Café Brasil Premium 840 - O poder de contar histórias

Data de publicação: 20/09/2022, 09:30

https://www.youtube.com/watch?v=Htaj3o3JD8I

A humanidade se desenvolveu contando histórias. Quem é que não se fascina com uma boa história? Aprendemos sobre viver a vida, sobre como as coisas funcionam, sobre como devemos nos comportar, sobre como vencer as dificuldades... aprendemos sobre moral e bons costumes. Mas também podemos aprender para o mal, não é? Por isso é preciso alguma forma de proteção contra quem conta histórias.

 

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Posso entrar?

[tec] COMENTÁRIO DO OUVINTE [/tec]

Fernanda, que delícia de depoimento! Se alguém perguntar pra nós o que é que pretendemos com o Café Com Leite, é seu áudio que vamos mostrar! Uma mãe, mostrando o podcast para os filhos e discutindo juntos... e a série que está saindo agora é sobre valores morais. É isso! Temos uma missão a cumprir, que é usar a mídia naquilo que ela tem de melhor: compartilhar informações e conhecimento. Obrigado, viu?

https://www.youtube.com/watch?v=3aeweCXBU0g&t=11s

“Este homem pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de seis milhões para 900 mil pessoas. Esse homem fez o produto interno bruto crescer 102%; e a renda per capita, dobrar. Aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de marcos e reduziu uma hiperinflação a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e, quando jovem, imaginava seguir a carreira artística. É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade. Por isso, é preciso tomar muito cuidado com a informação e o jornal que você recebe.”

Para quem nunca assistiu, esse áudio é a trilha do filme Hitler, produzido pela agência W/Brasil para o jornal Folha de São Paulo e veiculado no final da década de 1980, que foi um marco na história da propaganda brasileira e mundial. Primeiro, por mostrar como os feitos do ditador nazista na economia alemã o referendavam como um administrador competente. Segundo, pela advertência de que é possível contar uma mentira usando apenas verdades.

https://www.youtube.com/watch?v=WwVchkXRDRg

Essa é Elis Regina, com O Primeiro Jornal, de Suely Costa e Abel Silva. A letra fala de alguém que se esforça para alegrar seu amado...

Para que saias com alguma alegria bem normal

Que dure pelo menos até você comprar e ler

O primeiro jornal

https://www.youtube.com/watch?v=WG1T9gSOpsc

Escolhi aquela propaganda memorável para este episódio porque ela mostra a estreita relação entre poder e informação. A busca pelo poder explica muito a forma como as histórias são contadas, como se manipula uma informação ou notícia, como se destaca este ou aquele argumento, esta ou aquela característica, este ou aquele ângulo, como se difama e se destrói a reputação de alguém ou se exalta este ou aquele indivíduo. Aliás, Adolf Hitler foi um estrategista em contar histórias. Sua propaganda política articulada utilizou os mesmos mecanismos que hoje vemos por aí para controlar e dirigir as massas.

Outra razão da escolha daquela propaganda foi porque ela fala de confiabilidade, de responsabilidade com a informação, matéria-prima cada vez mais rara nestes dias.

E, por fim, houve uma razão que é mais uma provocação. Escolhi por causa da lei mais em evidência nestes tempos de redes sociais, a lei de Godwin, que diz que “à medida que uma discussão on-line se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou os nazistas tende a 100%”.

Pois é, mas Adolf Hitler não é o único que nos dá lições sobre poder e comunicação. Um outro ditador, que matou muito mais, pode trazer uma poderosa lição sobre o poder da mídia.

https://www.youtube.com/watch?v=UACNpwykECI

Praça da paz celestial, Pequim, China, 5 de junho de 1989... Talvez você nem tivesse nascido, mas quem assistiu ao que se passou por lá, certamente há de se lembrar.

