael Soares: Exatamente, um equipamento de utilidade pública, então assim, cara, minha fábrica não parou, a gente lançou, eu entrei com o pedido de patente em março de 2020 do totem álcool em gel, a patente saiu agora há pouco tempo, que a gente nem fabrica mais, a patente saiu quando a gente não precisava mais, mas enfim, a minha fábrica não parou, a minha fábrica continuou, mas eu consegui ter tempo de pensar. E nessa, quando chegou em janeiro... aí em janeiro eu vendi três franquias, em fevereiro eu vendi 11, aí depois eu vendi mais 14, aí eu falei assim, cara, vamos lá, agora... o negócio começou a crescer de um jeito assim exponencial, desesperador assim de crescimento, eu não conseguia acreditar, eu falei assim, virou, o jogo virou. Aí você contrata gente, traz gente, traz comercial, e traz pós-venda, e traz isso, traz aquilo, e cara, vamos profissionalizar isso aqui, como é que a gente entra na ABF, que é a Associação Brasileira de Franquias, e tem auditoria, tem isso... conseguimos ajustar toda a parte legal, de documentação, e hoje a Santa Carga, ela tem mais de 400 unidades.

Luciano Pires: Como é que... vamos lá, eu quero ser um franqueado teu, quanto eu vou gastar com você?

Rafael Soares: Hoje, 20 mil reais, 19900.

Luciano Pires: Eu vou pagar 19900 para você para ser teu franqueado, vou receber um totem.

Rafael Soares: Exatamente, você vai receber um totem, know-how, treinamento, software, tudo isso você recebe você comprando a franquia, então assim, é uma taxa com tudo já.

Luciano Pires: Deixei 20 pau na tua mão e saí e fui para a minha casa com o totem embaixo do braço.

Rafael Soares: Exatamente.

Luciano Pires: Aí eu tenho que me virar para procurar o lugar onde eu vou botar esse totem? Como é que é?

Rafael Soares: Então, a franqueadora, ela te ajuda, nós temos sistema de big data, por exemplo, aqui em Moema eu vou te indicar os locais que tem mais fluxo de empresas ali no entorno, então eu consigo chegar para você e falar assim, Luciano, aqui na pizzaria aqui do lado passam 300 pessoas por dia, você tem 180 empresas aqui no entorno de tal segmento, aqui é interessante, aqui não é interessante, com mapa de calor.

Luciano Pires: Você me ajuda, então?

Rafael Soares: Exatamente, conhecimento de mercado.

Luciano Pires: E você me ajuda a ir lá na pizzaria conversar com o dono?

Rafael Soares: Sim, a gente te dá todo o material, todo o script, te dá o contato do dono, faz o primeiro contato, já para deixar a reunião alinhada para conseguir essa entrada já no local, e a maior vantagem é a seguinte, cara, você não paga aluguel, você coloca lá em permuta.

Luciano Pires: Ele recebe o totem, ele passa a prestar um serviço para a turma, a energia do totem quem paga é ele, que é muito barato, o wi-fi é dele ou seu, depende do local, às vezes você pode até fornecer o wi-fi para ele, dar o wi-fi para ele de graça, e ele tem a exclusividade do segmento do totem, então por exemplo, você tem uma pizzaria, você não vai anunciar outra pizzaria no estabelecimento dele.

Luciano Pires: Aí você falou que cabem 40? Se eu for um cara bom de marketing lá e vender 40, 40 vezes 290, é isso?

Rafael Soares: É o ticket médio assim, a gente não coloca preço, porque o que que eu entendo? A precificação de São Paulo é diferente do Pará.

Luciano Pires: Tá bom, mas só por ordem de grandeza, dá uns 10 paus por mês?

Rafael Soares: Dá uns 10 paus por mês.

Luciano Pires: Um totem bem trabalhado dá 10 mil por mês que entram para você livrinho, eu não vou ter que tirar dali para pagar? Tem uma franquia para pagar para você além...

Rafael Soares: Então, hoje o meu franqueado, ele paga 239 reais de royalties por mês, que está incluso, por exemplo, você vendeu lá para a clínica de estética, você não precisa produzir o vídeo dela, a minha empresa produz para você, para o meu franqueado, então assim, toda a parte gráfica...

Luciano Pires: Isso que eu ia te perguntar, quem é que faz o anúncio?

Rafael Soares: Não, quem faz o anúncio é a franqueadora.

Luciano Pires: É você?

Rafael Soares: Exatamente.

Luciano Pires: Então, você vai pedir para ele, me manda tais coisas, uma foto assim...

