Café Com Leite 021 - O Certo e o Errado

Data de publicação: 23/10/2022, 11:09

Bárbara: Bom dia, boa tarde, boa noite! O mundo parece que fica cada dia mais complicado, não é? Tanta coisa acontecendo, tudo ao mesmo tempo....

Babica: É mesmo, Bárbara! E no meio dessa confusão, nós temos de fazer nossas escolhas, não é?

Bárbara: É sim, Babica. E nem sempre é fácil perceber o que é certo e o que é errado. Vamos falar sobre isso hoje. Meu nome é Bárbara Stock e este é o Café Com Leite, um podcast para crianças inteligentes e para pais que se importam.

Babica: E eu sou a Babica, o avatar da Bárbara que vive dentro do celular dela! Também estarei aqui com você! E já trago mais um ouvinte, o Samuel.

Oi Babica e Bárbara, eu sou o Samuel tenho dez anos e eu estou gostando muito do podcast. Eu gostei muito dos episódios de história. Eu queria que vocês trouxessem mais. E é isso, tchau!

Bárbara comenta: Samuel, que legal! Olha, hoje vem um episódio com história, viu? Sempre que a gente conseguir, vamos contar histórias.

Babica: Oi Samuel! Olha, a gente adoooooora contar e ouvir histórias! Pode ficar tranquilo que sempre terá mais!

Bárbara: É isso. O Samuel ganhou uma camiseta linda do Café Com Leite!

Babica: Ebaaaaaaaaaaaaaaaa. E olha, se você gostou do nosso Café com Leite, mande uma mensagem de voz para nós no whatsapp 11915670602. Se sua mensagem for escolhida, vamos publicá-la no próximo episódio e você ganhará uma camiseta muito legal!

Babica: Isso! A Camila ganhou uma camiseta do Café Com Leite!  Vou repetir o whatsap: 11 915670602

SOBE A MÚSICA

Bárbara: Babica, prepare-se! Hoje nós vamos mais uma vez viajar no tempo!

Babica: Ebaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Bárbara: Sabe aquele filme 300, que fala dos 30 de Esparta?

Babica: Sei! Um que tem um monte de homem musculoso lutando com lanças e escudos? É muito tenso!

Bárbara: É sim, o filme conta uma história lendária do rei Leônidas que resistiu com poucos homens ao ataque de milhares de inimigos. Um dia vou contar essa história aqui.

Babica: Eu vu cobrar!

Bárbara: Mas hoje quero falar do rei que comandava os milhares de inimigos dos 300 de Esparta. Eram os Persas e o Rei se chamava Xerxes.

Babica: Xerxes?

Bárbara: Sim, Xerxes. Que era filho de Dario e Atossa. Irmão de Ariâmenes e Aquêmenes.

Babica: Mas cada nome estranho, não?

Bárbara: Ahahahahahaha. Pois saiba que Xerxes casou com Améstris e teve cinco filhos, entre eles Histaspes, Artaxerxes, Rodoguna e Amitis. Ah, e Dario.

Babica: Dario? Ufa! Um nome normal!

Bárbara: Ahahahahahaha. Nós estamos falando de reinos que existiram 500 anos antes de Cristo. Lembra do Ac/DC?

Babica: Claro que lembro! Antes de Cristo e depois de Cristo. Mas gosto mesmo é do AcDc...

(acordes de highway to hell)

Bárbara: Ah, eu adoro AC/D!

(toca mais um pouco)

Volta BG normal

Bárbara: Então, vamos à história. Depois que Xerxes derrotou Leônidas e tomou a cidade de Atenas, ele retornou à Pérsia. Mas no caminho, a frota de navios de Xerxes entrou em combate com uma frota muito menor, a de Temístocles.

Babica: Bárbara! Mas não tem gente com nome normal, não? Não tem um João, uma Catarina, um Miguel?

Bárbara: Ahahahaha... uma hora vai aparecer um, Babica. Temístocles era de Atenas, e com uma pequena frota, derrotou o poderoso Xerxes. Sem saída, Xerxes fugiu para a Turquia, a bordo do navio real. Mas fortes ventos e uma tempestade ameaçaram a travessia.

(barulho de tempestade)

Babica: Que medo!

Bárbara: O capitão do navio ficou preocupado e deu o alerta. O navio tinha dentro dele gente demais, estava muito pesado. E isso certamente faria com que eles afundassem durante a tempestade. E o capitão olhou para a corte, todas as pessoas que acompanhavam o rei Xerxes.

O rei entendeu o recado, e disse assim:

“Homens da Pérsia, eis o momento de demonstrar o quanto amam o seu rei! Pois é de vocês que a sorte dele depende!”