Estudantes lideravam as manifestações contra o regime ditatorial chinês, pedindo mais liberdade. Eles queriam uma revisão na maneira como a população era tratada pela mão de ferro das lideranças do Partido Comunista Chinês, inspiradas pelas ideias do “Grande Timoneiro” e verdadeiro genocida, Mao Tsé-Tung.

Pela primeira vez o povo ia às ruas, aos milhares, ocupando a praça da Paz Celestial enquanto grupos negociavam com os burocratas do governo chinês, sem chegar a um acordo sobre as mudanças. O protesto dos estudantes foi reprimido pelo governo de forma violenta, terminando em troca de tiros e num massacre. O massacre da praça da Paz Celestial.

 

Como toda informação que vem da China, a quantidade de vítimas também é incerta, mas falou-se em 200 mortos, 3 mil civis e 6 mil soldados feridos. Mas há quem aposte que foi muito mais. Uma confusão inimaginável e de final trágico.

Mas uma cena daquele episódio lamentável ganhou o mundo.

 

Sempre que se fala do protesto da Praça da Paz Celestial, vem à lembrança a fotografia tirada pelo jornalista americano Jeff Widener e pelas filmagens que entraram para a história ao mostrar um homem, com uma espécie de sacolinhas de compras nas mãos, sozinho, parado à frente a uma coluna de tanques de guerra que se encaminhava para a Praça.

Ele permaneceu em pé, irredutível, fazendo com que o primeiro tanque da coluna só conseguisse seguir adiante se passasse por cima de seu corpo. O piloto do tanque não teve coragem de fazê-lo.

 

Quem era aquele indivíduo? Ninguém sabe. O que aconteceu com ele? Ninguém faz ideia. Ele entrou para a história como “The Tank Man”, o homem do tanque. Um sujeito que estava no meio dos protestos e que, mesmo exposto a forças tremendas de repressão, mostrou uma vontade inabalável, parando a coluna de tanques, que poderiam passar por cima dele sem nenhum esforço. Capturada pelas câmeras, a cena ganhou o mundo, como um grito de resistência individual diante do autoritarismo. Jornais de todos os países estamparam a foto com manchetes que remetiam à luta pela liberdade do povo chinês.

Hoje, três décadas depois daqueles acontecimentos, o governo chinês foi muito bem sucedido na tarefa de apagar da memória da população os acontecimentos de 1989. Existem documentários no Youtube mostrando como a juventude chinesa não faz ideia do que ocorreu naqueles dias, pois foi tudo apagado da história.

Mas no resto do mundo, quando se fala do Massacre da Praça da Paz Celestial, o que vem à memória é a imagem do Tank Man, exatamente o oposto do que os ditadores chineses pretendiam que entrasse para a história.

Mao Tsé-Tung disse um dia:

“O poder começa atrás do gatilho de uma arma”.

Uma obviedade atestada pela história. O poder da força bruta.

No entanto, como mostra o episódio do Tank Man, sem disparar um tiro, a mídia foi capaz de contrapor o líder da Revolução chinesa de forma poderosa:

“O poder começa atrás do gatilho de uma arma... desde que nenhuma câmera capture a imagem e todo mundo a veja”.

 

“...desde que nenhuma câmera capture...”

Essa talvez seja uma das mais poderosas frases já escritas sobre como damos rumo à história humana. Se uma câmera capturar e mostrar para o mundo, o equilíbrio das forças muda completamente. Isso é fascinante e, ao mesmo tempo, assustador.

Quantos eventos importantes não assistimos nos quais a mídia é chamada para proteger o lado que se sente ameaçado? Ninguém tem coragem de cancelar outra pessoa diante das câmeras, não é? Esse é o poder da mídia.