Rafael Soares: A gente vai montar o vídeo, vai te entregar, você só vai colocar no totem, o meu franqueado, ele tem que saber vender, ele não tem que saber produzir vídeo, editar vídeo.

Luciano Pires: Está muito bom isso aí, cara.

Rafael Soares: É muito interessante.

Luciano Pires: Você já fez o levantamento, evidentemente que você já fez, na média, um franqueado teu ganha o que?

Rafael Soares: 4632.

Luciano Pires: Com um totem?

Rafael Soares: Hoje é o meu faturamento médio da rede.

Luciano Pires: Com um totem?

Rafael Soares: Com o faturamento médio de 4632. Eu tenho um franqueado aqui perto de vocês aqui no ABC, mas ali eu não tiro ele como base, porque ele prodígio, ele já tem uma bagagem que é da Eletromídia, que é a maior empresa de mídia do Brasil, então ele era um vendedor da Eletromídia, então ele já conhece muito de mídia, cara, ele tem 12 clientes em cada totem, a mil reais cada cliente, ele tem três.

Luciano Pires: Três totens, esse cara está fazendo 36 mil reais.

Rafael Soares: 36 mil reais todo mês.

Luciano Pires: Com os totens.

Rafael Soares: Exatamente, só que eu não tiro ele como base porque ele é um prodígio, hoje se eu juntar todo mundo, eu tenho 4632 reais em média de faturamento. Isso aí já foi auditado, está lá os dados na transparência da ABF.

Luciano Pires: E o franqueado pode pegar quantas máquinas quiser?

Rafael Soares: Quantas máquinas quiser, eu tenho um franqueado com 12, tenho franqueado com 8, tenho franqueado com 10, com três, com quatro.

Luciano Pires: Quer dizer, cara, é muito acessível essa franquia tua, porque quando eu vou só lá em franquia, não vou nem falar em McDonald's, uma franquia menorzinha aí, é 300 paus, 60 mil, 100 mil, é assim.

Rafael Soares: Exatamente. Qual é o perfil do meu franqueado, Luciano? Passar para você assim, tem gente que entra que já empreende, que vê como segundo negócio, uma segunda fonte de renda, funcionário público, mas a maioria é o seguinte, o cara quer empreender, nunca empreendeu, ele não vai ser recolocado no mercado de trabalho, ele queria comprar uma Cacau Show, cara, ele queria ter, mas ele não tem 300 mil para botar na Cacau Show, ou então, se ele botar os 300 mil é todo o dinheiro da vida dele ali, cara, que ele vai arriscar. Então, é mais fácil ele colocar o pezinho no empreendedorismo com uma franquia que tem uma taxa de mortalidade muito menor do que uma empresa comum, convencional, em média 3% das franquias fecham, contra 80 e poucos porcento de empresas convencionais em um ano, e ele começa a empreender com 20 mil reais, entendeu? Com 19900, ele começa a empreender ali e o legal da Santa Carga é porque o que que acontece? Hoje você vê muita franquia que você recebe o login e uma senha, por exemplo, você vai comprar uma franquia de seguros, um exemplo, cara, você vai ter uma marca renomada de seguros ali com você, mas o que que você recebeu da franquia? Treinamento, o login e uma senha para você entrar no sistema, fazer as vendas e lançar. E na Santa Carga você recebe o negócio físico, isso é legal, sabe, porque ele está vendo ali onde que está o dinheiro dele.

Luciano Pires: A manutenção do totem é tua?

Rafael Soares: Não, é do franqueado, cara, mas por exemplo, um totem troca um cabo a cada nove meses, eu tenho suporte remoto de domingo a domingo, tenho o suporte da empresa que trabalha ali dando um suporte ao franqueado, mas o franqueado, mas o franqueado... o trabalho base do franqueado é vender publicidade para o comércio local. Entendeu? Então assim, é simples, então a publicidade da clínica de estética, que nem a gente estava falando, vai aparecer no totem e vai aparecer na tela do celular de quem conecta no wi-fi.

Luciano Pires: Então, isso era uma outra característica interessante, eu estava pensando nisso aí, quem é que no restaurante fica parado na frente de um totem olhando uma tela para ver propaganda dos outros, o pessoal está passando, você está em um corredor, ninguém para para ver, mas você... meu celular está lá, eu tenho que ficar do lado lá esperando carregar.