Babica: Ué? O que é o rei Xerxes queria que as pessoas fizessem.

Bárbara: Que aliviassem o peso do navio, Babica.

Babica: Mas como?

Bárbara: Calma! Você vai ver!

Babica: Que nervoso, mulher!

Bárbara: Compreendendo o chamado do rei, os cortesãos começam a pular no mar, um a um.

Babica: Mas Bárbara! Eles iam morrer!

Bárbara: Sim, Babica. Eles sabiam que ao pular no mar, ajudavam a diminuir o peso do navio e assim, salvariam o rei que eles amavam, mesmo que custasse suas próprias vidas.

Babica: Nossa! E deu certo?

Bárbara: Deu. O navio ficou mais leve e seguiu em segurança ao seu destino,

Babica: Coitadas daquelas pessoas...

Bárbara: Pois é. Mas quando chegaram em terra, já comemorando que estavam salvos, o rei Xerxes reuniu a todos e homenageou o capitão do navio com uma coroa de ouro, por ter salvo a vida do rei.

Babica: Muito justo.

Bárbara: E em seguida, mandou cortar a cabeça do capitão, por ter causado a morte de tantas pessoas da corte do rei.

Babica: (falando em tom grave) Bárbara... você tá brincando comigo.

Bárbara: Não estou, não.

Babica: Mas o capitão salvou o rei, ganhou a homenagem e depois foi morto?

Bárbara: Pois é. Isso nos traz a questão. O que é certo, o que é errado? O capitão agiu certo ao sugerir que as pessoas pulassem do navio para salvar o rei? E o rei? Agiu certo ao homenagear ou a mandar matar o capitão?

Babica: Mas a culpa era da tempestade!

Bárbara: Babica, nem sempre é fácil perceber o que é certo e o que é errado. Especialmente em momentos de grandes crises, de perigo, de decisões muito importantes. Todos nós nascemos com alguma consciência sobre o que é certo e o que é errado, que vai se desenvolvendo conforme vamos compreendendo e praticando nossos valores morais.

Babica: Sim. Todo adulto sabe que é errado desobedecer a lei, mentir, prejudicar outras pessoas.

Bárbara: isso mesmo. E crianças vão aprendendo sobre isso enquanto crescem. Quando o capitão sugeriu que as pessoas pulassem do navio para salvar o rei, ele estava tentando encontrar uma solução para um grande problema. Não agiu com má intenção. Mas a sua solução o afastou de um código sagrado dos humanos.

Babica: “Não matarás”

Bárbara: Isso mesmo. Não matarás. E o rei Xerxes concordou com ele. Mas o rei é o rei. Precisa se conservar inocente. Concorda que os cortesãos pulem no mar e morram, mas na primeira oportunidade, joga a culpa no capitão.

Babica: Ah, eu não tô gostando desse Xerxes, não.

Bárbara: Então começam a aparecer as justificativas: “O capitão não falou claramente... fui usado... eu ignorava as consequências”. Pronto. Então o rei primeiro premia, pelo capitão ter honrado o dever divino de proteger o Rei, que era considerado um deus. E depois o pune.

Babica: Mas com qual desculpa?

Bárbara: Pelo capitão ter induzido a ele, Xerxes, um mero mortal, a desrespeitar o direito humano à vida.

Babica: E fica por isso mesmo?

Bárbara: Fica. Afinal, quem tem o porrete...

Babica: ... tem o poder.

Bárbara: Tem o poder!

Babica: Olha, Bárbara, eu não gostei dessa história, não.

Bárbara: Ah, Babica. Essa história tem muitos ensinamentos. Gente como aquele capitão, tão prestativo, que simplesmente obedecia às ordens, acaba pagando caro quando a diferença entre o certo e o errado se apresenta. Gente como ele, no meio de crises, vai no ouvido dos chefes com soluções que resolvem problemas às custas de outras pessoas. E tudo dentro da lei.

Babica: Mas são ideias indecentes!

Bárbara: São, e todos sabem disso. Mas fogem da...

Babica: Responsabilidade!

Bárbara: Isso mesmo. Fogem da responsabilidade, não têm empatia...

Babica: Olha os valores morais aí!

Bárbara: Sempre eles. E uma vez que as sugestões dessas pessoas são aceitas, elas viram heróis. Aparecem na televisão dizendo como são inteligentes, como são bondosas, como querem o nosso bem...

Babica: Enquanto jogam outras pessoas no mar.