Em 11 de setembro de 2001, outro evento mostrou como a humanidade mudou com a tecnologia. Os dois aviões que bateram nas torres gêmeas, não fizeram isso em Nova Iorque. Fizeram na sala da minha casa, ao vivo e em cores, projetando a angústia e o medo para todo o planeta em tempo real. Ali começava o século 21 pra valer...

https://www.youtube.com/watch?v=_eVswBvDyRs

A revolução tecnológica do século 21 provocou  uma transição importante que transformou o mundo: o poder da distribuição da informação migrou das mãos de uns poucos profissionais especializados para os milhões de consumidores da informação que chega pela mídia. Hoje, quando provavelmente temos no planeta mais aparelhos celulares do que habitantes, presenciamos esse poder de gerar e distribuir informação em ação a todo instante e praticado por todo mundo. Inclusive você. E isso é ao mesmo tempo maravilhoso e preocupante.

Por que “preocupante”? Porque a mídia exige uma responsabilidade que nem todos têm.

No espetáculo da comunicação, do qual sempre participamos como plateia, passamos a ser protagonistas — no palco e/ou atrás das câmeras. Qualquer um com um celular em mãos passa a ter o poder de contar histórias que serão vistas por milhões. Tudo pode ser fotografado ou filmado — e a depender do ângulo, tudo pode ser facilmente invertido, alterado, transformado e, melhor ainda, contestado!

Ou seja, nós, que a vida toda estivemos sujeitos a enxergar os fatos apenas pela visão de uma meia dúzia de pessoas que operavam as câmeras, ou editavam as imagens, agora temos oportunidade de buscar outras janelas para interpretar ou contar histórias.

E isso muda tudo. 

Ao mesmo tempo que temos instrumentos para checar a verdade, com a incontável diversidade de fontes de produção e distribuição de notícias, as histórias mal contadas, intencionalmente ou não, tendem a se multiplicar. E isso só aumenta nossa responsabilidade por saber escolher quem nos contará a história.

Entendeu?

Quem. Contará. A história.

 

Desde que o mundo é mundo, o homem vive de contar histórias. E, por trás de qualquer notícia, de qualquer mensagem, o objetivo é sempre o mesmo: conquistar corações e mentes. 

Todo mundo, independentemente do que faz, é um contador de histórias. O professor é um contador de histórias, o escritor é um contador de histórias, a dona de casa é uma contadora de histórias. E essa arte fascina porque o modo como se conta uma história muda completamente a percepção sobre os fatos e nossa reação com eles. Um mesmo caso, contado por pessoas distintas, ganha ou perde nuances, contornos e elementos que interferirão, para o bem ou para o mal, na interpretação, na imaginação e principalmente na emoção de quem dele tomou conhecimento.

Entendeu? Mais que o conteúdo, é o jeito como a história é contada que realmente conta.

E gente profissional tem nos afogado em conteúdos maliciosos, provocando o que já se chama de infotoxicação.

Somos infotoxicados por vieses, vícios, bullyings, mentiras, fake news, manipulação, cyberbullying, on-line versus realidade por todos os lados. Conteúdos infotóxicos contaminam todas as mídias. É natural que assim seja, pois, como já vimos, todas essas camadas são constituídas por momentos em que alguém está nos contando uma história, invariavelmente sob seu ponto de vista.

Agora preste atenção: quem é a vítima preferencial dos conteúdos infotóxicos?

Os adolescentes, os jovens, aquela turminha que ainda está constituindo seu repertório, que está escolhendo a janela pela qual elaborará seus planos para mudar o mundo. Essa garotada é terreno fértil porque é muito impressionável, não tem controle suficiente sobre os sentimentos, não tem capacidade de discernimento sobre as mensagens que recebe.

Essa garotada vive uma realidade na qual se encontra ansiosa e angustiada porque se sente perdida; insegura sobre as escolhas para o futuro; distraída por coisas estúpidas; suscetível à pressão do grupo; hesitante entre seguir o coração ou a mente racional; tentada a fazer algo de que pode se arrepender mais tarde; nervosa por tentar algo aparentemente além de suas capacidades; envergonhada de pedir ajuda; sem vontade e coragem de se colocar em situações de risco. Não é pressão de mais demandada pela sociedade sobre essa garotada? E aí entram as mídias, plantando suas sementes nesses terrenos onde a incerteza e a insegurança servem de adubo.