Rafael Soares: Exatamente, exatamente, isso tudo foi pensado, foi estudado pelo seguinte, seria muito mais cômodo para o usuário se a gente botasse gaveta, só que a partir do momento que você tem a custódia de um aparelho, você passa a ser responsável por ele, então digamos assim, toda vez que alguém perdesse uma chave, você tem que trocar essa fechadura, porque se alguém achar essa chave, ela tem acesso à gaveta. Ou você pega uma pessoa mal-intencionada que faz uma cópia de uma chave dessa. Então, todo mundo que colocar o aparelho lá, ela vai ter a chave, então para isso não acontecer, a gente deixa aberto, passa a ser um serviço de utilidade pública, e aí você tem a atenção do usuário, esse é um dos grandes pulos do gato também, que aí também tira a responsabilidade do dono do estabelecimento, que o cara não quer ter dor de cabeça, você imagina o seguinte, o cara é um parceiro, ele está te cedendo um espaço, ele não quer saber se você perdeu a chave, se você não perdeu, ele não quer saber, ele quer deixar ali e funcionar, cara.

Luciano Pires: Já apareceu muita gente na tua trilha aí, cara? Você é pioneiro nisso?

Rafael Soares: Cara, sou, sou um dos primeiros nisso, é aquilo, quando você cria uma coisa, sempre vem outras pessoas e vão criando, é o livre mercado, é o brilho do livre mercado que faz a gente também evoluir e crescer. Hoje, a gente está com a estimativa ali de fechar com quase 600 unidades no Brasil e já começar a exportar.

Luciano Pires: O ano passado você fechou com 400 e?

Rafael Soares: Não, ano passado eu fechei com 360.

Luciano Pires: Cara, você está quase dobrando, bicho, de um ano para o outro.

Rafael Soares: 360, e aí é você ajustar o avião em pleno voo.

Luciano Pires: Qual é o teu impacto, quando você escala uma empresa de software, bicho, 100 caras, 1000 caras, mil clientes é a mesma coisa.

Rafael Soares: Servidor, exatamente, seu próprio servidor.

Luciano Pires: Você resolve o problema em casa. Quando você escala um negócio que tem uma peça física, bicho...

Rafael Soares: Você tem que mudar a fábrica, a gente mudou a fábrica, entendeu? Nós aumentamos a fábrica, nós trouxemos mais gente, e você começa a trazer gente com expertise em franchising.

Luciano Pires: Você tem que ter um back office foda para atender essa turma aí.

Rafael Soares: Porque o meu franqueado, ele não está comprando um totem, esse é o grande segredo do negócio, ele está comprando um modelo de negócio, ele está comprando o que que está por trás, eu sempre falo para os franqueados, gente, o totem é só a ferramenta.

Luciano Pires: É, você é uma mídia.

Rafael Soares: Exatamente, o totem é só uma ferramenta, então você tem que pegar o cara que nunca vendeu na vida e ensinar o cara técnicas de venda, ensinar o cara como é que funciona o funil, como é que ele vai captar cliente, como é que ele reconhece cliente ali na área, e o brilho da franquia é esse, é como se fosse o Wase, eu já te dou o caminho que está pronto, está aqui, segue esse caminho que vai dar certo, uma receita. Eu sempre falo o seguinte, por exemplo, é uma receita de bolo, a gente fala assim, coloca 300 gramas de farinha de trigo, se você botar 280 é você que está colocando, a receita está pedindo 300, se você botar 100 gramas de manteiga, a receita está pedindo 150, você vai ter um resultado diferente, mas no final vai sair um bolo, mas se você fizer igual, vai sair esse bolo igual da franquia.

Luciano Pires: Muito bom esse negócio aí, estou aqui me coçando.

Rafael Soares: É bem interessante assim, eu sou muito suspeito para falar, mas é algo que foi uma virada de chave na vida, e não só pelo business em si, mas sabe aquela coisa do empreendedor formando novos empreendedores? Literalmente na prática.

Luciano Pires: Não, e é um negócio encantador, porque você... cada vez que eu passo na rua que vejo uma lojinha de capa de celular, eu falo, cara, há uns anos atrás esse mercado não existia, cara, para que que eu vou querer um carregador para botar... não tinha, de repente você está com um mercado que não tem mais fim, porque o volume de aparelho para ser carregado é um negócio impressionante.

Rafael Soares: Não, é gigante, e a tecnologia da bateria não acompanha a evolução tecnológica do hardware, quanto mais rápido for seu telefone, mais você vai usar. Óbvio que eles estão criando baterias cada vez que duram mais, mas vamos parar para pensar o seguinte, a nível Brasil, cara, um iPhone custa 14 pau, quantos porcento da população brasileira tem um iPhone de última geração? Então, a galera ainda está naquele celular, naquela primeira geração, então assim, a gente tem muito mercado ainda pela frente onde o totem, a minha ideia é a seguinte, a Santa Carga, o totem é só a ferramenta, a Santa Carga vai literalmente se tornar uma empresa de marketing.