Bárbara: Pois é. Mas quando o problema passa, quando a crise termina, quando passa a tempestade e o sol aparece, o que sobra é o sentimento de culpa... o remorso. E aí, só tem uma coisa a ser feita...

Babica: Achar um culpado.

Bárbara: Isso mesmo. Achar um culpado. E mandar cortar sua cabeça.

Babica: Olha, Bárbara, isso é muito sério. Não tem um jeito da gente saber com certeza o que é o certo e o que é o errado?

Bárbara: Então, Babica, nós já falamos de como a ética pode ser flexível, de como uma coisa que é ruim para mim, é boa para você. Tudo depende de muitos fatores. Aliás, os filósofos ajudam a gente a entender isso.

Babica: Como assim?

Bárbara: Vamos ver quatro posturas filosóficas que ajudam a gente a saber o que é certo e o que é errado? Primeiro a Teoria do Amor, de Sócrates, Platão e Aristóteles.

Babica: Olha eles aí de novo!

Bárbara: Aqueles filósofos gregos concordavam que o bem é algo natural do ser humano. A pratica de virtudes como Justiça, Caridade e Generosidade, trariam a felicidade. Pela Teoria do Amor, o rei Xerxes deixaria que cada um seguisse sua consciência lá no barco. E aceitaria até afundar junto com todo mundo se fosse o caso.

Babica: Tá. E a outra teoria?

Bárbara: É a Teoria do Dever, do filósofo Immanuel Kant. Ele fala do dever. É obrigatório dizer a verdade, cumprir promessas e respeitar o direito dos outros. Se fosse seguir essa teoria, aí é que o barco do rei Xerxes afundaria. Todo mundo tem direito à vida, não podemos interferir nisso.

Babica: Ninguém pularia na água. E a outra teoria?

Bárbara: É a Teoria dos Grandes Números, do filósofo inglês Jeremy Bentham.  Ele dizia que a melhor alternativa moral é aquela que fizer mais gente feliz. Por essa teoria, faz sentido jogar algumas pessoas no mar para salvar a maioria.

Babica: Bárbara, eu já estou ficando confusa. Ainda tem uma teoria, né?

Bárbara: Sim. A do Interesse Próprio, do filósofo Thomas Hobbes. Ele dizia que tudo vale se o objetivo de alguém for sobreviver. Ou dominar. Por essa teoria, está justificado jogar as pessoas na água. E o Rei ficaria por último. E jogariam ao mar os menos importantes.

Babica: E quem escolheria os menos importantes?

Bárbara: O rei, é claro!

Babica: Gente, mas que coisa difícil! Eu achei que era tão simples...

Bárbara: Ah, Babica, a vida é tudo, menos simples. Às vezes, nós vemos as coisas e achamos que existe uma resposta muito simples para um problema. Mas quando começamos a refletir sobre as consequências de nossas escolhas, fica claro que é fundamental saber o que acontece porque acontece e em quais condições acontece.

Babica: O que acontece, por que acontece e em quais condições acontece... Eu queria saber mais sobre isso.

Bárbara: Pode deixar. Nós vamos falar mais sobre certo e errado e escolhas nos próximos episódios, tá bem?

Babica: Ebaaaaaaaaaaaaaaaaaa! E Olha, você que está nos ouvindo, agora converse com seus pais e amigos sobre a história e as escolhas do rei Xerxes. Veja o que eles acham. É conversando que a gente aprende.

Bárbara: isso mesmo! Não esqueça então: se você está gostando deste nosso podcast, se quer que a gente cresça, contribua conosco! Tem várias formas! Quem sabe você nos ajuda a encontrar um patrocinador. Ou então faz uma contribuição pelo nosso PIX, que é o 11915670602

Babica: É isso mesmo! E mande recados de voz para nós, comentando o programa! Se seu recado for escolhido, vamos publicá-lo no podcast e você ainda vai ganhar uma camiseta de presente, Que tal? Vou repetir o número do whatsapp: 11915670602.

_______________________________________________________

Bárbara: Muito bem! Eu sou a Bárbara Stock…

Babica: E eu sou a Babica! O avatar de Bárbara que mora no super celular dela.

Bárbara: somos suas companheiras neste Café Com Leite, que é feito com muito carinho pela turma do Podcast Café Brasil. A edição é do Senhor A e a direção é do Luciano Pires.

Quem você trouxe para encerrar este episódio, Babica?

Babica: Ah, hoje é uma frase sobre a qual não encontrei o autor, mas é muito boa:

O errado é errado, mesmo se todo mundo o estiver fazendo. E o certo é certo, mesmo se ninguém o estiver fazendo.

Veja também