A questão da pressão dos colegas, o espírito de tribo, é insuportável. O adolescente tem de consumir o que a turminha está consumindo; se não fizer isso, se não gostar do que sua turma gosta, é colocado para fora dela. E isso, para um adolescente, é terrível!

O advento das mídias sociais deixou evidente sua descomunal influência sobre os adolescentes. É só observar a quantidade de conteúdos voltados para a garotada e o surgimento dos fenômenos de mídia digital de massa, conhecidos como influencers. A tecnologia evoluiu para isso. Todo mundo passou a ter acesso a essas mídias, e os que perceberam como ela funciona estão pintando e bordando. Existem jovens que, sozinhos, têm mais audiência do que muitos programas tradicionais de rádio e televisão, jornais e revistas.

Pergunte a qualquer garoto de dez/doze/quinze anos o que ele quer ser. Digital influencer será a resposta da maioria.

Esse contexto apenas aumenta a responsabilidade dos tutores dessa garotada e de quem cria conteúdo voltado para essa audiência jovem.

Bem, essa tem sido a minha missão.

Neste ano de 2022, lancei um novo podcast, o Café Com Leite, para levar os conteúdos do Café Brasil para crianças e jovens. Nunca é cedo demais para começar a educar nossa juventude para as armadilhas da mídia. E agora, neste semana, estou lançando meu décimo livro: Merdades e Ventiras – Como se proteger da mídia que faz a sua cabeça.

 

O Merdades e Ventiras chega com mais que um livro. Lanço também um curso, com o mesmo nome e sete módulos, onde vou destrinchar partes fundamentais do que coloquei no livro. A vantagem do curso é seu dinamismo, o fato de reunir os alunos num grupo do Telegram e de me possibilitar trazer convidados para enriquecer o debate.

Por que esse assunto é importante? Porque a maior parte das decisões que você toma em sua vida, está amparada, contaminada e justificada pelo conteúdo que você recebe pelas mídias. Só isso bastaria para você colocar em primeiro lugar a necessidade de se dedicar a entender como funcionam e quais os truques e estratégias os profissionais da mídia utilizam para fazer sua cabeça.

É por isso que convido você a mergulhar no http://merdadeseventiras.com.br e aprender a escapar das artimanhas, da conversa mole, das narraticas... do feitiço que a mídia lançou sobre você....

 

É assim, ao som de Get Lucky com o Draft Punk, que vamos saindo animados.

Chegamos longe demais / para desistirmos de quem somos / vamos subir a barra / e nossas até as estrelas

 

Merdades e Ventiras é um livro que nasce da indignação de alguém que, cansado de ser tratado como idiota pela mídia, decide reagir. Reuni nele 40 anos de experiência como profissional de comunicação, alguém que não está dentro das redações e que sofre na mente as consequências dos climas de medo, angústia e desinformação provocados pela mídia.

Merdades e Ventiras é parte do meu legado. A cada dia torna-se mais importante conhecer o funcionamento da mídia, como nos comportarmos usando-a e, principalmente, como funciona este novo mundo onde, como indivíduos, nos tornamos mídias e vivemos o pesadelo das Fake News.

http://merdadeseventiras.com.br venha conhecer esta proposta, dê um passo além na sua independência intelectual dos canalhas que tentam diariamente fazer sua cabeça.

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí ó, completando o ciclo.

O conteúdo do Café Brasil pode chegar ao vivo em sua empresa através de minhas palestras. Acesse lucianopires.com.br e vamos com um cafezinho ao vivo.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

Para terminar, uma frase de Josef Stalin

A imprensa é a arma mais poderosa de nosso partido.

Veja também