Luciano Pires: Você vai virar uma empresa de mídia, cara.

Rafael Soares: Exatamente, de mídia e de marketing.

Luciano Pires: Daqui a pouquinho você vai estar gerando conteúdo, você vai estar inventando umas maluquices, porque... você tendo um canal, vai falar, eu tenho 400 pontos de...

Rafael Soares: A gente vai chegar a 500 agora.

Luciano Pires: E esse pessoal está tudo conectado com você em algum lugar, quer dizer, nem pendrive você vai dar para o cara, é tudo pela internet.

Rafael Soares: Exatamente, daqui da nuvem eu consigo ver se você tem um totem lá em Ananindeua, no Pará, eu consigo ver o que que está passando nele agora. Eu consigo atualizar a programação dele agora, consigo desligar o totem agora, então toda uma rede...

Luciano Pires: Cara, isso aí com mídia é um negócio fenomenal, cara.

Rafael Soares: É sensacional assim, você tem todas as métricas que eles precisam, sabe, de hora que passou, quando passou, tipo de público que está ali, quem está frequentando, quem clicou na sua propaganda no wi-fi, sabe, quantas pessoas clicaram.

Luciano Pires: E você tem um esquema de você colocar propaganda... você tem a propaganda regional, a do cara que está com o totem, você também tem a propaganda que você pode gerar da tua, daqui... por exemplo, a GM quer lançar um carro, mas quer fazer uma campanha no interior da Bahia.

Rafael Soares: Eu coloco no Brasil inteiro, exatamente, coloco uma Bet, a casa de apostas, a casa de aposta falou assim, eu só quero os bares do Brasil, então a gente só colocou nos bares de todo o Brasil, sabe? Então, a gente consegue segmentar e rápido, e ter todo o controle de dados, que eu acho que o grande ouro hoje estão nos dados, então você vê, esse mês a gente pegou ali o relatório, a gente teve 64 mil acessos à internet wifi, 64 mil conexões, ou seja, 64 mil leads em um mês de pessoas que conectaram no Brasil inteiro assim, é muita gente, todo mês, é gente para caramba.

Luciano Pires: Já dá para fazer uns trabalhos de marketing digital...

Rafael Soares: Exatamente, é gente para caramba, você exporta, tem que tomar muito cuidado com os dados, é óbvio, mas assim a gente orienta o franqueado como é que ele vai tratar esses dados, o que que ele pode fazer, o que que ele não pode fazer com esses dados, mas assim, eu digo sempre o seguinte, Luciano, não é um negócio fácil, ele é simples.

Luciano Pires: Sim, fácil nada é, cara.

Rafael Soares: Exatamente, não tem como pintar como uma coisa fácil, ele não é fácil, ele é simples, ele é mais simples porque o cara não tem aluguel, o cara não tem funcionário, o cara não tem luz, não tem internet, não tem água, não tem IPTU, não tem... então assim, senta aqui no seu computador, coloca lá, vamos começar a trabalhar, vamos começar a trabalhar. Hoje foi nisso que se tornou a Santa Carga assim, é interessante a gente vir ligando os pontos.

Luciano Pires: Pois é, porque tem um pouquinho de cada experiência que você teve lá atrás, você está em um ambiente das máquinas de caça níqueis, você está no ambiente deles, você está com a tua expertise de montar as máquinas lá atrás, está com a expertise de computador, tudo te ensinou um pouquinho dessa...

Rafael Soares: Exatamente, tudo bem conectando para tornar o que o Rafael vem se tornando hoje.

Luciano Pires: Qual é o projeto agora, o que que você está armando aí, para onde vocês estão indo? Vai começar a passar filme lá ou não?

Rafael Soares: Não, o que eu estou pensando em fazer é o seguinte, a Santa Carga, ela vai se tornar uma empresa de mídia, uma empresa de marketing, onde o totem é só uma ferramenta no Brasil inteiro, e lançar novas marcas de franquia e expandir para mercados aí como Peru, México, acredito que seja um modelo de negócio... a gente está abrindo quatro unidades agora em Orlando, na Flórida, assim, para entender o mercado, como é que é mais ou menos, o mercado de país de primeiro mundo, por mais que eu ache que o meu projeto são para países de terceiro mundo, entendeu? São para países mais emergentes, então a gente está todo nessa linha assim de conseguir a filiação da ABF, conseguimos o prêmio de melhores franquias do Brasil já dois anos seguidos, estamos indo para o terceiro agora, acho que a gente está em um bom caminho.

Luciano Pires: E tudo legal.

Rafael Soares: Tudo legal, tudo pagando imposto.

Luciano Pires: Não tem mais medo que a polícia apareça lá.

Rafael Soares: Tudo pagando imposto.

Luciano Pires: Cara, que legal, uma baita história, bicho, que baita história, espero que você consiga, tem tudo para crescer, cara, você está em um ambiente que é... como é que é? É quase um oceano azul ali, porque todo lado que eu olho ali, você está me contando a história, para todo lado que eu olho tem uma oportunidade aparecendo ali, cara, tem uma oportunidade como veículo de mídia, como prestação de serviço, como social, tudo, cara, tem tudo.

Rafael Soares: Sim, e assim, é um crescimento que às vezes assusta um pouco, sabe? Você assusta um pouco, eu me lembro, o pessoal estava falando lá que na época, em dezembro, eu fiz story no último dia que estava fechando o escritório, aí a gente tem um painel lá mostrando quantas unidades a gente está no Brasil, aí tinha um painel lá, agora fechamos com 360 unidades, feliz ano novo, cara, e hoje 412, sabe? Assim, em um ritmo que eu falei assim, cara, como que a gente faz e contrata gente, e coloca gente ali para dar suporte, para transferência de know-how, e plataforma de ensino, e plataforma de franqueado, e vai ajustando, e você precisa trazer gente com expertise em franchising, que é um mercado completamente novo, diferente, com regulamentação diferente, aí você começa a entender desse ramo, mas é fascinante, cara, assim, e incrível.

Luciano Pires: Você vai ver agora que você deu entrevista para o LíderCast.

Rafael Soares: Sem dúvida, sem dúvida.

Luciano Pires: Cara, quem quiser encontrar a Santa Carga, como é que... dá o caminho das pedras aí, eu quero trabalhar com você, eu quero ser seu franqueado, eu quero vender alguma coisa para você, como é que a gente te acha?

Rafael Soares: franquia.santacarga.com.br.

Luciano Pires: franquia.santacarga.com.br.

Rafael Soares: Exatamente, no Instagram @santacarga, ou santacarga.franquia, e o meu Instagram @rafasuper.

Luciano Pires: @rafasuper.

Rafael Soares: @rafasuper.

Luciano Pires: Rafa com F? Rafasuper tudo junto?

Rafael Soares: Tudo junto.

Luciano Pires: Fara, que grande história, bicho, isso é empreendedorismo na veia, o bicho quando ele te picou lá atrás, ele não largou mais, cara, você ficou envenenado aí.

Rafael Soares: Era a única chance que eu tinha, sabe, era a única chance que eu tinha de ter uma vida melhor, foi arriscando, às vezes arrisquei acho que mais do que deveria, mas...

Luciano Pires: E essa tua percepção, sabe, de um dia eu fiquei arrogante, caí, e do tombo eu levantei diferente, cara, entendeu? Levantei com outro approach, sabe, mais humilde e tudo mais, acho que isso que fez dar certo, cara, que se voltasse com aquela arrogância inicial tinha quebrando de novo, cara.

Rafael Soares: Sem dúvida, sem dúvida, e naquela época assim, acho que o meu maior medo naquela época que eu quebrei acho que era voltar para a praia, sabia?

Luciano Pires: Voltar para vender na praia.

Rafael Soares: Voltar a vender sanduíche na praia, então ali foi quando a arrogância caiu por terra mesmo, e falei assim, cara, vamos botar o pezinho no chão, aconteceu tudo no momento certo, na hora certa, e aí vai vindo o tempo, o tempo cura, cara, o tempo ensina.

Luciano Pires: É, cara, como é que é? Se a juventude é uma doença, ela tem cura.

Rafael Soares: Ela tem cura, exatamente, basta o tempo passar.

Luciano Pires: E aí você vai quebrando a cara e chega nisso aí. Cara, obrigado pela visita aí, grande papo, grande conversa, adorei conhecer, vamos ver se a gente faz um negócio junto agora aí.

Rafael Soares: Vamos sim, a gente está com o projeto aí do Café com Leite, vai dar samba, vai dar samba. Um abraço, obrigado, Luciano.

Luciano Pires: Um abraço.

Luciano Pires: Muito bem, termina aqui mais um LíderCast, a transcrição deste programa você encontra no LíderCast.com.br.

Voz masculina: Você ouviu LíderCast com Luciano Pires, mais uma isca intelectual do Café Brasil, acompanhe os programas pelo portalcafebrasil.com.br.

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